MODELOS
MATEMÁTICOS APLICADOS À ECONOMIA
(
POR QUE ELES FALHAM )
REVISTA, REATUALIZADA E REAMPLIADA
Por: Manuel Elisio Frota Neto
PRELIMINARES
Há
muitos anos a "ciência" econômica vem sofrendo
tentativas de torná-la uma ciência exata, com a aplicação de
modelos matemáticos, que pretendem prever os resultados que cada
economia em particular, ou em conjunto, alcançaria.
Somos
"diariamente" bombardeados com previsões e prognósticos
de crescimento para economia mundial, para cada economia em
particular, sobre retração, inflação, comércio exterior, taxa de
juros e câmbio e seus reflexos sobre a inflação, os reflexos de
uns sobre os outros, sobre as produções e os preços das
commodities, especialmente os do petróleo, e destes sobre a
inflação e o comércio exterior, etc, etc, constantemente
alardeados pela imprensa.
Estes
modelos se utilizam de técnicas matemáticas sofisticadíssimas e
são operados por computadores bastante velozes. Provavelmente, nem
esses gênios conseguem entender uns aos outros. E, como se não
bastasse, já fazem previsões para médio prazo.
Esquecem
que os prognósticos estampados influenciam o comportamento das
pessoas que, por sua vez, voltam a interferir sobre os mesmos
prognósticos, num processo dialético sem fim, não sabemos se
indefinido ou não. Como nem toda a população tem acesso ou se
interessa por estas previsões, estas influências recíprocas atuam
de modos diversos, com resultados imprevisíveis.
No
início dos anos 70, após um breve período de forte crescimento
econômico os economistas projetavam um futuro brilhante para a
economia brasileira. Algo muito parecido com o Brasil pós crise
2008. O Brasil seria o país do futuro. Os indicadores econômicos
sustentavam tais previsões. Passados todos estes anos constatamos
que o Brasil continua a ser o país do futuro, só que este futuro
nunca chega.
Neste
processo, economistas abraçaram a matemática, a econometria e as
finanças, os matemáticos e os físicos se tornaram economistas e
financistas e os financistas matemáticos e economistas, mas ambos
esqueceram ou subestimaram os fundamentos da "ciência
econômica". Os "nerds", atuando preponderantemente no
mercado financeiro, influenciaram toda uma geração de economistas.
Para
eles, "nerds", " A verdade era um segredo universal
sobre a maneira como o mercado funcionava, que só poderia ser
descoberto através da matemática" (Patterson, Scott em "Mentes
Brilhantes, Rombos Bilionários", Ed. Best Business, 2012,
p.21). Quanta soberba e falta de noção da realidade.
Na
verdade, para elaborar seus modelos e se tornarem as estrelas em
ascensão se basearam em dogmas econômicos. Mas nunca se
interessaram em questionar e avaliar tais dogmas. Aceitaram-os porque
eram gênios e não haviam porque se preocuparem com questões tão
banais. A verdade estava na matemática e o resto não interessava. O
funcionamento da economia ajudou a encobrir suas cegueiras. E o pior
cego é aquele que não quer ver.
Por
sua vez, os economistas, em sua grande maioria, apoiaram-se na
matemática por conveniência e para encobrir os problemas teóricos
de sua disciplina. Dizendo isto, não quero ser ridículo, nem muito
menos extremista, em não reconhecer que a matemática poderá
contribuir para o estudo da economia, mesmo não sendo um fanático
por ela. Também não poderíamos deixar de reconhecer a capacidade e
a genialidade daqueles que constroem e manipulam com extrema
facilidade os números e a matemática.
É
verdade que todos nós, por razões que não interessa, criamos
expectativas, fazemos prognósticos e projeções sobre nossas vidas
e como consequência sobre situações que direta e indiretamente nos
afetam, sobre toda sorte de situações que nos rodeia, com a
intenção de nos protegermos, como prevenção e etapas para
alcançarmos novos objetivos.
Entretanto,
no momento, muitos destes prognósticos ficaram sob a
responsabilidade destes gênios que constroem e utilizam estes
modelos sofisticados para nos dizer como será o futuro. E como estes
modelos são sofisticados e fogem do alcance da grande maioria
perdemos a capacidade de raciocinar sobre o razoável.
Longe
de querer negar a genialidade destes senhores. Evidentemente, o meu
propósito é outro. O meu intuito, com as limitações que me são
próprias, é levantar algumas pequenas questões no que diz respeito
credibilidade de tais modelos, genericamente falando, apresentar
algumas razões porque eles não podem alcançar os objetivos
propostos, ou seja, porque eles não funcionam adequadamente e em
certo
sentido desmistificar esta suposta cientificidade, de
precisão milimétrica, que em nada contribue para atacar os
verdadeiros problemas das economias capitalistas.
Afinal
de contas, depois de tantos fracassos, cheguei a conclusão de que
não só os gênios podem contribuir. Sobre este assunto cabe
mencionar "Mentes brilhantes......, já citado. Se os pés e as
mentes não tiverem assentados sobre e na realidade, ser gênio não
basta. Não é demais lembrar que o gênio Jean Paul Sartre, guru e
paradigma moral e intelectual de toda uma geração, não teve
qualquer impedimento moral nem intelectual em apoiar as brutalidades
do stalinismo. Mais importante é a ponderação. Em outras palavras,
cada um contribui a seu modo.
É
lógico que modelos são simplificações das realidades. Mas, essa é
a questão, por que insistir em modelar, de forma sofisticada, áreas
onde os erros e fracassos são enormes? E sempre com um ar de
cientificidade.
Em
primeiro lugar, servindo apenas com uma ilustração preliminar,
poderíamos observar que existe algo incoerente com os inúmeros
diagnósticos baseados em diversos modelos, que são constantemente
revisados em um espaço de tempo muito exíguo, pela mesma fonte.
Isto, a meu ver, já seria suficiente para desacreditá-los.
Mas,
por incrível que pareça, existem outras razões simples e banais,
que não podem ser esclarecidas através de modelos, que nos mostram
os abusos perpetrados por aqueles que querem se projetar sofisticando
e inventando , complicando e não esclarecendo.
Existem
algumas razões para acreditarmos que os modelos matemáticos e
econométricos aplicados à economia não apresentam resultados
satisfatórios em relação aos seus objetivos, que são explicar o
funcionamento da economia e fazer prognósticos apurados e, até
mesmo, resolver os dilemas e entraves das sociedades capitalistas,
evitando as crises desnecessárias, que podem ser evitadas, e que
jogam milhares de pessoas em situações vexaminosas, destruindo
lares e trazendo sofrimentos.
A
meu ver seria infrutífero criticar os modelos através de outros,
opinando sobre as diversas variáveis. Assim procedendo estaria
trilhando o mesmo caminho de tantos outros. Existe uma infinidade de
modelos. Além disso, confesso a minha incapacidade e aptidão para
tal. Para mim, é desnecessário discutir se o comportamento do
mercado é aleatório e tem uma distribuição em forma de sino, ou
se alguns modelos não levaram em consideração determinadas
varáveis. Mesmo porque muitos vão ao mercado e se comportam de
forma diferente às suas convicções teóricas. E outros sequer
levam estas teorias em consideração e mesmo assim obtêm sucesso.
Que
fique claro que não sou ativista contrário às previsões e
prognósticos. Eles fazem parte da vida, do nosso cotidiano e todos
nós, em maior ou menor grau, fazemos constantemente. Ao poupar para
a velhice e ao educar os filhos já estamos criando uma expectativa
de vida e fazendo previsões. Fazemos previsões e criamos
expectativas sobre o nosso trabalho e tudo o mais que nos rodeia.
O
que critico neste artigo são as previsões que pretendem ser
"científicas" e que por isso ficam a cargo de uma elite
que tem interesse em utilizar recursos complexos, em linguagem
sofisticada (ex: mats), a poucos acessível, mas que não passam de
uma simples futurologia bem aparelhada, montada sobre premissas
simplórias e falsas.
O
meu objetivo será desmistificar estas previsões, correndo também o
risco de ser, no mínimo imprudente, por não me filiar e não me
interessar pelos rumos que a economia está sendo abordada. Mas,
resolvi aceitar o desafio, dando a minha pequena contribuição, que
poderá servir como alerta para aqueles que se sentem massacrados e
enganados por esta falsa ciência.
Este
artigo será dividido nos seguintes tópicos: 1) breve histórico
sobre a evolução da influência da matemática e das finanças
sobre o pensamento econômico, dividido em dois tópicos: 1.1) a ideologia das "ciências sociais"; 1.2) aspectos socioeconômicos da "financeirização"; 2) personagens em destaque no mundo
das finanças; 3) porque os modelos falham; 4)) alguns
poucos exemplos de acontecimentos imprevisíveis que alteraram os
prognósticos e de fracassos retumbantes de previsões; 5) alguns
comentários sobre a "teoria" do professor Eugene Fama,
agraciado com o Prêmio Nobel sobre a sua contribuição na área das
finanças; 6) considerações finais, onde procuro fazer um balanço
da contribuição dos "cientistas" econômicos em relação
a outras ciências.
Em "Breve histórico", que em função da reatualização e em relação ao texto original não se tornou tão breve, dividido posteriormente em dois sub-títulos, procuro os motivos "ideológicos" que juntamente com as condições materiais, "socioeconômicas", viabilizaram a matematização da economia nas últimas décadas e que culminou com o desastre de 2007/8.
Em "Breve histórico", que em função da reatualização e em relação ao texto original não se tornou tão breve, dividido posteriormente em dois sub-títulos, procuro os motivos "ideológicos" que juntamente com as condições materiais, "socioeconômicas", viabilizaram a matematização da economia nas últimas décadas e que culminou com o desastre de 2007/8.
BREVE
HISTÓRICO
A IDEOLOGIA NAS
“CIÊNCIAS” HUMANAS
“Por isso, não podemos
explicar esse novo saber apenas pelas exigências econômico-industriais.
Mediações socioculturais também desempenharam um papel importante. As mais significativas
foram o realismo e o racionalismo próprios aos novos
empreendedores. Na formação desse realismo e desse racionalismo, as práticas e
hábitos mentais típicos do capitalismo tiveram um papel relevante” (Japiassú,
p. 115).
“O mundo regido pelas catedrais passa a ser
dominado pelos bancos. O sistema mercantilista nascente tem necessidade de
conhecimentos práticos ou teóricos distintos dos saberes religiosos. [...]
Insere-se e faz parte integrante de um amplo contexto histórico, inseparável de
um movimento visando a racionalização da existência” (idem, p. 116).
Conforme Japiassú, com base nessas transformações nasce propriamente
a ciência moderna no século seguinte (XVI) e alcança a maturidade nos séculos
XVIII e XIX.
Esta “ciência”, faz uma ruptura com os paradigmas dos saberes
anteriores, se funda com base nos princípios da lógica-dedutiva, na
objetividade, na racionalidade, na experimentação, na medição e consequentemente
na matematização, tendo a física como parâmetro:
“Esses dois sentidos
formam a “Nova Visão do Mundo” denominada filosofia mecânica fundada nos
seguintes pressupostos: a) Natureza não é manifestação de um princípio vivo,
mas um sistema de matéria e movimento regido por leis quantitativas; b) podemos
determinar essas leis com uma precisão matemática; ...” (Japiassú, p. 110).
Em Descartes, “fundador do racionalismo moderno” (Japiassú),
encontramos a essência desse racionalismo e de seu método:
“Uma vez explicitados e
estabelecidos estes pressupostos, explicar um fenômeno passa a significar
construir um modelo mecânico capaz de substituir o fenômeno real”.
“Donde prevalecer sua
visão mecanicista do mundo. Com efeito, o termo grego mekanê passa a
significar: a) uma visão do mundo considerando o Universo assimilável a um
grande relógio construído por um Grande Relojoeiro; ...” (Japiassú, p.110).
“Método universal
tomando por modelo a inteligibilidade matemática” (Japiassú, p. 103).
O mundo torna-se matemático e deve ser explicado por leis
quantificáveis, pela ciência dos movimentos, pela mecânica (Descartes).
Entretanto, essa “ciência” não nasce despretensiosa, pela
simples vontade de conhecer, de desvendar a realidade. Atrelada a ela nasce o poder-saber, que a dirige e condiciona.
Os cientistas passam a ser senhores absolutos de um saber não acessível ao
cidadão comum.
Ao mesmo tempo, com a nova visão do mundo, da qual ela nasce, a burguesia ascendente pode combater o “saber dominante anterior” e “instaurar um novo saber”, com sua nova ideologia:
Ao mesmo tempo, com a nova visão do mundo, da qual ela nasce, a burguesia ascendente pode combater o “saber dominante anterior” e “instaurar um novo saber”, com sua nova ideologia:
“Socialmente, tal
projeto possui um sentido e, a seu modo, uma utilidade: eliminar o saber
dominante anterior (dos clérigos) e instaurar um novo (dos burgueses) em seu
lugar” (Japiassú, p. 115).
Segundo Japiassú é Bacon quem preconiza a “orientação
pragmático-utilitária do saber” (p.206) e sua relação com o poder no Novum Organum:
“A ciência e o poder
humano se correspondem em todos os pontos e têm o mesmo objetivo” ( apud
Japiassú, p.254).
“Em suma, Bacon e
Descartes perceberam com muita nitidez: outros novos conhecimentos com os quais
sonhavam seus contemporâneos deveriam constituir um poderoso instrumento de
ação, no sentido mais amplo do termo: ”Saber é Poder”” ( Japiassú, p. 262).
“Em parte, Galileu se
interessava pelo movimento dos projéteis para servir aos cálculos de balística.
Ora, a partir do século XVI, o conhecimento deixa de ser uma atividade do otium
(ciência pura) para converter-se num negócio. Em outras palavras, a ciência já
nasceu vinculada ao poder político. E sempre esteve, de uma forma ou de outra, a
seu serviço” (idem, p. 273).
Em outras palavras “o
poder produz saberes” (Foucault).
É nesse contexto de objetividade, racionalismo,
experimentação matematização e
maquinismo, em síntese dessa visão do mundo, que nascem e prosperam as chamadas
ciências sociais, principalmente no século XIX, quando surgem a sociologia, a
antropologia, a psicologia, a psicanálise, ciência política, behaviorismo, etc.
E é nesse contexto que as “ciências humanas” vão se espelhar, para adquirir o
“status” de ciência.
É o que irá acontecer no âmbito da sociologia positivista de
Emile Durkheim em “tratar os fatos sociais como coisas” (Japiassú em A crise
... p. 59) e das experiências de Pavlov, que buscam relações de “causa-efeito”,
reflexo condicionado, estímulo-resposta.
E é também durante esse período que elas se tornam
independentes umas das outras. A economia que nos primórdios era “Economia
Política” e tratava de questões institucionais passa a ser independente, uma
disciplina a parte das demais “ciências humanas”, que procura desvendar as leis
econômicas básicas, dissociadas dos contextos sociais.
Ao mesmo tempo em que se fracionam muitas vezes sob roupagens
ideológicas. Na psicologia temos a psicologia comportamental, cognitiva,
industrial, da criança, jurídica, criminal, etc. Na economia: clássica,
marginalista, macro, micro, marxista, keynesiana, estruturalista, industrial,
internacional e, pasmem, comportamental (que trata do comportamento dos agentes
socioeconômicos, sem se preocupar com as leis que regem a economia), com
diversos Prêmios Nobel (Ver "Um Raio X sobre "O Espírito Animal", neste blog) .
Todos nós conhecemos as dificuldades e os verdadeiros embates
que as ditas “ciências humanas” encontraram e encontram para se afirmarem como
verdadeiras ciências e como os seus interlocutores desejam exasperadamente o
rótulo de cientistas, porque donos de um saber-poder. Por não serem passíveis
de quantificação (matematização), objetividade (são perpassadas por questões ideológicas e relações de poder), experimentação e “certeza” tornam-se
desprestigiadas, sendo no mais das vezes consideradas como “opiniões”. E não
sendo sujeitas à experimentação suas previsões tornam-se verdadeiras “chutometrias”,
sem qualquer fundamento dito “científico”.
É bem verdade que desde os seus primórdios a economia teve
uma relação muito próxima dos números, que foram utilizados para explicar e
ajudar no raciocínio. Ricardo fez uso dos números para explicar a “lei das vantagens
comparativas”, como também Marx em seus exemplos dos esquemas de reprodução.
Não restam dúvidas que ela lida com números, podendo-se fazer uso da matemática
para melhor elucidar os raciocínios e demonstrar a validade dos argumentos. Mas
daí torná-la sujeita a matematização
vai uma enorme diferença.
Na segunda metade do século XIX a teoria marginalista passa a
incorporar definitivamente o raciocínio matemático (cálculo infinitesimal e
diferencial), mas ele ainda é auxiliar, complementar e elucidativo às
argumentações teóricas.
Em sua Tese de Mestrado sobre a matematização da economia brasileira Luperi identifica um segundo
momento no processo de influências da
matemática e da física, coincidindo este momento com a crise da matemática e da
física, no início do século XX, com a substituição da mecânica clássica pela
física quântica.
Segundo o autor:
“A partir das
transformações ocorridas no início do século XX, a matemática assumia um papel
que colocava de lado o experimento. Este, portanto, ficaria desvinculado da
teorização” (p. 18).
Mas, em que pese à tentativa do autor em demonstrar a
importância de matemáticos e físicos nas formulações matemáticas aplicadas à
economia, a teoria marginalista continuou influenciando o pensamento econômico
até a década de 80, ensinado nas universidades e nos cursos de mestrado.
E com a Grande Depressão de 1929 entra em cena a teoria
keynesiana da demanda efetiva, que iria influenciar o pensamento econômico de
toda uma geração do pós-guerra. Junto a ele uma conciliação da economia
clássica e keynesiana, formulada por Hicks, conhecido como o modelo IS-LM.
Portanto, ao que me parece, estas inovações matemáticas ficaram restritas ao
discurso acadêmico, sem grandes repercussões nas políticas econômicas do
pós-guerra.
Diga-se de passagem que é na década de 30 que Michael
Kalecki, economista marxista de formação matemática, que paralelamente a Keynes
formulou a teoria da demanda efetiva, adotando os esquemas de reprodução de
Marx, tentará aplicar modelos matemáticos à economia para calcular e prever os
ciclos econômicos, sem grande sucesso.
Entretanto, concomitantemente a prevalência e talvez a
influência das ideias keynesianas, é importante destacar que após a Grande
Depressão a economia passa por um processo de quantificação e medição das
variáveis e atividades econômicas, com destaque para a contabilidade nacional.
A partir de então, a política econômica se guiará com os olhos voltados para a
contração e expansão do PIB, a taxa de desemprego, taxa de investimento,
poupança, déficit público, etc.
A questão que se coloca é o porquê da matematização da
economia, através de modelos ultra-sofisticados, nos anos recentes, em
substituição a teorização?
Não creio que devemos buscar a resposta na ruptura efetuada
pela física quântica e a crise da matemática, muito embora devamos reconhecer
que estas mudanças teóricas possam ser um novo método mais sofisticado e talvez
“eficaz” (dúvidas) de abordar a economia através da matemática, assim como o
desenvolvimento da informática facilitou a sua aplicação. Se a matemática se
utiliza do modelo hipotético-dedutivo, em substituição ao modelo
empírico-dedutivo, da física mecânica, esta passagem não diz respeito aos
motivos econômico-sociais que condicionaram essa mudança.
Todavia, é o próprio autor quem reconhece a importância da
busca do “status” científico para a economia:
“Os integrantes dessa
escola (marginalista), um grupo de pesquisadores formados basicamente em
engenharia, buscaram conceber um projeto que garantisse a “cientificidade” da
economia política, a que eles consideravam insuficiente no momento” (p.20).
“Buscava-se para a
economia, assim como aconteceu na “revolução” marginalista do final do século
XIX, o “status” de ciência” (p. 27).
Este seria o pano de fundo de caráter ideológico que juntamente
com a ideologia dos mercados perfeitos e racionais, da mão invisível de Smith,
do capitalismo sem crises, estimulam a matematização
da economia para torná-la uma verdadeira ciência. É bem mais fácil matematizar
um mercado que tende ao equilíbrio do que prevê matematicamente crises com
fundamento nas leis socioeconômicas.
Entretanto, essas ideologias não levariam a uma matematização radical sem que ocorressem
as com condições materiais socioeconômicas para tal.
E isto só seria possível com a “financeirização” e a consequente globalização, viabilizadas pelo
suporte técnico da eletrônica, e a contribuição de profissionais,
administradores ligados às finanças, matemáticos, físicos, estatísticos que
migraram e se especializaram na área financeira.
Estes profissionais foram principalmente acolhidos pela
Universidade de Chicago, no departamento de administração financeira, sob a batuta
de Milton Friedman, matemático de formação, que passou a ditar as regras e
influenciar a formação de toda uma geração em finanças, com repercussões na teoria
econômica, já que eram adeptos da teoria dos mercados perfeitos.
A Universidade de Chicago passou a ser uma referência no
mundo das finanças e economia, com todo o suporte da mídia, e a sua importância era tamanha que muitos de seus membros foram
constantemente indicados e agraciados com o Prêmio Nobel.
Alguns deles, estrategistas familiarizados e fascinados na
arte de ganhar em jogos de azar, através de modelos probabilísticos, aplicados
também ao mercado financeiro, principalmente na Bolsa de Valores, tais como: Ed
Thorp, A. Osborne, Fisher Black, Myron Scholes, Robert Merton para citar alguns
(Ver o tópico sobre os Personagens em Destaque).
