quinta-feira, 1 de outubro de 2020

CONTINUAÇÃO: 5ª PARTE 


A NOVA GEOPOLÍTICA

(FUNDAMENTOS E IDEOLOGIA)

-A geopolítica Pós-Guerra Fria-


ANEXO

SOBRE A AGRESSIVIDADE E A GUERRA

 

Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real que realmente existe é o próprio homem” (Carl Jung).

“É da natureza humana ser atraída pelo lado mau e nos tornamos realmente responsáveis por isso” (Ian Somerhalder)

“Trate as pessoas como merecem, e ninguém escapa ao chicote” (William Shakespeare).

“É mais fácil mudar a natureza do plutônio do que mudar a natureza maldosa do homem” (Albert Einstein).

“Toda guerra é baseada no logro” (Sun Tzu).

“Pois nunca Estado algum beneficiou da guerra prolongada” (Sun Tzu).

“As armas devem ser usadas em última instância, onde e quando outros meios não bastem” (Maquiavel).

“Se queres a paz prepara-te para a guerra” (Provérbio romano).

“Todo homem investido de poder é tentado a abusar dele” (Charles de Montesquieu).

“Agora eu me torno a morte, o destruidor de mundos” (Julius Oppenheimer).

“Todas as civilizações devem as suas origens ao guerreiro” (Keegan, p. 17).

A alusão de Nye, de que a “paz irrompeu entre as principais democracias liberais é exata” (pgs 42 e 274), além de simplória é ideologicamente muito perigosa, porque faz com que as guerras sejam apenas consequências de sistemas políticos e alimenta ideologicamente guerras contra países que não tenham um regime democrático liberal, ou melhor, alinhados com o ideal de democracia americano, sob o crivo de seu discernimento, de conformidade com a concepção da Nova Geopolítica.

Por outro lado, não analisa o contexto histórico em que se deu um apaziguamento pós 2ª Grande Guerra Mundial das relações conflituosas entre as nações que antes eram as mais poderosas econômica e militarmente, principalmente as ocidentais.  

Ela é apenas uma outra versão, similar e inversa, à concepção dos socialistas de que a guerra seria impossível nas sociedades socialistas, porque nestas não existiria classes, principalmente a burguesia. “Teoria” esta que vigorou na era do imperialismo, sobre a partilha do mundo, notadamente da África, em finais do século XIX e início dos XX, e que desencadeou a 1ª Grande Guerra (sobre o assunto, ver Lenin e Bukarin).

Também vai de encontro a toda uma gama de historiadores, antropólogos, cientistas sociais e demais estudiosos que se dedicaram a analisar e estudar os motivos das guerras.

É provável que a explicação sobre os motivos pelos quais os seres humanos entram em conflito e  guerra, que mais tenha ressonância na cultura, principalmente ocidental, sejam as concepções de   Darwin sobre a seleção natural, ou a sobrevivência do mais apto, ou luta pela sobrevivência, conceitos que se complementam, dos quais o autor utiliza sem distinções ao longo de suas obras.

“A seleção natural resulta da luta pela sobrevivência” (Darwin, p. 164).

Seleção natural: Vimos até agora que o Homem varia em estrutura física e faculdades mentais; e que estas são induzidas, tanto direta quanto indiretamente, pelas mesmas causas gerais e obedecem às mesmas regras gerais que as dos animais inferiores. [...] Os primeiros ancestrais do homem, como todos os outros animais também devem ter tido a tendência de crescer para além dos seus meios de subsistência. Por isso, devem ter estado ocasionalmente expostos pela sobrevivência e, consequentemente, à rígida lei da seleção natural” (Darwin, p. 66).

“Aos números (o autor se refere à dimensão das tribos) dependem principalmente dos meios de subsistência, que dependem, por sua vez , e em parte das características físicas da região, e, a um grau bastante elevado, das artes que aí foram praticadas. À medida que uma tribo cresce e se torna vitoriosa, é frequente que continue a crescer pela absorção de outras tribos. A estrutura e força dos homens são características que também têm alguma importância para o sucesso das tribos; e que dependem, em parte, da qualidade e da quantidade de comida disponível” (idem, p. 153).

Segundo o historiador Harari, esta é uma das teorias que talvez explique a extinção dos Neandertais (uma outra espécie humana) e a sobrevivência do Homo sapiens:

A visão oposta (o autor se refere a da miscigenação), chamada “teoria da substituição”, conta uma história muito diferente – uma história de incompatibilidade, repulsa e, talvez, até mesmo genocídio. Sapiens e Neandertais tinham hábitos anatomias diferentes e muito provavelmente hábitos de acasalamento  e até mesmo odor corporal diferentes. Provavelmente tinham pouco interesse sexual uns pelos outros” (p. 31).

Existem outras teorias como uma melhor adaptação do Sapiens às modificações climáticas e suas consequências e até mesmo simplesmente à sorte (em BBC News BR, “Estudo diz que Neandertais eram capazes de fazer arte”). Existe outra, mais recente e com base na genética, que confirma uma miscigenação entre as duas espécies e a provável extinção definitiva pela erupção do super-vulcão Campi Flegrei (1A). 

Por outro lado, não podemos considerar esta “regra” (de Darwin) como inexorável, porque a história da humanidade nos mostra que muitas vezes civilizações culturalmente mais desenvolvidas se dobraram às menos desenvolvidas, sendo Roma um caso a parte, com diversas versões, mas indiscutivelmente mais civilizada que seus invasores godos.

Basta lembrar Gengis Khan e Átila, nômades bárbaros que não se adaptavam a uma vida sedentária. Sob o comando de Átila, os hunos, povo das estepes, aterrorizaram e devastaram civilizações da Europa Oriental, “assaltaram tribos germânicas no Danúbio, subjugaram os visigodos na Dália (Hungria)”, chegaram até na planície do Pó e ameaçaram Roma. Tinham o prazer em saquear, mas tinham dificuldades em se fixar nas terras conquistadas, em virtude dos seus hábitos nômades (Keegan, p. 248/49).

As guerras possuem algo “inexplicável” porque, de acordo com Sun Tzu, além de dependerem das estratégias e do caráter de seus comandantes, dependem também do moral dos exércitos, da evolução das armas, da simulação, das alianças, dos agentes secretos, da intriga, da traição, da diplomacia, da corrupção, da fraude e do logro (ver Nota Introdutória, p. 20);

“Ora, a guerra é fundada no logro” (p.84 e 33);

“[...] sempre que fordes capazes, parecei incapazes e sempre que estiverdes prontos para a acção, parecei inoperantes (p. 34);

“Simulai a inferioridade e encorajai-o à arrogância” (p.35);

“Ch’ en Hao: Dai ao inimigo jovens de ambos os sexos para enfatuardes, bem como jade e seda para excitardes as duas ambições (p.36); 

“Chia Lin: Os planos e projetos destinados a prejudicar o inimigo não estão confinados a um método particular. Umas vezes afastai os seus homens sábios e virtuosos, para que não haja conselheiros; ou enviai traidores para minar a administração do seu Estado; graças a logros engenhosos separei o Soberano de seus ministros; ou enviai artesões hábeis para incitar a população a dilapidar as suas riquezas; ou oferecei-lhe músicos e dançarinas licenciosas para lhe mudar os hábitos; ou dai-lhe belas mulheres para levar a perder a cabeça (p.95);

“As operações secretas são essenciais na guerra; é delas que os exércitos dependem a cada lance.

Chia Lin: Um exército sem agentes secretos é como um homem sem olhos nem ouvidos Um exército sem agentes secretos” (p.146).

Entretanto, muito embora as teorias de Darwin sobre a evolução das espécies tenham contribuído bastante para a ciência ela não é suficiente para explicar as razões porque os seres humanos entram em guerra. Darwin foi um homem do seu tempo, de uma época vitoriana bastante preconceituosa e rígida moralmente, daí os seus comentários degradantes em relação aos irlandeses, os seus elogios aos escoceses, às expressões sobre raças inferiores, as suas concepções sobre as mulheres (embora não ofensivas), às virtudes dos ingleses frente aos franceses, a admissão de uma classe alta intelectual e moralmente superior, capaz de  transmitir através da hereditariedade estas qualidades aos descendentes, perpetuando e justificando as diferenças sociais, baseadas numa evolução constante das raças e classes superiores em relação às inferiores (ver esp// pgs. 161, 621, 636).

A sua visão de progresso é fundamentalmente  embasada na luta pela sobrevivência, com base na lei de Malthus, que enfatiza a disparidade de progressão entre os meios de subsistência e a taxa de natalidade dos seres humanos, teoria esta já posta fora de questão por Marx e pela revolução agrícola posterior. Não leva em consideração (nem poderia) que as sociedades criam constantemente novas necessidades que são fontes de novos conflitos.

Em algumas citações, mormente às relacionadas ao progresso das nações civilizadas, associado a um nível elevado de “moralidade” e às qualidades de homens bons, relativiza a seleção natural; em outras avança com o mesmo conceito de seleção natural (1B).  

Talvez, pela sua visão vitoriana, um tanto preconceituosa, sem um estudo mais aprofundado da importância das relações humanas e sociais nos destinos da humanidade, que tomaram impulso posteriormente, tenha presenciado a expansão do imperialismo inglês, com todas as suas carnificinas, com bons olhos, como um fenômeno natural, uma virtude e superioridade inglesa, em prol da evolução da humanidade, como resultado da “luta pela sobrevivência”.

Importante frisar que o conceito de evolução pela biologia se distingue do conceito de evolução no sentido de progresso. Se há “adaptação do mais apto ao meio” necessariamente não significa que o mais apto é mais evoluído ao que não se adaptou ou sobreviveu, simplesmente porque se adaptou às mudanças ambientais.  

Deve-se salientar, ainda, que as suas concepções, que foram endossadas por seu primo Francis Galton (antropólogo e sociólogo entre outras formações, nascido em classe abastarda), a quem faz menção elogiosa em algumas páginas do seu livro, levaram à teoria “filosófica?” do darwinismo social, que forneceu o substrato ideológico, que em consonância com o nacionalismo e a corrida armamentista da época, forneceu o combustível necessário à eclosão das 1ª Grande Guerra Mundial. (Sobre o assunto consultar Sheffield).  

Sun Tzu, no seu clássico livro “A Arte da Guerra”, escrito provavelmente em torno de 400 a.c. (há divergências), estabelece os 5 motivos que ocasionam os conflitos militares:

“Existem cinco motivos que ocasionam operações militares: o primeiro é a luta pela glória; o segundo, a luta pela vantagem; o terceiro, a acumulação; o quarto, as desordens internas; o quinto a fome” (p. 150).

Entre os cinco tipos de guerra o autor menciona a “guerra raivosa” e a “guerra pela guerra”.

Correia, em “Guerra e Sociedade”, afirma que a guerra nunca tem uma causa única:

“As causas são sempre múltiplas, e com a evolução da sociedade, com ao avanço tecnológico, com a crescente complexidade política, econômica, social e cultural, com a explosão demográfica, as causas da guerra não cessam de se multiplicar” (p. 52).

Distingue, ainda, duas grandes teorias: a determinista e a evolucionista. A determinista compreende a guerra como uma “fatalidade que sempre existiu e continuará a existir”. Ela divide-se em dois tipos: teleológicas e biossociológicas. As teleológicas serão determinadas por forças “transcendentais” e “inevitáveis”.

“As biossociológicas situam as causas da guerra na natureza do homem, encarando-a como fator de equilíbrio, de justiça, ligada ao instinto de conservação e de seleção natural, mas indispensáveis ao progresso.

A doutrina evolucionista, pelo contrário, considera que a guerra é um produto de fatores derivados do homem e da sua organização em sociedade, mas não inerentes à própria natureza humana” (pgs. 52/53).

Após estes esclarecimentos, o autor trata em tópicos separados: 2.1) causas políticas; 2.2) causas econômico-sociais; 2.3) causas identitárias; 2.4) motivações; 2.5) causas justas?.

