PAGLIA,
FREUD E O FEMINISMO
A
relação entre sexos, ao que tudo indica, nunca foi harmoniosa como
pretendiam os românticos, pelo contrário, pode-se dizer que foi
sempre conflitante, com ressentimentos mútuos. Mesmo na democracia
grega as mulheres não tinham direitos políticos na pólis,
restringindo-se aos afazeres domésticos. Engels, em ¨A origem da
família e da propriedade privada¨, escreveu que a primeira luta de
classes se deu entre sexos. Não interessa aqui analisar
profundamente os motivos destas discriminações e discrepâncias.
No
entanto, nunca podemos esquecer que as sociedades antigas eram
guerreiras, viviam em disputas, para dominar ou não serem dominadas.
Nas sociedades mais primitivas o ambiente hostil da natureza, a
necessidade de perseguir a presa e caçar, a ameaça de animais
selvagens contribuíram para a necessidade de organizar a sociedade
com base nessa diferença entre sexos na ¨supremacia¨ física.
Nesse ambiente hostil a força, a agressividade e até mesmo a
brutalidade eram fundamentais. Para a infelicidade, ou não, do sexo
feminino o homem estava mais apto para desempenhar estes papéis.
Em
regra, os vencidos eram escravizados. A história nos relata estas
épocas através das conquistas de Dario, da guerra de Tróia, das
façanhas militares de Alexandre, do estado guerreiro de Esparta, das
lutas na conquista da Terra Santa, da diáspora Judaica, do império
Romano e do Otomano, das atrocidades de Átila, da ferocidade Gêngis
Khan e mais recentemente do gênio militar de Napoleão, para citar
alguns poucos exemplos. A brutalidade era tamanha que as mulheres
quase sempre eram estupradas pelos vencedores. Gengis Khan afirmava
que dentre os despojos da guerra estava a posse das mulheres dos
vencidos. Não existia direitos, apenas conquistas e sobrevivência.
Para
não deixar dúvidas quanto a brutalidade ¨desse período antigo¨
cito algumas frases de Gengis Khan:
¨Eu
sou o flagelo de Deus. E se vocês não fossem pecadores, Deus não
teria enviado um castigo como eu¨;
¨Se
queres a paz então prepara-se para a guerra¨;
"O
homem que procura a paz cava a própria sepultura¨;
¨O
maior prêmio do homem é matar seus inimigos, ver suas cidades
reduzidas a cinzas, andar em seus cavalos e possuir suas mulheres e
filhas¨.
As
grandes injustiças sociais não foram e não se deram em relação
ao sexo feminino, mas com os desfavorecidos. As vítimas do nazismo
não foram as mulheres, mas os judeus, independentemente do sexo, e
os políticos de posição, socialistas, comunistas, democratas.
Isto, em nada significa que os direitos sociais da mulher não devam
ser reconhecidos.
Ao
que tudo indica, em muitas sociedades elas eram participantes ativas,
direta ou indiretamente da política, do poder, gozavam de prestígio
e privilégios e se davam ao luxo de terem bastante liberdade. Até
mesmo o confinamento ao lar das mulheres gregas é controvertido
(Creveld Van Martin, em Sexo privilegiado).
Catarina,
A Grande, ascendeu ao trono com o assassinato de seu marido o
Grão-Duque Pedro III, em conluio com seu amante e desfrutou dos
prazeres que o poder lhe propiciou, em todos os aspectos. Da mesma
forma, pode-se dizer da influência e poder de Catarina de Médicis.
Consta que a ex-cortesã Teodora insuflou seu marido Justiniano para
sufocar uma rebelião e assassinar mais de 20 mil pessoas, na chamada
Revolta de Nika.
Em
Roma, embora não tivessem participação política oficial, eram
cúmplices do poder, conspiravam e influenciavam as decisões
políticas. Agripina, a jovem, mãe de Nero e irmã de Calígula,
mandou assassinar o marido Cláudio, para que seu filho assumisse o
poder, com o objetivo de manobrá-lo. Infelizmente, para ela, o filho
era um louco e depravado.
¨Ninguém
duvida que tenha morrido envenenado. O ponto sobre o qual há
dúvidas, porém, é o que se refere ao lugar e à pessoa que lhe
ministrou a droga mortífera. Narram alguns que isso aconteceu na
cidadela, durante um festim com os pontífices, e que o autor foi o
eunuco Haloto, seu pregustador. Outros acreditam que o caso se
registrou durante uma ceia doméstica, e que a própria Agripina foi
quem ministrou o veneno num prato de cogumelos, de que muito gostava¨
(Suetônio, A vida dos doze Césares, apresentação Carlos Heitor
Cony, Ediouro, 5 ed, 2003, p.335).