Chamo de “financeirização”
tanto a importância concreta das finanças do mundo dos negócios, dos bancos e
financeiras, quanto o aspecto ideológico e o respectivo viés de olhar e
analisar a economia através das lentes das finanças, principalmente da
importância das Bolsas de Valores, cujos movimentos e oscilações passam a ter
importância nas decisões econômicas.
Transpuseram para a economia a visão do mercado financeiro,
mormente das Bolsas de Valores, que por suas características de movimentos
aleatórios, de jogo, estão mais propensas ao cálculo probabilístico e,
consequentemente, a “matematização”. Aliado
a isto assumiram a teoria dos mercados perfeitos e racionais que facilita a
modelação.
ASPECTOS
SOCIOECONÔMICOS DA “FINANCEIRIZAÇÃO”
Um
processo, que se inicia logo após a segunda grande guerra, germinado
e urdido pela intelligentsia americana, cujo berço foi a
Universidade de Chicago, sob a orientação do estatístico-economista
Milton Friedman, responsável pelo curso de economia, que influenciou
mais de uma geração de economistas.
Muitos
dos quais agraciados com o prêmio Nobel e que se destacaram ao
ocupar postos chaves nas instituições nacionais e internacionais e
exerceram o controle do pensamento econômico em escala mundial,
inclusive com o exercício do poder (consultar "Direito,
economia e mercados racionais, em www.melisiofrota@blogspot.com.br).
Para
inciar, começo com a seguinte citação:
"
A conexão entre o movimento browniano e os preços da bolsa foi
feito por um aluno da Universidade de Paris chamado Louis Bachelier,
em 1900. Naquele ano, ele havia escrito uma dissertação intitulada
" A Teoria da Especulação", que era a tentativa de criar
uma fórmula que capturasse o movimento dos títulos de dívida na
Bolsa de Valores de Paris. A primeira tradução para o inglês do
ensaio, que caíra no ostracismo até ressurgir na década de 1950,
foi incluída no livro sobre a aleatoriedade dos mercados que Thorp
lera no Novo México.
A
chave para a análise de Bachelier era sua observação de que os
preços dos títulos, de certa maneira, da mesma forma que o fenômeno
descoberto por Brown em 1827. Os títulos negociados na Bolsa de
Valores de Paris seguiam um padrão que, matematicamente, se movia
exatamente como aquelas partículas de pólen, que oscilavam de forma
aleatória". (Mentes brilhantes ....... ps 47/48).
E
quem era Ed Thorp? "Era um gênio completo detentor de um Ph.D.
em física, pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA),
professor de matemática no Massachusetts Institute of Tecnology e
especialista em traçar estratégias para ganhar em todos os tipos de
jogo, do bacará ao vinte e um". ( Mentes brilhantes......p.30)
Podemos
citar outros exemplos claros de como a matemática foi se
introduzindo na economia e, posteriormente, ditando as regras nesta
"disciplina¨:
"
O astrofísico era M.F.M. Osborne, e trabalhava no Laboratório de
Pesquisa da Marinha americana em Washington. Osborne chegaria ao
laboratório em 1941, direto da pós-graduação da Universidade da
Califórnia em Berkeley, e passou a Segunda Guerra Mundial em tarefas
de pesquisa de operações, como, por exemplo, imaginar a melhor
maneira de se descobrirem os submarinos e explodi-los. Depois da
guerra, ele e os outros cientistas tiveram liberdade para estudar o
que quer que lhes interessasse. Os tópicos de pesquisa de Osborne
incluíam aerodinâmica do voo dos insetos e a performance
hidrodinâmica de salmões em migração. Para ele, a Bolsa de
Valores era só mais um conjunto de dados interessantes". ( Fox,
Justin em O Mito dos Mercados Racionais, ed Best Business, 2010, p.
95).
E
sobre Samuelson, um dos mais citados e conhecidos economistas do
século passado: " Filho de imigrantes bem-sucedidos de Gary,
Indiana, Samuelson chegou à Universidade de Chicago em 1932 e se
apaixonou pela lógica elegante dos economistas neoclássicos. Como
aluno de pós-graduação em Harvard, ficou convencido de que essa
lógica era melhor expressa matematicamente e embarcou em um programa
auto dirigido de pesquisa que fez com que se tornasse o primeiro
economista americano desde Irving Fisher cujas técnicas
quantitativas equivalessem às de seus colegas das carreiras
técnicas.
Samuelson
acreditava que as equações esclareciam os conceitos econômicos que
geralmente as palavras atrapalhavam" ( O Mito ......., p. 88).
Também
Irving Fisher, o economista mais citado durante o período
pré-crise, apologista da sustentabilidade do mercado, era um adepto
da matemática, conforme Fox: "Irving Fisher foi capaz de chegar
a um ponto que Bachelier não conseguiu porque tinha mais do que a
matemática e a teoria das probabilidades à sua disposição. Ele
era um economista.
Em
Yale, onde se formou como primeiro da turma em 1888, mesmo enquanto
sustentava a família dando aulas ou com prêmios acadêmicos, Fisher
se formou em matemática" ( O Mito ......, p25).
A
matemática era um grande apelo para uma disciplina que pretendia
galgar o status de ciência. Afinal ela (a economia) também lida com
números e os economistas seriam cientistas. Mas só isto, na minha
opinião, não justifica esta influência devastadora que a
matemática passou a exercer sobre a economia.
Na
década de 1920, o economista russo Nikolai Kondratiev, através de
uma análise empírica, plotou dados estatísticos para propor o que
ficou conhecido como "os ciclos longos de Kondratiev", com
duração aproximada de 40 anos, tentando demonstrar que a economia
capitalista entrava em crises prolongadas, com duração e intervalos
regulares, sendo uma de suas características. Embora não totalmente
esquecida, sempre comentada, pois os economistas adoram ressuscitar
defuntos, os seus estudos não têm qualquer importância nos dias de
hoje.
No
início dos anos 1930, o brilhante economista polonês Michael
Kalecki, que chegou a uma conclusão semelhante ao economista inglês
Keynes, por caminhos diferentes, fazendo uso dos modelos de esquemas
de produção de Marx, proporia modelos matemáticos com propósito
de explicar e determinar os ciclos econômicos; "Era um dos
primeiros modelos matemáticos construídos para explicar os ciclos
econômicos de conjuntura ...", em MIchael Kalecki-Um pioneiro
da teoria econômica, economidiando.blogspot.com.
Pelo
visto, faz parte da história.
Joan
Robinson, economista inglesa, fez um trabalho interessante,
mostrando como do dois economistas trilharam caminhos diferentes para
chegar à conclusões assemelhadas.
Mas,
será que o grande fascínio pela matemática e estatística pode ser
considerado o único responsável pela ascensão e difusão da
matemática na economia?
Durante
a virada do século XIX e os primeiros anos do século vinte as
economias capitalistas avançadas passaram por um processo de
"financeirização", se assim podemos denominar, onde os
grandes bancos passaram a ter um papel importante sobre a economia,
inclusive sobre a indústria. Este processo foi captado pelo
economista austríaco Rudolf Hilferding em seu livro "O capital
financeiro". Embora as suas conclusões não possam ser
aplicadas genericamente para todas as economias capitalistas é
inegável que as principais economias passavam por transformações
importantes.
Nas
suas conclusões os bancos passavam a ter maior influência na
direção e decisões sobre as empresas, através de seus
representantes no Conselhos de Administração, acentuando a
dependência da indústria em relação aos bancos.
O
processo de concentração/centralização previsto por Marx leva a
grandes transformações sociais e na política econômica dos países
imperialistas.
"Hilferding
pensa, assim, que a transformação estrutural do capitalismo está
determinada pelo aparecimento e desenvolvimento do mercado acionário.
Ela libera o capitalista industrial da função de empreendedor
industrial.
Incumbido
aos bancos a decisão de fornecer o capital, estes preferem acordar
créditos às sociedades por ações, às quais fica-lhes facilitada
a supervisão da gestão financeira pelo envio de representantes aos
seus conselhos de administração.
Essa
participação do capital bancário nas sociedades por ações
acentua a dependência da indústria em relação aos bancos.
A
ligação entre os grandes bancos e a indústria muda igualmente o
caráter da concorrência capitalista.
Esta
estreita interdependência entre os interesses dos bancos e os
interesses da indústria determina também, segundo Hilferding, um
crescimento da concentração bancária.
A
tendência à criação de um banco central vai junto com à criação
de um cartel geral, o qual poderia então reger conscientemente o
conjunto da produção" (Desenvolvimento e crise do capitalismo
no pensamento de Rudolf Hilferding, em
laurocampos.org.br/... desenvolvimento -e ...).
Acredito,
embora não possa comprovar, que a grande depressão também teve um
efeito importante sobre o avanço da matemática na teoria e nos nos
assuntos econômicos. Os roaring
twenties,
a grande expansão da década dos 20, terminou com uma grande
depressão, momento em que a ciência econômica não deixou de ser
profundamente questionada. Na época, o famoso economista Irving
Fisher, da Universidade de Yale, que recebia grande cobertura da
mídia, apologista ferrenho da alta declarava: " Estou
totalmente convicto de que as ações atingiram um patamar que se
manterá permanentemente elevado". ( Santana, Ivan em 1929, ed
Objetiva 2014, p. 340).
E
quando os problemas começaram a aparecer afirmava "que a queda
dos últimos dias era apenas "o resultado de um comportamento
lunático, mas passageiro, por parte dos investidores"" (
1929, p. 252). Segundo o mesmo autor Irving Fisher perdeu tudo que
tinha com a quebra da bolsa, inclusive sua casa, e foi morar de
favor com sua filha (p. 340).
A
crise é o momento propício para soterrar de vez o pensamento
clássico. Em março de 1933, o novo presidente democrata Franklin
Roosevelt, lança o New Deal, programa econômico inspirado nas
ideias do economista britânico John Maynard Keynes, visando a
recuperação da economia através de um do aumento dos gastos
públicos em infraestrutura e a implantação de outras medidas no
tocante a seguridade social, controle sobre o mercado financeiro (em
novembro sai a Lei Galinholas-reais e em 1934 é criada a SEC),
intermediação dos sindicatos nas negociações e outras medidas,
todas de grande repercussão nos anos vindouros, levando o país ao
Welfare State.
Qual
a repercussão sobre a economia de cada um destes fatores e deles em
conjunto sobre a economia americana e mundial e desta sobre aquela?
Seriam estes fatores suficientes para reverter o quadro de
desconfiança, desespero e o desânimo dos agentes econômicos, numa
economia assolada pela crise, com uma taxa de desemprego em torno de
25%? E quais deles seriam os mais importantes e quais os
irrelevantes?
Este
é o pano de fundo da economia mundial pós-crise e que os modelos
matemáticos são incapazes de captar, porque não podem incluir os
fatores políticos e institucionais em suas previsões.
Entretanto
a economia não atinge os níveis pré-crise. A resposta republicana
não tardou. Preocupados ideologicamente com a intervenção do
Estado na economia, ante a ameaça ideológica socialista, lançaram
uma contraofensiva que culminou com a desaceleração do programa a
partir de 1937.
Por
um acaso, com a eclosão da 2ª guerra mundial a economia americana
se recupera e os anos pós-guerra passam a ser a época dos anos
dourados e os momentos difíceis caem no esquecimento.
Poderíamos
dizer que a 2ª grande guerra foi também uma época keynesiana, de
forma indireta ou disfarçada, exacerbada, por que a economia forçada
de guerra obrigou o estado a intervir na economia, administrando,
estabelecendo estratégias e alimentando a economia através de
investimentos maciços em pesquisa e produção de armamentos. Mas
era uma economia de guerra, portanto justificável.
É
necessário advertir que Keynes nunca propôs uma intervenção
estatal naqueles moldes, pois feria os seus princípios democráticos.
Na sua concepção a intervenção estatal entraria apenas para
ajustar as disfunções da economia capitalista, sem uma
interferência marcante nos interesses individuais.
Por
outro lado, a intelligentsia acadêmica americana sempre foi avessa a
aceitar que as economias capitalistas sofriam de espasmos periódicos.
Diante da ameaça do socialismo, era necessário criar e vender uma
imagem de que a economia capitalista era superior, de que se ajustava
espontaneamente, através das leis do mercado ou de uma mão
invisível, e por isto não precisava da intervenção do estado para
corrigir os erros e amenizar os desvios. Daí o motivo de que Keynes
nunca foi bem aceito nas universidades.
E
após a Grande Depressão e posteriormente com o fim da 2ª Grande
Guerra os Estados Unidos da América passaram a ser o baluarte em
defesa da superioridade do regime capitalista, num ambiente de
Guerra Fria.
Impulsionada
por uma demanda por produtos duráveis deprimida e pelo programa de
recuperação das economia devastadas pela guerra, plano Marshall, a
economia americana alcança anos de grande prosperidade, tornando-se
um líder econômico e ideológico inconteste das economias
capitalistas. Sobre o montante da ajuda financeira aos países
europeus consultar Plano Marshall, pt.wikipedia,org/wiki.
Com
o fim da 2ª grande guerra, a recuperação da economia americana, a
diretriz política
de
reconstrução e recuperação dos países capitalistas europeus
(Plano Marshall, 1947) e o início da guerra fria (1947) formam o
cenário perfeito para o retorno da concepção ideológica dos
mercados perfeitos, abalada com a crise de 1929 e as novas teorias de
Keynes e Kalecki.
Outrossim,
preocupados com o avanço ideológico do socialismo/comunismo, os
E.U.A. "escolhem" o Japão como o seu representante na
Ásia. Abrem exceções para a política econômica japonesa, têm
interesse em sua expansão, facilitam as suas exportações,
estabelecem políticas de cooperação tecnológica, ao mesmo tempo
que abrem espaço para que os Zaibatsus/Keiretsus comandem, política
e economicamente, o processo de recuperação/expansão, dando
impulso, ao que se denominou, o "milagre econômico japonês",
no início dos anos 60.
Não
poderia deixar de mencionar o Acordo de Bretton Woods que fez parte
do quadro institucional que permitiu os anos dourados do pós-guerra,
embora a sua importância seja contestada por alguns.
"Mesmo
hoje, mais de três décadas após a sua extinção, o sistema
monetário internacional baseado nos acordos de Bretton Woods
permanece um enigma. Para alguns, Bretton Woods foi um componente
essencial da idade de ouro de crescimento no pós-guerra. O acordo
proporcionou um grau de estabilidade admirável nas taxas de câmbio,
quando comparado à volatilidade nos períodos antecedentes e
subsequentes" ( Eichengreen, Barry, A globalização do capital,
Ed. 34, 2002, p.131).
Esquecem
que "a conjuntura era outra no quarto de século posterior
Segunda Guerra Mundial" (idem, p.132) e, por isso, não pode ser
analisado separadamente.
Mas
é impossível relacionar e principalmente dimensionar todos os
fatores que contribuíram em importância para os anos dourados.
Entretanto,
podemos perceber como os interesses políticos influenciam
diretamente e moldam as economias dos diversos países.
Todos
estes e outros fatores do ambiente pós-guerra foram esquecidos e não
ponderados pelos modelistas matemáticos, e deram margens às
previsões econômicas sobre a economia do Japão, que, no final,
fracassaram.
Mas,
agora, para os chicagoanos, não é mais a concepção do egoísmo e o
interesse individual que promove o equilíbrio da economia, através
da mão-invisível, mas a racionalidade dos agentes econômicos.
Deram uma nova roupagem à mão-invisível. Sobre o assunto consultar
o artigo "Direito, Economia e Mercados Racionais (Uma crítica
aos economistas racionais), em www.melisiofrota.blogspot.com.br.
Este
parece ser o clima ideal para enfraquecer e desacreditar os
economistas teóricos e propiciar o avanço da matemática.
Nas
décadas seguintes à gande crise, durante a recuperação da Europa
e Japão no pós-guerra, a lei Glass-Steagall, a Securities and
Exchange Act (1934) frearam e suspenderam a tendência e o processo
evolutivo de "financeirização" das economias que se
iniciara nos inícios do século XX.
A
reconstrução da Europa fortalece a importância das multinacionais
americanas e facilita ainda mais a constituição de grandes
conglomerados industriais. O financiamento dessa reconstrução é
administrado pelos Estados.
Na
recuperação do Japão, embora os bancos tivessem um papel
importante na constituição das Keiretsus, o Estado administra os
fluxos financeiros e as taxas de juros, incentivando a produção,
esta também sob a orientação do MITI, num esforço integrado, que
objetivava a industrialização.
"Os
desequilíbrios externos e as restrições impostas na conta de
capital pelo governo dos EUA., nos anos 1960, foram decisivos parra a
formação do mercado de eurodólar. Em 1974, os EUA aboliram os
controles sobre os fluxos de capital, inclusive os limites diretos
sobre os empréstimos bancários, que objetivavam controlar a saída
de capital nos anos 1960. Progressivamente, foi sendo promovida a
liberdade dos fluxos de capital na economia internacional,
financeiramente, cada vez mais integrada, ainda que organizada de
forma assimétrica e hierárquica.
Em
1980, o
Depositary Institutions Desregulation and Monetary Control Act (1980)
extinguiu a Regulation
Q,
que regulamentava os tetos sobre as taxas de juros sobre os depósitos
das instituições depositárias, desencadeando o processo de
desregulamentação do sistema financeiro doméstico. A
desregulamentação
facilitou a conglomeração e o envolvimento dos bancos com o
financiamento de
posições nos mercados de capitais e em operações "fora de
balanço". Isso resultou em elevado grau de "alavancagem"
das empresas e instituições financeiras" (em Comparando
capitalismos financeiros - Instituto de Economia,
www.eco.unicamp.br/docprod).
O
fim do sistema de Bretton Woods, consequência da mobilização do
capital financeiro internacional, alterou os fluxos financeiros.
Com
a crise do petróleo de 1973 os mercados financeiros sofrem
modificações e a reciclagem dos petrodólares alteram os fluxos
financeiros internacionais, trazendo um aumento da liquidez, com os
grandes bancos redirecionando grande parte destes fluxos para os
países subdesenvolvidos.
Tudo
isto, associado a uma sociedade onde a ascensão financeira pessoal
torna-se a maior virtude, facilitou para que os grandes financistas
bem sucedidos passassem a ter mais influência sobre os assuntos
econômicos. Numa sociedade na qual a grande ofensa não é ser
chamado de f.d.p., como nós latinos, mas de "loser".
As
mudanças estruturais e a ascensão financeira dessas personalidades
ligados ao mundo financeiro trouxeram uma inversão do ponto de
vista, de como se vê a economia. Se antes o mercado financeiro era
visto sob a ótica de que pertencia a um todo, agora ele passa a
ditar as regras, a sua visão de mundo é a da economia como um todo,
que se submete a visão dos financistas.
Os
bancos atuam em diversas frentes e suas funções se alargam. Os
bancos de investimentos são os responsáveis pelas grandes fusões,
incorporações, fazem aquisições hostis (takeover), alavancam as
possibilidades de aquisições, lançam ações no mercado financeiro
para capitalizar as empresas. Além disso, administram os grandes
fundos de pensão, as fortunas pessoais, operam no câmbio, no
leasing, intermedeiam hedges, etc.
Em
1999, o que já vinha ocorrendo nos bastidores da economia americana
torna-se real e legal. O Congresso Americano revoga a Lei
Glass-Stegall, de 1933, pós-crise, que estabelecia a separação dos
bancos comerciais e de inversão, com o intuito de evitar a
especulação.
Através
de grandes lobbies financeiros, respaldados pela ideologia dominante
e com a colaboração dos ideólogos monetaristas de Chicago, o
Congresso Americano estraçalha a lei que regulava a atuação dos
bancos em mercados segmentados. O capitalismo financeiro venceu.
A
Bolsa é a referência e o seu sucesso ou fracasso se reflete na
economia. E esta (economia) é a Bolsa. Se
ela vai bem é sinal de que tudo o mais na economia está em ordem.
Para
dar suporte e fortalecer as minhas conclusões cito:
"Em
seu anseio pela ordem matemática e por modelos elegantes o sistema
econômico menosprezou o papel inconvenientemente grande do mau
comportamento (...) e dos mais absolutos surtos de irracionalidade. A
incrivelmente inexata teoria dos mercados eficientes contava com a
crença
absoluta dos nossos líderes financistas e
com uma crença parcial de todo mundo" (Grahan, citado em Mentes
brilhantes ...., p. 369).
Krugman:
"Da maneira como eu vejo, a profissão de economista se perdeu
porque eles, como um grupo, confundiram a beleza, paramentada com uma
matemática impressionante de se ver, com a verdade" (ídem, p.
369). Os teóricos foram dispersados e/ou tornaram-se matemáticos e
os matemáticos "supostamente" teóricos.
Segundo
Wilmott, "Bancos e fundos hedge empregam matemáticos sem
qualquer experiência no mercado financeiro para construir modelos
que ninguém testa cientificamente em situações para as quais eles
não foram feitos, por traders que não os compreendem. E depois as
pessoas se surpreendem com os prejuízos!" (citado em Mentes
brilhantes ...., p. 370).
Wilmott:
"Mas, agora só aqueles que têm PhD em matemática ou física
são considerados adequados para entender a complexidade dos
mercados" (idem, p. 371).
Em
suma, dando continuidade ao meu arcabouço teórico, concluo que
trazer a matemática para o centro do pensamento econômico tornou
possível ludibriar e encobrir os diversos interesses escusos dos
grandes negócios, bem como os econômicos, políticos, ideológicos.