O autor associa às causas políticas as guerras expansionistas, coloniais, imperiais, as guerras de resistência ou libertação, do “dilema de segurança”, geoestratégicas relacionadas com o território, de assimetria de poderes e punitivas que, logicamente, estão inclusas na concepção de Clausewitz de que “a guerra é a continuação da política por outros meios”(p. 56/8). Para melhor explicar este ponto de vista, diz que a guerra é “um instrumento da política”, ou melhor, “serve objetivos da política” (pgs. 54, 128,130). Importante ressaltar que Liddell Hart (em Prefácio de “A arte da guerra”) e Keegan não concordam com esta posição de Clausewitz.

A crítica de Keegan é ampla, destacando o aspecto cultural das guerras, situando-as historicamente; a passagem para os regimentos; a importância que a Revolução Francesa e a derrota dos prussianos para Napoleão tiveram na teoria de Clausewitz; as condições culturais dessa época; a educação daquele autor; com exemplos de  situações em que sociedades passaram a adotar a “guerra como continuação da política”. Por conseguinte, traça um perfil totalmente diferente ressaltando a importância da cultura nas guerras, que, juntamente com a questão da adaptação à evolução das armas e equipamentos, são o cerne de seu livro (pgs. 32 a 91, 462-4, 505-507). Vide Nota (2).

Afirma:

“O envolvimento dos cossacos foi, em si mesmo, uma garantia de que os atos incendiários, a pilhagem, a violação, o assassinato e centenas de outras atividades ultrajantes abundariam, já que, para os cossacos, a guerra não era política, mas uma cultura e um modo de vida” (p. 26).

A crítica de Hart é pontual, pois ressalta que a  concepção de “guerra total”, de Clausewitz, deixou de incluir um “princípio de moderação na filosofia da guerra”, contrapondo ao princípio de Sun Tzu de que “Nunca Estado algum beneficiou de uma guerra prologada” (Prefácio, ps. 9/10).

As causas econômico-sociais são associadas aos “interesses materiais ou com benefícios deles derivados”: território, infraestruturas, recursos, matérias primas, mercado, tarifas aduaneiras, embargos, dívidas externas ou degradação ambiental, desequilíbrios financeiros, econômicos e sociais, desemprego, pobreza, fome, epidemias, subdesenvolvimento em geral (p. 59/60). Importante ressaltar que o autor cita Maquiavel, para quem “a guerra é um instrumento de enriquecimento”.

Neste campo estão também inclusas as guerras pela escravatura e as por motivações ideológicas, incluindo nestas as teorias marxistas que explicam os fundamentos das guerras na natureza do sistema capitalista, dividido em classes sociais e na apropriação e acumulação privada. Óbvio que esta visão marxista não se aplica apenas às economias capitalistas (pgs. 59 a 61). Também estão neste tópico as guerras fomentadas pelos grandes lobbies em benefício do complexo militar-industrial, mormente americano (p. 62).

Cabe aqui lembrar o alerta do presidente americano Eisenhower, em pronunciamento de despedida:

“Nos conselhos do governo, temos de proteger contra a aquisição de influência injustificada, seja procurada ou não, pelo complexo militar-industrial. O potencial para a ascensão desastrosa de um poder mal existe e persistirá” (https://pt.qwe.wiki>wiki>> Eisenhower).

Em seguida vêm as causas identitárias (tutsis versus hutus, segundo Correia), associadas por vezes às etnias, entendendo-se estas como um conjunto de valores socioculturais e comportamentais (hábitos, crenças, costumes, morais, artísticos, religiosos, ideologias, linguísticos, etc), com os quais um indivíduo se identifica, por ser um ser humano social e político e que distinguem diversas comunidades.

Trata-se de um sentimento de pertença pelo qual um indivíduo participa e comunga dos valores de determinada comunidade (em sentido lato), que lhe dá a sensação de solidariedade, segurança, felicidade, orgulho de fazer parte de um patrimônio histórico-cultural, de continuidade com a cultura e a histórica de seus antepassados. Sentimentos que estão enraizados e sedimentados no psiquismo pela educação e convívio social e que não pode dispensar em razão das raízes afetivas e emocionais, que têm o poder de condicionar o seu comportamento. Por este motivo sente-se estranho, frustrado, ameaçado e inseguro em outras culturas diferentes.

Numa linguagem mais científica também está associada à palavra grega ethos

Ethos (em grego: hábito, costume, uso, caráter, disposição) é o conjunto de traços e modos de comportamento que conformam o caráter ou a identidade de uma coletividade” (em https://pt. wikipedia.org>wiki>).

Nesta categoria o autor menciona as guerras dos tipos: nacionais, religiosas, étnicas e ideológicas incluindo nestes as guerras por motivações ofensivas e defensivas, o chauvinismo e a xenofobia (p. 68).

Acredito serem quase todas autoexplicativas, mas merecem alguns poucos comentários. O que podemos observar e concluir da longa lista apresentada pelo autor é que para muitas guerras podem coexistir diferentes causas e que algumas também podem ser classificadas em tópicos diferentes, como socialismo x capitalismo, feudais x burguesas. As revoluções tanto podem ser ideológicas (Revolução Francesa, Russa), políticas e econômico-sociais ou uma miscelânea delas. Também as ideologias e o nacionalismo fazem parte da cultura de uma nação ou comunidade e assim por diante. Mas isto pouco interessa para o nosso propósito, porque há uma dificuldade muito grande na própria classificação e esta opção foi apenas para efeitos didáticos.

Quanto às motivações, o autor com base em Lebow, que analisa as guerras pós Vestfália, durante três séculos, identifica: segurança (medo), interesse (necessidade), estatuto (honra), vingança (represália).

Verificam-se alguns pontos de contato entre as classificações dos diversos autores. A classificação de Sun Tzu é mais genérica. O estatuto (honra) assemelha-se à “luta pela glória” de Tzu. A “acumulação de animosidade” (de Tzu) abrange a de “represália (vingança)”. As guerras por “vantagens” (Tzu) podem ser associadas às guerras “políticas” (preventivas e geoestratégicas) e “econômico-sociais”.

De particular interesse para este artigo são as guerras geoestratégicas, que podem ser tanto “políticas”, “econômicas” e “ideológicas”, relatadas por Correia ou as lutas por “vantagens” (de Tzu).

Elas podem ser consideradas como políticas  quando relacionadas a uma ocupação local ou por alianças que traga vantagens estratégicas em comparação ao inimigo ou rival (seria por exemplo o caso da ocupação das Colinas de Golã por Israel, pois dá-lhe um campo visual bastante abrangente sobre o inimigo Síria, e também permite o controle de água em relação aos palestinos, onde se encontra a nascente do rio Jordão), desmotivando-o relativamente.

A ocupação geopolítica de caráter econômico se dá quanto ao controle de regiões ricas em recursos naturais, que sejam importantes para a economia (indústria) do país controlador (2ª Guerra do Iraque, guerras e partilhas da África). Ela também pode assumir uma configuração política quando se dá através de alianças políticas que garantam o fornecimento e o escoamento das matérias primas.  Nesta categoria encontram-se os EUA em relação aos países do Oriente Médio.

E ela também pode ser ideológica quanto à conquista para cooptar uma região (nação) que venha a ser um potencial rival no futuro, modificando o status e equilíbrio da ordem internacional vigente, em prejuízo do país invasor. A guerra do Vietnam teve esta conotação, muito embora existissem concomitantemente motivos políticos. Conter a ideologia socialista e o avanço do poder soviético.

É importante observar que pode até prevalecer uma tipologia específica, mais para efeitos didáticos, mas nas guerras coexistem mais de uma causa ou motivo.  

Nye nos traz uma longa explanação sobre a causa da Guerra do Peloponeso, baseada em Tucídedes, mencionando a ameaça de quebra do “equilíbrio do poder” (relacionado ao problema de segurança), entre Atenas e Esparta:

“O que tornou a guerra inevitável foi o crescimento do poder de Atenas e a apreensão que isto causou em Esparta” (P. 18).

É provável que enquanto nômades não houvesse guerra entre os seres humanos, por falta de uma organização e por não existir “acumulação” que chegou com a organização das tribos e sedimentação (agricultura e domesticação dos animais). Todavia é provável que existissem escaramuças entre grupos para se apropriarem dos alimentos e de regiões mais férteis, como acontece com alguns animais. 

Keegan aborda a questão de forma diferente. No capítulo “Porque lutam os homens? começa colocando uma questão que intriga todos nós humanos, quanto à natureza violenta do ser humano, para posteriormente discorrer sobre as diversas teorias “científicas” que procuram desvendar este enigma:

“É a imprevisibilidade do comportamento humano, sobretudo a do comportamento violento, nos indivíduos e nos grupos, que os desafia a fornecer explicações” (117).

Diz não haver duvidas sobre a potencialidade da violência humana, mas coloca em questão a natureza violenta do homem, dividindo o problema em duas correntes: os que acreditam na violência natural e os que endossam o ponto de vista de que a potencial violência é posta em razão de fatores materiais.

Com fundamento na neurologia coloca a visão dos neurologistas que concluem:

“que as reações ao medo, à aversão ou à ameaça que são resolvidas pela agressividade – mas também pela defesa – têm origem no sistema límbico. [...] lesões nos lóbulos frontais do homem podem provocar explosões incontroladas de agressividade [...] não seguida de remorso” (Keegan, p. 118).

Em seguida menciona as hormonas, secretadas pelas glândulas endócrinas, mormente a  testosterona, produzida nos testículos, que é responsável pelo comportamento agressivo, de acordo com as concentrações. Os cientistas também descobriram que a redução dos níveis de serotonina aumenta a agressividade.

Segundo, ainda, o autor:

“As provas produzidas pela experiência genética e ainda mais pelos animais criados em condições laboratoriais não fornecem, porém, resposta às questões sobre a disposição agressiva de uma criatura viva, incluindo homens, no seu meio ambiente.

“É necessário negar toda a ligação genética ente o homem e o resto do reino animal – uma posição defendida apenas pelos criacionistas radicais – para desconsiderar a possibilidade de que a agressividade pode fazer parte da herança genética do homem.

Esta indiferença sugere também que os proponentes do ponto de vista de que o homem é naturalmente agressivo dão muito pouco importância à influência moderadora de outras partes do cérebro para além do sistema límbico” (keegan, pgs. 122/3).

Cita Freud em “Porque a guerra?”, uma em  correspondência com Einstein, de <<que o homem tem dentro de si uma ânsia pelo ódio e pela destruição>>. Quem sabe, uma luta contínua entre os instintos de “vida” e de “morte” (destruição).

Continuando, cita Conrad Lorenz, zoólogo e etólogo agraciado pelo prêmio Nobel, para quem, nas suas   observações de animais em estado selvagem e ambientes controlados, “a agressividade é uma <<pulsão>> natural cuja energia provém do próprio organismo, que faz uma <<descarga>> quando                            estimulado por uma alavanca apropriada”(p. 124).      

Todas estas visões “científicas” levaram, como em outras questões relativas ao comportamento  humano, a um impasse não só entre teorias ligadas às ciências naturais e às ciências sociais. Mas também dentro das ciências sociais que procuram fazer um elo entre o comportamento animal e o humano, a partir, mormente, dos mamíferos, e aquelas que colocam a ênfase exclusivamente na educação, na cooperação e na sociabilidade do ser humano.

Cito novamente Keegan:

“Para as feministas, os educadores progressistas e os relativistas moralistas Coming of age in Samoa continua a ser uma obra sagrada, quer estejam disso conscientes ou não. O determinismo cultural teve também uma profunda influência nos colegas antropólogos de Boas no mundo anglo-saxônico, mas por uma questão diferente” (p. 128).

Quanto a estas questões, podemos afirmar que a cooperação e a sociabilidade não são características apenas da espécie humana, mas também de animais, muitos dos quais altamente sociabilizados, nos instrumentos de defesa e ataque, de comunicação grupal e de compartilhamento em diversos aspectos (muito interessantes são os suricatos, as alcateias e mesmo as formigas e abelhas).