E
o que dizer da morte de São João Batista que foi decapitado por
ordem de Herodes Antipas, a pedido de Salomé, que abusou de sua
sensualidade para induzir seu padastro a executá-lo. Ou as
¨preferidas¨ como Diana de Poitiers que só caiu em desgraça com a
morte de Henrique II, por vingança de Catarina de Médici.
Brenda
Lewis descreve a influência delas na igreja, nos primeiros anos de
século X, que ficou conhecido como o da ¨pornografia papal¨.
¨Esses pequenos roubos nem se comparam à corrupção, luxúria e
indecência do período que ficou conhecido por ¨pornografia
papal¨ou ¨domínio das meretrizes¨ (p. 20). ¨O bispo Liutprando
descreveu Teodora e Marózia como ¨duas libertinosas mulheres
imperiais que governavam o papado do século X¨ (Lewis, Brenda
Ralph, A história secreta dos PAPAS, Ed. Europa, 4. ed, p. 23).
Sem
querer me alongar nesses pormenores, nunca será demais lembrar que
também existiram as que, durante o Regime de Vicky, se tornaram
amantes dos nazistas ocupacionistas, ao que tudo indica, não por
ideologia. Com a queda do regime se submeteram a tribunais de exceção
e tiveram as cabeças raspadas. Estima-se que 71.507 foram condenadas
(A humilhação das colaboracionistas, em www2.uol.com.br).
¨Na
reconstrução de uma República francesa livre, importantes
lideranças, políticas e militares do regime de Vicky (durante a
ocupação nazista) foram julgados e executados como traidores e
colaboracionistas. As mulheres que se envolveram com os nazistas,
sendo
deles amantes,
tiveram os cabelos raspados em praça pública, para que fosse
exposta sua desonra¨ (França de Vicky, em
www.virtualiaomanifesta.blogspot.com).
Ao mesmo tempo em que Jean Mulino, considerado um mártir, pagava com
a vida por ser um alto membro da resistência francesa, durante a
segunda guerra mundial.
¨A
frequência com que mulheres eram acusadas - não raro por outras
mulheres - de ter relações sexuais com alemães é reveladora.
Havia um fundo de verdade em muitas acusações: a oferta de favores
sexuais em troca de comida, roupas ou algum
tipo de auxílio pessoal era
um caminho, muitas vezes o único, disponível a mulheres e famílias
em situações desesperadoras. Mas, a popularidade da imputação e o
prazer de vingança atinente à punição constituem um lembrete de
que, tanto para homens quanto para mulheres, a experiência era
encarada, acima de tudo, uma humilhação.
Jean
Paul Sartre, mais tarde, descreveria ¨colaboracionismo¨em termos
nitidamente sexuais, como ¨submissão¨ à força do invasor, e em
mais de um romance francês dos anos 40 colaboracionistas eram
retratados ora como mulheres, ora como homens fracos (¨efeminados¨),
seduzidos pelo charme teutônico dos invasores. Descarregar
sentimentos de vingança em mulheres corrompidas era um meio de
superar a memória desconcertante de fraqueza pessoal e coletiva¨ (
Judá, Toni, Pós-guerra, Ed. Objetiva, 2007, p. 57).
¨Eram
homens e mulheres que trabalhavam para as forças de ocupação, que
com elas mantinham relações sexuais, homens e mulheres que selavam
a própria sorte com a sorte dos nazistas ou fascistas e que, com
oportunismo,
buscavam vantagens políticas ou econômicas valendo-se do contexto
da guerra¨ (p.56).
Não
devemos dar vivas desmedidas ao movimento feminista, admitindo que
todas as suas ideias, ações e conquistas foram e merecem ser
admiradas, sem apontar, ao mesmo tempo, os seus fracassos
ideológicos, as suas distorções e os seus exageros.
Devemos
ter em mente que foi-se a época em que perder as estribeiras, para
romper com os tabus, preconceitos e injustiças, até poderiam ser
justificadas. Mas, não nos esqueçamos que todos estes movimentos
políticos e estritamente ideológicos, relativamente de ¨massa¨,
trazem em seu cerne os exageros.
Na
revolução francesa muitos castelos, palácios e obras de artes
foram destruídos por terem pertencido à nobreza, mas os
revolucionários esqueceram que estes monumentos poderiam ser, como
de fato ocorreu com as obras de recuperação, patrimônio da
humanidade.
As
experiências passadas foram incorporadas e absorvidas pelo intelecto
e serviram de base para os comportamentos futuros de ambos os sexos.
Foram importantes por que exigidos em situações que requeriam
soluções rápidas, como mecanismos de defesa, contra as
adversidades que se deparavam.