E,
isto não pode ser visto como uma simples obra do acaso, mas como uma
relação de poder, como um projeto de domínio, articulado pela
intelligentsia, financistas, mídia e órgãos de poder, onde os
interesses mais profundos se escondiam sob o manto da "ciência
exata".
Os
fluxos financeiros internacionais assumem o comando, "controlam"
o processo de acumulação em escala internacional e criam crises
artificiais ou não (cambiais, financeiras) de acordo com os seus
interesses. Os países asiáticos caem de joelho frente a especulação
desenfreada e sucumbem. A crise asiática de 1997 chega e devasta uma
série de países, através do contágio. As previsões sobre aqueles
países mais uma vez falharam. Em 1998 é a vez da Rússia sofrer as
consequências da política de privatizações aceleradas e
especulativas. No início de 1999 a crise chega ao Brasil.
"O
negócio era bom demais para ser ignorado pelas instituições
financeiras, e assim, na década de 1990, os mercados de capitais da
Indonésia - que sempre tinham sido bastante abertos - provocaram um
crescente fluxo de dinheiro do exterior, em uma média de 4 por cento
do PIB, entre 1990 e 1996, dinheiro atraído pelo retorno elevado e
pelo dinamismo do sudeste asiático. Parte desse dinheiro era
utilizada em empréstimos interbancários, como ocorria na Tailândia;
grande parte ia também diretamente para as corporações, de várias
formas, isto é, simples empréstimos, títulos ou títulos
comerciais" (Blustein, Paul, VEXAME, Os bastidores do FMI na
crise que abalou o sistema financeiro mundial, ed. Record, 2002,
p.109).
"Empréstimos
de bancos estrangeiros eram sem dúvidas o calcanhar-de-aquiles do
Coréia do Sul. Em contraste com o caso da Tailândia, o influxo de
capital financeiro estrangeiro teve um papel modesto no crescimento
de uma Coréia do Sul fortemente protegida. Seul mantinha rédeas
curtas na compra de títulos e ações do exterior.
Mas acabou abrindo o seu sistema financeiro no início dos anos 90,
a fim de facilitar que fosse tomado mais dinheiro de bancos
estrangeiros. E os bancos sul-coreanos tomavam emprestado no mercado
interbancário, aproveitando a vantagem dos juros baixos estrangeiros
e depois transferindo os fundos para seus clientes nacionais. Esta
era a prática bancária prudente, pois significava que a Coréia &
Cia estava tomando dinheiro do exterior a curto prazo - empréstimos
que teriam de ser saldados em moeda forte e depois cedia o dinheiro a
longo prazo ao chaebol
dominado
pela mania de grandeza
e
só pensando em expansão. Apesar de tudo, os bancos estrangeiros,
tendo à frente japoneses e europeus, convergiram para aquele novo e
promissor mercado" (idem, p. 135).
"A
equipe internacional do Tesouro já de longa data tinha instado Seul
a abrir seu mercado financeiro - abandonando, por exemplo, as
restrições à concorrência de bancos estrangeiros e permitindo que
as empresas nacionais tomassem emprestado do mercado mundial de
títulos e vendessem mais ações a estrangeiros. A principal pressão
exercida pelo Tesouro em sua política frente a Seul era o lobbying
de empresas americanas de serviços financeiros, que queriam abrir o
mercado coreano" ( Vexame, p. 151).
"Os
esforços de Lipton se concentravam em obter promessas firmes e
específicas dos coreanos de que iriam acelerar a liberação do
sistema financeiro nacional. Ele queria também uma política
monetária mais estrita. O pessoal do Fundo julgava que muitas das
propostas eram boas. Mas se irritavam com outras, que pareciam mais
dirigidas para defender os interesses dos Estados Unidos do que os da
Coréia do Sul. Entre estas, a exigência de que Seul concedesse mais
facilidades às corretoras estrangeiras" (Vexame, p.153).
E
tudo isto sob a supervisão, orientação e ingerência do FMI que
assimilava e endossava toda a ideologia dominante, formatada nos
E.U.A., que induziam e forçavam os países a aderir as ideias dos
financistas de Chicago e os seus interesses econômicos. Sob os
olhares complacentes do FMI, que aderia e era influenciado e
pressionado por esta ideologia, os capitais financeiros aprofundavam
o processo de "financeirização", alastrando as crises
mundo afora. Por fim, o Fundo se preocupava apenas em remendar os
estragos, sempre impondo o mesmo receituário, ditando regras
draconianas para os países em crise, de acordo com a doutrina
americana.
Regras
generalizantes, que se alinhavam ao pensamento econômico ideológico
dominante, em sintonia com o Tesouro Americano, o Fed e outros países
membros do G7, que não levavam em consideração as especialidades
de cada país e seu estágio de desenvolvimento: mais abertura,
principalmente para os serviços financeiros, mais privatizações,
aperto monetário, equilíbrio orçamentário, cortes de subsídios,
elevação das taxas de juros, etc.
Reservo
aos leitores algumas passagens do Livro VEXAME, de Paul Blustein, já
citado, nos ajudará a esclarecer melhor este assunto:
"Este
livro oferece uma retrospectiva dos principais eventos da crise e de
como eles foram enfrentados pelo "Alto Comando", o grupo
controlador da política econômica global que inclui não só o FMI,
mas o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, o Federal Reserve,
e outras instituições financeiras do G-7 que supervisionam as
operações do Fundo e guiam a política econômica global"
(p.25).
"O
curioso é que o FMI durante os anos 90 esteve na vanguarda do
movimento para liberalizar capitais, o que elevou a globalização a
novos níveis .... . Mas o novo objetivo para os adeptos da
globalização no FMI - secundados pelos governos dos grandes países,
como Estados Unidos e Grã-Bretanha - passou a ser a eliminação dos
obstáculos criados pelas barreiras nacionais aos estrangeiros"
(p.26).
Sobre
o artigo intitulado "Um Comitê para a Salvação do Mundo,
revista Time, início de 1999: "A capa era ilustrada com uma
foto de Robert Rubin, então secretário do Tesouro, o seu vice (e
mais tarde substituto) Lawrence Summers, e Alan Greespan, presidente
do Federal Reserve, todos posando no cenário esplêndido em meio aos
mármores da sede do Tesouro, de braços cruzados e com expressões
fisionômicas alegres. Conforme a foto e o texto do artigo, esses
três homens, em colaboração discreta com o FMI, exerciam
extraordinária influência sobre a estratégia para conter a crise"
(p.27).
"A
importância do pânico não era negada pelo FMI. Só que Sachs ia
além, e dizia, em essência, que esse papel eta tão esmagador que
as tradicionais soluções de austeridade - cortes no orçamento,
política monetária estrita, e assim por diante - só poderiam
exacerbar o problema. Afinal o impacto de uma retirada de capital é
recessionário, portanto "não é preciso colocar mais retração
onde já existe retração. Não aperte demais a política fiscal.
Não jogue a taxa de juros para cima. Nada disso restaura a
confiança. Só faz agravar a situação"" (p.163).
"Esse
fator explica a incapacidade do FMI em prevenir crises. Na Ásia
houve outro problema: é que nem sempre os funcionários do Fundo
acreditavam realmente na vulnerabilidade dos países da região "
(p. 78).
"Em
encontro privado com ministros das finanças da Ásia Oriental,
Stiglitz, 54 anos, economista-chefe do Banco Mundial, tomou uma
posição contrária ao DOGMA
do
FMI em favor da liberalização do fluxo de capital ao redor do
globo. Ele incentivou os ministros a levarem adiante um plano que
estava sendo considerado por alguns no sentido de impor controles de
emergência sobre fundos de curto prazo, tanto na hora de entrarem no
país, quanto na hora de saírem dele. Quando os ministros se
manifestaram preocupados de que as medidas fossem atrair a ira do FMI
e dos mercados financeiros, Stglitz sugeriu que o impacto poderia ser
suavizado se a ação fosse efetuada coletivamente" (grifo meu,
p.165).
"Foi
o que a Malásia fez em setembro de 1998, quando impôs o controle de
capital. Ela teve um bom desempenho econômico nos dois anos que se
seguiram a esta iniciativa, um fato surpreendente, se levarmos em
conta as funestas previsões dos seus críticos no Tesouro americano
e no FMI, que pensavam que o país pagaria um alto preço por sua
transgressão" (Vexame, p. 377).
E
isso não o impedia dar sugestões que, algumas vezes, chegavam a ser
inacreditáveis, aparentemente desprovidas de propósito, para um
país como o Brasil, mas não sabíamos os reais interesses que
estavam por trás:
"As
conversações (com o FMI) tiveram início com uma enérgica proposta
de Camdessus: o Brasil deveria adotar um currency
board
(plano de conversibilidade) com o real rigorosamente atrelado ao
dólar em uma faixa inferior à vigente, que era de 1,47 o dólar.
"Por que não?", indagou o diretor administrativo".
(Vexame , p. 352)
Se
os modelos podiam ser aplicados com relativo sucesso ao mercado
financeiro fazendo a fortuna de seus operadores o restante também
deverá ser modelado, à sua imagem, porque este é o novo paradigma.
"Agora,
os economistas não podiam mais ser agrupados como psicólogos ou
sociólogos. Eles pertenciam a uma
ciência de verdade".
A
nova ciência havia saído da costela dessa nova economia científica.
Na economia, o centro de tudo era a racionalidade dos indivíduos.
Nas finanças, era a racionalidade dos mercados financeiros. Esse
foi, durante muito tempo, um ponto de partida extremamente
produtivo. Ao traçarem uma premissa
simplista sobre o mundo real, os professores de finanças conseguiram
produzir
uma quantidade extremamente útil de pesquisa" (grifo meu, O
Mito ....., p. 140).
Finalmente
as administrações de Reagan e Thatcher coroaram o êxito e a
vitória do capital financeiro. Os países, principalmente os menos
desenvolvidos e mais vulneráveis, ficaram à mercê do fluxo
financeiro internacional, alastrando crises cambiais e financeiras.
"Com
a globalização financeira, a órbita das finanças passou a
hegemonizar toda a dinâmica do sistema capitalista. Para se ter uma
ideia da magnitude do mercado financeiro mundial, basta dizer que
hoje circula diariamente nas várias praças mundiais cerca de 1,8
trilhão de dólares (Roberts, 2000) e a massa de capitais em
operação nos mercados financeiros já alcança UU$ 118 trilhões
(Mckinsey, 2005), montante correspondente a mais de duas vezes o PIB
mundial. Essa massa de recursos basicamente especulativos tem a
possibilidade de se movimentar pelo mundo ao longo das 24 horas do
dia" (em A globalização e os clássicos do imperialismo,
www.unicamp.br/cemar/anais).
E
se os quants, nerds, gênios bem sucedidos, milionários eram capazes
de modelar os mercados financeiros, porque não podiam fazer o mesmo
com as economias, em geral, e com diversos outros ramos e setores
(ex: commodities, câmbio, balança comercial, superavit primário,
crescimento dos países,etc ), com a ajuda de computadores
ultravelozes?
"Em
resposta àqueles que discordavam e que afirmavam que os artigos do
Journal of Finance eram "excessivamente matemáticos e
teóricos", Fred Westan afirma: ""Os problemas e as
questões emergentes no mundo das finanças tornam insuficientes que
imaginemos contribuir para a melhora das decisões
econômicas e dos negócios (grifo meu) por
meio de simples generalização do bom senso". Os modelos e a
matemática eram o futuro" ( O Mito ..., p. 138).
"A
economia irlandesa tinha entrado em crise três anos antes, sob o
peso de várias manobras financeiras ao estilo americano e maus
conselhos dos financistas dos Estados Unidos" (Lewis, Michael,
Flash boys, Ed. Intrínseca, 2014, p.136).
A
crise de 2007/2008 iria comprovar quem eram os desprovidos de bom
senso?
PERSONAGENS EM DESTAQUE
Quem
são os grandes protagonistas desta época negra? A seguir, listo
algumas das personalidades que tiveram grande influência sobre a
teoria econômica nas últimas décadas, remodelando e reinventado a
teoria da mão invisível de Adam Smith, sobre uma nova roupagem e
que trouxeram as finanças para um papel de destaque.
Em
regra, foram personalidades que se dedicaram a pesquisas sobre o
mecanismo do mercado financeiro, elaborando modelos com a finalidade
de testar e comprovar as suas teses. Nela também estão incluídas
pessoas de destaque do mundo financeiro. Objetivado dar uma visão
mais abrangente não poderia deixar de incluir alguns de seus dados
pessoais, como orientação e formação acadêmica, prêmios
recebidos, quais as teorias que os tornaram famosos e influentes.
Ed
Thorp,
chefão dos quants. Quando professor de matemática na década de
1950, Thorp utilizou suas habilidades para quebrar a mesa de vinte e
um (ou blackjack), juntando temas-chaves do mundo dos jogos e do
investimento e, mais tarde, se tornou o primeiro gênio da matemática
a sacar como usar técnicas semelhantes para ganhar milhões em Wall
Street (Mentes brilhantes... , p.10);
Milton
Friedman (1912-2006), não
era um extremista radical, pelo menos em matéria de métodos em
estudar economia. Garoto de classe operária de Rathway, New Jersey,
que se formaou em matemática na Universidade de Rutgers e esperava
virar atuário, foi conduzido para a economia por dois jovens
instrutores - um discípulo de Chicago das teorias monetaristas de
Fisher... ( O Mito...., p.104).
Estatístico
e economista, concluiu em 1933 o curso de pós-graduação da
Universidade de Chicago, retornando a esta como pesquisador
assistente em 1934/1935.
Em
1946, passa a ensinar teoria econômica naquela Universidade, onde
permaneceu até 1977, tornando-se o seu grande mentor e principal
interlocutor, que iria influenciar e moldar o pensamento econômico
por mais de três (3) décadas.
Lá
formou uma comunidade intelectual que desfrutaria de grande prestígio
internacional, principalmente nos E.U.A, e que "produziu um
grande número de vencedores de prêmio Nobel". Para maiores
detalhes consultar, Milton Friedman em
pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Friedman.
Monetarista
ferrenho foi agraciado com o Prêmio Nobel em 1976. Grande nome da
Faculdade de Economia de Chicago, influenciou uma geração de
economistas e administradores, que mais tarde tiveram papel de
destaque no mundo das finanças.
Acreditava,
juntamente com os acadêmicos de Chicago, que sofreram sua
orientação, que os problemas econômicos poderiam ser atacados "com
a premissa inicial de
que, se não houver interferêncoa do governo, o mercado sabe das
coisas" (O
Mito....., p. 120). Também "movido pela ideia (digo
crença)
de que o que quer que o governo faça está errado, zombou Franco
Modigliani" (p. 124). Como se vê, podemos constatar a
influência das premissas na construção dos modelos..
Eugene
Fama,
professor de finanças da Universidade de Chicago, que, no final da
década de 1960, formulou a hipótese da eficiência dos mercados.
Mais tarde, em uma série de estudos empíricos realizados com
Kenneth French na década de 1990, demonstrou que as provas não
sustentavam a hipótese original ( O mito..., p.392).
"Professores
assim, e a chance de ter aula de economia com o cada vez mais famoso
Friedman, começaram a atrair cada vez mais talentos (e melhores)
alunos para a faculdade de administração. O mais significativo e o
primeiro a chegar foi Eugene Fama, um jovem e intenso aluno (o
primeiro da família a se formar) da Universidade de Tufts. Fama
chegou a Chicago, como aluno de MBA, em 1960 ..." (p.127).
Posteriormente
formulou a famosa tese, de grande repercussão no meio acadêmico e
na esfera financeira "de que era impossível ganhar
sistematicamente do mercado", "conhecida como a hipótese
dos mercados eficientes (HME)" (Mentes brilhantes...,p. 51).
Agraciado
com o Prêmio Nobel de Economia em 2013, por suas valiosas
contribuições ao mundo das finanças, mesmo que suas ideias tenham
contribuído para a explosão da crise de 2007/2008. Para mais
informações sobre o assunto ver o tópico específico.
Myron
Scholes, colega
de turma e amigo de Michael Jensen e Richard Rool em Chicago. Co
Fisher Black, inventou o modelo Black-Scoles de precificação de
opções, enquanto dava aulas no MIT. Posteriormente, seria sócio no
fracassado fundo hedge Long-Term Capital Management e covencedor do
prêmio Nobel de economia em 1997 ( O mito...,p. 397).
Canadense,
american financial economist, graduado pela Universidade de Economia
de Chicago, teve as influências de George Stigler, Milton Freidman e
Merton MIller.
Fisher
Black,
cientista da informática que foi apresentado às finanças ao
trabalhar com Jack Trynor na consultoria Arthur D. Little na década
de 1960. Coautor, com Myron Scholes, do modelo Black-Scholes de
precificação de opções, mais tarde se tornou sócio da Goldman
Sachs e um dos primeiros a apoiar as pesquisas das finanças
comportamentais.
Robert
Merton,
aluno de Paul Samuelson no MIT, que ajudou a resolver o enigma do
precificação das opções com Fisher Black e Myron Scholes e depois
se deixou a criar uma abordagem hiper racional e hiper matemática às
finanças e ao gerenciamento do risco. Dividiu o Prêmio Nobel de
Economia em 1997 com Scholes e foi sócio deste no fundo hedge
Long_ttrem Capital Management , que desmoronou em 1998 ( O mito...,p.
395).
Richard
Roll, ex-engenheiro
aeronáutico que se matriculou no curso de Ph.D. em finanças da
Universidade de Chicago em meados dos anos de 1960 e se tornou um dos
líderes da ideia dos mercados eficientes nas finanças. Foi autor de
dois artigos na década de 1980, que colocaram em dúvida se os
movimentos dos mercados financeiros podiam ser explicados pelas
forças racionais do mercado (O mito..., p. 396).
Michael
Jensen,
egresso da Faculdade de Administração da Universidade de Chicago da
década de 1960, tornou-se o maior apóstolo da ideia de que os
executivos das SAs precisavam, acima de tudo, lutar para fazer subir
os preços das ações e serem remunerados por isso, embora depois
ele tenha tido algumas dúvidas Também foi criador do "alfa"uma
medida, ajustada pelo risco, da técnica de investimentoque se tornou
o principal benchmark de era dos findos hedge (O mito..., p. 393).
Merton
Miller, formulou,
com seu colega Franco Modigliani, na Carnegie Tech, uma nova
abordagem teórica às finanças com artigos históricos sobre o
custo do capital e dividendos em 1958 e 1961. Depois disso, mudou-se
para a Universidade de Chicago, onde se transformou em uma vigorosa
luz- guia do Departamento de Finanças, na década de 1960 até o
início de 1990. Covencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1990 ( O
mito..., p. 395).
Kenneth
Arrow,
economista que, no início da década de 1950, ajudou a formular,
junto a Gerard Debreu, o melhor modelo matemático de como a mão
invisível do mercado funcionava, para depois passar o resto da vida
analisando situações em que ela não funcionava. Dividiu o Prêmio
Nobel de Economia em 1972 ( O mito..., p. 391).
M.F.M.
Osborne,
físico da marinha americana, cuja pesquisa dos padrões das bolsas
de valores, publicada em 1959, ajudou a criar o movimento do passeio
aleatório. Posteriormente, colaborou co m Victor NIederhoffer, aluno
de pós-graduação da Universidade de Chicago, na pesquisa de
padrões não aleatórios não aleatórios nos movimentos dos preços
das ações ( O mito...,p. 396).
Harry
Roberts,
professor de estatística da Universidade de Chicago, cuja discussão
sobre a aleatoriedade da bolsa de valores foi publicada quase
simultaneamente com a de Osborne, em 1959. Mentor de Eugene Fama,
formulou a ideia de separar a hipótese dos mercados eficientes nas
formas forte e fraca( O mito..., p. 396).
Robert
Lucas,
economista da Universidade de Chicago que popularizou a teoria das
expectativas racionais, a versão da economia da hipótese dos
mercados eficientes (oriunda
das finanças).
Vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1995 ( idem, p. 394).
Estas
simples citações servem ao meu objetivo de comprovar a importância
da Universidade de Chicago, sob a batuta de Milton Friedman, em
relação a influência que exerceu sobre o pensamento econômico da
época e que nos levou à crise recente.
Eram
economistas, matemáticos, estatísticos, administradores das
finanças, físicos, engenheiros, etc, todos bem sucedidos
profissionalmente, muitos ligados diretamente ao mercado financeiro,
onde faziam fortunas, trabalhando de uma certa forma coordenada, para
comprovar a eficiência dos mercados financeiros e exportar esta
concepção para os demais ramos e setores. Eram os grandes
protagonistas do pensamento econômico vigente. Todos gênios, mas
que não aplicavam os seus dons de forma realística e objetiva.
Viviam num mundo de fantasia, embora fossem bens sucedidos
profissional e financeiramente. Eram articulados e tinham o apoio da
mídia. Por isso, não espanta a quantidade de Prêmios Nobel que
angariaram. E continuam sendo agraciados.
"O
dia era 8 de março de 2006, e o Torneio de Põquer de Wall Street
estava prestes a começar. Mais de uma centena de jogadores
bem-sucedidos circulava pelo salão, traders de elite e negociantes
tradicionais durante o dia e entusiastas do jogo à noite. Aquela
pequena reunião era o encontro seleto de um grupo de pessoas ricas e
brilhantes que, apenas por conta do cérebro e de uma boa dose de
audácia haviam se tornado os novos magnatas de Wall Street. Essa
roda das grandes finanças -e talvez Muller, mais que os outros -era
tão discreta que poucas pessoas fora daquele salão tinham sequer
ouvido falar de seus nomes. No entanto, nos bastidores, suas decisões
controlavam a entrada e a saída de bilhões de dólares que passavam
diariamente pelo sistema financeiro global" (Mentes
brilhantes..., p. 10).