Por outro lado, conforme já destaquei no artigo “Sapiens”, comentários sobre o livro de Harari, do mesmo nome, que a sociabilidade convive pari passu com a competição e agressividade.

A cooperação não elimina a competição intragrupo, por liderança” (em, “melisiofrota. blogspot.com”).

Também afirmei que “é aceito cientificamente que embora a testosterona não seja isolada e unicamente responsável pela agressividade ela é um fator facilitador” e que:

“Na antiguidade não era raro castrar os homens por motivos bélicos. A perda de capacidade de produzir o hormônio testosterona reduzia a capacidade muscular e a disposição para liderar revoluções”.

Entretanto, é o próprio Keegan quem coloca a questão e não fornece a resposta:

“A observação é que a guerra é um fenômeno universal, praticado em todas as épocas e lugares desde o fim da era glaciar;” (p. 78).

Em vista deste impasse escrevi:

“Outrossim a questão da agressividade (violência) ser “natural” ou se é desencadeada por “fatores materiais” é até certo ponto, me parece, de pouca relevância prática, tratando-se de mais um preciosismo científico. Porque existirão sempre fatores, sejam culturais, psíquicos ou psíquicos-culturais (propriedade privada, riqueza, culto aos guerreiros, preconceitos, traumas, sentimentos de superioridade, vingança, inveja, ciúmes, vaidades), biológicos (medo, defesa, fome, prevenção) e objetivamente materiais ( geográficos, climatérios, demográficos, escassez de recursos) que se interligam, desencadeiam e motivam-justificam a violência e a guerra, levando a questão a um círculo vicioso” (“Sapiens”, em melisiofrota.blogspot.com).

O cérebro compõe o SNC (Sistema Nervoso Central) e nele encontra-se o sistema límbico que:

“é responsável pela vida emocional de tem importante papel na formação da memória” (Carvalho, p. 266);

“As regiões límbicas têm um papel importante nas emoções que originam reações orgânicas e comportamentais específicas, como aquelas que são despertadas pelo medo, fúria, ou emoções de cariz sexual. Elas intervêm no sentir, no comportamento alimentar, de acasalamento, luta e procura de refúgio [...]” (Almeida, p. 249, em “Introdução ...”).  

O hipotálamo, localizado no sistema límbico:

“Coordena as atividades mais automáticas do organismo, controla os estados de sono e vigília e regula o equilíbrio da água e da temperatura corporal. É responsável por regular a fome, a sede, resposta à dor, níveis de prazer, satisfação sexual e comportamento de raiva e agressivo” (Carvalho p. 125/6).

Quanto ao lobo frontal:

“A informação, filtrada pelo tálamo, atinge outras regiões do córtex, onde é efetuado o seu processamento final. Muita dessa informação viaja até ao lobo frontal, a peça inteligente do cérebro. Utiliza a informação recebida para tomar decisões, para fazer planos. A serotonina pode influenciar o modo como o lobo frontal toma as decisões, quer ajudando ou dificultando o tálamo” (Carvalho, p.144/5).

“Encarrega-se do planejamento consciente e controla a atividade motora aprendida, como a articulação da linguagem, o pensamento e a planificação do futuro (idem, p. 123).

E aqui chegamos ao cerne da questão. Muito embora os argumentos de Keegan, sobre a agressividade e seu controle, sejam interessantes não significa que os diversos “componentes” do cérebro e, principalmente, do sistema límbico interajam de forma semelhante em diversos indivíduos, prevalecendo sempre o comportamento socialmente adequado, regulado pelo córtex. Em outras palavras, o sistema mais desenvolvido serviria para controlar e mediar uma “pulsão” básica e elementar que é a agressividade, sem a qual a espécie humana não teria sobrevivido:

“Assim, diferentes comportamentos poderão ser explicados pelas diferentes alterações aos circuitos no interior da amígdala ou entre a amígdala e outras regiões. Especificamente o medo excessivo e desadequado poderá ocorrer devido a hipersensibilidade da amígdala, detectando perigo e respondendo de forma defensiva a uma situação que outra pessoa ignoraria. Pelo contrário, a amígdala poderá ser por demasiado reativa, respondendo com uma defesa mais vigorosa que de outra pessoa para o mesmo nível de perigo. Qualquer um desses desarranjos poderá advir de causas genéticas ou de experiências traumáticas, ou de alguma forma geradora de grande tensão, ou de alguma combinação das duas” (negritos meus, Carvalho, p. 137). Nota (3).

E diante destes fatores conclui-se que o organismo “biológico” humano, incluindo a mente, está apto e receptivo, até onde a história nos permite visualizar, a interagir com os diversos estímulos culturais e psíquicos que poderão impulsionar e predispor o ser humano para uma menor ou maior agressividade e, como consequência, para a guerra.

Neste sentido, podemos admitir que muitas vezes as normas sociais e as leis além de serem preventivas são mais inteligentes que os estudos científicos, porque desde os primórdios punem as agressividades ameaçam os sistemas sociais, salvaguardando os interesses das coletividades, permitindo assim a perpetuação  destas ao longo do tempo.   

Importante realçar que o antropólogo Franz Boas considerou “improdutiva a busca pelas origens” da agressividade (Keegan, p. 127), algo muito parecido com o antigo questionamento, colocado aos jovens, sobre quem surgiu primeiro: o ovo ou a  galinha. 

Quanto à questão da “guerra pela guerra”, relacionada como um dos cinco tipos de guerra, Keegan nos dá como exemplo os Marings:

“Uma delas é que os marings vitoriosos raramente ocupavam todo ou sequer algum território de um clã derrotado, por receio que alguma magia negra ali deixada pudesse torná-lo inseguro. A outra é que o calendário da guerra coincidia sempre com a prontidão de um grupo de clãs em oferecer a oferenda sacrificial necessária aos espíritos ancestrais para ajudar na batalha.

Na verdade, podemos pensar que os marings lutavam por hábito, talvez até por gozo, e não por uma qualquer razão avançada por uma teoria antropológica (p. 145).

Ficamos com o desafio de enquadrar os motivos mais variados das guerras com a frase de Gengis Khan sobre qual seria o “mais doce prazer da vida” (Keegan, p. 254):

“O maior prazer do homem é perseguir e derrotar o inimigo, apoderar-se de todas as suas posses, deixar-lhe as mulheres viúvas a chorar e lamentar-se, montar os seus cavalos e usar o corpo das suas mulheres como camisa de noite e apoio”.

As escaramuças para se apropriar da caça do outro, não necessariamente pela fome, provavelmente existiram nos primórdios, quando o ser humano ainda era nômade.

Que se diga que a agressividade humana não se limita e se manifesta somente na guerra, mas, muito mais, a nível individual e grupal, tais como: homicídios, violência doméstica, rivalidades entre gangues nas grandes cidades, crime organizado, os bullies perpetrados por crianças e adolescentes nas escolas, que trazem transtornos psíquicos às vítimas na maturidade.

Segundo alguns criminologistas, os principais motivos para os crimes de homicídio são (sem ordem de prioridade): cobiça, triângulo amoroso, ciúme, vingança, rivalidade, violência doméstica, tráfico de drogas. A estes podem ser somados muitos outros.

Por outro lado, pode-se admitir, sem ser um exagero, que os diversos tipos de violência sofridos na infância e até mesmo adolescência (tanto no ambiente familiar quanto nas escolas – os diversos tipos de bullying) podem predispor o indivíduo a uma passividade extrema que beire uma  psicopatologia, mesmo que ainda permaneça  algum resquício de agressividade.

Além disto, a agressividade pode se manifestar sob diversas formas: físicas, psicológicas, econômico-financeiras, políticas.

Baños, em seu livro, afirma que as nações possuem os mesmo vícios, fraquezas e baixezas do ser humano, procurando associar os sete “Pecados Capitais” às nações (avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça, soberba).

Ninguém põe em dúvida o fato de que estes comportamentos agressivos seriam muito mais disseminados nas sociedades caso não existissem previsões punitivas, aplicadas através do sistema jurídico e prisional.

No entanto, não existe, e dificilmente existirá, uma entidade internacional “isenta” e com tal poder coercitivo, para punir as nações agressoras, porque as nações teriam que abrir mão de suas soberanias.

E, também, tendo em vista as enormes diferenças culturais das sociedades ou nações, com ideologias diferentes, as entidades internacionais teriam sérias dificuldades em “sopesar” os problemas e as respectivas soluções atendendo os diversos pontos de vista, sem antecipadamente assumir uma ideologia específica. Por isso mesmo, em regra, na atualidade, a ideologia dos diversos organismos internacionais está alinhada com determinados países, ou mais precisamente com os países mais poderosos. E isto, por si só, já seria um problema.  

Outrossim, é uma verdade inquestionável que os homens, em regra, são mais agressivos que as mulheres e são a grande maioria no sistema carcerário (em torno de 85% a 90%) e cometem em muito mais homicídios. Alguns cientistas realçam o papel da testosterona, confirmada através de pesquisas em laboratórios.

Muitas guerras foram deflagradas por indivíduos loucos e psicopatas, que souberam muito bem tirar proveito e manipular os sentimentos e emoções de uma grande maioria da população “crédula”, mas que incapaz de apaziguar os seus demônios interiores, despreparada para lidar e com os próprios sentimentos.

Rivalidades históricas também contribuíram para as guerras e muitas ainda revelam animosidades históricas entre comunidades (nações) e poderão ser um estímulo para reacender os pavios de pólvoras para novas guerras, como: japoneses versus coreanos e chineses, germânicos versus eslavos, palestinos versus judeus, indianos versus chineses e paquistaneses, coreanos do norte versus do sul, e assim por diante. Muito embora, os árabes sunitas lutem entre si, é provável que por trás dos conflitos entre xiitas (iranianos) e sunitas pela hegemonia regional existam questões étnicas, pois os iranianos são indo-europeus, o que não é bem muito bem aceito pelos árabes, para liderar o islamismo. 

Para Branco:

“A dissolução violenta da Jugoslávia não ocorreu porque os povos que a constituíam tivessem tendência inata para a violência, como muitos defenderam. Foram circunstâncias históricas com protagonistas internos e externos que os conduziram à violência. No que respeita aos atores internos não podíamos deixar de sublinhar a irresponsabilidade dos líderes locais e o evidente desprezo pelos interesses dos povos que diziam representar” (negritos meu, p. 267).

A relação entre líderes e liderados é mais complexa do que se imagina e a democracia representativa não seria a panaceia para resolver os males da guerra. A escalada de Hitler ao poder começou com a expressiva votação do Partido Nazista (1930, 1932), consumada posteriormente com o apoio dos Junkers prussianos, em 1933, com a queda da República de Weimar, que se tratava de uma democracia representativa (Hawes). E Milosevic também foi eleito, na antiga Jugoslávia. Vide tópico sobre a “Democracia Americana”.  

Na Itália, Berlusconi foi eleito porque representava o ideário do povo italiano; era rico, fanfarrão e se apresentava acompanhado por lindas mulheres. Trump admirado por sua fortuna, num país em que a riqueza pessoal é demasiadamente valorizada,  independentemente do modo pelo qual foi adquirida, também soube manipular o orgulho e as aspirações do povo americano, por ser muito competitivo, megalomaníaco, audacioso, egoísta e com a promessa de tornar o pais “Grande outra vez”.   

Segundo Boniface:

“Embora devamos aceitar a ideia de alargamento da democracia a todo o planeta, não é certo que isto baste para assegurar a paz. [...] seria contrário à realidade apresentar os ditadores como sendo por natureza regimes agressivos para o exterior. É inegável que o são para as suas próprias populações e para as democracias dos países pacíficos. O Chile de Pinochet foi extremamente pacífico nas suas relações com os seus vizinhos e nenhuma das várias ditaduras latino-americanas nos anos 1960 a 1980 se lançou numa guerra (p.203).

Em período de tensões estratégicas, as opiniões públicas não desempenham um papel apaziguador, pelo contrário contribuem para o sentimento beligerante. São necessários líderes particularmente fortes e carismáticos para imporem a via da sabedoria e da negociação. Esta é, por definição, incerta e os seus efeitos nunca são imediatamente positivos (p. 204).

