Segundo Ha-Joon Chang:
"A história é útil para destacar os limites da teoria econômica. [...] e a história oferece-nos muitas experiências econômicas bem sucedidas (a todos os níveis nações, empresas, indivíduos) que não podem ser explicadas através de uma qualquer teoria econômica única", em "Economia", p. 43.
Bondade do autor. Acredito mesmo que não possa ser explicada por uma teoria econômica tão desconectada da realidade, com abstrações absurdas.
Fico imaginando os recursos que foram desperdiçados com salários, infraestruturas e crises; e que poderiam ter sido canalizados em prol de "verdadeiras" ciências para melhorar as condições de vida da humanidade, tanto no trabalho como no lazer, nos poupando ainda dos problemas ecológicos e ambientais. Esta concepção (abordagem), juntamente com a ficção do homo economicus, acerbaram os problemas e lançaram a humanidade em uma nova obscuridade. Tudo isto para comprovar a existência de uma mão invisível.
Convém lembrar que não foi por acaso que o Long-Term Capital Management (LTCM), do qual faziam parte Robert Merton e Myron Scholes, agraciados com o Prêmio Nobel 1997, com seus modelos de matematização, entrou em falência.
E Alan Greenspan, adepto dos mercados perfeitos, depois de comandar por anos a euforia do mercado bolsista fez uma tímida mea culpa, mas se livrou das responsabilidades.
Será o ser humano tão racional quanto nos querem fazer acreditar os economistas clássicos? Onde se situa o homo economicus? Eles mesmo não encontraram.
Para finalizar estes 3 artigos, concluo que é inevitável reconhecer que a "racionalidade iluminista" não alcançou os seus propósitos, os objetivos mais nobres. Falhou ao depositar demasiadas esperanças e promessas nas liberdades políticas formais, na ciência e, principalmente, na razão, dentre outras, como se fossem um apanágio para o ser humano se libertar dos grilhões que o aprisionavam.
A partir de início do século XIX as crises econômicas genuinamente capitalistas (digo de mercado) e financeiras vieram se instalar definitivamente no mundo desenvolvido; atravessam fronteiras através do contágio, a pobreza grassa nos grandes centros industriais e nos países retardatários, os fossos ente estes e os países desenvolvidos aumentam, a ciência não trouxe os resultados esperados, os grilhões que aprisionavam o ser humano foram substituídos por novas formas, não imaginadas (o que seria natural), transformando o ser humano num apêndice, num servo, das máquinas e da ciência; as guerras pela hegemonia política e econômica passaram a ter o respaldo das ciências, que, por sinal, supunha-se iria nos libertar; enfim, não curou as doenças do espírito.
Tal qual, as promessas socialistas que vieram lhe contrapor, também fundamentadas na razão, considerada única e ilimitada, mostraram que os devaneios, mesmo quando recheados de boas intenções, nos levam a situações que a razão não previra e não conseguem resolver, de imediato ou nunca.
Conforme Damásio, p. 314:
"Esta abordagem veria como tolice ou mesmo loucura a ideia da razão dever assumir o controlo, uma ideia que mais não é do que o resíduo dos piores excessos de racionalismo: mas esta abordagem também rejeitaria a noção de que nos devemos limitar a promover as recomendações das emoções - ... -, sem que as filtrássemos pelo conhecimento e pela razão", itálicos meus.
Por fim cabe a pergunta: Se Smith foi incapaz de analisar muitos destes efeitos visíveis do capitalismo nascente como seria capaz de teorizar sobre uma crise que não presenciou ou mesmo admiti-la teoricamente, em contradição com a sua ideologia iluminista?
Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade (Eclesiastes 1).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
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