Decisões
muitas das quais não passavam pelo crivo da racionalidade, mas por
condicionamentos que requeriam a necessidade de sobrevivência, com
base na intuição, agressividade, percepção e vivências passadas.
Não
saberia responder se a escravidão foi ou seria uma etapa necessária
para o desenvolvimento das sociedades futuras. Os grandes perdedores
eram os escravos e os desafortunados, não as mulheres. E sempre
existiu as que se beneficiavam do status quo, que mandavam direta ou
indiretamente e também realizavam suas atrocidades, conspirando.
Ainda
assim, não existia um desenvolvimento tecnológico substancial que
permitisse excluir a força no desempenho de determinadas tarefas. A
maternidade cumpria uma importante função social. Por isso e por
outros fatores a divisão de trabalho era baseada nos sexos. Estes
fatores, sem dúvidas, moldaram a cultura, a forma de pensar, de
agir, a ideologia e consequentemente os supostos atributos e
características ¨naturais¨ de cada sexo. Nesse contexto seria
inexato atribuir ao sexo masculino um desejo de domínio
preconcebido. O domínio era consequência das condições materiais
de vida, mas, ¨infelizmente¨, não quero dizer que foi por acaso,
os valores sociais arraigadas se perpetuaram e não mais se
justificavam na sociedade moderna.
Com
o advento do capitalismo, o avanço tecnológico e as grandes
transformações sociais vivenciadas no século passado,
principalmente no pós-guerra, abriram-se possibilidades para que a
antiga ordem social e especificamente o longo período de domínio
masculino fossem efetivamente contestados. As ciências sociais
contribuíram e foram de grande importância nesse processo. E Freud
também, pois a mulher passou a ter direito ao desejo. Surge uma nova
época de reivindicação de direitos, antes relegados pela sociedade
patriarcal.
Nesse
contexto, o movimento feminista, de emancipação das mulheres,
obteve conquistas justas, importantes e irreversíveis. Agora,
passada a euforia, cabe a reflexão inversa. Para onde nos levou este
movimento e onde pretende chegar? Todas as conquistas foram justas?
Querem mais que a igualdade antes reivindicada? Onde fracassou?
Parece ser ironia do destino que os homens necessitem dos pensamentos
e esclarecimentos de uma mulher que participou ativamente deste
movimento. E que, agora, em sentido contrário, poderá colaborar
para libertar os homens do jugo atual feminino.
Me
sirvo das ideias da professora americana de artes Camille Paglia
publicadas em entrevista na revista Veja, edição 2363, n. 10, e de
seu ensaio ¨O feminismo não é honesto com as mulheres¨(em www.
feminismo.org.br) para expor meu ponto de vista. Ao longo deste texto
cito algumas de suas frases que não precisam ser contextualizadas.
Freud
levantou a ira de seus contemporâneos quando elegeu o sexo como um
fator primordial do comportamento humano. Também trouxe reboliço e
muita controvérsia quando ressaltou a importância do órgão sexual
masculino no desenvolvimento sexual da menina, no comportamento e
ideário feminino.
A
sua teoria sobre o desenvolvimento sexual da menina foi considerada
falocêntrica e ele taxado de misógino pelas feministas. Os debates
parecem ter sido intensos. Posteriormente, no auge das
reivindicações, procuravam rejeitar suas ideias tentando
demonstrar que estavam desatualizadas por ter vindo ele de uma
sociedade extremamente conservadora, do final do século XIX.
Infelizmente, a simples menção deste fato não parece ser
suficiente para invalidar a sua teoria.
Assunto
polêmico, a teoria da ¨inveja¨ do pênis trouxe e ainda traz
discussões acaloradas e exacerbadas, principalmente por que seus
argumentos não podem ser comprovados cientificamente. Ficou um certo
vazio e todos não entendiam bem o que o autor queria dizer, mesmo
por que o termo é bastante vago e tem
conotação pejorativa.
Como surge, qual a razão e dimensão desta inveja e como ela se
manifestava? Seriam assuntos que deveriam ser mais bem explorados.
Ainda hoje se discute a dimensão contextual desta palavra.
Tudo
indicava que este comportamento feminino estaria fundamentado no
papel simbólico que o órgão sexual masculino despertava, como
símbolo de poder, existindo um sentimento a ele associado de não
poder possuí-lo tanto no plano simbólico quanto físico.
Introduziu-se a noção do falo, na tentativa de dar mais clareza e
apaziguar os ânimos, mas as dúvidas e as discordâncias
persistiram. Esta palavra raramente foi utilizada pelo autor.