Ainda teríamos de mencionar a influência dos media que não são neutros, são sensacionalistas, divulgam ou não os fatos de acordo com os seus interesses ou os distorcem convenientemente e no mais das vezes são cooptados pelo poder.

Cito Branco, sobre a Guerra nos Balcãs:

“O que se assistiu durante o conflito na antiga Jugoslávia e que se tem vindo a agravar de uma forma dramática nas democracias ocidentais é a criação de narrativas que se tornaram formas de controlo social, passadas através de todos os meios que possam transmitir informação. Estas práticas deixaram de ser monopólio de regimes ditatoriais; de um modo mais sutil e elaborado, tornaram-se comuns nas democracias liberais corroendo a liberdade de expressão e de pensamento. O pensamento fora do mainstream arrisca a marginalização, o rótulo de radical e em última análise a ostracização” (p. 268). Continua em (4).

A controvérsia sobre a agressividade, entre ser inata ou adquirida, coloca em um lado psicanalistas, sociólogos e demais “cientistas” sociais, de outro biólogos, neurocientistas e geneticistas e dúvidas nos criminologistas.

Contudo, parece inegável que tanto os traumas, maus tratos e abusos na infância quanto o meio social são razões para comportamentos muitos distorcidos. Hoje neurocientistas e geneticistas já admitem que o meio ambiente (em sentido lato) modula as sinapses, os neurônios e os genes, fato que já era perceptível (para quem criou animais, por exemplo), muito embora alguns argumentem em sentido contrário através de exceções.

Mas, advirto: “As exceções não são regras”; e, por isso mesmo, os resultados comportamentais destas interações são imprevisíveis, em si mesmas, principalmente, quando entram em contato com os vícios mais profundos da alma humana.  

De qualquer modo, mesmo com a minha ignorância sobre a matéria, me atrevo a citar Almeida:

“O sistema vegetativo prepara o físico e a mente do homem para a agressão. As posturas características e as alterações orgânicas que se verificam no comportamento agressivo estão dependentes da atividade deste sistema autônomo” (negrito meu, Almeida p. 58 em “A educação dos genes”).

“O comportamento do homem é o resultado de uma interação variável de fatores genéticos e ambientais. Existe na espécie humana um comportamento instintivo, que é aquele que depende inteiramente dos genes e não resulta da aprendizagem” (p. 119).

“No desenvolvimento das sinapses podem con siderar-se três estágios ontogénicos. No primeiro dá-se a sua constituição no ser em desenvolvimento. Depois, em fases precoces do desenvolvimento existe uma validação e a modelação de novas sinapses por estímulos ambientais apropriados.

“Os fatores biológicos, que no fundo constituem à constituição genética, vão interagir com os fatores sociais para caracterizar o comportamento dito normal ou patológico”

“Os fatores ambientais modulam frequentemente a expressão dos genes. A aprendizagem altera as conexões sinápticas, a libertação de neuro- transmissores proteicos, cuja formação é geneticamente determinada, e até a arquitetura da estrutura cerebral. Apesar de uma pessoa se individualizar pela sua constituição genética e também pela estrutura cerebral, a personalidade forma-se ou pode modificar-se parcialmente, com base nas experiências vividas (pgs 121/2, em “A educação dos genes”).

“Tal como existem genes moduladores dos efeitos ambientais, que inibem ou promovem certas influências do ambiente, também se verifica uma interferência positiva ou negativa do ambiente no efeito dos genes” (idem, p.124).  Nota (5).

E o que seriam todas as experiências vividas (da vida)? Será que poderíamos incluir nestas os traumas da infância e adolescência e o ambiente social?

Considerando todas estas complexas interações, a conclusão que podemos chegar é que não existe um resultado previsível em relação ao comportamento do ser humano e os estímulos sociais (fatores ambientais), necessariamente, não eliminarão, por completo, a “pulsão” para a agressão.

Mas, se é verdade que a educação, o meio ambiente e as experiências da vida moldam as sinapses e os DNAs (e não sabemos em que grau), por fim o comportamento humano, as instituições das sociedades ao longo da história não têm sido aptas (pelo contrário) para acalmar e não despertar os demônios que se encontram em nós: egoísmo, vaidade, luxúria, vingança, ganância, ódio, medo, são as matérias primas sobre as quais trabalharão os líderes e psicopatas através de ideologias racistas, de concorrência exacerbada, nacionalismo, xenofobismo, chauvinismo, etc.

Se adotarmos esta  perspectiva, ou melhor, esta constatação científica, podemos concluir que os conflitos não darão tréguas.

E a história não deixa por menos porque nos legou tensões entre os povos que permanecem e até o momento se tornaram inconciliáveis. Os momentos históricos, as rivalidades, se perpetuaram porque se  cristalizaram e impregnaram as mentes de diversos povos, e passaram para gerações seguintes através das tradições orais, da literatura, da arte, da cultura, do culto aos monumentos que lhes dão significado simbólico de pertença cultural e grupal, do orgulho dos seus antepassados, enfim de suas próprias histórias, contadas e repetidas.

Conforme esclarece Friedman, sobre as tensões na Europa:

Uma região fronteiriça demora muito a desaparecer. Este é o problema fundamental da União Europeia. Podemos tentar fingir que a esquecemos. Podemos esquecer, podemos tentar esquecer, mas a memória, o medo e o rancor nunca desaparecem por completo. E quando as situações ficam difíceis [...], as memórias surgem, juntamente com o medo e o rancor. Os europeus pensam que isso não poderá voltar a acontecer.  Tentam esquecer a Jugoslávia e o Cáucaso. Ignoram a Ucrânia. Mas os velhos hábitos são difíceis de superar (p. 199).

“Cada região vive uma realidade diferente, e as diferenças são inconciliáveis” (p. 372)

Por outro lado, os líderes sabem como manipular as fraquezas e vícios humanos e a história (inclusive nos tempos atuais) nos dá mostra disto.

        “Vaidade, vaidade, tudo é vaidade” (Eclesiastes).


NOTAS (ANEXO)

(1). Em dois documentários levados ao ar pelo “History Channel Lineup” cientistas de diversos países concluíram que houve uma hibridação (miscigenação) entre sapiens e Neandertais, em torno de 60.000 a.c. e que, coletivamente, 30% do seus genoma pode ser encontrado em nós, com exclusão dos africanos, como nos cabelos e pele, sendo o gene BNC2, um traço herdado, responsável pela pigmentação da pele.

Para a sua extinção, que ainda continua um mistério, cientistas levantaram a hipótese que uma erupção do Campi Flegrei, um super-vulcão, situado na província de Nápoles, cujos gazes tóxicos atingiram da Rússia à Líbia, Oriente Médio, Ásia Central e o leste e sul europeu, locais mais prováveis onde viviam os Neandertais. A luz solar desapareceu por meses ou anos, impossibilitando a sobrevivência. Os humanos atuais estavam mais espalhados pelo globo. Sua última erupção devastadora ocorreu há 40.000 anos (uma das maiores de todos os tempos), época que coincide com a extinção dos Neandertais. Com esta erupção os últimos vestígios dos Neandertais (provavelmente um clã) situavam-se nas cavernas de Gibraltar e acontecimentos fortuitos ou catastróficos os extinguiram (“O último Neandertal” e “Neandertal apocalipse”, em History Channel Lineup, 16.09.2020  e  “Supervulcão associado com a extinção dos Neandertais mostra sinais  de vida”, em www.megacuriosos.com.br > geologia).

(1B). Convém salientar certas passagens de Darwin:

“Nas nações civilizadas, quando se trata de um nível avançado de moralidade, e de um numero de Homens suficientes bons, a seleção natural tem aparentemente pouca influência; ainda que os instintos sociais fundamentais tenham sido originalmente adquiridos por esta via (p. 161).

A crença de que o maravilhoso progresso dos Estados Unidos, assim como o do caráter do seu povo, são o resultado do seu povo tem aparentemente uma grande parte de verdade; porque os himens mais enérgicos, impacientes e corajosos de toda a parte da Europa emigraram [...] para este grande país, onde tiveram mais sucesso (p.164).

Na há dúvida de que o Homem, como qualquer outro animal, progrediu e chegou à sua elevada condição atual, graças à luta pela sobrevivência [...]; e, se vai continuar a progredir, é, portando de recear que tenha de continuar a estar sujeito a uma luta severa pela sobrevivência. Caso contrário, acabaria por sucumbir à indolência, e os homens mais dotados não teriam mais sucesso no combate da vida que os menos dotados. [...] Além disso, a competição deveria estar acessível a todos os homens; e não deveríamos, pelas leis e pelos costumes, os mais capazes de ter mais sucesso e de criar um maior número de descendentes. Mas, por mais importante que tenha sido, e que ainda seja, a luta pela sobrevivência, há, contudo, no que diz respeito à componente mais elevada da natureza humana, outros fatores mais importantes: as qualidades morais progridem, direta ou indiretamente, muito mais aos efeitos do hábito, às capacidades de raciocínio, à instrução e à religião, etc, do que graças à seleção natural; embora os instintos sociais dependam, com toda a certeza, deste último fator, e sejam eles quem fornece as bases necessárias para o desenvolvimento do sentido moral” (p. 636).

(2).“Estivesse a sua mente equipada com apenas mais uma dimensão intelectual – ainda que fosse já, sem dúvida, uma mente sofisticada – e talvez Clausewitz tivesse conseguindo compreender que a guerra envolve muito mais que a política: é sempre uma expressão de cultura, frequentemente um determinante de modelos culturais e, em algumas sociedades. A própria cultura” (p. 32).

 “Este rito de passagem (o autor se refere a passagem para os regimentos) tornou-se um importante elemento cultural na vida europeia, uma experiência comum a quase todos jovens europeus do sexo masculino ,e, graças à sua universalidade, à pronta aceitação pelos eleitorados como uma norma social e à incontornável militarização da sociedade, foi também mais uma validação da máxima de Clausewitz de que a guerra era a continuação da atividade política” (p. 43).

“O mais importante destes desenvolvimentos foi a proliferação do regimentalismo em que Clausewitz foi criado” (p. 42).

“A política é contudo praticada para servir a cultura, e os polinésios, no seu mundo alargado ...” (p. 51).

“Clausewitz tinha, por certo, conhecimentos da Batalha das Pirâmides e muito provavelmente também do massacre do Cairo. Estes acontecimentos deveriam ter sido para ele indicadores de que a cultura é uma força tão poderosa quanto a política na escolha dos meios militares e que, muitas vezes, prevalece sobre a lógica política ou militar. [...] Moltke testemunharia o culminar do papel de Muhammed Ali como agente do poder otomano nas velhas terras mamelucas, numa sucessão de eventos que demonstrara quão mais persistente é a cultura do que a decisão política, enquanto fator determinante das questões militares” (P. 66).

“[...] pois o colapso do império turco em 1918 coincidiu, claro, com o colapso do seu próprio império e exatamente pelas mesmas razões: escolha deliberada da guerra para fins políticos errados. Os <<jovens turcos>> [...[ foram para a guerra do lado da Alemanha porque acreditavam que isso contribuiria para fortalecer a Turquia. A Alemanha partira para a guerra porque acreditava que fazê-lo era por si só um meio de se fortalecer” (p. 68). 

(3).“O cérebro do adolescente é diferente do cérebro de um adulto. Os adultos usam o córtex cerebral para processar a informação. Um córtex frontal ativo é sinal de maturidade   emocional  e  inteligência. Os  adolescentes

utilizam uma parte mais antiga do cérebro – a amígdala – para processar a informação. A amígdala, uma pequena região do sistema límbico, foi uma das primeiras estruturas a desenvolver-se à medida que o nosso cérebro evoluiu. É onde estão as reações instintivas, como a raiva e o medo. Quando estimulada eletricamente os animais respondem com agressão. Caso a amígdala seja removida os animais ficam muito mansos e não mais respondem a coisas que lhe teriam estimulado uma resposta agressiva anteriormente. [...] As reações instintivas da amígdala são suavizadas pelo córtex frontal, onde residem o planeamento, a razão e o julgamento moral (Carvalho, p. 136).   