"Muller
e Simons eram gigantes em um grupo incomum de investidores conhecidos
como "quants", que utilizavam técnicas matemáticas
mirabolantes e computadores supervelozes para colher do mercado
pequenas quantidades de dólares, bilhões de vezes. No início da
década de 2000, esses investidores fanáticos por tecnologia
passaram a dominar Wall Street, auxiliados por avanços te´ricos na
aplicação da matemática aos mercados financeiros, novidades que
renderam a seus descobridores várias prateleiras de prêmios Nobel.
Os quants aplicavam esses mesmos progressos ao trabalho prático e
lucrativo de calcular padrões previsíveis da maneira como o mercado
funcionava e se movia" (idem, p. 15)
"Matemático
silencioso e cerebral, com diplomas das Universidades de Chicago e de
Harvard, Chriss tinha entrado em Wall Street pelo Morgam Stanle, onde
conheceu Muller. Em 1998, trabalhou na Goldman Sachs Asset
Management, logo depois que Asness saiu. Ele também era membro do
círculo interno dos quants que gostavam de jogar pôquer"(idem,
p.19).
"É
impressionante como nenhum dos quants - apesar de todo o elevado QI
que tinham e de suas paredes cheias de diplomas, seus impressionantes
Ph.Ds, seus bilhões de dólares de patrimônio ganhos antecipando
cada curva e queda do mercado, as dezenas de anos que passaram
estudando cada desvio estatístico que aparecesse debaixo do sol -
tenha viso o trem descarrilhando" (p. 27).
Sobre
Weinstein: " Também se interessou por vinte e um e, em 1993,
pegou o livro de Ed Thorp, Beat
the Dealer.
Adorou a maneira como a contagem de cartas lhe concedia uma vantagem
estatística para prever o futuro" (Mentes brilhantes ..., p.
124).
"A
combinação potente de brilhantismo na matemática, naturezas
fervorosamente competitivas e um instinto
de jogador exacerbado
levava a uma obsessão quase fanática pelo pôquer - as chances, os
jogos mentais envolvidos, os blefes (se
eu apostar tanto, ele vai pensar que eu acho que ele pensa que ...)
Asness ..... . Mas os homens contra os quais ele competia eram
absolutamente
fanáticos
por pôquer" (p. 20).
Depois
de citar estas passagens, chego a conclusão que estes quants, não
por acaso encontraram nos mercados financeiros os seus devidos
lugares, pois existiam as possibilidades de fazer fortuna rápida,
aplicando modelos matemáticos e probabilísticos.
No
artigo intitulado "A CRISE DE 2008 E AS INFORMAÇÕES
ASSIMÉTRICAS", mais precisamente no tópico "QUEM SÃO OS
RESPONSÁVEIS PELA CRISE", assim me pronunciei:
"Querer
atribuir responsabilidades igualitárias a todos é mascarar a
situação, fazer vista grossa, ignorar as diferenças sociais, tirar
as responsabilidades daqueles que se incubem da condução e direção
das decisões econômicas e políticas a quem, pressupõe-se, cabem
zelar pelo ¨bem¨ e o estado saudável da economia. Esta
responsabilidade recai igualmente sobre os ombros daqueles arquitetos
e defensores da ideologia dos mercados racionais e perfeitos que, de
certa forma, contribuíram indiretamente para alastrar este dogma e
que estavam em posição de influir e usufruir das decisões
políticas/econômicas, independentemente de seus interesses mais
nobres e estritamente particulares.
Nestes
casos, sempre é bom lembrar, existe a força e a atratividade da
atividade ideológica/teórica, respaldada por modelos matemáticos
sofisticados, que deixa mais vulnerável as camadas menos protegidas
da sociedade, os incautos e crédulos, os não experts e os não
profissionalmente melhor posicionados. Que não podem perceber de que
se trata de um jogo de cartas marcadas e que os vencedores já estão
¨previamente¨ definidos. Por uma questão lógica e real, não
podem tirar grandes vantagens desse momento da economia.
A
desregulamentação e a securitização se alastraram com o
fundamento de que os riscos
estavam ¨racionalmente¨ diluídos
e por isso não havia possibilidades de crise. Tudo estava sob
controle por que os gênios
das finanças eram extremamente racionais.
Os modelos serviam para cobrir com uma manta científica as decisões,
alijando os simples mortais, incapazes
de entender os mistérios das finanças e da complexidade matemática.
Todos surfavam ou desejavam surfar na onda da especulação. Todos
atuavam ¨racionalmente¨, mas com a alma do especulador".
AS
VARIÁVEIS DOS MODELOS
Neste
tópico procuro listar e comentar algumas variáveis dos modelos, que
repercutem nos resultados almejados. Os comentários são sucintos e
alguns dos tópicos não precisam de grande explicação, por serem
por demais óbvios. Peço perdão.
Dentre
elas podemos apontar: 1) o número de variáveis reais e o peso de
cada uma delas que podem ser modificados ao longo do período; 2) a
incomensurabilidade de diversas variáveis: naturais, políticas,
econômicas, sociológicas; 3) mudanças no comportamento dos
agentes e dos paradigmas econômicos (consumidores, investidores,
consumidores/investidores; 4) as consequências adversas, o contágio,
o mecanismo auto-reforçador, o pânico, as relações recíprocas
entre as variáveis; 5) capacidade de interferência dos agentes
econômicos nas próprias previsões e prognósticos e a especulação
sobre os diversos ativos, que alteram de forma abrupta as demandas,
ofertas e preços; 6) a impossibilidade de prever as descobertas
científicas e tecnológicas e os seus respectivos impactos nas
variáveis econômicas; 7) as forças intrínsecas dos fatores que
agem sobre a economia capitalista; 8) a hipótese de que os diversos
mercados são homogêneos e a supremacia das finanças; 9) os
pressupostos dos modelos; 10) as instituições e a economia.
1)
o número de variáveis e o peso de cada uma no modelo
Fala-se
de modelos de centenas, talvez milhares, de variáveis. Sinceramente
não me dei ao trabalho de conferir e catalogar os números. Mas eles não podem incluir todas as variáveis como o comércio exterior e a política econômica dos respectivos países. Eles são fechados.
Entretanto,
ao escolher estas variáveis deve-se atribuir um peso a cada uma
delas no modelo, ou seja, a relevância de cada uma delas no todo
(referido modelo). Mas estes pesos variam de acordo com as
circunstâncias da economia. Em um momento de crise elas têm uma
relevância diferente do que num momento de expansão moderada. Um
movimento abrupto do capital financeiro especulativo tem um impacto
diferente sobre as variáveis do modelo e destas sobre os resultados
dos modelos. Ou seja, a relevância de cada variável modifica-se
dependendo da situação política e econômica.
O comércio exterior é geralmente considerado uma variável exógena aos modelos, bem como os desastres naturais, a política (interna e externa, inclusive econômica), as inovações tecnológicas e em certa medida o comportamento dos agentes econômicos (as expectativas dos agentes, indiferente que sejam elas racionais ou não, ao contrário do que pensa Robert Lucas). Entretanto como não levar em consideração um comércio externo que representa em torno de 35% do PIB de um país?
Atualmente, podemos acrescentar a esta lista os fluxos "erráticos" e especulativos da capital internacional, impossíveis de serem previstos, pois dependem do comportamento especulativo dos agentes econômicos, conforme podemos constatar das diversas crises financeira e cambiais, como a crise asiática e brasileira que veio a seguir.
O influxo do capital especulativo traz em regra a apreciação da moeda do país, pressionado a balança comercial e de serviços, comprometendo as políticas de desenvolvimento econômico dos países economicamente mais vulneráveis. Inclusive podem conviver, durante determinado período de tempo, com déficits na balança comercial e de transações correntes, como aconteceu com o Brasil durante o plano real e final dos anos 2000.
O comércio exterior é geralmente considerado uma variável exógena aos modelos, bem como os desastres naturais, a política (interna e externa, inclusive econômica), as inovações tecnológicas e em certa medida o comportamento dos agentes econômicos (as expectativas dos agentes, indiferente que sejam elas racionais ou não, ao contrário do que pensa Robert Lucas). Entretanto como não levar em consideração um comércio externo que representa em torno de 35% do PIB de um país?
Atualmente, podemos acrescentar a esta lista os fluxos "erráticos" e especulativos da capital internacional, impossíveis de serem previstos, pois dependem do comportamento especulativo dos agentes econômicos, conforme podemos constatar das diversas crises financeira e cambiais, como a crise asiática e brasileira que veio a seguir.
O influxo do capital especulativo traz em regra a apreciação da moeda do país, pressionado a balança comercial e de serviços, comprometendo as políticas de desenvolvimento econômico dos países economicamente mais vulneráveis. Inclusive podem conviver, durante determinado período de tempo, com déficits na balança comercial e de transações correntes, como aconteceu com o Brasil durante o plano real e final dos anos 2000.
Gosto
muito de uma frase do Prof. Edmar Bacha que em algum momento, não
sei onde, expressou de algo parecido com: Em determinadas situações
é possível modelar. Mas, o problema é identificar os momentos. É
aí onde moram a razão, a sensibilidade e o perigo. Como modelar em
situações de crises, depressões, especulação, superaquecimento
da economia?
Da
mesma forma, apenas como exemplo, uma queda acentuada no preço do
petróleo, como no momento atual, trará um impacto nas variáveis,
alterando o peso de cada uma delas, em maior ou menor escala. A crise
do petróleo de 1973, trouxe uma mudança significativa no circuito
financeiro internacional e nos balanços de pagamentos com
repercussões diversas em diferentes países, que por sua vez
interferiram nas variáveis dos modelos de outros países.
Outrossim,
elas podem ter pesos diferentes em outras sociedades. Então,
teríamos que integrar os diferentes modelos,
para saber que um impacto em dado modelo poderá interferir em outros
modelos. Por outro lado, um outro modelo não deveria se tornar
apenas mais uma variável de um modelo.
Uma
mudança cambial traz efeitos diferentes nas economias e nas suas
variáveis e estes efeitos voltam a interferir nas variáveis de
outros modelos.
O problema dos modelos é que eles não são flexíveis, dinâmicos. O peso e a intensidade de suas variáveis são determinadas "a priori", sem que haja possibilidades de captar as constantes e inúmeras mudanças, inclusive mudanças imperceptíveis, mas que já estão interferindo nas variáveis. As correlações entre as variáveis são pré-concebidas. Não conseguem captar a intensidade das pressões sociais, da reação dos agentes econômicos diante de uma situação adversa, de um momento específico porque passa a economia, de uma medida política e econômica.
A tendência de se estabelecer padrões fixos, regras fixas e imutáveis, atemporais e universais para a economia de um país em particular ou em conjunto, individualmente, sem levar em consideração as suas peculiaridades, não tem alcançado bons resultados.
Hoje, os economistas embora ainda não tenham tirado todas as implicações, pelo menos já relativizaram a importância da curva de Phillips: "Há, de fato, uma relação, mas que está longe de ser mecânica; ela varia com o tempo e o país" (Blanchard, Olivier, Macroeconomia, 2ª tiragem, Campus, p. 29).
Da mesma forma, como não reconhecer as sérias consequências da guinada da política internacional do governo Eisenhower nas expectativas econômicas do Brasil, obrigando o governo Vargas a alterar as medidas econômicas de fomento ao desenvolvimento (assunto objeto de outros artigos neste site).
A taxa de juros que de acordo com a economia tradicional passou o principal instrumento de política monetária, para o combate à inflação repercute também na taxa de câmbio, que por sua vez altera a balança comercial, no investimento (através da eficiência marginal do capital), no fluxo internacional do capital, na concorrência entre o capital alienígena e autóctone, no consumo e também no déficit público e na dívida externa, dentre outras variáveis. Ora, a forma como os agentes econômicos irão perceber e reagir a uma mudança positiva da taxa de juros irá também depender do nível do déficit público em que se encontra o país.
Nunca é demais lembrar que a redução da taxa de juros em uma economia que se encontra em depressão não cria o estímulo necessário para alavancar e tirar a economia de tal situação, de acordo com o princípio da "preferência pela liquidez", conforme explicado por Keynes.
Ilustrativa é a manchete do Globo, de 11.03.2016, que reproduzo: "BC DEFENDE REFORMAS E AJUSTE FISCAL PARA CONTROLAR A INFLAÇÃO - Ata do Copom indica que incertezas impedem queda da taxa de juros".
"Na Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem, o Banco Central alertou o governo para que não abandone o ajuste fiscal e faça as reformas necessárias para resolver a crise das contas públicas, mesmo no cenário turbulento que vive o país. Foi justamente por causa destas incertezas externas e internas que o Copom resolveu manter os juros básicos do país em 14,25%, na reunião da semana passada, indica o texto".
Na mesma página o Jornal traz manchete sobre a política do BCE para impulsionar a zona do euro: "BCE DEIXA JUROS AINDA MAIS NEGATIVOS":
"Diante de uma inflação que permanece abaixo da meta de 2% nos países da região há mais de três anos, o BCE tem poucas cartas na manga para estimular a economia. E a recente queda nos preços das principais commodities dificulta ainda mais a tarefa da autoridade monetária da zona do euro".
Enfim, como a própria experiência e prática tem demonstrado não existe uma correlação biunívoca entre taxa de juros e inflação. Não se sabe ao certo quanto uma variação na taxa de juros é suficiente para debelar ou mesmo reduzir a inflação, porque, além das variáveis aqui comentadas, entram em conotação até mesmo o histórico do país e fatores institucionais (ver item 10)
2) a imprevisibilidade dos agentes econômicos
Conforme demonstrou Keynes em sua Teoria Geral as decisões dos agentes econômicos baseiam-se em expectativas e prognósticos e estes não são mensuráveis e muito menos previsíveis. Os prognósticos são sempre condicionados pelos acontecimentos passados e pelas nossaspróprias limitações em prever o futuro, cujos acontecimentos estão fora do nosso escopo teórico.
3)
a incomensurabilidade de diversas variáveis
Acredito
que não haja necessidade de longos comentários sobre este tópico.
Podemos constatar através do nosso dia a dia que existem diversas
variáveis que não podem ser previstas e quando previstas são
impossíveis que suas intensidades sejam mensuradas.
Podemos
citar os desastres naturais, terremotos maremotos, tsunami, secas,
enchentes, pragas nas lavouras, etc.
Continuando,
podemos citar os acidentes nucleares (Japão), decisões políticas,
as guerras, os ataques terroristas (lembrem 11 de setembro), as
políticas desenvolvimentistas e nacionalistas de diversos países,
as políticas econômicas de outros países e as expectativas dos
agentes econômicos sobre elas. E por que não mencionar o que Paul
Singer denominou de "imprevisibilidade da sina humana".
As
crises financeiras de outros países, como a crise asiática e a
crise dos subprimes, que contaminaram sobremaneira as outras
economias e, que alteraram o curso dos acontecimentos econômicos e
por sua vez políticos, num desdobramento que se propagou, sem que
fosse possível mensurar os seus efeitos e as suas repercussões
sobre as variáveis e destas sobre os modelos.
As
decisões da política econômica de diversos países, como alteração
da taxa de juros, expansão da moeda, política fiscal cujos efeitos
repercutem em outros países, assim como a política aduaneira, que
afeta as exportações, etc, etc. Os fluxos dos capitais especulativos, sem regras explícitas, exatamente por serem especulativos.
Vejam manchete do Jornal O Globo de 29.06.2016: "DÓLAR DESINFLADO"- Moeda americana cai 2,62% q R$ 3,306, com o movimento global e declarações de Ilan Goldfajn":
"Depois de a onda de pessimismo com o Brexit ter levado as Bolsas do mundo todo a perderem US$ 3 trilhões em apenas dois pregões, os mercados tiveram ontem um dia de alívio, devido à expectativa de uma possível ação conjunta dos bancos centrais para fortalecer o sistema financeiro".
Em reportagem do Jornal O Globo, de 9.7.2016, sob o título "Desvalorização bem vinda":
"A recente queda do dólar não provoca efeitos apenas nos mercados de câmbio. Para quem viu a moeda americana superar os R$ 4, a cotação de R$ 3,29 - no ano a desvalorização acumulada é de 16,5% - é um estímulo para tirar o passaporte da gaveta de férias".
Na página 18 do mesmo Jornal:
Ontem, o Itaú Unibanco revisou sua sua projeção para o câmbio no fim de 2016 de R$ 3,65 para R$ 3,25. O Bradesco estima o dólar a R$ 3,20. Pelo Boletim Focus, que reúne as principais estimativas do mercado, a previsão caiu de R$ 3,68 no início de junho para R$ 3,46 agora, redução de mais de 6% em apenas um mês. No início de abril, a avaliação era que o dólar estaria a R$ 4 no fim do ano".
Em 21.03.2016, tínhamos a seguinte previsão para dezembro de 2016, também de acordo com a Focus:
"O mercado financeiro revisou para baixo sua estimativa para o comportamento do dólar. De acordo com o Relatório de Mercado Focus nesta segunda-feira, dia 21, pelo Banco Central, a moeda deve chegar em 31 de dezembro comercializada a R$ 4,20, contra R$ 4,25 estimados no levantamento da semana passada" (Previsão do dólar para o fim de 2016 cai ....., em economia.ig.com.br>2016-03-21).
Em 10.08.2016, o Jornal O Globo noticiou em seu caderno de Economia, sob o título de Recuo Cambial, pg 19, que o dólar foi cotado a R$ 3,142, menor cotação em um ano, por fatores externos e cenário político.
Acredito que estas citações são suficientes para demonstrar o quanto estas previsões são desprovidas de quaisquer credibilidade, servindo apenas para criar expectativas que, de antemão, sabemos que não se realizarão, ou melhor estão longe de se realizarem.
A
crise do petróleo de 1973, veio a reboque do confronto armado entre
Egito e Síria de um lado e de Israel de outro, que recebeu apoio
militar maciço dos E.U.A. Os países Árabes que já buscavam uma
maior independência sobre a exploração de suas reservas, muitas
ainda concentradas e sobre a influência das grandes empresas
petrolíferas estrangeiras, tentaram a retaliação através do
embargo. O resultado, não previsto, já se conhece: déficit nas
contas externas de diversos países e modificação do circuito
financeiro internacional, com necessidade de reciclagem dos
petrodólares. (sobre o assunto consultar, Crescenzio, Bernard Di, em
Crise
de energia ou crise política,
ed. Estampa, 1974).
Também
podemos citar o recente desastre nuclear do Japão que foi obrigado a
redirecionar a sua produção e investimentos para outros países
asiáticos. Os exemplos são inúmeros e não é meu objetivo fazer
um levantamento completo sobre o assunto, pois trata-se de um esforço
hercúleo.
E
os novos protagonistas desta lista são a "roubalheira" e a
"má gestão" das grandes empresas públicas e que são
destaque das economias de países sub desenvolvidos, tendo como
principais exemplos o Brasil, a má administração da petrolífera
PDVSA na Venezuela. Desnecessário falar sobre a
Venezuela e sua desastrosa administração. E o assunto não se restringe às empresas públicas dos países subdesenvolvidos. Basta lembrar os casos da Enron e Worl.com e as falcatruas perpetradas pelos grandes bancos, principalmente americanos, na crise de 2007/8.
Transcrevo
partes da reportagem do Jornal O Globo, caderno de Economia, de
27.12.2004, da Bloomberg News, sobre a repercussão dos escândalos
da Petrobras, que "respondeu por 35% das emissões corporativas
de Brasil , em 2014", nas emissões de bonds (títulos) de
outras empresas brasileiras.
"De
acordo com Leoni "não há um sinal claro de uma resolução"
para a investigação de corrupção envolvendo a Petrobras e as
empreiteiras. E isto pode pesar sobre a decisão das empresas que
querem vender títulos".
"O
yeld (ágio) para os emissores brasileiros chegou a 7,7% neste mês,
o mais alto desde junho de 2009. - O prêmio pago em novas emissões
para países emergentes, e para o Brasil especificamente está mais
alto agora, e deverá continuar assim nos próximos meses- disse
Eduardo Freitas , codiretor de mercados de capitais de dívidas no
unidade brasileiro do Citigroup, em São Paulo."
"
- Muitas empresas enfrentarão dificuldades para acessar os mercados
e vender novas dívidas - disse Carolina Lacerda, chefe de
investiment banking da unidade brasileira do UBS".
Mas,
como exemplo, escolhi o petróleo para dar um panorama geral de como
as previsões chegam as raias do absurdo, porque muitas delas estão
desconectadas de outras importantes variáveis, não mensuráveis,
que afetam o preço desta commodities.
Tudo
começa com a crise do petróleo de 1973. A partir principalmente
deste momento começam as preocupações sobre as cotações do preço
do petróleo no mercado internacional e sua produção. Diante deste
novo evento, imprevisível quanto a sua intensidade, os modelos
matemáticos vão se proliferando com o objetivo de prever a produção
e a cotação do preço do petróleo.
Para
o guru e especialista mundial Daniel Yergin, autor do best seller O
Petróleo,
" está em curso uma reorganização geopolítica" e
qualquer previsão sobre as implicações futuras sobre a aproximação
russos e chineses "seria especulação".