Os
movimentos feministas entre e pós-guerra, que tencionavam modificar
os valores sociais permitiram aprofundar ainda mais o assunto no
intuito de esclarecer e entender esta ¨teoria¨. Logo surgiram
explicações que procuravam dar uma explicação convincente para o
pensamento do autor, baseadas no domínio masculino .
A
explicação que parecia mais plausível a época era de que o papel
desempenhado pelo sexo masculino na sociedade paternalista e no
ambiente familiar seria o fator determinante que poderia despertar
este comportamento ¨invejoso¨. Assim o poder simbólico
desempenhado pelo órgão sexual masculino estaria fundamentado no
papel social do homem. Muda-se o enfoque, que passa a ser
preponderantemente social.
Na
sociedade igualitária que permanecia no ideário feminino esta
concepção freudiana era inconcebível e preconceituosa, devendo ser
banida do contexto psicanalítico. Mas, por outro lado, da mesma
forma, nada comprovava que este simbolismo seria exclusivamente
decorrente do papel que o sexo masculino desempenhava na sociedade e
no seio familiar. Interessante é que nas ciências não exatas nada
tem uma causa exclusiva.
Neste
novo ambiente pós-guerra, o sexo feminino era igual ao masculino em
todos os aspectos e ponto final. Tudo era unissex. A igualdade não
se restringiam aos direitos políticos e garantias sócio-econômicas.
Qualquer tentativa de apontar diferenças entre sexos era taxada de
machista. As mulheres exigiam participar e opinar nas conversas que
num passado faziam parte do universo masculino, sob o estigma do
machismo. Mas, o interessante é que os homens não se interessavam,
como não se interessam pelos assuntos ¨estritamente¨ femininos.
Esqueceram que o feminismo exacerbado é tão absurdo quanto o
machismo tradicional. Os hormônios nada significavam para os
diferentes comportamentos masculino e feminino. Tudo se resumia e era
concebido sob o prisma da submissão que a sociedade, na figura
masculina, impôs à mulher. Se a mulher entrava na menopausa o
homem tinha a andropausa, que era similar.
Simone
de Beaurvoir foi alçada como o símbolo da luta pela liberdade da
mulher na sociedade moderna e o seu ¨não se nasce mulher, torna-se
mulher¨ foi muitas vezes interpretado ao pé da letra. Seu
pensamento também não deixa de apresentar este viés social. Todas
as diferenças foram impostas pela cultura em desfavor do sexo
feminino. E a culpa de todos os infortúnios femininos era do homem.
Questionaram a teoria freudiana com base nos valores da sociedade de
sua época e até mesmo de sua vida privada, mas a vida particular da
autora da frase não interessava. Quanta incoerência.
É
evidente a tentação de adentrarmos na vida particular e psicológica
de uma pessoa para desmerecer, desqualificar e, até mesmo,
contextualizar suas hipóteses, teorias ou opiniões. Embora
reconheça que este método possui sua eficácia, por enquanto,
prefiro me dedicar aos aspectos não pessoais.
Entretanto,
todo este feminismo não impediu que a ilustre feminista manifestasse
seus impulsos femininos mais profundos, ou, como queiram, revelasse
um dos lados ¨obscuros¨ da feminilidade: ¨O ressentimento é a
causa mais comum da frigidez feminina; na cama, a mulher pune
o homem por todas as injúrias que sente ter sofrido, ao oferecer-lhe
uma insultante frieza. Há com frequência um agressivo complexo de
inferioridade em suas atitudes [...] Assim ela se vinga tanto dele
quanto de si mesma por ele tê-la humilhado por negligência, por
tê-la feita ficar com ciúmes, por ele ter se demorado em declarar
suas intenções, por ele só fazer dela uma amante quando ela queria
o casamento. O agravo pode se acender subitamente e disparar essa
reação mesmo uma relação que começou feliz [...] A frigidez
{...} parece ser uma punição que a mulher impõe tanto a si mesma
quanto a seu parceiro; ferida em sua vaidade, ela sente ressentimento
contra ele e contra si mesma, e ele nega a si mesma o prazer¨ (Texto
retirado do livro ¨O segundo sexo¨, citado em Crenela, Martin Van,
Sexo privilegiado, Ed. Ediouro, ed. 2004, p. 426).
¨A
partir dos anos 1960 o movimento feminista tentou apagar qualquer
menção às diferenças de comportamento causadas pelos hormônios.
Mas homens e mulheres sentem e expressam emoções de maneiras
diversas, por que os hormônios atingem o cérebro dos dois sexos em
níveis diferentes¨ (www.feminismo.org.br).