Os psicopatas (sociopatas) “Conseguem manipular, acalmar e controlar os outros facilmente. São pessoas extremamente egocêntricas. [...] Não têm o que geralmente se designa como empatia. [...] A verdade é que não se sabe se os psicopatas nascem assim (p. 288).

A investigação prova que existe uma base biológica para o comportamento do sociopata. O seu estado é o resultado de um distúrbio específico do cérebro (Carvalho, p. 289).  “A intensidade de cada uma destas conexões é afinada pela experiência e pela memória. Os receptores numa sinapse podem mudar de forma após um surto de atividade” (Carvalho, p. 128).

 (4). “Com estas narrativas procura-se vender às opiniões públicas como elas devem ver os acontecimentos e simultaneamente condicionar as suas opiniões, numa mistura de operações psicológicas, propaganda e relações públicas mais recentemente embrulhadas num conceito do strategic communications. Trata-se de moldar atitudes e comportamentos recorrendo a um conjunto articulado de mensagens e temas subordinadas a agendas pré-definidas. Falamos da propaganda disfarçada de notícias. Foi exatamente isso que se ensaiou no conflito da antiga Jugoslávia e que tem sido posto em prática de forma sistemática e mais articulada em conflitos posteriores. Foi desse modo que as opiniões públicas e outros atores com maiores responsabilidades políticas e sociais “compraram” sem questionar os acontecimentos ocorridos em “Srebrenica”, os bombardeamentos de Saravejo, o bombardeamento da Jugoslávia em 1999e, mais recentemente, numa escala maior a “necessidade” de invadir o Iraque, entre outros casos” (Branco, p. 268/9).

(5).“O comportamento da espécie humana tem muito a ver com a motivação e esta relaciona-se com as emoções. Por outras palavras, o valor emocional de qualquer estímulo é avaliado pelo sistema nervoso central e neste especialmente pelo córtex cerebral. A apreciação do estímulo vai ter como consequência a gênese de uma experiência interna, na qual participam o sistema nervoso autônomo, ou vegetativo, e também o sistema endócrino. Essa experiência interna de cariz emocional vai então dar origem a um comportamento, que resulta da relação emotiva entre a natureza do indivíduo e o seu meio ambiente. A natureza do indivíduo, ou seja, a sua maneira de ser, revelada na personalidade e temperamento, resulta da interação entre duas componentes, a carga genética e a representação que em si foram criando todas as experiências da vida.

O comportamento exige motivação. Existem motivações primárias, que se associam à manutenção de um estado de equilíbrio no organismo, aquilo que se denomina homeostase. [...] É a motivação de sobrevivência e prazer (Almeida, p. 255, em “Introdução à Neurociência” ).

Existem comportamentos que resultam de motivações diferentes, bastante mais elaboradas. Estas associam-se, por exemplo, a fatores emotivos ou culturais mas continuam no entanto sempre envolvidas num jogo permanente entre fenômenos de punição e recompensa (idem, p. 257).

A modulação do sistema nervoso autônomo, ou vegetativo, é assumida pelo hipotálamo, que constitui o seu principal centro coordenador no sistema nervoso central (p. 337).

“Estuda-se desde há anos, com muito interesse, a denominada doença do stresse pós-traumático. Esta situação patológica começou por ser investigada em militares e em vítimas de conflitos bélicos. Passou depois a estudar-se em outras situações geradoras de grande tensão psíquica, como os acidentes de viação, a violência no seio da sociedade e os abusos sexuais. Podem sintetizar-se as suas manifestações principais em perturbações da memória, pesadelos, preocupação exagerada, falta de capacidade de concentração e inaptidão social (Almeida, p. 347, em “Introdução ...” ).

Mas não é só:

“A interação de particularidades psicológicas como a energia psíquica, a capacidade de trabalho, o envolvimento intelectual, a sensibilidade, a emotividade, a agressividade, a passividade ou a tolerância, o caráter ou a sua resposta à mudança, ou ao stresse, constituem de fato a personalidade de um indivíduo. É no fundo um conjunto de forças intrínsecas que são interdependentes e se mantêm num equilíbrio instável, e por outro das experiências da vida” (idem, p. 125/6).

“A natureza do indivíduo, ou seja, a sua maneira de ser, revelada na personalidade e temperamento, resulta da interação entre duas componentes, a carga genética e a representação que em si foram criando todas as experiências da vida” (idem, p. 255).

“A intensidade de cada uma destas conexões é afinada pela experiência e pela memória. Os receptores numa sinapse podem mudar de forma após um surto de atividade” (Carvalho, p. 128).

 

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 Registro: IGAC Autores - Lisboa, em 31/07/2020

 Nº Ref: SIIGAC/2020/3338



 CONTINUAÇÃO: 4ª PARTE


                             A NOVA GEOPOLÍTICA

(FUNDAMENTOS E IDEOLOGIA)

-A geopolítica Pós Guerra-Fria-


                                                            CONCLUSÃO

Acredito não restarem dúvidas de que novos fatores, alguns imprevisíveis, passaram a ter relevância e deverão ser levados em consideração na gestão das relações internacionais e com isto novos “instrumentos” e formas de gestão foram postos, alterando de certa forma o contexto em que eles se inserem, na prática da gestão política internacional. 

Mas, a questão relevante que se coloca é se estes fenômenos, estas novas práticas foram tão significativas a ponto de serem capazes de substituírem também os instrumentos antigos e os objetivos da geopolítica clássica.

Em outros termos, questionamos se realmente a busca pela supremacia mundial, que predominou à época da geopolítica clássica foi efetivamente relegada para um plano secundário, sendo substituída por objetivos mais nobres e verdadeiramente altruístas como a busca pela paz, o respeito aos Direitos Humanos Universais (de todos os povos), em sentido lato, enfim, por uma gestão política internacional conscienciosa que privilegia a sobrevivência humana, ameaçada de extinção pelo desenvolvimento tecnológico das armas e por uma industrialização descontrolada com danos irreversíveis à natureza.

Na Introdução afirmei que os politólogos da Nova Geopolítica, esperançosos por um mundo em paz, falharam em 2 pontos. Em primeiro lugar, conforme procurei demonstrar neste artigo, a luta pela hegemonia mundial continua e inclui novos pretendente; em segundo, com base nas conclusões sobre o fim da Guerra-Fria, estenderam as suas vãs esperanças para os outros países não hegemônicos e esqueceram os “Focos de Tensão” (Friedman), que também existem entre eles.   

É neste sentido que questiono se as predisposições inatas do ser humano para dominar, controlar, agredir, ameaçar, subjugar podem ser sublimadas pelo respeito aos semelhantes, ou, ainda, simplesmente, pelo enaltecimento de virtudes, que até o momento não foram capazes de amenizar os “instintos” mais que animalescos.

Mas, muito embora, a era da energia nuclear tenha sido um sinal de alerta que contribuiu de alguma forma para o poder de dissuasão durante a Guerra- Fria, ela não foi capaz de frear os investimentos das nações em armamentos mais sofisticados, aumentando ainda mais os seus artefatos nucleares. Outrossim, não impediu que as guerras se deslocassem para as periferias do mundo desenvolvido, áreas de disputas das grandes nações rivais, segundo os seus interesses geopolíticos. Pelo contrário, abriu novas frentes de estímulo aos conflitos e às guerras em outros países.

Evidentemente, se considerarmos que a agressividade é uma questão que diz respeito a evolução da espécie, no sentido darwiniano, estaremos diante de um dilema (15).

Estaremos, ainda, diante de um dilema se levarmos em consideração a questão da acumulação desenfreada de riqueza, em benefício de certas camadas sociais (classes), tão bem admirada e incentivada, principalmente na sociedade americana, onde as virtudes são avaliadas pela competitividade excessiva e pela riqueza pessoal, que trazem conflitos em escala nacional, transporta-os  para a internacional, em busca de recursos naturais e poder.

Mesmo em sociedades em que a acumulação privada não é permitida, a luta pelo poder envaidece, inebria o ego, permite acessos a bens luxuosos, ao sexo oposto, às mordomias (serviçais). Em outras palavras, não elimina os vícios mais profundos da alma humana. Vimos o resultado.

As diferenças étnicas e identitárias são outro grande entrave a uma possível convivência pacífica, de “respeito humanitário” (vide Anexo). O mundo está dividido em diversos graus de desenvolvimentos econômicos, morais, religiosos, de valores e crenças. A política de migração maciça que atualmente vigora na Europa traz conflitos identitários (ethos societários), difíceis de serem solucionados. Enquanto a diretriz da Comunidade Europeia é no sentido de aceitar e integrar os imigrantes, diversos países constroem muros e impõem vigilâncias nas fronteiras, em total desacordo e enfrentamento às orientações “superiores”. (Sobre o assunto consultar Marshall, “A era dos muros”).

As medidas e normas de desenvolvimento econômico impostas aos países não desenvolvidos, através de instituições internacionais, tais como Banco Mundial, OMC, OCDE, FMI e até mesmo a ONU, influenciadas pelas ideologias americanas, não irão resolver as disparidades, com grandes possibilidades de o fosso (diferenças relativas) aumentar (vide o tópico Liberalismo Econômico e Privatização). Para uma melhor apreciação da atuação do Banco Mundial na África ver Burgis, “A pilhagem da África”.

Vale salientar que Robert McNamara, antigo secretário de defesa e um dos principais artífices da guerra do Vietnam, foi deslocado para ocupar a presidência do Banco Mundial no período de 1968-1981. Paul Wolfowitz, vice-secretário de defesa dos E.U.A (um dos falcões da guerra do Iraque), também ocupou a presidência do mesmo banco de junho 2005 a junho de 2007 (Lopez, wikipedia).

Além disto, existe uma inviabilidade lógica em relação a expansão do modelo de desenvolvimento que vigora no mundo desenvolvido, aos demais países do globo, conforme afirmava Celso Furtado. O resultado é que sempre existirá um freio ao desenvolvimento global.

Em suma, é fundamental que não haja uma gestão da política internacional das grandes nações visando uma supremacia a qualquer custo, impondo através da síntese do poder político, econômico, financeiro, militar e ideológico, normas e procedimentos que ferem os interesses mais legítimos de outros povos.

Não é apenas a agressividade que choca, mas, sobretudo, a crueldade, a agressividade pela agressividade com requintes de infligir aos outros sofrimentos desumanos, provavelmente por uma satisfação neuropsicológica, inerente, e me parece, exclusiva da raça humana.

A história nos mostra exemplos de líderes insanos que manipularam as massas por um ideal ilusório e  as despertaram especificamente para a invasão, o controle e o domínio de outros povos, fazendo aflorar os “instintos” e as paixões mais profundas e perversas da alma humana, colocando na agressividade a panaceia dos dilemas humanos.  Daí podermos recolocar a questão da agressividade inata do ser humano, que não se esgota no fazer a guerra.

No tópico referente ao conceito de Geopolítica Clássica afirmei a dificuldade de um discernimento maior sobre esta questão, tendo em vista que não foram utilizados os objetivos e os meios (instrumentos) de que ela faz uso.

Considerando este vácuo no conceito de geopolítica convém um maior esclarecimento que permita ao leitor ter uma melhor noção do que se trata.

Neste sentido e focando o “conceito” numa perspectiva das grandes potências globais, ousaria dizer, que entendo como geopolítica, em seus fundamentos e objetivo:

<<O estudo da gestão das decisões políticas a nível internacional, através de interferências diretas e indiretas, ofensivas e defensivas, que visam o fortalecimento e a supremacia de uma nação (sociedade) em relação às suas rivais, imediatas ou potenciais, considerando: a geografia (território), o espaço aéreo, a cultura, a história dos povos, o avanço da ciência e tecnologia, as estruturas políticas, a ideologia, associadas às posições estratégicas; através de meios como a chantagem, ameaças econômicas e militares, incentivo e apoio ao separatismo das minorias étnicas, revoluções e desordens, o controle de recursos naturais, pactos e alianças com outras nações, o avanço da ciência e tecnologia e até mesmo o enfrentamento militar>>.