Para
o referido autor "A maior ameaça é a volta do uso da energia
como arma política em nome do nacionalismo. É o que chamamos de
nacionalismo energético" (em Profundidade: PETRÓLEO,
veja.abril.com.br/idade,
13/06/2007).
Entretanto,
reproduzo o texto Um
conto de quatro previsões
- Hubbert, Deffeyes, Yergin & Jackson, resistir
. info/energia/four - prediction -
21/11/2006, onde mostra que o autor também fazia as suas desastrosas
previsões:
"Uma
coluna publicada na revista Forbes de novembro de 2004, Daniel
Yergin, historiador e presidente da Cambridge Energy Research
Association (CERA), em resposta a uma pergunta respeitante à futura
produção mundial de petróleo e aos seus preços, previu que a
produção mundial do óleo emergiria, conduzindo os preços abaixo
de U$ 38 por barril em novembro de 2005. De facto, os preços
praticados do petróleo foram
50% a 100% mais
elevados do que o previsto índice de preços a longo prazo de
Yergin, pois a queda na produção do óleo forçou os preços para a
alta a fim de equalizar a oferta e a procura.
Na
semana passada, Peter Jackson, colaborador de Daniel Yergin,
apresentou uma crítica à teoria do Pico Petrolífero esboçada por
Hubbert e Deffeyese e , tal como Yergin antes dele, previu a ascensão
da produção mundial, sem que o mundo mostrasse qualquer declínio
real num período de
tempo até 2040 ou 2050 (grifo
meu).
No
passado, Hubbert estava certo e Yergin estava errado. Agora os seus
respectivos colaboradores estão a fazer previsões semelhantes,
utilizando métodos semelhantes".
Me
permitam continuar citando o mencionado autor, para termos uma
verdadeira noção do disparate e inoperância de tais previsões:
"O
preço do petróleo no mercado internacional disparou em resposta não
apenas à perda das exportações de petróleo da Líbia, mas também
ao estilhaçamento do equilíbrio geoestratégico que sustentou o
Oriente Médio por décadas¨ ( A Busca, em
www.intrinseca.com.br/upload/livros).
Continuando:
"A mais recente explosão nos preços do petróleo e de outros
produtos surgiu no fim do 3º trimestre de 2007, quando a queda do
dólar deflagrou uma "fuga para outras commodities". Os
preços do petróleo foram propelidos a uma alta que durou até julho
de 2008 por fatores
psicológicos,
aquilo que o prof. Robert Schiller, da Universidade de Yale,
descreveu como "excitação contagiosa quanto a perspectivas de
investimentos". Era quase como apostas em um
jogo de pôquer com
uma previsão
de preços a U$ 200 por barril sendo sobrepujada por outra previsão
de U$ 250.
Os
preços mais baixos estão forçando as empresas de energia a reduzir
os seus orçamentos e a adiar o início de alguns novos projetos.
Isso se fará sentir em uma nova virada do ciclo, depois de uma
recuperação econômica. Enquanto isso, não é só o investimento
em novos projetos de petróleo, gás natural e energia elétrica que
será restringido". (
em Daniel Yergin: O que significa a queda no petróleo - Folha de S.
Paulo, www1.folha.uol.com.br,
16/11/2008).
Pelo
visto o Sr. Yergin se dobrou a verdade irrefutável. A esperança é
que não se aventure em novas previsões.
Na
visão de Tombini, em entrevista a Miriam Leitão, jornal O Globo, de
19/12/14; " A queda do petróleo nem
os especialistas previram. Em
junho e julho, estava em US$ 110 o barril do brent, e agora, US$ 60.
Isso afeta empresas, países mais dependentes do petróleo e os
mercados emergentes. Em relação às moedas, há um aumento de
trepidação. Como ainda somos importadores líquidos de petróleo,
haverá um ganho para o Brasil de US$ 5 bilhões a 10 bi. O país
está ajustando a política monetária, a política fiscal está
sendo reforçada e temos um colchão de reservas para enfrentar esse
surto de volatilidade".
Pelo
que foi exposto, podemos deduzir que o preço do petróleo tem um
componente político, afora diversos outros fatores, pois aos grandes
produtores (OPEP) não interessa viabilizar outras fontes
alternativas de energia.
"A
decisão da OPEP de manter a produção e deixar os preços caírem
teve como alvo, dizem analistas, justamente a produção americana,
com o objetivo de torná-la economicamente inviável. O cartel, com
exceção da Venezuela e Irã, pode suportar um preço deprimido por
um longo período, o suficiente para afastar potenciais investidores
dos rivais americanos e garantir a médio prazo uma recuperação
consistente das cotações nos mercados internacionais" (
reportagem da Bloomberg News, em O Globo, 22/12/2014, p.18).
Na
Rússia, país altamente dependente das exportações de petróleo,
com a queda da atual cotação dos preço desta commoditie, associada
aos reflexos da crise política com a invasão da Ucrânia, o rublo
já se desvalorizou 40% desde junho, a dívida russa avançou 2%,
elevando a desvalorização da moeda em 17% em cinco dias, o país
queimou reservas, há expectativas de elevação da inflação, o
consumo aumentou, pressionando a inflação, que deverá pressionar
os juros ( Jornal O Globo, caderno de Economia, Efeito da Crise,
p.19/20, reportagem de Vivian Oswald).
E
a pressão sobre os juros desencadeará um série de novos reflexos
sobre as diversas varáveis, inclusive sobre o comportamento dos
agentes econômicos internacionais, em uma cadeia impossível de ser
avaliada e quantificada, em virtude dos efeitos de uma varável sobre
as outras e destas sobre esta e também de todas entre si, numa
relação dialética. Ver item 4, deste tópico.
E
mais, diante de tais fatos não podemos descartar a hipótese de que
muitas previsões também estejam contaminadas por fatores
especulativos.
O
pergunta que fica é se é possível uma previsão precisa, depois da
crise de 1973 e em um mundo em total turbulência, usando modelos
matemáticos, mesmo que sofisticados?
Para
finalizar este item é interessante reproduzir a previsão sobre a
taxa de câmbio do Brasil, segundo Focus, postada em 08.09.2014,
portanto, faltando
somente 4 meses do final do ano:
"Parada
há seis semanas em R$ 3,35, a cotação para o câmbio de 2014
recuou para 2,33 no relatório do mercado Focus, divulgado esta
segunda-feira, 08, pelo Banco Central. Com essa alteração, a
projeção mediana para o câmbio médio deste ano foi reduzida de R$
2,29 para R$ 2,28.
Para
o ano que vem,
os analistas mexeram
em suas planilhas, mas com menor intensidade a perspectiva de que o
dólar encerraria 2015 em R$ 2,50 foi ajustada para R$ 2,49. A
mudança pequena não foi suficiente para gerar alteração na
mediana das estimativas para o câmbio médio do próximo ano, que
está em R$ 2,44 há quatro semanas" ( em Focus revê para baixo
câmbio em 2014, www.em.com.br/..../focus).
Quanta
precisão.
"A
previsão do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2014
ficou estável em R$2,35 por dólar. Para 2015, expectativa também
foi mantida em R$ 2,50 por dólar" (em Previsão de inflação,
juros e câmbio em 2014, postado em 1 setembro de 2014, ).
Por
sinal, quanto era a taxa de câmbio no final de dezembro de 2014? Em
torno de 2,75 por dólar? Prever que ela fecharia o ano de 2015 no
valor mencionado, quando em setembro a crise já era latente e se
avizinhava, indica que o chute foi muito mal direcionado.
4)
mudanças de paradigmas
Remeto
o leitor para os itens 2 e 6 do presente tópico.
5)
dos efeitos adversos, do contágio, do pânico, do processo de
auto-realimentação (ou auto-reforçador) e das influências
recíprocas entre as variáveis
Começo
este ítem citando uma expressão muito feliz, não sei se cunhada
por Krugman, mas citada por ele, sobre o pânico:
"No
entanto, muito mais importante para a economia são os pânicos que,
não importam quais sejam as suas causas,
validam-se por si mesmos - pois o pânico em si justifica o pânico.
O
exemplo clássico é a corrida bancária" (Krugman, Paul, em A
crise de 2008 - O desastre asiático, Elsevier Editora, 2009, p. 91).
"Havia
falhas reais nessas economias, mas a principal delas era a
vulnerabilidade ao pânico auto-realizável" (idem, p.99). Na
verdade sempre existirão falhas, mas por que não foram,
inicialmente, motivos de preocupação para o capital especulativo?
"A
perda de confiança foi, até certo ponto (impossível saber qual
ponto), um processo auto-reforçador . Enquanto os preços dos
imóveis e os mercados de ações estavam em ascensão, até os
investimentos questionáveis tendiam parecer bons. Quando a bolha
começou a esvaziar, as perdas passaram a acumular-se , comprometendo
ainda mais a confiança e promovendo nova redução na oferta de
empréstimos" (idem, p.87).
Este
processo de realimentação e auto-reforçador pode muito bem ser
observado quando a economia entra em recessão/depressão ou quando
está em ascensão. Através das teorias keynesianas podemos muito
bem identificar este processo, bastante visível na confiança dos
agentes econômicos.
Na
depressão, os bancos retraem o crédito que realimenta o pessimismo
que afeta os investimentos (seria um efeito multiplicador em sentido
inverso à expansão). Na expansão os empréstimos concedidos se
realimentam através do efeito do multiplicador monetário. Os
investimentos também possuem um efeito multiplicador, sobre a renda,
estimulando novos investimentos, conforme demonstrou Keynes.
Tento
esclarecer, com o risco de alguns percalços:
Suponhamos
que determinado país esteja com problemas em sua balança comercial
e de serviços e necessite de capital estrangeiro para fechar suas
contas externas, ou até mesmo preservar suas reservas monetárias.
Estes
problemas poderiam ter sido causados por pressões internacionais
para abertura da economia (inclusive serviços financeiros), queda da
demanda externa, variação de câmbio dos países concorrentes ou
outras situações adversas.
Para
isto, resolve elevar a taxa de juros com o intuito de atrair o
capital externo, de que necessita.
Inicialmente,
é difícil concluir que a adoção de tal medida surtirá os efeitos
desejados, por que irá depender das medidas econômicas e políticas
de outros países, das expectativas do capital estrangeiro quanto a
economia em questão, das possibilidades de realocação de recursos
para economias mais saudáveis, da confiança que as autoridades transmitirão aos agentes econômicos, quanto as garantias ao
capital, dos fundamentos da economia (questão também subjetiva).
Entretanto,
admitamos que o capital flua para o país em questão. Ora, o aumento
das taxas de juros, em tese, inibirá os investimentos, a economia se
desaquecerá pelo processo auto-reforçador, o desemprego aumentará,
as empresas terão mais dificuldades para saldar suas dívidas, o
câmbio provavelmente irá se valorizar (mas o fantasma da
desvalorização continuará a perdurar) e isto por sua vez poderá
agravar a situação das contas externas.
Isto
tudo em uma economia que já se encontra combalida. A fuga de capital
já aconteceu e trouxe problemas para o país. Na verdade, o que eles
pretendem (Tesouro e FMI) é evitar novas fugas e o retorno do
capital (mas qual a garantia?. Nenhuma). E qual serão os efeitos
destas circunstâncias sobre a taxa de juros, diante deste novo
quadro? E, aí, outros fatores políticos entrarão em cena e poderão
dar novo curso às políticas econômicas.
Observamos
que o raciocínio é sempre "ceteris paribus", mantida as
demais condições constantes, uma variável repercute em outra
variável e esta em outra, sempre mantendo as demais condições
constantes, numa cadeia sequencial, que pode vir a se tornar num
círculo vicioso. Espera-se que com isto as expectativas dos agentes
se modifiquem. Mas elas serão modificadas ou não de acordo com as
expectativas de modificações das outras variáveis.
No
entanto, todo este raciocínio não leva em consideração o que está
acontecendo nos outros países, em suas políticas econômicas e
todos estes reflexos também não estão imunes às expectativas dos
investidores, nacionais e internacionais e do capital especulativo.
Se
a elevação da taxa de juros tende a evitar a desvalorização
cambial e até mesmo valorizar o câmbio (segundo o programa do FMI),
espera-se que uma desvalorização cambial possa reduzir os juros
(taxa).
Na
filosofia do FMI e do Tesouro a elevação da taxa de juros, para
sustentar o câmbio, convence o capital a permanecer no país e evita
uma desvalorização mais acentuada (são apenas expectativas) e a
inflação. Mas, por que tanta preocupação em evitar desvalorização
no câmbio? Em sua visão, esta medida agrava a fuga de capitais.
Será que este é realmente o seu propósito ou será que a sua
intenção é evitar perdas do capital especulativo internacional?
Os
efeitos que uma desvalorização cambial terá sobre a inflação irá
depender da base industrial do país, ou seja , o quanto ele ( o
país) reagirá e de sua pauta de importação (se a procura por
produtos estrangeiros é inelástica, da resposta da indústria do
país e de sua estrutura produtiva).
Não
precisa ser gênio para entender que isto tudo dependerá de diversos
fatores como o grau de endividamento das empresas, da pauta de
exportação do país, da diversificação industrial, do nível de
confiança da população, etc. E qual será o peso de cada uma
deles? Eles não permanecem constantes.
Os
fundamentos da economia repercutem nos mercados financeiros e estes
voltam a interferir nestes fundamentos e nas demais varáveis, muito
embora estes (mercados financeiros: capital especulativo
internacional, bolsa de valores, etc) possuam regras próprias e não
se ajustem de modo automático à economia "real", como
advogavam os clássicos.
Conforme
Krugman: "Porém, como as crises podem ser auto-realizáveis,
políticas econômicas saudáveis não são suficientes para
conquistar a confiança do mercado - (também é importante
considerar as percepções, os preconceitos e os caprichos dos
agentes" (p.118).
Infelizmente,
penso ser impossível saber de antemão as consequências dos efeitos
adversos, da mensuração do processo de realimentação, da pânico
que se estabelecerá, do contágio, do peso de cada variável, da
influências recíprocas entre as variáveis. Isto dependerá ainda
estágio de desenvolvimento de cada país, da diversidade de seu
parque industrial, da sua pauta de exportação (produtos primários
(commodities), industriais tradicionais).
Entretanto,
há situações em que o contágio se dá por questões que fogem da
situação concreta do país.
Por
exemplo: de acordo com diversos economistas e agências de risco
internacional a Indonésia e a Coreia do Sul não estavam com suas
economias descontroladas e seus fundamentos pareciam ser sólidos, de
acordo com os parâmetros estabelecidos pela pelo capital
especulativo internacional. Daí a surpresa pela crise que afligiu
estes países.
Cito
mais uma vez Krugman:
"O
apetite dos investidores pela região fora alimentado pela percepção
do compartilhamento do "milagre asiático". Quando a
economia de um dos países se revelou não tão miraculosa, abalou-se
a fé em todas as demais" (p.96).
"Não
que os tailandeses fossem grandes investidores na Coréia ou
vice-versa;mas o fluxo de dinheiro para a região frequentemente era
canalizado pelos "fundos dos mercados emergentes", que
juntavam todos num mesmo saco. Quando chegaram as más notícias
sobre a Tailândia, o dinheiro se escoou desses fundos e, em
consequência, deixou de fluir para os demais países da região"
(p.95).
Um
aumento da taxa de juros deverá influenciar o orçamento público,
de forma diferenciada, caso haja déficit ou superavit, e este, por
sua vez volta a interferir sobre o nível dos juros.
Em
tese, uma alta da taxa de juros, deprime a atividade econômica,
reduz a inflação, valoriza o câmbio, que traz efeitos sobre a
balança comercial e transações correntes, que voltam a influenciar
o câmbio, repercute sobre o endividamento externo, que exerce
pressão sobre o câmbio, afeta o orçamento, que por sua vez vez
volta a influir sobre os juros, aumenta o fluxo de capital
especulativo, que pressiona a taxa de câmbio e juros, que também
afeta a balança comercial,etc, etc.
Mas
tudo isto, irá depender da situação econômica da economia,dos
momentos de expansão ou retração, do estado e do nível
do
orçamento, da situação da balança comercial, do nível de
endividamento externo, do nível das reservas, da diversificação da
pauta de exportação, da concorrência de outros países, da
política econômica deste países, das expectativas dos agentes
econômicos, inclusive estrangeiros, em relação à economia em
questão e outras, da variação dos preços das commodities e das
expectativas em relação a elas, sobre a balança comercial. E não
esqueçamos que o peso das variáveis muda, conforme exposto no item
1.
E
se, por exemplo, a economia americana está em expansão com os juros
em um determinado patamar não é certo que a elevação dos juros em
um outro país trará os efeitos previstos e desejados.
Diferentemente se a taxa de juros do outro país (EUA) encontra-se em
um nível bastante baixo, uma elevação da taxa de juros no país,
dependendo do grau de confiabilidade e dos fundamentos e de outros
itens econômicos, quão saudáveis os outros parâmetros estejam,
poderá redirecionar o fluxo do capital especulativo.
Isto,
não é certo nem matemático, vai depender das expectativas dos
agentes econômicos, do estado da economia e dos problemas que ela
pretende resolver, e do estado das outras economias. Felizmente o
raciocínio matemático não é autoaplicável a todas situações da
vida real.
Um
dos problemas da economia é que aprendemos, como em outros setores e
por uma simples questão de simplificação, a raciocinar "ceteris
paribus",
mantida inalteradas todas as outras condições, e isto é
seguramente uma ilusão. Nós, em regra, adquirimos este vício.
Uma
séria crise do balanço de pagamentos, em economias não
desenvolvidas, com uma estreita margem da pauta das exportações,
não é tão simplesmente solucionada com uma desvalorização
cambial, em decorrência da inelasticidade da demanda exterior, da
saúde financeira dos países importadores, da entrada de novos
concorrentes no mercado.
Em
resumo, as variáveis econômicas, que em princípio poderiam ser
quantificáveis, ao invés das que são imprevisíveis e
incomensuráveis, não permanecem constantes, estão sempre em
movimento e se relacionam com as outras, em um processo de
influências recíprocas, de forma direta ou não, difícil de ser
captado a priori e com precisão pelos modelos matemáticos, como os
nerds pretendem. Ver parte final do item 2, deste tópico.
Embora
a taxa de juros seja uma variável importante e considerada
estratégica a sua variação e o seu nível podem não surtir os
efeitos desejados, podendo ter resultados adversos, dependendo do
ciclo em que a economia se encontra (armadilha pela liquidez), das
situações de pânico, das razões e do estado em que se encontram
as suas contas, que influenciam diretamente o pânico, que volta a
interferir sobre aquelas e as taxas de juros. Além disso podem
trazer mais recessão e desemprego, com os consequentes problemas
sociais, em uma economia já combalida.
Ela
não é um Deus ex-machina que resolve todos os problemas e a todos
contempla, independentemente de outras variáveis e da situação
peculiar de cada país. Não é panaceia para estes males e diversas
outras situações.
Quais
as razões do pânico e por que o contágio se propaga,
independentemente da situação de cada economia? Um redirecionamento
dos fluxos financeiros pode no início ter fundamento, mas depois de
estabelecido o pânico estes fundamentos não mais interessam, e o
pânico se realimenta. Até quando?
E
se analisarmos mais atentamente, numa economia que se pretende ser
racional (mercados racionais) o pânico jamais teria lugar. Pânico
também é especulação.
"Mas
é precisamente este tipo de crise o que é mais destruidor, o que
mais afeta os outros países, e o mais difícil de conter. "Não
sabemos que relações econômicas subjacentes têm condições de se
manter em um clima de pânico. E crises de conta de capital são
situações de pânico", explicou Khan. "As pessoas
procuram agir o mais rapidamente possível. Quando o pânico
realmente se instala, todas as suposições se tornam inválidas.
Algumas coisas podem funcionar, outras não, impossível ter certeza.
Não se consegue saber como reagir" (Vexame, p.42).
"Quando
chegaram aqui, recorda um economista do FMI, "eles não tinham a
menor ideia do que iriam fazer. Nós também não tínhamos uma noção
clara a respeito" (Vexame, p. 351). O autor se refere a Malan e
Lopes, representantes do Brasil durante a crise do início de 1999.
Segundo
Eichengreen, p. 242:
"O
fato de a Ásia, aparentemente o último baluarte da estabilidade,
sucumbir aos problemas cambiais que afligiam o resto do mundo
ressaltou a universalidade das pressões em curso pela transformação
do sistema monetário internacional.
A
crise asiática foi tão chocante por ter ocorrido sobre o pano de
fundo de condições econômicas e financeiras favoráveis. Suas
políticas monetárias e fiscais eram em geral bem equilibradas. Os
tigre asiáticos não ostentavam nem enormes déficits fiscais, nem
uma inflação persistente características de outros países em
desenvolvimento propensos a crises" (Eichengreen, Barry, A
globalização do capital, Ed. 34, 2002).
Já
que os mercados são considerados racionais, o que assusta e não
explica é por que estes "sintomas", que hipotética e
posteriormente justificaram a crise asiática (mesmo que existissem),
na opinião dos grandes analistas, não foram percebidos com
antecedência pelos agentes econômicos/financeiros e estes não
tomaram providências para ajustar paulatinamente a situação,
evitando, através do contágio, uma catástrofe. E o que dizer
daqueles que sofreram contágio?