Em
apoio ao pensamento da autora Camille Paglia, cito passagens do texto
DIFERENÇAS DE GÉNERO, que pode ser encontrado em
www.drauziovarella.com.br:
José
Salomão Schubertiano-¨O cérebro do bebê do sexo masculino é
banhado por quantidade maior de testosterona, o hormônio masculino,
do que o cérebro da menina. Parece pelo menos é essa a teoria que
se defende atualmente que, quando banhado por muita testosterona, o
cérebro é constituído de forma diferente> Existem evidências
de que manipular esse hormônio em animais de laboratório ou mesmo
em pessoas provoca a mudança de determinados comportamentos que são
do sexo dependentes.
Tais
diferenças de comportamento, boa
parte dos indivíduos atribui a fenômenos culturais, mas há sinais
claros de que outros fatores também pesam.
É óbvio que os aspectos culturais e sociais existem, mas não se
pode negar o papel biológico presente nesse processo¨(grifo meu).
Outrossim,
existem estudos que mostram como a genética influencia o
comportamento diferente dos sexos. O mais interessante é que, apesar
desta controvérsia, as companhias, objetivando uma melhor
produtividade e praticidade empregam homens e mulheres com base na
observação prática das diferentes aptidões, para determinadas
tarefas. Será que é por puro machismo?
Hoje,
os estudos mais avançados demonstram que o comportamento humano não
se restringe ao racional e irracional, no sentido psicanalítico do
termo. Cito Leonard Mlodinow, em ¨Subliminar¨, Ed. Zavar, ed.
2012:
¨Estudos
mostram que as pessoas tomam decisões morais diversas depois de
assistir um filme alegre, e que as mulheres, quando estão ovulando,
usam roupas mais provocantes, tornam-se mais competitivas sexualmente
e ampliam sua preferência por homens sexualmente competitivos¨(p.
210/1).
¨O
comportamento social humano é obviamente mais avançado e cheio de
nuances que o do arganaz e dos carneiros. Ao contrário deles, nós
temos TOM e somos muito mais capazes de superar impulsos
inconscientes tomando decisões conscientes. Mas, nos seres humanos,
a oxitocina
e a vasopressina também regulam os vínculos com os semelhantes.
Nas mães humanas, assim como nas ovelhas, a oxitocina é liberada
durante o parto e o nascimento. Também é liberada na mulher quando
os seus mamilos ou o colo do útero são estimulados durante a
relação sexual; e nos homens e nas mulheres quando eles chegam no
clímax sexual. Tanto nos homens quanto nas mulheres, a oxitocina e a
vasopressina liberadas no cérebro depois do sexo produzem amor e
atração¨ (p.114).
¨Em
outro estudo, no qual os participantes deviam investir dinheiro, os
investidores que inalavam oxitocina tendiam a mostrar muito mais
confiança em seus parceiros, que eram levados a aplicar mais
dinheiro com eles¨(p.114).
¨Os
cientistas descobriram que homens que têm duas cópias de uma
determinada forma desse gene têm menos receptores de vasopressina, o
que os torna semelhantes aos arganazes promíscuos¨(p.115).
Não
se trata aqui de questões sobre superioridade ou inferioridade de um
gênero em relação a outro, mas diferenças de comportamento,
aptidões, emoções, que em determinados momentos são mais exigidos
que em outros. Mesmo por que, filosoficamente falando, a
superioridade em algum aspecto implica necessariamente em
inferioridade, em outro aspecto a ela correlato. É inegável que as
meninas na tenra idade manejam melhor a linguagem, são mais vivas e
amadurecem mais rápido que os meninos (também citado pelo autor).
Mas
com o desenrolar da vida foi ficando evidente que o assunto não
seria tão simples e que as supostas igualdades não encontravam
respaldo na diversidade de sentimentos, comportamentos e modo de
pensar. Indubitavelmente, os hormônios
também falam e neste caso falaram mais alto.
Cito
novamente a professora: ¨É como as mulheres tivessem respostas para
tudo. E, se não são felizes , a culpa é dos homens¨ (revista
Veja). Melhor teria dito que a culpa continua a ser dos homens.
Infelizmente
esta percepção foi tardia. O movimento ao que parece já tinha
tomado conta do comportamento social e o sexo masculino acusou o
golpe, incorporando toda esta ideologia antimachista, no
sentido feminista.
Assimilou um sentimento de culpa com relação ao sexo feminino, por
todo um longo período de injustiças contra as mulheres, do ponto de
vista dos valores
hodiernos.
Os homens sentiam medo de serem taxados de machistas ao defenderem
quaisquer diferenças sexuais. Em suma, sentiram o golpe, foram
encurralados e sentiam vergonha de serem homens. É algo semelhante
ao que atualmente ocorre com o movimento negro. Os não negros sentem
vergonha e um sentimento de culpa em relação aos negros, que no
passado foram escravizados pelos seus longínquos ascendentes. Assim
todas as questões reivindicadas são motivo para concessões.