Para atualizá-lo, com vistas à Nova Geopolítica, poderíamos adicionar “e também por meio de organismos internacionais” e “com vistas a controlar outras decisões a nível internacional que dizem respeito à ameaça da sobrevivência da espécie humana e dos Direitos Humanos e do desenvolvimento econômico”, sem mudar o seu conteúdo.

Dessa forma, pelo que foi exposto e levando-se em consideração os acontecimentos pós debacle da URSS, constataríamos que os fundamentos e objetivos da chamada Nova Geopolítica continuam a ser os mesmos da Geopolítica Clássica, mas que foram adicionados outros meios (ou seja organismos internacionais) e outros motivos (os que ameaçam a sobrevivência da humanidade e os Direitos Humanos), que procuram justificar ideologicamente uma ingerência nas nações não poderosas e menos desenvolvidas, com vistas a uma hegemonia global.

Conforme ficou comprovado em diversas guerras (principalmente na Jugoslávia, Kosovo, Iraque), a ONU é um órgão político (assim como diversos outros órgãos internacionais), dominado pelo grupo de países mais poderosos, que não possui poder de coação para impedi-los de exercer os seus poderes mais nocivos e beligerantes mundo afora. Tem sido o palco no qual estes países ensaiam e exibem os seus interesses geopolíticos disfarçados em políticas em prol da humanidade.

Não possui dotação orçamentária própria, ficando à mercê das contribuições dos países mais ricos, fato que pesa nas relações de poder e nas suas decisões. Não possui nem mesmo forças armadas, inviabilizando seu poder de coação. E, mesmo assim, recebeu críticas e pressões do presidente  dos Estados Unidos:

“Pagamos 22% do total do orçamento, e mais ainda. Na verdade pagamos muito mais do que qualquer pessoa percebe. Se ela (ONU) pudesse realmente cumprir todos os seu objetivos, o investimento facilmente seria válido” (em https:/www.dw.com>pt,

“Quem paga a conta da ONU?, de 20.092017).

É ideologicamente dominada pelas ideais e interesses dos países mais ricos e poderosos, que se refletem também no seu braço comercial OMC, Órgão que visa disciplinar e fomentar comércio internacional, sob uma nova ordem liberal. (BBC News Br., em “Pressão dos EUA contra comércio global pode ter levado brasileiro a deixar direção do OMC”).  

Atualmente, este Órgão encontra-se fragilizado face às críticas de não conseguir equilibrar o comércio internacional entre os países ricos e pobres, pelas violações de acordos, pela guerra comercial entre China e EUA e pelos ataques desferidos pelo presidente dos Estados Unidos, “com bloqueios de nomeações e ameaças de corte de verbas e abandono por parte de Washington” (BBC News Br., em “Pressão dos EUA contra comércio global pode ter levado brasileiro a deixar direção do OMC", 14/05/2020). 

Conforme Branco:

 “Um exame desapaixonado do conflito da antigo Jugoslávia tem necessariamente de ter em consideração o papel desempenhado pelos atores externos, nomeadamente que do grupo de países do ponto de vista geoestratégico mais se beneficiou com a sua implosão. Foram estes Estados que promoveram e estimularam a sua dissolução e que insidiosamente patrocinaram a sedição contra o poder jugoslavo, sem o mínimo remorso pelo sofrimento humano que a defesa intransigente dos seus interesses geoestratégicos iria provocar”.

“Sem se sentir obrigado a obter a concordância dos comandantes militares da OTAN, o almirante Leighton Smith decidiu expandir unilateralmente a área de operações. As autoridades da ONU encontravam-se incapacitadas de o impedir” (pgs 269 e 225, respectivamente).

Os relatos do Major-General Carlos Branco sobre Srebrenica, Krajina, as investigações sobre a culpabilidade das granadas que explodiram no mercado de Saravejo e as promessas da ONU de que com o cessar fogo e desarmamento dos sérvios bósnios impediria que o ABiH ( Exército Muçulmano da Bósnia) se aproveitasse do desarmamento unilateral imposto aos sérvios bósnios são totalmente contrários às versões oficiais. O autor demonstra que não houve genocídio em Srebrinica e que as forças muçulmanas praticaram monstruosas chacinas aos sérvios bósnios antes dos acontecimentos; que ONU e demais órgãos fecharam os olhos para o genocídio Krajina, onde os sérvios croatas foram chacinados, com a “complacência”, inclusive dos meios de imprensa; que as apreensões do general Ratko Mladic sobre o desarmamento unilateral dos sérvios bósnios não foram sequer levadas em consideração (p. 230); que as investigações sobre o atentado no mercado de Saravejo (onde a explosão de cinco granadas mataram 37 pessoas e feriram 88) não foram conduzidas com isenção, apontando falhas técnicas grosseiras nas conclusões (pgs 212 a 222).

Na carta dirigida aos generais Benard Janvier e Rupert Smith, após os bombardeios aéreos da OTAN, que desorganizaram as forças sérvios bósnias, o general Ratko Mladic escrevia:

“... Estou surpreendido, como homem e como comandante, pela vossa passividade e calma observação dos acontecimentos que estão a passar...limitam-se a testemunhar as enormes baixas e o êxodo massivo da população sérvia e não fazem nada... espero... que sejam tomadas medidas pelo Conselho de Segurança para parar de uma vez com a ofensiva croata-muçulmana...”(apud Branco, p. 239).

Transcrevo algumas das importantes passagens da obra do Major-General que não podem ser ignoradas (16), que mostram tanto a submissão da ONU à OTAN (“leia-se os norte-americanos”, Branco, p. 223) quanto à manipulação através da ONU dos grandes interesses geopolíticos. 

É cediço que os valores humanitários em nome da civilização sempre serviram de plataforma para as nações mais poderosas lançarem-se em guerras para dominar as civilizações (nações) “indefesas”, mascarando interesses sinistros, tais como a colonização, o controle dos recursos minerais, o comércio livre e de escravos. 

“Em 1910, Antoine Rougier escrevia:<<É praticamente impossível separar os motivos humanos de intervenção dos motivos políticos e assegurar o desinteresse absoluto dos Estados intervenientes. [...] Assim, a intervenção de humanidade surge como uma forma jurídica engenhosa de enfraquecer gradualmente a independência de um Estado para o inclinar progressivamente para a semissoberania>> (apud Boniface, p. 245).

“Contudo, devemos estar cientes do fato de os princípios proclamados como universais serem aplicados de forma seletiva (não na Chechénia, em África ou no Médio Oriente, etc), que, por vexes, a moral só é invocada para legitimar uma política de poder (como aconteceu no passado com a colonização, os confrontos Este - Oeste, a guerra no Iraque) e que deveriam definir em comum as normas consideradas universais” (Boniface, p.261).

“Os europeus dos séculos imperiais achavam-se enviados pelos céus para evangelizar, conquistar e civilizar o mundo [...] e por razões egoístas e mesquinhas. Hoje são outros os motivos invocados – os direitos humanos, as liberdades individuais e democráticas, o desenvolvimento, a justiça e a paz -, valores também nobres e justos mas que também continuam a cobrir interesses menos nobres e menos justos” (Pinto, p.331).

O capítulo final de “Guerra e Sociedade” (Correia) traz importantes considerações sobre as polemologias das guerras atuais, que segundo o autor, fogem ao paradigma clausewitziano de guerra, tido “como fenômeno político-social, da responsabilidade de Estados ou de entidades políticas, conduzido por forças armadas institucionais ao serviço de interesses nacionais” (p. 199/200), mas simétricas. 

Além de tecer comentários sobre a recente evolução tecnológica, a qual modifica a guerra em stricto sensu, o autor menciona que as guerras atuais são efetuadas por outros atores como o terrorismo internacional, as criminalidades transnacionais e a proliferação de armas de destruição em massa, as duas primeiras a cargo de grupos civis, paramilitares, criminosos e senhores da guerra (Somália), não institucionais, por razões identitárias, étnicas, em afirmação de grupos minoritários com aspirações separatistas, que ameaçam o monopólio do poder da força e da violência pelo Estado (este segundo Weber).

Ora, muitos destes crimes e outros tipos de agressividade já existiam muito antes dos anos 90 do século passado, tais como: o crime organizado (que fizeram sucesso com os filmes de Hollywood), as “guerras” de gangues nas grandes cidades das regiões desenvolvidas (New York, Chicago, Los Angeles, Londres, Manchester, etc), a violência doméstica, o bullying nas escolas perpetrado por crianças, os estupros, assassinatos, a escravidão (os antigos “senhores da guerra” na captura de escravos na África na origem e no destino), a pirataria que atemorizava os mares e oceanos, também patrocinada pelos Estados, o colonialismo direto, que agora se transformou em colonialismo financeiro-econômico-tecnológico. De lembrar que Hitler e Mussolini já usavam os meios de comunicação da época, com gestos teatrais e discursos inflamados, para atingir seus objetivos (Ver Anexo). Então, teríamos de sopesar muito destas “novas” questões.  

Em outras palavras, entendo que, em consequência de novas causas, o escopo das guerras foi alargado, mas que não foram alterados os fundamentos da geopolítica, diga-se da busca por supremacia pelas grandes nações e de suas práticas, porque por trás destas guerras subjazem interesses das grandes potências. Isto aconteceu nas guerras dos Balcãs, no Iraque, na Ciscaucásia e Transcaucásia, em regiões da África Subsaariana (rica em recursos naturais), na Ucrânia e até mesmo nas chamadas Revoluções Árabes (sobre a participação dos países ocidentais nas Revoluções da Primavera Árabe, consultar Bandeira, especialmente capítulos XIV a XX, em “A Segunda Guerra Mundial”).  

Mas, interessa-nos neste momento o ponto de vista  opinião do autor:

“Sendo certo que esta deu lugar a novas guerras que rompem com o paradigma clausewitziano, estas permanecem clausewitzianas e, passam a conviver os dois paradigmas. Em conflitos até se assiste, com o seu desenvolvimento, à passagem de um paradigma a outro. Estamos claramente num período de transição em que o novo não se impôs definitivamente e o antigo ainda não desapareceu radicalmente ( Correia, p. 200).

E contrariando a conceituação da Nova Geopolítica cito a Diretiva da Casa Branca 2002 e os comentários do secretário de Defesa Rumsfeld, mencionados por Correia (em “Guerra e sociedade”):

“As nossas forças serão suficientemente fortes para dissuadir adversários potenciais de prosseguirem na edificação de uma estrutura militar com o fim de ultrapassar, ou mesmo igualar, o poder dos Estados Unidos” (Diretiva).

“[...] sabemos que por os Estados Unidos disporem de um poder sem paralelo em terra, no mar e no ar, não faz sentido a potenciais adversários tentarem competir conosco [...] devemos desenvolver novos recursos cuja posse, por si só, desencoraje os adversários competirem (Rumsfeld, p. 189).

Por fim, o reconhecimento pelo autor dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos no Cáucaso:

“Por último, têm de se incluir as intervenções externas, as preocupações dos EUA com o acesso a esta região desde a sua intervenção no Afeganistão, o que tem levado a uma competição com a Rússia no estabelecimento de laços com Estados (que eram, acrescentei) tradicionalmente da área de influência russa que alguns observadores, tem do como referência as três guerras russo-britânicas dos séculos XIX e XX, classificam como o novo grande jogo do século XXI, agora entre Rússia e Estados Unidos” (p. 203).

Em todas estas guerras estiveram e estão presentes os interesses geopolíticos americanos e aliados (com exceção a algumas regiões da África), em alimentar e apoiar o separatismo, através das entidades não Estatais, de ONGs e outros agentes midiáticos, cercando militarmente a Rússia, cooptando os seus antigos parceiros (aliados), para fortalecer a OTAN, com apoio da ONU, FMI e outros (sobre a Ucrânia, vide Bandeira).  