Um
exemplo da influência recíproca entre as variáveis pode ser
extraído do conceito de reflexividade elaborado pelo mega
especulador George Soros:
"O
que torna a movimentação dos capitais globalizados tão volátil e
aleatória é o que Soros denomina
reflexividade. Aplicada
aos mercados financeiros, a reflexidade denota o fato de que a
percepção do risco dos aplicadores financeiros influi sobre a
destinação das aplicações e esta afeta a percepção de risco
original em geral intensificando-a. Quando a percepção de risco dos
gerentes de capitais globalizados piora em relação a certo país,
por exemplo, desencadeia-se uma fuga de capitais. Por efeito da
reflexividade, a situação do país que perde capital degenera , o
que aumenta ainda mais o risco percebido pelos aplicadores" (
Singer, Paul, O undo financeiro, Ed. Contexto, p. 115).
Em
"Andar de bêbado", Leonard Mlodinow nos faz um relato,
ocorrido em um campo de concentração nazista, de como escolhas
racionais podem resultar em tragédia, via acaso.
6)
a interferência dos agentes econômicos nos seus próprios
prognósticos
Poucas
palavras são suficientes para esclarecer este item, baseado na
premissa e evidências de que os agentes econômicos interferem na
economia em condições diversificadas, em poder econômico e
político.
Em
resumo, os poderosos agentes políticos econômicos fazem os seus
prognósticos e ao fazerem se posicionam para que suas previsões se
realizem, ou seja atuam sobre os fatores econômicos de forma a
concretizar as suas apostas, que no final das contas são
transformadas em prestígio e lucro. Estas interferências podem ser
através do poder econômico, político, de informações
privilegiadas.
Ou
seja, os mercados, principalmente os financeiros, não funcionam
isentos de vícios, como manipulação, de informações falsas,
plantadas, formação de pools e informações privilegiadas.
No
artigo intitulado "A CRISE DE 2008 E AS INFORMAÇÕES
ASSIMÉTRICAS", postado em www.melisiofrota.blogspot.com.br,
escrevi:
"Portanto,
todas informações são sempre assimétricas não só pela falta de
divulgação mas também pela maneira de percebê-las, interpretá-las
e pô-las em prática. Daí, deduzir que elas são tão fundamentais
para o surgimento de crises e para servir de base para negar a
existência da mão invisível vai uma longa diferença.
Na
realidade, poderíamos dizer que na recente crise as informações
assimétricas foram irrelevantes. Existiam, sim, informações
plantadas, oba oba e uma teoria econômica respaldada por ilustres
teóricos, empresários, principalmente da mídia, através de seus
porta-vozes, políticos e até mesmo empresários milionários do
ramo financeiro, atuando dentro do governo em benefícios próprios e
em função desta ideologia. Ou seja, existia pura especulação. O
setor imobiliário era o carro chefe. Construtores, produtores,
vendedores, compradores, consumidores e o setor financeiro atuavam
freneticamente, sem necessariamente saberem o que vendiam,
compravam e emprestavam. Possibilidades de ganho, até mesmo as mais
ilusórias, eram suficientes para turbinar os negócios. As inovações
financeiras, respaldadas por modelos
econométricos sofisticadíssimos, estavam de vento em poupa e
cumpriam as suas funções em justificar e garantir os fundamentos
teóricos e a especulação.
A
desregulamentação e a securitização se alastraram com o
fundamento de que os riscos
estavam ¨racionalmente¨ diluídos
e por isso não havia possibilidades de crise. Tudo estava sob
controle por que os gênios
das finanças eram extremamente racionais.
Os modelos serviam para cobrir com uma manta científica as decisões,
alijando os simples mortais, incapazes
de entender os mistérios das finanças e da complexidade matemática.
Todos surfavam ou desejavam surfar na onda da especulação. Todos
atuavam ¨racionalmente¨, mas com a alma do especulador.
Vendiam-se informações sem interesse em saber se eram falsas ou
não, com ou sem interesse. Nenhuma das pontas (construtores,
financistas, consumidores, produtores, vendedores, compradores) sabia
e nem queria saber realmente o que vendiam, compravam e financiavam.
Vendia-se e comprava-se de tudo sem se importarem com as
consequências".
Reporto
o leitor para a citação de Singer mencionada no final do ítem
anterior.
7)
as mudanças tecnológicas e a difusão de novos produtos
É
muito difícil mensurar a importância e o impacto das descobertas,
invenções, transformações tecnológicas de produção e produtos
e as suas respectivas difusões sobre a economia e, consequentemente,
sobre os modelos. Estas mudanças são a alma do capitalismo.
Ao
longo da estória podemos citar a invenção da máquina a vapor que
ajudou a desbravar novos territórios e trouxe impulsos no transporte
de mercadorias e produtos.
Não
poderíamos deixar de citar a invenção do automóvel e a sua
difusão como meio de transporte, lazer, símbolo de status e desejo
de consumo, que durante décadas trouxe extraordinários "benefícios"
para a economia de diversos países, especificamente para os E.U.A.,
onde impulsionou a expansão da economia através de sua larga e
dinâmica produção, trazendo a reboque grandes investimentos em
infraestrutura.
Tal
grande a importância da indústria automobilística para os Estados
Unidos da América que esta ficou atrelada e associada à imagem de
pujança e ao estilo de vida daquele país. Tornou-se um dos símbolos
do "American Way Life", que ganhou o mundo no pós-guerra e
com a guerra fria, com seus carrões Cadillcs, etc
As
transformações sociais não ocorreram apenas na difusão do
automóvel como produto de consumo, mas também a novas tecnologias
de produção na linha de montagem e de administração, conhecida
por fordismo.
Tão
grande a sua importância para a economia dos E.U.A. que as suas
indústrias durante décadas, juntamente com as empresas
petrolíferas, ocuparam as posições a lista das maiores empresas
americanas e do mundo. Detroit passa a ser a capital mundial do
automóvel e a GM ocupa durante décadas (de 1931 a 2008) a posição
de maior fabricante de carros do mundo, desbanda pela Toyota em 2008.
Finda
a 2ª grande guerra, com a demanda por bens duráveis deprimida, esta
indústria dá saltos extraordinários de produção, a ponto do
presidente da General Motors Charles E. Wilson, em 1954, afirmar:
"
O que é bom para a General Motors é bom para o país".
Pois
bem. Na década de 80 a indústria automobilística japonesa adquire
maturidade e passa a competir, em condições de igualdade, com as
grandes empresas automobilísticas dos Estados Unidos e Europa.
Com
a crise do petróleo e suas sequelas os carros japoneses, mais
econômicos e menores, estavam mais adequados para os difíceis
momentos e a indústria japonesa mais apta a ocupar este novo
segmento do mercado, que se expandia.
O
Japão passa a exportar cada vez mais carros para os Estados Unidos,
que se vê obrigado a estabelecer cotas de importação, objetivando
dar fôlego à sua indústria e diminuir o desfavorável défict em
em suas transações com aquele país, déficit este fortalecido
pelas exportações de produtos eletroeletrônicos.
Com
abandono do fordismo e a introdução de novos métodos de produção,
mais flexíveis (toyotismo), que se adequavam melhor às variações
rápidas das demandas em um clima pós-crise do petróleo, a invasão
nipônica enfraquece ainda mais a indústria automobilística
americana, produzindo carros menores, mais econômicos, mais baratos
e mais confiáveis, quanto a qualidade e os problemas pós-vendas.
Mudanças de paradigmas ou do perfil de consumo.
Com
elevadas taxas de crescimento, puxadas principalmente pelas
exportações da indústria automobilística e de eletrônicos o
Japão atinge o 2º maior PIB do mundo e passa a ser um novo grande
player
no mercado internacional, ameaçando as antigas lideranças. E aqui,
mais uma vez, as previsões falham.
O
mesmo pode se dizer da expansão da indústria eletrônica atual com
a invenção e a difusão dos mini e micro computadores, smartfones,
de acesso a internet e outras infinidades de produtos, acessíveis ao
público de menor poder aquisitivo, que ainda estão transformado o
mundo, numa velocidade espantosa, modificando os paradigmas de
consumo e trabalho.
As
possibilidades de que os E.U.A. se tornem auto suficientes ou reduzam
drasticamente seu défict em petróleo, com a exploração do xisto,
mudará o quadro geopolítico do mundo, modificando a posição, a
importância e o poder de países e, consequentemente, com reflexos
na economia e na política internacional e no redirecionamento do
circuito financeiro internacional. O mesmo poderá ocorrer com as
possibilidades de exploração de novas fontes alternativas de
energia.
Fica
claro que principalmente os modelos de médio e longo prazo não
podem incorporar nem dimensionar estas possibilidades. Primeiro
porque ainda estamos no campo das possibilidades; segundo porque
seria impossível prever a profundidade destas transformações.
Quase
todas as previsões sobre o futuro de novas inovações tecnológicas
e as suas repercussões sobre os rumos das sociedades, efetuadas na
década de 80, falharam.
Ao
contrário das previsões, entraram em cena a internet, os
computadores pessoais, os smartphones e os celulares, para citar
poucos exemplos, que mudaram padrões de comportamento, causaram
grandes transformações sociais e estão levando outros antigos
produtos à obsolescência técnica. Abriram novas fronteiras e
ameaçaram muitos regimes despóticos, alcançando grandes
transformações sociais.
A
revolução na eletrônica permitiu mudanças substanciais nos fluxos
do capital financeiro internacional, viabilizando, através de sua
velocidade, a sua volatilidade e consequentemente as possibilidades
de especulação mundo afora, gerando crises cambiais e financeiras.
A
invasão dos robôs revolucionou as relações trabalhistas nas
empresas, nos métodos de produção e, agora, auxiliam os trabalhos
domésticos.
Assim,
qualquer previsão sobre estes aspectos, que afetam os modelos e suas
variáveis, seria simples "chutometria"
(uma nova palavra bem adequada para a situação), independentemente
da sofisticação do modelo.
Por
enquanto estamos no campo das expectativas e sobre elas só restam
mais expectativas, difíceis de serem captadas e mensuradas por
modelos matemáticos.
As
dificuldades em prever as mudanças e transformações tecnológicas
e seus efeitos se acentuam pelo fato de que elas também dependem de
fatores sociais, como os conflitos de interesses entre os agentes
econômicos, trabalhadores versus empresários e a administração e
até mesmo fatores culturais e hostilidades entre países. Sobre o
assunto consultar, entre outros:
-
Magaline, A.G., Luta de classes e desvalorização do capital, Moraes
editores, 1977;
-
Gors André, Crítica da divisão do GTrabalho, Martins Fontes, 1980;
-
Marx, Karl, O capital, livro I (inédito), Ed. Ciências humanas,
1978;
-
Japiassu, Hilton, A revolução científica moderna, Imago Ed., 1984.
"As
ideias básicas subjacentes à produção em massa já haviam,
portanto, estado disponíveis na Europa antes do início da Segunda
Guerra Mundial. No entanto, o caos econômico e o nacionalismo
tacanho dos anos 20 e início dos 30, além do forte apego às
tradições da produção artesanal, impediram sua maior
disseminação" ( Womack, James P., Jones Daniel T., & Roos
Daniel, em A máquina que mudou o mundo, Ed. Campus, 2ª ed., 1992,
p. 33).
O
papel dos imigrantes, força de trabalho dispersa e não
especializada, foi, na realidade, o substrato cultural que permitiu a
introdução do fordismo na indústria americana.
"Além
disso, no Japão inexistiram os trabalhadores-hóspedes - isto é,
imigrantes temporários dispostos a enfrentar condições precárias
de trabalho, em de remuneração compensatória - ou minorias com
opções ocupacionais limitadas. No ocidente, ao contrário, tais
indivíduos haviam constituído o grosso da força de trabalho na
maioria das companhias de produção em massa" (ídem, p. 41).
"A
força de trabalho nativa do Japão, conforme Toyota e outras firmas
logo constataram, já não mais estava propensa a ser tratada como
custo variável ou peça intercambiável. Ainda mais, as novas leis
trabalhistas introduzidas pela ocupação americana fortaleciam
significantemente a posição dos trabalhadores na negociação de
condições mais favoráveis de emprego" (ídem, p. 40).
8)
as forças intrínsecas e desestabilizadoras das sociedades
capitalistas
As
forças intrínsecas que atuam de forma conjunta
e desordenada
nas
sociedades capitalistas foram analisadas por Marx, Keynes, Kalecki e
mais recentemente por Minski. Elas, periodicamente, levam estas
economias para crises e depressões, foram identificadas, mas,
entretanto, é difícil precisar os momentos em que atuam negativa ou
positivamente.
Cito
Paul Singer:
"A
economia real e os mercados financeiros têm em seu seio os mesmos
agentes e se sujeitam às mesmas ondas de otimismo e de pessimismo.
Mas a alavancagem torna estas ondas de propagação mais rápidas e
maiores nos mercados financeiros do que na economia real. O mercado
financeiro atua como espelho deformante da economia real. Nesta, as
reações às ondas são retidas e limitadas porque leva tempo tanto
para expandir como desativar a capacidade produtiva" (Singer, p.
148).
"Esta
mágica ( o autor se refere à alavancagem financeira ) parece tirar
coelhos duma cartola vazia, pois gera novo valor sem custo, ou seja,
sem que haja trabalho social, presente e passado. Ela está na raiz
da especulação financeira e na possibilidade do mundo financeiro
decolar do mundo real" (idem, p.52).
"O
risco financeiro é autogerado pela expectativa de risco alimentado
pelos agentes financeiros"
(idem, p.36).
E
continuo com o bem sucedido mega especulador George Soros, que não
segue os mandamentos dos teóricos de Chicago, sobre o real
funcionamento dos mercados financeiros em confronto com a teoria do
equilíbrio geral:
"Consideremos
a teoria econômica clássica. Em sua utilização do conceito de
equilíbrio, ela imita a física newtoniana. Mas, nos mercados
financeiros, onde as expectativas desempenham papel importante, a
assertiva de que os mercados tendem ao equilíbrio não corresponde à
realidade. A teoria das expectativas racionais teve de fazer muitos
malabarismos para criar um mundo artificial em que o equilíbrio
predomina; ocorre que, nesse mundo, é a realidade que se ajusta à
teoria e não o contrário. Eis um caso em que o postulado da
falibilidade radical é aplicável" ( Soros, George, A crise
atual e o que ela significa, Ed. Agir, 2008, p. 73).
"Eu
sustento que a teoria das expectativas racionais interpreta de modo
totalmente errado o funcionamento do mercado financeiro. Embora tal
teoria já não seja levada a sério fora dos círculos acadêmicos,
a ideia de que os mercados financeiros se corrigem por si mesmos e
tendem ao equilíbrio continua a ser o paradigma em que se baseiam os
vários instrumentos e modelos de cotação artificiais que
adquiriram papel dominante nos mercados financeiros. Sustento que o
paradigma é falso e precisa ser urgentemente substituído"
(Idem, p. 30).
No
artigo intitulado "Direito, Economia e Mercados Racionais,
postado em www.melisiofrota.blogspot.com.br,
escrevi:
"Mesmo
com a ajuda da mão invisível, os mercados não são eficientes para
evitar as crises e para mitigar as grandes disparidades nacionais,
regionais e individuais. Pelo contrário acirram estas disparidades.
O que foi dito acima também serve como uma luva para a teoria das
expectativas racionais. Esta é apenas mais uma derivação da teoria
da racionalidade econômica do ser humano. Mas, se a racionalidade
humana já é contestada o que dizer e esperar das ¨expectativas¨
racionais, que são, antes de tudo, expectativas? Convém lembrar que
as
mais diversas e ¨discrepantes teorias econômicas¨ foram e são
elaboradas por pessoas extremamente racionais,
o que já evidencia os retumbantes fracassos teóricos, que propiciam
o caos econômico".
Para
uma melhor avaliação, consultar os referidos autores.
9) as relações entre as variáveis
Não existe uma relação biunívoca entre as variáveis, não simplesmente de causa-efeito nem sequenciais. O intervalo de variação em que uma variável se move pode não ter qualquer repercussão em outras variáveis, sendo impossível calcular o ponto de viragem em decorrência das expectativas e prognósticos dos agentes econômicos em cada situação particular.
10) o pressuposto dos mercados homogêneos e a supremacia das finanças
Com
a emergência das finanças ao topo do mundo dos negócios, que se
consolidou na década de 70, que germinou, após a crise de 1929 e a
2ª grande guerra, através dos professores focados em finanças e
dos especuladores que invadiam Wall Street com seus modelos
matemáticos sofisticados, em busca de prestígio e enriquecimento
fácil, a produção acadêmica e a publicada na mídia especializada
passou a ter papel de destaque.
Os
bilionários das finanças, que fizeram fortunas e que por isso eram
admirados numa sociedade extremamente competitiva, que valoriza a
ascensão econômica, passaram a ser os interlocutores dos assuntos
econômicos, articulados com a mídia.
A
economia passou a ser vista como mais uma questão financeira.
Entretanto, os financistas não se interessavam pelas peculiaridades
dos mercados. O mercado financeiro era regido por leis que eles
imaginavam e gostariam, em contraste com a realidade.
Permito-me
citar novamente as palavras de Michael Lewis:
"A
economia irlandesa tinha entrado em crise antes, sob o peso de várias
manobras financeiras ao estilo americano e maus
conselhos de financistas
dos Estados Unidos" (grifo meu, em Flash Boys, p. 136).
Poderíamos
dizer, sem exagero e com bastante grau de certeza, que a economia
como um todo é fracionada e segmentada em diversos mercados, que
possuem regras próprias, muito embora se comuniquem e formem um
todo.
O
problema é que estes diversos mercados, externo, interno, de
trabalho, financeiro (subdividido em títulos, bolsa de valores,
financiamento, captação e empréstimos), têm suas próprias
peculiaridades, muito embora façam parte do todo e com ele se
relacionem.
Por
isto mesmo, a relação entre eles não se dá de forma espontânea e
harmoniosa, como prescrevem os economistas clássicos, mas, muitas
vezes, de forma traumática. Tomando de empréstimo um vocábulo de
Paul Singer, existe sempre a possibilidade do mercado financeiro se
"descolar" do mundo real, e isto "está na raiz da
especulação financeira". Em outras palavras, em situações de
especulação e excessiva expansão, por exemplo, ele cria vida
própria, independente das condições de outros mercados.
Este
mercado financeiro é mais propenso à alavancagem, às expectativas,
à volatilidade, a uma excessiva mobilidade e ao pânico, decorrentes
de políticas econômicas, crises políticas e econômicas e
expectativas. Por sua vez, respondem de forma mais rápida a estes
estímulos e aí, sim, contagiam a economia como um todo.
A
ideia de que o mercado financeiro se ajusta de forma harmoniosa com a
economia real é fruto do pressuposto clássico de que a moeda tem a
função apenas de meio circulante. Daí a proposição de Friedman
para um aumento regular e constante da moeda, ou base monetária.
E
este todo não é a soma das partes individualmente, pois isto é o
que nos ensina a palavra "sinergia", bastante utilizada em
fusões e incorporações de empresas. Ou até mesmo, fazendo uso do
vocábulo "dialética", em que "o todo não é a soma
das partes" (Marx, Engels).
Com
esta imagem distorcida a economia como um todo tornou-se apenas um
apêndice do que acontecia nos mercados financeiros e era produzido
no meio acadêmico vinculado a eles. Os fundamentos dos mercados
financeiros, certos, errados ou imaginários, valiam e prevaleciam
sobre e para todas as outras situações. O que era bom para a Bolsa
era bom para a economia como um todo. A Bolsa ditava as regras e a
economia a ela se submetia.
E
o grande "promoter" destes estudos e teorias era a
Universidade de Chicago, capitaneada pelo grande guru Milton
Friedman, vencedor do Prêmio Nobel em 1976.
Em
resumo, os mercados financeiros têm suas próprias regras e
peculiaridades, como a extrema volatilidade associada às
expectativas dos agentes. Também, em tese, são menos complexos e
devem ser mais suscetíveis à modelagem do que a economia como um
todo.
Este
assunto também foi abordado no tópico "BREVE HISTÓRICO".
10)
os pressupostos dos modelos
Os
pressupostos dos modelos são os seus fundamentos, a base de montagem
e os seus alicerces. Os modelos se desenvolvem a partir de seus
pressupostos e a eles estão intimamente ligados.
Identifiquei
alguns pressupostos que influenciaram os modelos aplicados à
economia e ao mercado financeiro nos anos recentes, pré-crise,
vinculados as escolas de economia tradicional, principalmente de
Chicago, liderada sob a batuta de Milton Freedman. São eles:
1)
do ajuste automático da economia capitalista, através da mão
invisível (Adam Smith) e posteriormente a crença mais elaborada do
comportamento racional dos agentes econômicos;
2)
de que a política fiscal expansionista, mesmo em épocas de crise,
depressão, gera a inflação;
3)
de que a variação na taxa de câmbio (desvalorização) gera o
equilíbrio automático da balança comercial e das transações
correntes, através do aumento das exportações e redução das
importações, independentemente da estrutura produtiva do país e de
sua pauta de exportação;
4)
de que o déficit das transações correntes ajusta automaticamente a
taxa de câmbio e em seguida equilibra as transações correntes do
balanço de pagamentos;
5)
de que a expansão constante da moeda traz o crescimento econômico
sem inflação (Friedman);
6)
de que a redução da taxa de juros, a qualquer tempo, seria
suficiente para e aumentar os investimentos e retomar o crescimento
(armadilha para a liquidez, Keynes);
7)
de que o capital externo traz indubitavelmente o desenvolvimento do
país, sem que sejam implementadas outras medidas, com vistas a este
propósito;
8)
que tem que se poupar para investir (investimento ex-ante igual a
poupança ex-post).