O
comportamento do sexo masculino passou ser moldado pelos parâmetros
comportamentais do sexo feminino. Os comportamentos aceitáveis são
determinados pelos valores admitidos e valorizados pelo agora criado
mundo feminino, que, por incrível que pareça, existe e é diferente
do masculino. Os meninos têm que ser dóceis, a agressividade deve
ser contida nos moldes femininos e mesmo não admitida, a
sensibilidade e a compaixão importam mais que a racionalidade. ¨A
compaixão e a sensibilidade femininas são virtudes positivas ... ¨
(contextualizar; revista Veja). Em algumas escolas já existem
discordâncias sobre a orientação educacional baseada em atributos
do sexo feminino. Orientação que não interessa os garotos.
O
enfoque mudou. Se no início a mulher afirmava ser igual ao homem e
não admitia ser diferente ¨Hoje, elas querem que o homem seja igual
a mulher¨. ¨Famílias de classe média são basicamente ambientes
femininos. Tudo é bem gentil, e os homens têm de mudar seu
comportamento para se encaixar nelas¨ (a autora, revista Veja).
Documentários
e programas de televisão que citavam e analisavam as diferenças e
diversidades entre sexos foram banidos para apaziguar os ânimos e
passaram a ser considerados politicamente incorretos. Qualquer ideia
ou mesmo assunto, mesmo que científico, que vá de encontro aos
interesses igualitários femininos são motivos de repúdio,
represália e rejeição.
As
mulheres, que no passado competiam entre elas por motivos e
situações que aqui não nos interessa, hoje têm como alvo a
concorrência aberta e direta com os homens. Opinam sobre tudo, têm
razão em tudo e necessitam sobrepujar o sexo masculino em todos os
aspectos. Sufocam os homens e os filhos, principalmente se são
meninos. Discordar em tudo é sinônimo de personalidade e mensagem
de não submissão, de afirmação para a mulher moderna. Se na
presença de outros melhor ainda. Reivindicam leis em benefícios
próprios sem se importarem com a igualdade, outrora tão
requisitada.
¨As
mulheres sentem que têm de ser pessoas bem-sucedidas, tudo na vida
delas tem de estar relacionado
com o poder feminino,
com ¨encarar obstáculos¨ (grifo meu, revista Veja)). Bem disse a
autora: poder feminino. Fica claro que as disputas não terminaram. A
igualdade outrora sonhada está se transformando novamente em
desigualdade.
Se
a sociedade patriarcal hierárquica perdeu o seu espaço na sociedade
atual, em virtude das conquistas sociais femininas, um novo
componente entrou em cena na relação entre os sexos. E este
componente é a concorrência em relação ao sexo masculino, questão
de vida ou morte.
Com
a concorrência exacerbada e a ânsia de poder, elas tornaram-se
castradoras em sentido figurado e simbólico. Castradoras simbólicas,
mas castradoras. Como o objetivo inconsciente é destituir ¨o poder
simbólico¨ do homem, ainda representado pelo membro, a única
solução seria dominá-lo, ou seja, castrá-lo, ainda que
simbolicamente. Fica até a impressão que as mulheres não concorrem
com o homem, especificamente falando, mas com o que ele tem.
Para
estas mulheres feministas, dominadoras e castradoras não existe meio
termo e nem direito a outras opções, pois ¨Desde o fim da década
de 1960 há uma depreciação de quem quer ser mãe e
mulher¨(ciberfeminismo). Ser mulher é basicamente dominar e
concorrer com os homens. Passaram a ser demasiadamente severas com
as outras que não possuem os mesmos objetivos feministas.
Chegado
este momento e não querendo entrar na polêmica discussão sobre a
importância do órgão sexual masculino, que fundamenta a teoria
freudiana, não sou psicólogo, muito menos psicanalista, me permito
algumas divagações, levando em consideração os seus ensinamentos.
Chamá-lo de misógino não resolve o problema.
Neste
contexto, a palavra INVEJA poderia ser banida da linguagem
psicanalítica, por que não esclarece nada e só acirra os ânimos.
Nem todo desejo é ou se transforma em inveja. Por outro lado,
existem diversos níveis e tonalidades de desejo.
Hoje,
na sociedade atual, a valorização dos termos e conceitos mudaram e
se inverteram e não nos apercebemos disto. Nesses sentido, o
sentimento de superioridade é mais rejeitado e, talvez, mais odioso
do que o seu oposto, porque é o caminho pavimentado para a opressão
e o desrespeito. E, por incrível que pareça, não existe qualquer e
nenhuma superioridade em se sentir superior. Este sentimento,
necessariamente, não se transforma em superioridade.