Em África, nas regiões ricas em recursos naturais, os interesses econômicos e geopolíticos das grandes potências saltam aos olhos, “entrelaçam-se” aos conflitos étnicos, aos diversos grupos criminosos privados, senhores de guerra, preenchendo o vazio de poder, aos Estados falhados. Alguns aspectos se sobressaem mais em razão de sua imensidão que comporta diferentes histórias, etnias, religiões, posição geográfica e recursos naturais.  (17).

Estas deslocações de movimentos de alto nível em terras de África, totalmente inéditas até hoje, como os encontros nos Estados Unidos, ilustram evidentemente o interesse destes últimos nos hidrocarbonatos africanos. Mas este interesse diz mais largamente respeito a um conjunto de matérias- primas estratégicas como o manganês, o cromo, o cobalto, os metais do grupo platina, etc. (Lopez, p. 132).

Sobre a questão do petróleo africano tornar-se no único interesse estratégico americano, conforme Kansteiner, Lopez acrescenta:

“Sem dúvida que se esqueceu de mencionar o gás e outras matérias-primas estratégicas” (p. 125).

A região do Catanga, a leste, na República Democrática do Congo se destaca como de imenso valor econômico e estratégico, tendo em vista dos vastos recursos naturais (rica em recursos minerais como cobalto, zinco, cobre, diamantes, ouro, prata, carvão, magnésio). Durante a Guerra Fria a região já era palco de disputa entre as duas potências adversárias, que “contribuíram” com armas, avaliadas em milhões de dólares, para as guerras civis estimuladas pelas disputas internacionais, por supremacia.

Muitos destes recursos são indispensáveis às indústrias modernas, e ao domínio tecnológico, daí a necessidade de garantir os seus fornecimentos, evitando possíveis empecilhos de terceiros.

Os recursos petrolíferos no enclave de Cabinda (entre a RDC e Angola), na Nigéria e no Sudão são de interesse das grandes potências, que já exploram as regiões. O Corno de África tem uma posição estratégica em razão do acesso ao Golfo de Aden, Canal do Suez e Mar Mediterrâneo, mas enfrenta sérios problemas por uma ausência de governo para fazer frente ao banditismo e ao poder dos líderes tribais.

Os Estados Unidos afirmam a disposição de ajudar os países pobres da África, mas têm os olhos voltados para a Nigéria, país que possui as maiores reservas de crude oil da África subsaariana. Apesar disto, foi o primeiro país do continente a receber a visita do presidente do Banco Mundial e a se beneficiar dos compromissos financeiros do referido banco, com acordos para o perdão de dívidas pelo Clube de Paris, enquanto existiam países bem mais pobres (Lopez, p. gs 156/7)).

Os conflitos étnicos já existiam em praticamente todas as regiões, mas se acentuaram com as divisões geográficas artificiais e arbitrárias feitas pelos países europeus, que “construíram” estados-nações artificiais de acordo com os seus interesses, assim como aconteceu no Oriente Médio (Vide Marshall, Correia e Burgis). Sobre a guerra civil de Angola e os apoios internacionais consultar Oliveira (Ricardo) e Pacheco.

Segundo Correia:

“A projeção da Guerra Fria na África Subsaariana dividiu o continente em zonas de influência de um e outro bloco, intensificou as guerras civis e deixou as sementes de alguns dos conflitos devastadores que se seguiram às independências(p. 631, “Manual...”).

E, embora os gastos militares também estejam direcionados para outros setores tecnológicos, os principais países não se desfizeram de seus arsenais nucleares. Como salienta Correia, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) se inscreve em acordos bilaterais e a ONU, cujo CS é dominado pelas nações mais fortes, não consegue impedir a proliferação vertical, mas com as influências destas nações procuram bloquear a horizontal.

Segundo o autor:

“A contraproliferação é a negação da não proliferação pois, no seu espírito, não está na eliminação do nuclear, mas, pelo contrário, a sua perpetuação, desde que reservada às <<boas mãos>>” (p. 195). 

Os interesses geopolíticos (em seu sentido lato, incluindo os econômicos) e, consequentemente, os conflitos deverão se acentuar como consequência dos interesses econômicos da China que apoia governos, independentemente das suas ideologias e dos seus regimes políticos, ao mesmo tempo, que incentiva as migrações para a região (18). Sobre os dilemas da China em relação à sua posição geográfica consultar Marshall, em “Prisioneiros da geografia”, Bandeira e Lopez).

A China tornou-se o novo player internacional e começa a se posicionar de uma forma que assusta e desafia os antigos “senhores”. A sua insuficiência e dependência em petróleo associada à sua posição geográfica fez emergir sérias rivalidades com Filipinas, Vietnam, Malásia, Indonésia e Singapura em relação ao domínio do Mar Meridional, que, acredita-se, possuir recursos petrolíferos, apossando-se das Ilhas Paracels, Spratley e Natuna, sob protesto dos países mais próximos às ilhas, ferindo à Convenção Internacional de 1982, e estabelecendo o controle de 80% sobre o Mar Meridional (Lopez, p. 265 e Marshall).  Ainda mantém conflitos com o Japão (com este pelos recursos do Mar da China Oriental) e Coreia do Sul pela hegemonia do Oriente e com a Índia.  

“De um modo mais geral, este aumento do poder da China inquieta o Japão em todos os aspectos: militar, geoestratégico e econômico” (Lopez, p 304)

         O seu apetite não tem limites” (Lopez, p.305).

Para contornar a sua dependência de transporte de petróleo no Estreito de Malaca (estima-se que 25% do transporte de mercadorias do mundo passa pelo Estreito, para atender os países localizados no Oriente, incluindo a China), controlado pelos Estados Unidos, fez alianças com o Paquistão para construir um oleoduto que liga o porto de Gwadar à região chinesa de Xinjiang (uigures, muçulmanos de língua turca), outro associado à Birmânia (Mianmar), com destino a Yunnan, no Sul da China e também desenvolve infraestruturas militares nas ilhas no Golfo de Bengala e Mar de Andaman (Birmânia).  (Para mais pormenores ver Lopez).

Já nos referimos a discórdia entre E.U. e China com relação ao istmo de Kra, na Tailândia, que permitiria não só encurtar o caminho que se faz pelo Estreito de Malaca em aproximadamente 1.000 km mas também evitar o controle através de Singapura, Indonésia e Malásia, navegando pelo Golfo da Tailândia para entrar no Mar da China Meridional. 

Os E.U. ocupam posição geoestratégica importante no controle do transporte de mercadorias para o Oriente. Este país possui bases em Singapura, Filipinas, Coreia do Sul e Japão (Okinawa), que dá acesso ao Pacífico, e relações estreitas com Austrália e Índia. Além disso, possuem bases em países do Oriente Médio e frotas posicionadas no Mediterrâneo (6ª frota), Estreito de Ormuz (Golfo Pérsico, 5ª frota), e Pacífico (3ª e 7ª frotas, com bases em Midway, Havaí, Okinawa, Guam). (Lopez). 

Em suma, os Estados Unidos não deverão abandonar estes e outros pontos geoestratégicos, que lhes permitem controlar as rotas de transporte para o Oriente através do Estreito de Malaca, mormente o petróleo, mesmo que a exploração do xisto e a exploração do petróleo proveniente do Canadá lhes permitam a autossuficiência. Este país terá interesse em vigiar o movimento do petróleo mundial porque esta fonte de energia viabiliza a guerra, e também de outras matérias primas. A Alemanha tencionava controlar o Cáspio com suas reservas petrolíferas, mas soçobrou em Stalingrado e se fragilizou.

Segundo Lopez, em 2005, os objetivos dos E.U.A. na Ásia Central incluíam “o cerco e containment da China, marginalizar a Rússia e afastar o Irão da redistribuição das riquezas” (p. 175).

Por outro lado, na Europa, a Alemanha ofuscou a presença política da França na União Europeia, sendo o país europeu dominante economicamente. Com a crise econômica de 2008 impôs as regras do jogo de acordo com os seus interesses, não dando qualquer espaço à França, que acreditava que dominaria politicamente a aliança. Segundo Friedman, a Alemanha com o seu poderio e domínio econômico deverá ter o equivalente no campo político e militar, mesmo que tente evitar. A França ferida em seu orgulho ao perder espaço na União Europeia deslumbra uma união com os países do Mediterrâneo, incluindo a África, cabendo-lhe assumir uma liderança política para contrabalançar o domínio alemão (Friedman).

Para o autor, citando Arendt, é “perigoso ser-se rico e fraco” e “riqueza sem força é um convite ao desastre”. O mesmo aplica-se para o Japão.

Assim:

“Por isso a Alemanha vai tornar-se uma potência de pleno direito, primeiro exibindo a sua força política e, a seu tempo, a sua força militar, à medida que as pressões aumentarem” (Friedman, p. 238).

“As nações não escolhem envolver-se em políticas externas assertivas. As circunstâncias obrigam-nas a fazê-lo. [...] Uma vida econômica próspera sem necessidade de proteção é insustentável” (idem, p. 239).

Novas conjecturas estão postas, ao mesmo tempo em que a Rússia ressurge do caos que vivenciou com o esfacelamento da União Soviética.

Ao contrário do que os pacifistas esperavam as despesas das nações em armamentos, para 2019, foram, segundo a ordem de valores: 1º) Estados Unidos com USS 649 bilhões, representando 36% dos gastos militares do mundo; 2º) China com USS 250 bilhões; 3º) Arábia Saudita USS 67,6; 4º) Índia 66,5; 5º)França 63,8; 6º) Rússia com 61,4 USS bilhões. Os totais das despesas alcançaram a cifra de USS 1,822 trilhões (https://www.dw.com>pt).

As nações não fazem concessão à paz porque também têm que fomentar os interesses comerciais dos seus grandes complexos militar-industriais.

Erradamente, quando pensamos e falamos em guerra associamos imediatamente o embate militar que causa destruição física e morte em grande escala.

Em anexo, afirmamos que a agressividade individual não se manifesta apenas fisicamente, mas também através de outros meios sutis que submeta o rival ao seu poder discricionário, que vai desde a intimidação direta e até o poder indireto e virtual, causando prejuízo ao adversário, como é o caso da agressividade psicológica, ou causar um prejuízo ao outro através do poder econômico e político.  

Do mesmo modo, ampliando a escala, podemos também conceber que a “guerra” é o fenômeno social pelo qual um país (sociedade) procura infligir ao rival (potencial ou imediato) danos “físicos”, psicológicos, econômico-financeiros, políticos, de forma a conseguir qualquer vantagem sobre o adversário, submetendo-o ao seu domínio, cerceando os seus desejos e as suas necessidades.  

Mais recentemente, entra nesta categoria a guerra levada a cabo pelos meios de comunicação que visam a desestabilização de governos, através de procedimentos que levam em consideração a “dissonância cognitiva”, os nós semânticos, a desinformação e as informações falseadas (Valle, cap. II), ataques cibernéticos, comprovados nos levantamentos da Primavera Árabe e Revolução Laranja (Ucrânia). Em tempos mais remotos estes procedimentos desestabilizadores ficavam a cargo dos agentes secretos. Com a evolução tecnológica trava-se uma nova guerra no ciberespaço.

A cooperação e colaboração dos media com o poder é uma realidade, que também se esconde sob o manto da “liberdade de imprensa” e da proteção sobre a revelação das fontes. Nos regimes totalitários são diretamente controlados pelo governo. Com a revolução tecnológica dos meios de comunicação, as notícias falsas e comprometedoras proliferam e muitas delas são rapidamente esquecidas e superadas por novas notícias falsas, antes que sejam devidamente analisadas e esclarecidas. De acordo com Baños bloqueiam a mente e nos fazem pensar que chegamos por nós mesmos às conclusões (pgs 220-232).

A guerra se desenvolve em diversas frentes, são as “guerras híbridas” (Baños: coação econômica, desinformação, terrorismo, atividade criminosa e subversão para provocar desordens civis e confrontos localizados), e o enfrentamento militar nem sempre é necessário, e deve ser evitado quando existem outros meios mais eficazes, pois a guerra de exércitos exaurem os cofres públicos e trazem a destruição, conforme advertiu Sun Tzu:

Comentários de Li Chu’an: “Ora, quando o exército progride em território estrangeiro, os cofres do tesouro esvaziar-se-ão no interior do território nacional” (p. 40).