Todos
estes pressupostos têm como ponto comum a crença e o fundamento de
que os agentes econômicos são racionais e por isto as
possibilidades de crise são afastadas. Não encontrei uma forma
consistente para adequar e igualar estes dois pressupostos.
Procurarei
tecer comentários sobre estes tópicos de forma conjunta sem a
preocupação de abordar individualmente cada um deles.
A
seguir, reproduzo as minhas palavras no artigo "DIREITO,
ECONOMIA E MERCADOS RACIONAIS (UMA CRÍTICA AOS ECONOMISTAS
RACIONAIS)", postado em www.melisiofrota.blogspot.com.br:
"Ora,
os limites entre o comportamento racional e ¨irracional¨, melhor
falar em inconsciente, nunca foram clara e cientificamente definidos.
Ações, comportamentos inconscientes, preconceitos, convicções
íntimas, atitudes irracionais podem ter o manto da racionalidade
quando explicados e justificados racionalmente. A
racionalidade se ajusta ao que nos propomos justificar.
Para esta situação a psicanálise utiliza o termo racionalizar que
significa justificar com motivos racionais, ou seja, utilizando a
razão, atos e condutas provocados por elementos não racionais ou
inconscientes (www.dicionarioinformal.com.br)
A
história está repleta de exemplos. Durante a loucura do
nazifascismo, até mesmo filósofos e juristas aderiram as ideias de
seus líderes políticos, que souberem despertar e manipular os
sentimentos adormecidos do ódio, da vingança e outros, assunto
abordado por Freud. A psicologia das massas trata deste ¨enigma¨
humano. Modelos matemáticos sofisticados, aplicados à economia, são
extremamente racionais, mas ineficazes e danosos quando partem de
premissas ou pressupostos falsos.
Servem, quando muito, para iludir e induzir leigos a erros,
disfarçando os pressupostos e a realidade, represando, concentrando
e destinando o poder das informações e decisões àqueles que sabem
como manejá-los. Ou seja, criam uma barreira psicológica e excluem
os mais leigos do conhecimento e da realidade dos fatos e os enganam.
Não
existe esta racionalidade e eficiência genérica que serve a todos
os propósitos, circunstâncias e atua com a mesma intensidade em
todos os momentos. Poderíamos, até mesmo, pensar em outros
¨componentes ¨ do comportamento humano, tais como o papel do
feeling nas decisões (de risco empresarial), a influência da
cultura e costumes, a fé, a perseverança, a habilidade em lidar com
diferentes situações e a impulsividade, que, por sinal, não é
necessariamente de natureza inconsciente. Os diversos tipos de
comportamentais tidos como ¨irracionais¨ não podem ser
considerados indistintamente como não racionais, num sentido
pejorativo, pois possuem conotações psíquicas e cargas emocionais
diferenciadas, além de possuírem algo de ¨misterioso¨. Atuam,
pois, de forma conjunta, positiva e/ou negativamente nos processos
racionais, sem que se possa racionalmente determinar e quantificar a
dosagem específica. A estória da fundação da CNN por Ted Turner
pode servir de exemplo da importância do feeling nas decisões, ao
contrário daqueles que depositam todas as suas esperanças e
raciocínios no comportamento racional do ser humano.
Repetiram
tanto essas mentiras, talvez por serem espertos demais ou mesmo
irracionais, aí
reside o paradoxo,
que terminaram por convencer a si mesmos e aos outros mortais. Agora,
depois da tempestade, ainda têm a ousadia de dar sugestões para
sair da crise. Sempre com a mesma falta de criatividade, ou seja,
menos governo. Muitos de seus esforços se voltam para comprovar e
concluir que a ¨culpa¨ foi do governo. Formularam
modelos matemáticos sofisticadíssimos para convencer os outros de
suas ideias preconcebidas".
Sobre
o assunto, cito uma das diversas frases famosas do investidor Warren
Buffett:
"Os
investidores devem ser críticos com relação aos modelos baseados
na história. Usando termos esotéricos como beta, gama, sigma e
similares esses modelos tendem a parecer impressionantes. Mas, muitas
vezes, os investidores esquecem de examinar os pressupostos por trás
dos símbolos. Nosso conselho: desconfie dos geeks produzindo
fórmulas" (15 frases de Warren Buffett, em EXAME.com,
exame.abril.com.br)
Os
acontecimentos que marcaram o final dos anos 60 e a década de 70,
como a quebra do sistema de Bretton Woods, a crise do petróleo, a
mobilidade do capital (e as mudanças tecnológicas que permitiram
esta mobilidade), o mercado de eurodólar, a crise do dólar, o
milagre japonês e o déficit da balança comercial americana, para
mencionar apenas alguns, são importantes para as décadas seguintes.
São
situações que criam tensões que se acumulam nos subterrâneos das
economias, mas que em conjunto irrompem inesperadamente, causando
transtornos difíceis de serem controlados e contornados com os
instrumentos e mecanismos que usualmente e antes vigoravam.
Estamos
diante de quadro inusitado. Entretanto, estabelecer como dogma e
admitir que as economias se ajustam é um retrocesso no pensamento
acadêmico.
Remeto
o leitor para o referido artigo onde abordo outras questões ligadas
à racionalidade dos agentes econômicos em suas decisões, à luz do
avanço de outras ciências e da psicanálise.
O
mais interessante é que procuraram demonstrar a racionalidade dos
agentes econômicos e a eficácia dos mercados através de modelos
matemáticos sofisticados. Portanto, cabe um simples pergunta, para
qual não encontrei resposta: Como podemos transformar em números
sentimentos, emoções, feeling, percepções, convicções,
perseverança, fé, costumes, etc?
Na
verdade, os nerds tentaram resolver este enigma, mas através de
convicções:
"As
convicções dos chicagoanos ,
de que a bolsa de valores se aproximava de um tipo aleatório de
perfeição, só aumentaram à medida que a década ia avançando"
(O grifo é do autor, em O Mito...., p. 133). Parra eles "Os
modelos e a matemática eram o futuro" (p. 138).
Entretanto,
antes dos modelos existiam as convicções, sobre as quais o modelo
seria elaborado. E os modelos eram desenvolvidos com o viés de
provar que as convicções estavam certas. Se autointitulavam de
racionais mas eram as verdadeiras crenças que alimentavam esta
febre. Não perceberam que a palavra "racional" usada de
forma genérica carrega uma alta dose de imprecisão e o seu simples
uso não serve para assentar e descrever os fundamentos do que se
pretende que seja uma ciência.
Com
base nesta crença formularam outras como a que "era impossível
ganhar consistentemente do mercado", elaborada pelo Prêmio
Nobel Eugene Fama (sobre o assunto remeto o leitor para o ídem
específico).
Cito
passagens do livro ¨O mito dos mercados racionais¨, Fox, Justin,
Ed. Best Seller Ltda, ed. 2010: ¨O que Reder queria dizer com essas
duas frases infelizes era que os acadêmicos de Chicago atacavam
quase todos os problemas econômicos com a
premissa inicial
de que , se não houvesse interferência do governo, o mercado sabe
das coisas¨(p.120, grifo meu).
O
interessante é que não tinham qualquer coerência ideológica ou
intelectual e não acreditavam no que apregoavam e defendiam nos
papers e nas teses que escreviam, como mostra a seguinte passagem:
¨Como
resultado, afirma a hipótese, não é possível para os investidores
ganhar do mercado de forma consistente. O principal proponente dessa
teoria é Eugene
Fama, professor
de finanças da Universidade de Chicago, que foi professor de Cliff
Asness e de um exército de quants que, ironicamente,
partiram para Wall Street para tentar ganhar do mercado nas décadas
de 1990 e 2000.
Muitos quants utilizavam estratégias semelhantes,
derivadas do trabalho de Fama, que acabaram implodindo em agosto de
2007¨ (grifos
meus; Patterson, Scott, Mentes brilhantes, rombos bilionários, ed.
best business, 2012, p. 406). Alguma dúvida de que eram jogadores?
Quanta incoerência. Se inspiraram em modelos e apostavam contra
eles.
Alguns
itens merecem comentários breves e sucintos, embora todos estejam
de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, associados a
ideologia da mão invisível, na nova versão dos mercados racionais.
A
tese de Milton Friedman de que o crescimento da base monetária a uma
taxa constante leva ao crescimento constante e sem inflação,
equilibrado, tentou ser implementada na década de 80 e foi um
tremendo fracasso. Um dos problemas, como o dos economistas
clássicos, é que em seu modelo a moeda é apenas uma meio de troca.
A
crença de que a desvalorização da moeda leva um ajuste quase
automático do déficit da balança comercial é desprovida de
qualquer lógica, quando não se leva em consideração a estrutura
produtiva do país e sua pauta de exportação. Países não
desenvolvidos cujas exportações estão concentradas em duas ou três
commodities, com demandas inelásticas, não podem aumentar suas
exportações de forma significativa. Outrossim, a enxurrada de
dólares, capital especulativo, pode retardar a desvalorização.
Da
mesma forma, um déficit na balança comercial e de serviços não
leva a uma desvalorização imediata do câmbio, em decorrência do
movimento especulativo do capital.
A
crença de que a redução da taxa de juros, independentemente da
situação econômica em que se encontra o país, seria suficiente
para retomar o crescimento, via aumento dos investimentos, não
prospera porque estes dependem também das expectativas e das
avaliações dos investidores. Por outro lado, em períodos de
depressão atua o que Keynes denominou de Armadilha para a Liquidez.
Vide como exemplo recente o Japão.
Também
o pressuposto de que o capital externo traz indubitavelmente o
desenvolvimento é infundado, porque não analisa a política e as
táticas de investimento dos grandes conglomerados e, após várias
décadas, não existem provas concretas de que seja verdade. Pelo
contrário, as evidências caminham em sentido contrário,
principalmente com a importância do capital especulativo
internacional.
Mesmo
que as economias se encontrem em frangalhos a crença é que o
capital especulativo é a panaceia para todos os males. Não enxergam
os problemas estruturais dos países em desenvolvimento.
A
política fiscal expansionista em épocas de depressão e de grande
capacidade ociosa da economia não traz inflação. Esta é a tese de
Keynes e Kalecki, elaboradas na década de 30 e parcialmente
implementadas pelo programa New Deal, a cargo do Presidente
Roosevelt, boicotada posteriormente pelos republicanos, preocupados
ideologicamente com a intervenção do Estado e com a repercussão
mundial de tal intervenção, diante da ameaça ideológica do
socialismo, que almejava o comunismo.
Sobre
a questão de que é preciso poupar antes de investir, sugiro a
leitura da obra de John Maynard Keynes (ver neste site Poupança, Investimento e o paradoxo (falácia) da poupança externa).
Este tema ainda precisa ser melhor analisado e debatido. Foi incluído neste artigo porque agora surgiu uma nova componente que poderá ter repercussões diretas na economia, contribuindo para inviabilizá-la.
Com a crise do euro ficou mais visível o papel que as instituições dos diversos países desempenharam para o desabrochar da crise.
Cita-se a autonomia dos países em se endividarem individualmente, a falta de um emprestador de última instância para resolver os problemas de liquidez a nível geral, as discrepâncias das diversas legislações, como a legislação trabalhista, que não permitem uma política econômica coesa, integrativa, a política monetária adotada pelo país mais importante (Alemanha) que não leva em consideração as peculiaridades dos países periféricos.
"O problema fundamental é que toda a dívida pública na zona do euro é emitida não ao nível federal da zona do euro, mas daquilo a que Charles Goodhart chamou corretamente, nível "sub-soberano" dos Estados-nações, que já não emitem moeda própria e, por isso, já não têm capacidade para, se necessário, reembolsarem a dívida pública com moeda fiduciária soberana" (Turner, p. 222).
"Para que a zona do euro tenha sucesso, é necessária uma reforma radical. As dívidas públicas detidas ao nível sub-soberano têm que ser radicalmente reduzidas, com alguma dívida pública emitida ao nível federal da zona do euro:" (idem, p. 223).
"Desde logo, permitir que a União Europeia - ou pelo menos a zona do euro - pudesse evoluir para uma verdadeira união orçamental, e para uma autêntica união bancária" (Soares, p. 76).
"Pelo contrário, não foram previstas disposições especiais para a atuação das demais instituições políticas europeias no quadro das cooperações reforçadas" (idem, p. 81).
"Mesmo quando se tornou claro que a crise das dívidas soberanas na Grécia e depois na Irlanda estava a produzir um efeito de contágio sobre outros países da moeda única, o qual estaria a ser explorado por especuladores que aproveitavam as vulnerabilidades estruturais da união monetária, a Alemanha e os países próximos mantiveram sempre a tônica da sua resposta na responsabilidade individual dos países afetados" (idem, p.106).
Sobre o assunto os leitores poderão consultar:
- Cartaxo, Rui, A dívida e a culpa, bnomics, Lisboa, maio 2016;
- Kupchan, Charles A. e outros, A crise do euro, d. quixote, Lisboa, 2016
- Soares, Antônio Goucha, Círculo-Leitores, Lisboa, maio 2016;
- Turner, Adair, Entre a dívida e o diabo, Gradiva, Lisboa, 2016.
ACONTECIMENTOS IMPREVISÍVEIS QUE ALTERARAM OS PROGNÓSTICOS
1)
as crises do petróleo em 1973 e 1979 que mudaram os circuitos
financeiros do mundo, criaram déficits nos balanços de pagamentos
de diversas economias, ajustes em diversas economias, com reciclagem
dos petrodólares;
2)
a queda do muro de Berlim e a implosão das economias centralizadas,
que redirecionaram os fluxos financeiros e abriram novos espaços
econômicos para as empresas capitalistas;
3)
o desastre nuclear no Japão que afetou drasticamente sua economia e
suas empresas e redirecionou a produção e os investimentos para
outros países asiáticos;
4)
a primavera árabe e a guerra do Iraque;
5)
a ascensão econômica da China após a morte de Mao Tse-Tung;
6)
a revolução tecnológica da engenharia eletrônica;
7)
a recente queda do preço do petróleo;
8)
a recente crise do euro.
ALGUNS
FRACASSOS RETUMBANTES
Sem
querer ser exaustivo posso citar alguns dos fracassados prognósticos:
1)
previsão do declínio econômico dos Estados Unidos da América;
2)
a ascensão do Japão como a economia mais importante do planeta. O
país entrou em um período de grande letargia econômica de mais de
dez anos;
3)
o
conhecido e sofisticadíssimo modelo Black-Scholes, referência de
precificação de opções, de Myron Scholes ( ganhador do Prêmio
Nobel em 1997) e Fisher Black. Lançou e se afundou no fundo de
hedge Long-Term Capital Management, que foi a falência.
¨Boa
teoria. A pequena falha dessa teoria foi descoberta somente depois
dos fatos: quando o mercado entra em queda livre e ninguém quer
comprar, é impossível vender a descoberto. Se muitos investidores
tentam ao mesmo tempo vender ações quando o mercado cai, criam o
próprio desastre que estão buscando evitar¨ (em Lewis, Michael,
Pânico, Ed. Campus, 2010, p. 2).
4)
A crise de 1987. Se
querem um exemplo do racional irrecuperável lhes dou: ¨Jens Carsten
Jackwerth, professor visitante de pós-doutorado da Universidade da
Califórnia em Berkley, e Mark Rubistein, coinventor do seguro de
portfólio, ofereceram uma prova incontestável de que o dia 19 de
outubro de 1987 era estatisticamente impossível. De acordo com sua
fórmula de probabilidades, publicada em 1985, a probabilidade do
crash era de um ¨evento 27 desvios-padrão longe da média¨, uma
probabilidade 1 em 10 elevado à 160a
potência: ¨Mesmo se alguém tivesse vivido todos os 20 bilhões de
anos em que existe vida no universo e experimentado isso 20 bilhões
de vezes (20 bilhões de Big Bangs), seria praticamente impossível
que uma queda dessa magnitude pudesse acontecer uma única vez nesse
período¨ (Petterson, Scott, Mentes brilhantes, rombos bilionários,
ed. Best business, 2012, p. 77).
5)
ascensão dos tigres asiáticos como potências econômicas;
6)
a crise financeira de 2007/2008, quando quase todos os economistas,
homens de negócios e políticos previam anos de prosperidade e a
impossibilidade de uma crise;
7)
no final dos anos 60, o guru Herman Khan, físico, matemático e
estrategista, fundador do Hudson Institute, com um QI estimado em
145/160, previu no livro "O ano 2000" que o "Brasil
terá uma renda per capita de 506 dólares e um produto bruto de 246
bilhões de dólares. A renda per capita é de 4.800 dólares e o PIB
beira 800 bilhões de dólares" ( em brasil 500,
users.matrix.com.br
e Profecias desmentidas -EB - Cleofas,
cleofas.com.br).
ALGUNS
COMENTÁRIOS SOBRE EUGENE FAMA E SUA TEORIA
Inicio
este tópico citando os cabeçalhos dos capítulos 6 e 7 do livro "O
Mito dos Mercados Racionais", de Justin Fox, já citado:
Capítulo
6: GENE FAMA FAZ A MELHOR PROPOSIÇÃO PARA A ECONOMIA - " Na
década de 1960, na Faculdade de Administração da Universidade de
Chicago, o argumento de que é difícil bater o mercado se transforma
na convicção de que ele é perfeito".
Capítulo
7: "A lição de que talvez nem valha a pena tentar ganhar do
mercado se insere sinuosamente no ramo de investimentos".
Ao
que tudo indica, Eugene Fama foi quem melhor expressou este
pensamento: "Ele também batia de frente com uma teoria cada vez
mais popular no mundo acadêmico, a de que
era impossível ganhar consistentemente do mercado.
Lançada no final dos anos 1960, por Eugene Fama, professor de
finanças da Universidade de Chicago, essa teoria era conhecida como
a "hipótese dos mercados eficientes" (HME). No fundo, a
HME se baseava na ideia defendida por Bachelier de que os mercados se
moviam aleatoriamente e que os preços atuais refletiam todas as
informações conhecidas pelo mercado" (em Mentes Brilhantes
......., p. 51).
E
quanto a Fama? "Professores assim, e a chance de ter aula de
economia com o cada vez mais famoso Friedman, começaram a atrair
cada vez mais (e melhores) alunos para a faculdade de administração.
O mais significativo entre os primeiros a chegar foi Eugene Fama, um
jovem e intenso aluno (o primeiro da família a se formar) da
Universidade de Tufts> Fama chegou a Chicago como aluno de MBA, em
1960 - encaminhado para lá por professores que o consideravam
intelectual demais para a Faculdade de Administração de Harvard"
( O Mito dos Mercados ....., p. 127).
Infelizmente,
confesso que até hoje não consegui entender a sua teoria e
identificar a sua utilidade.
A
pergunta é: O que significa ganhar consistentemente do mercado? Não
está claro, pois podemos admitir algumas hipóteses. Num primeiro
momento podemos imaginar que isto significa que o investidor perderá
tantas vezes quanto ganhará, ou vice-versa. Mas, isto não resolve o
problema, pois:
1)
o investidor poderá investir sempre a mesma importância inúmeras
vezes;
2)
o investidor investirá somas diferentes, diversas vezes,
indefinidamente, e poderá lucrar com isto ou perder, muito embora
possa ganhar e perder o mesmo número de vezes, porque as somas não
são sempre iguais;
3)
o reverso da medalha é que o investidor não consegue perder
consistentemente do mercado.
Este
enunciado também traz as seguintes hipóteses:
1)
que o investidor financeiro estará sempre presente no mercado,
independentemente de quaisquer circunstâncias, não importando que
tenha perdido ou ganho inicialmente;
2)
a presunção de que o agente econômico vai viver o tempo suficiente
para igualar os resultado.
No
entanto, não há provas suficientes de que os agentes econômicos se
comportem assim e permaneçam sempre no mercado. Os perdedores, em
regra, saem em revoada do mercado em momentos de crise e muitos não
voltam ou não podem voltar porque os prejuízos foram enormes. E
existem aqueles que jamais voltam, se suicidam.
Por
seu turno, os vencedores também podem não permanecer no mercado,
diante das possibilidades em diversificar as suas oportunidades de
investimentos. Outros, simplesmente saem, ou não voltam a aplicar a
totalidade das somas auferidas.
Em
outras palavras, conforme veremos, eles não permanecem ou voltam
obrigatoriamente ao mercado, com o mesmo fôlego, para confirmar a
teoria do Sr. Fama.
Em
1929, livro já citado, Ivan Santana nos fornece um quadro bastante
interessante do destino e de como os agentes econômicos se portaram
após a crise:
"Amadeo
Peter Giannini, do Bank of America, John Jakob Raskob, do Empire
State Building, Charles E. Merril, da Merril Lynch, e David Sarnoff,
da RCA, assim como o já citado Joe Kennedy, foram notáveis exceções
naquela época de fracassos" (p. 334). Por incrível que pareça
existem as exceções.
Charles
Mitchell "tendo renunciado ao cargo de presidente do City Bank
em 1933, ele passou a viver de rendas. Morreu em 1955, aos 78 anos"
(p.336).
James
Riordan (suicidou-se), Ivar Kreuger (suicidou-se em Paris), Jesse
Livermore (suicidou-se), Richard Whitney, Michael Meehan, Billy
Durant, Irving Fisher e centenas de outros desafortunados mostraram
que a armadilha criada pela prosperidade dos Roaring Twenties e pela
catástrofe de outubro de 1929 havia mudado, para pior, a história
dos Estados Unidos da América e do mundo, afetando a vida de
centenas de milhões de pessoas, os herdeiros da sociedade onde todos
seriam ricos¨(p.353).