Ora,
se os estereótipos da sociedade patriarcal, baseada na diferença
entre os sexos, na necessidade de sobrevivência, na divisão social
do trabalho, na violência, no vigor físico, etc, tinham ou não
razões de ser isso é uma outra questão. No momento atual, o
importante, é que o combate aos estereótipos do passado não
sirvam de pretexto, de meio e de motivo para se criar e estimular
novos estereótipos, conforme tem denunciado Paglia, sobre o
movimento feminista.
E
infelizmente, por incrível que pareça, a ¨neura¨ das feministas
pela competição e pelo poder (Paglia) parece ir ao encontro da
teoria freudiana, reafirmando o referido sentimento, por vias
transversas.
No
final das contas, me pergunto se, por ironia do destino, precisou vir
o movimento de libertação da mulher e não o seu jugo, pelo sexo
masculino, para revelar os seus sentimentos mais profundos e, por
fim, reafirmar a teoria freudiana?
Percebemos
que esse estímulo à concorrência cria também um novo problema por
que, queira ou não, em qualquer relação heterossexual a
complementação tem que existir por que os órgãos sexuais
femininos e masculinos não podem ser simplesmente descartados. Essa
concorrência vai afastar no plano mesmo que ideológico a
penetração, fundamental na relação heterossexual, plenamente
visível no ato da procriação, e não totalmente eliminada no
contexto da satisfação.
Daí
constatarmos um comportamento muito comum na mulher atual, que
indiretamente foi ressaltado por Camille Paglia, qual seja o domínio
na relação com o sexo masculino, uma necessidade de castração
psicológica, mesmo que simbólica. Entretanto,
a castração simbólica não é real e por isso não resolve a
questão.
Nas
palavras da professora ¨Essa tensa e delicada dança entre o homem e
a mulher não pode ser atribuída de maneira simplista à misoginia
ou ao machismo¨(ciberfeminismo).
Mas
esta castração tem um preço, que se manifesta na insatisfação.
Por que, também,
mesmo que simbolicamente, para que serve um homem castrado? E
no final a culpa será sempre do homem por que permitiu ser castrado.
Nisso parece que elas têm razão.
Infelizmente,
as feministas não se aperceberam que no plano social existem
questões muito importantes que dizem respeito a ambos os sexos. Não
restam dúvidas que a igualdade salarial no desempenho das mesmas
tarefas ou assemelhadas é uma reivindicação justa.
Se
é verdade que as certas diferenças existem e, por direito e justiça
devem ser eliminadas, teríamos que analisar, pois esta me parece uma
questão primordial, até que ponto a entrada das mulheres no mercado
de trabalho trouxe uma depreciação na remuneração dos homens e ao
mesmo tempo de ambos. Principalmente, nos profissionais de nível
superior, no setor da classe média, onde inexiste a organização
sindical.
Essa
¨neura¨ de equiparação relega este aspecto e as injustiças
sociais prosperam. Na verdade, para que serve a equiparação se os
dois ganham mal? Antes de serem justas pelas igualdades, têm que ser
pela adequabilidade às situações reais da vida, que permitam uma
vida digna. Necessárias ao lazer e a educação dos filhos. Foi-se o
tempo em que um simples profissional qualificado podia sozinho
sustentar sua família. Talvez, se houvesse existido menos radicalismo a grave situação da remuneração dos assalariados tivesse tomado um outro caminho mais justo, diminuindo as injustiças e a exploração para ambos os sexos.
A história da "evolução" do ser humano ao estágio atual, das civilizações, de suas relações nas sociedades, incluindo as relações entre sexos, não se deu de modo linear e homogêneo, abstraindo-se das dificuldades e limitações materiais e culturais, de adaptações e explorações do meio ambiente, da divisão elementar do trabalho, das rivalidades e conflitos entre grupos consanguíneos e sociedades, das necessidades de defesa e ataque, de vicissitudes sociais que se iam acumulando, das questões relativas à propriedade privada e a hereditariedade, enfim da luta pela sobrevivência, em seu nível mais elementar (darwiniano), em condições muito diferentes das atuais.
Assim, sem levarmos em consideração as diferenças biológicas e genéticas entre os sexos, podemos afirmar que o ser humano é também um ser histórico. Reduzir as relações históricas entre os sexos a estereótipos de vítimas da sociedade e, principalmente, dos homens é fazer "tábua rasa" da história e da condição humana. Inúmeras mulheres não sofreram, aproveitaram as "delícias" maldosas do poder e foram tão ou mais cruéis do que os seus supostos "senhores". Portanto, muitas defensoras dessas ideias radicais são simplesmente oportunistas descaradas, outras ingênuas e outras tantas sofrem de problemas psicológicos com relação a figura paternal.