“Pois nunca Estado algum beneficiou de uma guerra prolongada” (p. 41)

“O essencial da guerra é a vitória, e não as operações prolongadas. (p. 45).

“Com efeito, conseguir cem vitórias em cem batalhas não é a maior das excelências, mas sim subjugar o exército inimigo sem sequer o combater” (p. 47).

“Assim, aqueles que são avisados na arte da guerra submetem o exército inimigo sem combater, tomam as cidades sem lançar qualquer ataque contra elas e derrubam um Estado sem operações prolongadas” (p. 50).

Estes assuntos foram tratados por Sun Tzu, na sua obra “A arte da guerra” e outras críticas à guerra total de Clausewitz são postas por Keegan.

Praticamente, todas as artimanhas que se usa hoje em dia na “arte” da guerra já eram conhecidas e praticadas pelos antigos, evidentemente, adaptadas às condições tecnológicas da época (Nota 19).

Com o pouco passar dos tempos, os devaneios de muitos politólogos sobre a “paz mundial”, em tempos da Nova Geopolítica, se desvaneceram diante de novos desafios e a persistência pela busca da supremacia mundial (e até mesmo regional) ainda permanece, demonstrando que ainda não nos desvencilhamos dos traços da geopolítica tradicional.  

Infelizmente, meus olhos e mente não alcançam este breve futuro de paz, regendo as relações internacionais entre as nações e, simultaneamente, mais uma vez, coloco a questão da agressividade inata ou adquirida do ser humano.

Para respondermos sobre o porquê da guerra temos, em princípio, que considerar todos os vícios e desvios mais profundos da alma humana e em seguida integrarmos a estes os condicionantes sociais e mesmo os eventuais. Um trabalho hercúleo, para não dizer impossível, se considerarmos ainda o vício da passionalidade dos humanos.

Também não deixa de tratar-se de uma síndrome (patologia) do dominador. Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Japão, Império Otomano, Império Austro-húngaro, Rússia com seus países satélites formando a US, Portugal (até mesmo os missionários), Espanha e, obviamente, Estados Unidos, para citar exemplos mais recentes, abusaram ou exorbitam do poder, foram ou são cruéis com os povos dominados. Qualquer outro que vier dominar fará o mesmo.

Como diz o velho ditado: “da cobra se espera uma picada, do cavalo um coice e do ser humano, TUDO”. 

 

NOTAS:

(15).“A extinção resulta principalmente entre as tribos e raças. Diversos obstáculos estão sempre em ação para reduzir o efectivo de cada tribo selvagem – como fomes periódicas, os hábitos Nômades, as guerras os acidentes, os costumes libertinos, o rapto de mulheres, o infanticídio e, sobretudo a fertilidade reduzida. [...] e quando, de entre duas tribos vizinhas, uma se torna menos numerosa e menos forte do que a outra, o conflito é rapidamente resolvido pela guerra, pelos massacres, pelo canibalismo, pela escravatura e pela absorção” (Darwin, 208);

“Não há dúvida de que o homem, como qualquer outro animal, progrediu e chegou à sua elevada condição actual graças à luta pela sobrevivência, resultante da sua rápida multiplicação; e se vai progredir, é, portanto de recear que tenha de continuar a estar sujeito a uma luta pela sobrevivência” (idem, p. 636).

Nas “Notas sobre o Autor”, encontramos também uma síntese das suas concepções: “A teoria da evolução natural de Darwin e Wallace, para a qual a Origem das Espécies foi o contributo mais importante, parte do princípio, e da constatação, de que numa espécie os indivíduos não são totalmente iguais uns aos outros (existe variabilidade intraespecífica ) e de que parte dessa variabilidade é hereditária. Por limitação de recursos (alimento, abrigo e parceiros sexuais) existe competição entre os indivíduos, tendo uns mais sucesso do que outros (p. 649).  

(16). Sobre Srebrenica: “As relações com os sérvios foram igualmente degradando-se devido aos incessantes raids lançados pelas forças muçulmanas a partir do enclave contra as populações sérvias que viviam nas aldeias circundantes  e que redundavam frequentemente em monstruosas chacinas” (p. 178).

“À semelhança das chefias políticas que se entretinham em lutas fraticidas pela liderança de “opstina”, também a liderança militar do enclave se encontrava profundamente dividida e incapaz de tomar decisões” (p. 197).

“Após uma condenação inicial de dois anos o Tribunal acabou por ilibar Nasser Oric por “faltas de provas”, apesar das atrocidades por este cometidas, nomeadamente a decapitação de sérvios por soldados da 28ª Divisão (do ABih) que ele comandava ... Como admitiu Holbrook no seu livro (enviado por Clinton para mediar o conflito), com a franqueza que lhe era conhecida “...o Tribunal (o ICTY) emergiu como um valioso  instrumento de política que nos ajudou...”.

“Os acontecimentos de Srebrenica não podem nem devem ser confundidos com os que viriam a ter lugar um mês mais tarde na Krajina, onde o exército croata levou a cabo uma operação de assassínio sistemático da população sérvia... não poupando ninguém. [...] Os acontecimentos de Krajina nunca foram considerados genocídio pelo Tribunal” (p. 206).

Sobre a conclusão das mortes no mercado em Saravejo, que mudaram os destinos da guerra (por desconhecimento do assunto me abstive de comentar os aspectos técnicos):

“Com esta explicação, o G2 (da UNPROFOR - Força de Proteção das Nações Unidas) conseguiu desferir uma estocada final na sua credibilidade, demonstrando desconhecer os rudimentos mais básicos da técnica de tiro de morteiros (p. 215).

“E foi assim com tantas incertezas e imprecisões que se iniciou uma ação militar que viria ser determinante no estabelecimento de uma nova ordem na Europa e no mundo” (p. 221).

“Recorrendo à sua conversa com Tudman (presidente da Croácia) no dia 14, HolBrooke (chefe da equipe de mediação enviada Clinton para a Bósnia) aconselhou Tudman a apressar-se e a capturar mais território antes que o cessar-fogo entrasse em ação, muito em particular para atacar os sérvios bósnios em três regiões específicas – Sanski Most, Prijedor e Bosanski Novi situadas no território da Bósnia, objetando apenas o ataque a Banja Luka” (p. 238).  

(17). Sobre as guerras na África Subsaariana e Ocidental até o Corno de África: “Há várias razões que para isso contribuem, do que se destacam: a persistência de alguns Estados frágeis, alguns mesmo falhados; conflitos herdados de colonizações agitadas, muitas vezes violentas e com dificuldade e consolidação de identidades nacionais; recursos econômicos abundantes em regiões onde é visível o vazio de poder e que se tornam objeto de cobiças várias, internas e externas, envolvendo senhores da guerra e células de criminalidade transnacional, mosaicos identitários complexos de base étnica ou religiosa; privatização das guerras com a proliferação de empresas militares privadas em substituição de forças armadas nacionais inexistentes ou ineficazes (p. 211).

A intervenção de forças internacionais (Região da África Ocidental) de manutenção de paz degenerava, por vezes para conluios corruptos com os poderes dominantes (p. 212).

No Sudão encontramos alguns paralelismos com a Nigéria, predominância de contradições religiosas e do fator petróleo (p. 212).

“Expoente do Estado falhado e palco de novas guerras [..é a Somália. Sem o poder central, dada a fragilidade do Governo Federal de Transição (GFT), desmembrado em espaços políticos que se assumem como independentes sem que  sejam reconhecidos, a Somália é pasto de senhores de guerra, de líderes tribais, de bandidos armados [...].

Acresce a sua posição geográfica de alto valor estratégico internacional, o que a torna centro de preocupações das maiores potencias, até porque reúne toas as condições para se transformar em sede explosiva de centros de terrorismo internacional ...” (p. 213).

(18). A China se lança para uma expansão territorial e marítima, para garantir acesso aos portos de águas quentes e, também, para garantir as reservas de recursos naturais necessários para a sua sociedade e expansionismo. Além de se dirigir para a África, busca se assenhorar do Mar Meridional, em controvérsia com os demais países da região (Filipinas, Malásia, Vietnam, Indonésia, Brunel) que reivindicam o mesmo direito.

Para contornar a sua vulnerabilidade geográfica em relação ao petróleo do Golfo Pérsico fez acordo com o Paquistão arrendando o porto de Gwadar visando transportar petróleo para a região de Xinjiang, que reivindica um Estado separatista, pela etnia uigures, povo de origem turca (Vide ainda Bandeira, cap. VI de “A Segunda Guerra Mundial”).    

Depende do Canal de Málaca, por onde passa o transporte 80% do petróleo vindo do Golfo Pérsico, sob o controle dos Estados Unidos que possuem uma base aérea (Paya Lebar) instalada em Singapura, juntamente com ingleses e australianos que possuem bases em  outras áreas.

Este problema poderia ser resolvido com a abertura de um canal alternativo no Istimo de Kra, na Tailândia, diminuindo o percurso em 1200 Km, reduzindo, portanto, o custo de transporte e a vulnerabilidade da China frente aos Estados Unidos e aliados. Singapura, Malásia, Indonésia e, principalmente dos Estados Unidos e Reino Unido criam obstáculos à construção do canal, por razões óbvias (https://www.oladooculto.com, em “O Canal da discórdia entre EUA e China”).

Os Estados Unidos e aliados não tiram os olhos da Rússia e procuram cercá-la militarmente de todas as formas com a OTAN e economicamente através de acordos com países que pertenciam a extinta URSS e com os países aliados do Oriente Médio, para influenciar o preço do petróleo, dificultando seu ressurgimento (Rússia) como potência global.

No Oriente Médio países lutam pela supremacia regional que se entrelaçam com “facções” étnicas e religiosas, com o apoio de mercenários, constituindo verdadeiros barris de pólvoras.

Os conflitos étnicos e religiosos ainda se propagam em diversas regiões subdesenvolvidas do globo sem soluções à vista, mas sob os olhares nada republicanos e participações indiretas das grandes e poderosas nações. Contudo, poderão se alastrar para outras regiões mais desenvolvidas em decorrência das migrações massivas atuais, sendo impossível qualquer previsão.

Outrossim, as possibilidades de exploração dos recursos naturais do Ártico abrem novas frentes para disputas, que já se ensaiam algumas nações reivindicando direitos sobre partes da região.

(19). “Por exemplo, durante 27 anos da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), apenas ocorreram duas grandes batalhas terrestres: Mantineia (418 a.C.) e Delos (424 a.C.). Como relata Tucídides no seu trabalho sobre a guerra, dada a assimetria entre o per naval ateniense e a poderosa infantaria espartana, as ações mais comuns foram ataques de surpresa, fustigação de tropas, ações terroristas – como hoje lhes chamaríamos -, cercos, destruição sistemática de terras agrícolas (sabotagens) e envenenamento de poços” (Baños, p. 341).

“Em seu livro Guerrilha, T.E. Lawrence apresentava as chaves para como o fraco deve agir contra o forte, com base nas experiências dos combatentes árabes contra os turcos na Primeira Guerra Mundial: ser superior em qualquer aspecto que possa ser considerado decisivo; nunca entrar em contato com o inimigo; nunca oferecer um alvo aos soldado inimigo; contar com uma espionagem perfeita; fazer uso da propaganda; constituir uma força muito dinâmica e bem equipada tão pequena quanto possível; procurar o elo mais fraco do adversário e concentrar-se nisto; estabelecer batalhas morais e não físicas; atingir, fugir e não pressionar, mas acertar; utilizar explosivos potentes; impor a máxima irregularidade e articulação; dispor de uma base intocável; contar com uma população amistosa; e dispor de total mobilidade” (Baños, p. 343).


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ARTIGOS:

        

Site Melisiofrota.blogspot.com:

 

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-Poupança, Investimento, a falácia (paradoxo) da poupança externa e outros aspectos do subdesenvolvimento”, julho 2016;

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