Seria hipocrisia dizer que não houve e que não há abusos dos mais diversos, que devem ser criminalizados pela lei e rechaçados pela cultura. Também não seria absurdo afirmar que os abusos sexuais contra menores são praticados quase exclusivamente por homens.
Mas, isto é outra história. Por sinal, segundo reportagem da BBC News Br, "1,2 milhão de mulheres foram vítimas de violência doméstica em 2013 " na Inglaterra e País de Gales e "700 mil homens" e nisto pouco se fala, ou elas não falam (Em "Britânico combate estigma de violência doméstica contra homens"). É provável que o número de homens seja maior por que a vergonha dos homens em relatar parece ser maior.
Idealizar o presente como uma simples continuação do passado, sem levar em consideração os diversos fatores que fizeram civilizações tão diferentes é assumir uma visão a-histórica das civilizações.
Este afã desmedido de poder, de suposta igualdade e "justiça" trouxe uma incoerência em suas avaliações e ao que propõem. Procuraram nos rastros da história destacar a contribuição e a importância das mulheres nas diversas sociedades do passado, dando pouco ou nenhuma importância à reputação, ao que realmente foram e o que fizeram. Muitas tornaram-se ícones do movimento, mesmo tendo exacerbado no exercício do poder (tal qual muitos homens também enaltecidos), usufruído indiretamente dele sem responsabilidades, na perversidade, na vaidade, na luxúria e no desvio de caráter, sem darem uma contribuição efetiva para o destino da humanidade.
A justiça torna-se uma palavra vã quando a utilizamos sem limites, sem as características que assumiram ao longo do tempo e em cada sociedade específica, ou seja, a-histórica; abstraindo dos padrões morais com que avaliamos o passado com os olhos do presente, para dar uma nova dimensão moral a existência humana.
Fazendo "tábua rasa" da justiça ao longo da história, nesse contexto teríamos que enaltecer mais os homens por terem sido mais perversos, cruéis, sanguinários.
Cito Jenkins:
"Justiniano chocou Constantinopla ao escolher para mulher uma atriz e reputada cortesã de nome Teodora, filha de um artista circense. Justiniano adorava-a, tornando-se sua sagaz consorte - e, mais tarde, ícone feminista. [...] Em 532, tudo culminou em tumultos que deixaram parte da cidade em ruínas. Justiniano estava preparado para fugir, mas Teodora pediu-lhe para ficar e um general leal Belisário, acabou por restaurar a ordem matando centenas de desordeiros", (Jenkins, Simon, "Breve história da Europa", Editorial Presença, 2019, p. 85).
O autor só esquece de dizer que o massacre foi a mando de Teodora.
Lewis, Brenda nos dá um retrato mais pormenorizado e rico de um época onde a luxúria e a venalidade predominavam na cúpula da Igreja romana, cujo período ficou conhecido como "pornografia papal", no século X, com destaque para Agiltrude, Teodora e suas filhas, Marózia e Teodora:
"Essas mulheres eram Teodora e a filha Marózia, ambas amantes de papas. Teodora foi descrita como uma "rameira desavergonhada" e as duas filhas, (...), tinham uma reputação <<que não era muito melhor que a da mãe>>", (p. 24).
"Tal como as marionetas cujos fios eram habilmente manipulados por Agiltrude, os papas do tempo da pornografia foram cúmplices benevolentes da decadência e da imoralidade que caracterizou uma época despudorada e vergonhosa.
Teodora (conforme o bispo Liutprand) "era uma <<rameira desavergonhada [...] a certa altura [...] a verdadeira rainha de Roma e - por vergonhoso que seja escrevê-lo - exercia o poder como um homem", p. 26.
"Teodora já era uma fazedora experiente de papas na altura que elevou João X ao trono de São Pedro. A sua preferência ia para os de temperamento pouco firme, mais manipuláveis , como Bento IV, que reinou sem lhe dar problemas entre 900 e 903. Por outro lado, também tinha um fraco por parasitas e depravados", p. 27, (Lewis, Brenda em "A história negra dos papas", Oficina do livro, 2012)
Por este motivo, permito-me dizer que os grandes injustiçados da história, longe de serem as mulheres, foram os escravos e oprimidos, incluindo neles também mulheres, que não tiveram e continuam não tendo condições mínimas de sobrevivência.
Para
terminar este texto não poderia deixar de citar uma frase de Freud
que ainda é motivo de muita controvérsia e que também se encaixa
nesse contexto. Numa carta a Marie Bonaparte ele afirma que, embora
tenha estudado a mente humana por décadas, foi incapaz de entender o
que quer uma mulher. ¨Nunca fui capaz de responder à grande
pergunta: o que quer uma mulher¨.
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