O
grande especulador Jesse Livermore, considerado um dos grandes
especuladores de sucesso, em sua ascensão e que inspirou o Livro
Memórias de um Operador da Bolsa, de Edwin Lefèvre, "vendeu
seus imóveis, seu Rolls-Royce amarelo. Tomou dinheiro emprestado a
juros e não pagou. Gangsteres a soldo de agiotas o ameaçaram (1929,
p.346).
Mirando-se
no espelho, o grande Jesse Livermore, o urso de Boston, o maior
especulador dos Roaring
Twenties,
uma figura mítica de Wall Street, sacou uma pistola do bolso do
paletó, apontou-a para a testa e atirou. quando caiu no chão já
estava morto" (p.346).
"O
professor Irving Fisher, da Universidade de Yale, economista que
havia garantido que um crash da Bolsa de Nova York era simplesmente
impossível, ao menos foi coerente com suas ideias. Perdeu tudo o que
tinha, inclusive a própria casa, quando Wall Street quebrou. Fisher
teve que morar de favor com sua filha, onde morreu aos 80 anos, em
1947" (p. 340).
"Pedindo
empréstimo aqui, oferecendo uma tacada infalível ali, Billy Durant
continuou tentando se refazer, cada vez com menos capital. Os amigos
agora se recusavam a recebê-lo, não o atendiam ao telefone"
(p.339).
"O
sogro de Irving Fisher, o católico Clarence Mackay, magnata dos
telégrafos, que jamais aprovara o casamento de sua filha Ellin com o
músico judeu, também perdera tudo que tinha no colapso de 1929. Só
que Mackay, ao contrário do genro, não tinha com o refazer sua
fortuna, pois isso dependia de capital e não de talento criativo"
(p. 336).
"Julgado
por vários crimes, Whitney foi condenado a cumprir pena de cinco a
dez anos de prisão na penitenciária de Sing Sing. Jamais
voltou ao mundo dos negócios. Morreu
em 1974, aos
86 anos, sendo sustentado em seus últimos 33 nos de vida pelos
rendimentos de um pecúlio doado por seu irmão ...." (p. 336).
"Homer
Dowdy, o carteiro de Flint, foi outro que não conseguiu sacar seu
dinheiro no Union Industrial Bank, justamente na época em que mais
precisava, devido à doença de sua mulher. Com o felizmente tinha um
emprego estável, Homer se casou novamente, viveu melhor que a
maioria dos americanos nos difíceis anos de 30 e pôde proporcionar
uma boa educação aos filhos" (p. 342).
"Após
o crash de 1929, o engraxate Pat Bologna, tendo perdido seu precioso
'capital de risco" , voltou a se dedicar exclusivamente ao
enfadonho esfrega-e-lustra na banca número 60 de Wall Street. Já
não havia tantos clientes, e mesmo esses gatos-pingados davam
gorjetas magras, compatíveis com os novos tempos.
Nunca
mais Bologna deu conselhos de investimentos, mesmo porque ninguém os
solicitou, e ele mesmo evitava falar no assunto para não perder
freguês. Nas cinco décadas seguintes Pat continuou por lá, até
que um dia pegou suas tralhas, foi embora e não se ouviu falar mais
dele" (p.330). A estória de Pat Bologna, um engraxate que
aconselhava seus clientes sobre investimentos na Bolsa é bastante
conhecida.
Em
suma, o investidor não se vale apenas de cálculos matemáticos e
probabilísticos aprimorados, mas também da percepção política,
econômica, de mudanças sociais e psicológicas de expectativas
futuras e apostas, da intuição, até mesmo contrárias às
probabilidades. Admitir o contrário seria acreditar e concluir que
diversas expectativas e possibilidades de negócios estariam fadadas
ao fracasso, simplesmente porque não estavam de acordo com as
probabilidades.
Com
tanto material à sua disposição para pesquisa, é incrível como o
Sr. Fama não conseguiu ver a realidade diante de si e se propôs a
teorizar e comprovar uma tese sem qualquer utilidade e importância,
vaga, imprecisa, contrária aos fatos.
Ele
é a imagem do investidor perdedor. Mesmo com os fatos e as
evidências contrárias insistia, tal qual o investidor incorrigível,
em comprovar a sua hipótese que em nada contribuiu para esclarecer e
elucidar o funcionamento do mercado financeiro e, principalmente, as
leis que regem a economia capitalista. Ou seja, não era o investidor
racional, de que tanto se fala. Quanta falta de objetividade e
desperdício. Ainda bem que foi agraciado com o Prêmio Nobel.
Se
o professor Eugene Fama fosse mais cauteloso, mais humilde, menos
vaidoso e principalmente mais prático e recorresse às fontes de que
dispunha talvez pudesse ter empregado seu tempo de forma mais
produtiva, sem desperdiçá-lo com teorias infrutíferas.
Cito
passagens do livro Memórias de um Operador da Bolsa, de Edwiun
Lefèvre, Elsevier Editora, 2008, considerado um clássico da
literatura, que escreveu sobre Wall Street, no início do século XX
e que trata, na prática, das operações em bolsa. Os grifos
(negritos) são meus.
"A
especulação com as ações nunca desaparecerá. Você não pode
impedir que as pessoas pensem de modo errado, não importa quanto
elas sejam capazes
ou experientes.
Planos
cuidadosamente traçados fracassarão pois o inesperado e mesmo o
imponderável ocorrerão.
O desastre pode acontecer por uma convulsão da natureza ou do tempo,
de sua própria ganância ou do orgulho de alguém; do medo ou da
esperança descontrolada (p. 258).
Os
inimigos mortais do especulador são: ignorância,
ganância, medo e esperança.
Acidentes que destruiram planos cuidadosamente elaborados também
estão
fora do alcance dos regulamentos criados por grupos de economistas
de sangue frio ou filantropos de bom coração. Ainda existe outra
fonte de prejuízos, ou seja, a informação deliberada apresentada
como dicas honestas. E, por ela ser capaz de se aproximar de um
operador de marcado com vários
disfarces e camuflagens, é a mais traiçoeira e perigosa (p.259).
Mas,
contra os rumores típicos de Wall Street, o público especulador não
tem nem proteção nem restituição. Atacadistas de ações,
manipuladores, grupos e indivíduos adotam
vários artifícios para
auxiliá-los a se desfazer de suas ações excedentes pelos melhores
preços possíveis. A circulação de notícias otimistas por meio de
jornais e impressoras de cotações é a mais perniciosa de todas.
Com
exceção de todas as análises inteligentes sobre especulação, o
operador de mercado deve considerar certos fatos com o jogo
de
Wall Street (p.
260).
Não
pretendo continuar testando a paciência do leitor. Essas simples
passagens serviram ao meu propósito. O leitor poderá obter maiores
detalhes sobre o que foi dito no livro 1929, de Ivan Santana.
Dando
continuidade a este tópico, me permito transcrever uma passagem do
livro 1929, citado, de muita praticidade, simplicidade e
objetividade, que vai de encontro a todas elucubrações teóricas:
"Muitos
defensores do mercado de ações dizem que Irving Berlin mostrou que
aplicar dinheiro na Bolsa, por todo o tempo, seja na alta ou na
baixa, é um método infalível de se enriquecer. Mas se esquecem de
assinalar que para
isso é preciso ter outras rendas e viver um século" (grifo
meu, p. 353).
E
enquanto o Sr. Fama estava debruçado em modelos matemáticos
tentando comprovar a sua teoria Buffet e Soros (apenas para citar os
mais conhecidos) faziam fortuna no mercado financeiro, sem a menor
preocupação com ela.
Um
dos problemas mais graves desses modelos é que eles trabalham e são
formuladas para o mundo sem impurezas, porque difícil detectá-las.
Assim, não incluem, como não podem incluir, as manipulações dos
mercados, o tráfico de influência, as informações privilegiadas e
plantadas e a formação de pools,
operadas pelos grandes agentes econômicos,
que
interferem nas regras e nas variáveis.
No
artigo "Direito, Economia e Mercados Racionais" afirmei:
"As
informações disponíveis não são suficiente para precificar de
forma eficiente os ativos, por que existem informações manipuladas,
outras falsas, que num primeiro momento não podem ser constatadas.
Outrossim, estas informações precisam se concretizar para terem
influência sobre os preços. Da mesma forma, o poder dos jogadores
ou investidores, como queiram, geram expectativas de ganhos, que nem
sempre são racionais. De antemão, não poderia predizer os efeitos
de minha decisão sobre os preços, o que gera mais expectativas e
indefinições. Expectativas têm alta dose de emoções que,
necessariamente, não se baseiam em informações disponíveis.
Decisões também se baseiam em expectativas, pressentimentos,
desejos, emoções e outros fatores irracionais, como comportamentos
de manada em épocas de crise.
A
aptidão e o amor pelo risco fogem a racionalidade.
Na verdade, pouca interessa se o mercado contém todas as informações
disponíveis. Os negociantes, homens de negócio, especuladores
¨apostam¨ no devir, embora sejam ou pareçam ¨racionais¨ nas suas
escolhas. E o devir é imponderável e imprevisível e, por isto, as
ações ¨racionais¨ não podem levar a conclusões, soluções e
consequências sempre satisfatórias, por serem pressupostamente
¨racionais¨".
A
estória financeira está repleta de escândalos, que colocam em
xeque o mundo perfeito do Sr. Fama e seus colaboradores. Para um
aprofundamento da questão sugiro: 1) Stewart, James B., Wall
St Covil de ladrões,
Ed. ABDR, 2ª edição 1993; 2) Santana, Ivan, 1929,
ed. Objetiva, 2014; 3) Santana, Ivan, Mercadores da noite.
E,
para quem quiser se aventurar em conhecer as novas falcatruas,
pós-crise, do mercado financeiro americano recomendo o livro Flash
boys, de Michael Lewis.
COMENTÁRIOS
FINAIS
Como poderíamos resumir o que foi dito ao longo deste artigo sobre os modelos matemáticos aplicados à economia:
Como poderíamos resumir o que foi dito ao longo deste artigo sobre os modelos matemáticos aplicados à economia:
1) - os
modelos matemáticos aplicados à economia são positivistas, procuram relações de causa-efeito entre os fenômenos;
2) - entretanto,
as relações entre variáveis são dialéticas. E diversas são as variáveis que se
inter-relacionam em uma relação dialética;
4) - as
ciências humanas diferem das ciências naturais, que se baseiam no método lógico-dedutivo,
na objetividade, na racionalidade, na experimentação e na matematização.
Naquelas o fenômeno existe independentemente do sujeito, é repetível e por isso pode-se fazer uso da experimentação;
5) - diversas
variáveis são aleatórias, dependem tanto dos fenômenos naturais quanto do
comportamento humano e por isso não podem ser previstas no modelo;
6) - eles
projetam o status-quo, pois são
incapazes de incorporar, captar e avaliar a importância das estruturas
econômicas (monopólio, oligopólio, financeirização,
setor de bens de capital, recursos naturais), do ambiente institucional, das
relações sociais, do comportamento humano e as suas respectivas mudanças, em
resposta a mudança das variáveis. Por mais sofisticados que sejam, projetam
para o futuro com base no passado, daí serem os seus prognósticos vazios de
conteúdo;
7) - os
modelos não conseguem captar as mudanças em gestação das variáveis neles
incorporadas e consequentemente na economia, a nova relação dialética entre
elas e delas com o todo, e por isso mesmo, o momento em que ocorrerão as mudanças. Da mesma forma, a “dosimetria”
ou a quantificação das medidas adotadas para controlar e corrigir os problemas
não podem ser determinadas com certeza, assim como o momento da eficácia de
seus efeitos;
8) - o
seu uso indiscriminado tem fundamento ideológico, baseado na relação poder-saber (Japiassú) e não refletem o
interesse em explicar a realidade, mas dos sujeitos adquirirem o “status” de cientistas; e dos “mercados perfeitos” que, por sua vez, facilitam a “modelação”. O que importa é ter a capacidade
de manusear os modelos mais sofisticados;
9) - paradoxalmente,
quanto mais aumenta o número de variáveis mais se aproximam dos modelos
simplificados quanto as incertezas dos resultados, ou seja, se tornam tão
incertos quanto;
1 - as
ciências humanas por não serem objetivas e quantificáveis (o comportamento
humano por enquanto não é quantificável), e pelo simples fato de que o objeto
do conhecimento sofre interferência do sujeito, são propensas e perpassadas por
questões ideológicas e por relações de
poder. Por isso, a importância de analisar e os seus fundamentos, que por
sinal são encobertos e disfarçados pela “matematização”. Ao tratarem de aspectos estritamente econômicos,
partem do pressuposto de que um aumento do PIB traz inevitavelmente um bem
estar social, que é incomensurável.
É
triste verificar que passados dois séculos a teoria econômica
continua presa a dogmas como mão invisível, mercados perfeitos,
racionalidade dos agentes, teoria das vantagens comparativas, para
citar alguns exemplos.
Enquanto
permaneceu praticamente estagnada, dominada por fatores puramente
ideológicos e até mesmo políticos que não lhe permitiram avanços
significativos, outras ciências deram saltos quantitativos e
qualitativos importantes, transformando o mundo, ou seja, dando uma
verdadeira contribuição para a sociedade. Basta verificar os
avanços na medicina, na genética, na engenharia naval, civil,
mecânica, aeroespacial e eletrônica, na física, etc, etc, para nos
cientificarmos da inoperância das teorias econômicas.
Enquanto
isto, os economistas se comportam como os senhores absolutos do
saber, sendo muitas vezes altamente remunerados. No final das contas,
contribuem indiretamente para agravar os problemas sociais, como
aconteceu na recente crise de 2008, porque simplesmente repetem e
repetem teorias que viraram dogmas, sem o mínimo comprometimento em
desvendar e amenizar os verdadeiros problemas sociais. Em regra, se
tornaram um peso para sociedade porque com e em nada contribuem.
Muitos tornaram-se especialistas e dão sugestões nos meios de
comunicação, sem que possamos identificar os seus verdadeiros
interesses.
Alguns
dirão que é fácil chegar a estas conclusões depois da catástrofe.
Não deixa de ter um quê de verdade. No entanto, algumas
considerações devem ser feitas.
1)
em primeiro lugar, a teoria dos mercados racionais e perfeitos é
apenas uma versão mais atual da teoria da mão invisível de Adam
Smith e da lei de Say, criticada por Marx em meados do século XIX e
por Keynes e Kalecki na década de 1930;
2)
os teóricos que fracassaram e reeditaram a teoria da mão invisível,
de outra forma, mais sofisticada, com a palavra racionalidade em
destaque, eram os gênios incontestáveis e por isso deveriam se
preocupar em teorizar de acordo com a realidade, pesquisando o
extenso material e as evidências que se encontravam à disposição;
3)
preferiram ignorar, por conveniência ou não, o trabalho de outros
importantes autores por questões simplesmente ideológicas, o que
não condiz com um comportamento científico, como pretendiam;
4)
não me propus a ser um pesquisador, cientista, conselheiro ou coisa
que o valha e nem fui remunerado para tal. Era de se esperar mais
desses gênios, que quiseram moldar o mundo às suas maneiras e no
final não trouxeram as contribuições que "prometeram";
5)
a fragilidade da teoria do Prof. Fama independe da crise de 2008.
Outrossim, nunca fui aficionado pelo mercado financeiro. Até
recentemente as suas proposições não me diziam respeito e não
tinham qualquer importância, por que, infelizmente, o foco era
outro;
6)
na realidade, nós, simples mortais, temos a tendência de nos
retrairmos diante dos absurdos ditos pelos gênios, ou por aqueles
que assim se autointitulam, apoiados pela mídia e órgãos de poder;
7)
os gênios também falham, inclusive por falta de sensibilidade, por
ganância e soberba, e esta é a grande lição que devemos tirar.
Por outro lado, existem outros gênios que não têm aptidões
matemáticas, mas são dotados de humildade, sensibilidade, coerência
e bom senso para lidar com os assuntos sociais. E existem outros que
também sabem manipular os modelos e que não são adeptos de seu uso
indiscriminado. Porque não foram ouvidos e sim "ridicularizados"?
Essa é a questão.
Diante
destes fatos, prefiro deduzir, sem apontar os dedos, que:
1)
alguns foram intelectualmente desonestos e buscavam o estrelato a
qualquer custo, mesmo contribuindo para o surgimento de grandes
problemas sociais;
2)
outros adquiriram o germe da soberba, acreditavam que eram gênios e
por isso não deveriam se preocupar com outras opiniões. O que, na
verdade, não é nada bom para quem pretende ser cientista;
3)
haviam aqueles que simplesmente não se interessavam pela busca da
verdade, porque os ventos sopravam a seu favor;
4)
por último, existem os gênios incorrigíveis, que são aqueles
viciados nas suas próprias teorias e não admitem contestação e,
portanto, não possuem capacidade de discernimento. Vivem no mundo da
lua e a realidade não lhes diz respeito.
Termino
este texto com um "conselho" do investidor Warren Buffett:
" cuidado com a mistura nerds e números", citado em Mentes
brilhantes ......., p.374.
BIBLIOGRAFIA
BÁSICA
1)
Eichengreen, Barry, A globalização do capital. Ed. 34, 2002;
2)
Fox, Justin,
O mito dos mercados racionais,
ed. Best Business, 2010;
3)
Patterson, Scott, Mentes
brilhantes, rombos bilionários,
ed. Best Business, 2012;
4)
Santana, Ivan, 1929,
ed. Objetiva, 2014;
5) Japiassú, Hilton:
- Como nasceu a ciência moderna, Imago, 2007;
- A crise das ciências humanas, Cortez Ed., 2012;
- O mito da neutralidade científica, Imago, 1975.
5) Japiassú, Hilton:
- Como nasceu a ciência moderna, Imago, 2007;
- A crise das ciências humanas, Cortez Ed., 2012;
- O mito da neutralidade científica, Imago, 1975.
BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
1)
Crescenzio, Bernard DI, Crise de energia ou crise política,
ed.Estampa, 1974;
2) Bauman, Zygmunt e Bordoni, Carlo, em Estado em crise, Zahar, 2016;
2) Bauman, Zygmunt e Bordoni, Carlo, em Estado em crise, Zahar, 2016;
3)
Eichengreen, Barry, A globalização do capital, , Ed. 34, 2002;
4)
Kindleberger, Charles P, Manias, Pãnico e crashes, Ed. Nova
Fronteira, 3ª ed, 1996;
5)
Krugman, Paul, A crise de 2008 e a economia da depressão, Elsevier
Ed., 2009;
6)
Lewis Michael:
-
Pânico, Ed. Elsevier, 2010;
-
A jogada do século, Best Business, 2011;
-
Bumerangue, Ed. Sextante, 2011;
-
Flash boys, Ed. Intrínseca, 2014;
- A queda de Wall Street, Ed. Lua de papel, 3ª edição, 2016;
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7)
McDonald Lawrence G. & Robinson Patrícia, Uma colossal falta de
bom senso, Ed. Record, 2009;
8)
Mello, Pedro C. de & Spolador Humberto, Crises financeiras, Ed.
Saint Paul, 2010;
9)
Rajan, Raghuram G., Linhas de falha, Bei, 2011;
10)
Roubini, Nouriel e Mihm, Stephen, A economia das crises, Ed.
Intrínseca, 2010;
11)
Singer, Paul, Para entender o mundo financeiro, Ed. Contexto, 2000;
13) Soares, Antônio Goucha, EURO e se a Alemanha sair primeiro? ,Círculo-leitores, Lisboa, maio 2016;
14) Soros, George, A crise atual e o que ela significa, Ed. Agir, 2008;
14) Soros, George, A crise atual e o que ela significa, Ed. Agir, 2008;
15)
Stewart, James B, Wall Street, Covil de ladrões, Ed. BertrandBrasil,
2ª ed, 1993;
16)
Stiglitz, Joseph E:
-
O mundo em queda livre, Companhia das Letras, 2010;
-
Os exuberantes anos 90, Companhia das Letras, 2003;
17)
Womack, James P., Jones Daniel T., & Roos Daniel, em A máquina
que mudou o mundo, Ed. Campus, 2ª ed., 1992, p. 33).
REPORTAGENS
E ARTIGOS
Jornal
"O Globo":
-
Bloomberg News, caderno de Economia, 27/12/2014;
-
Bloomberg News, caderno de Economia, 22/12/2014;
-
Caderno de Economia, Efeito da crise, reportagem de Vivian Oswald,
p.19/20;
-
Miriam Leitão, 19/12/2014;
Michael
Kalecki um pioneiro ..... , economidiando.blogspot.com;
Plano
Marshall, pt.wikipedia.org/wiki;
Milton
Friedman,
pt.wikipedia.org/wiki;
Profundidade:
PETRÓLEO, veja.abril.com.br/idade,
13/06/2007;
Um
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21/11/2006;
A
busca, ;
Previsão
de inflação, juros e câmbio em 2014, ;
Brasil
500, users.matrix.com.br;
Profecias
desmentidas - EB - cleofas.com.br;
-
Direito, Economia e Mercados Racionais ( Uma crítica aos economistas
racionais);
-
A crise de 2008 e as informações assimétricas, "Quem são os
responsáveis pela crise";
15
frases de Warren Buffett, EXAME.com, exame.abril.com.br.
Registrado no MEC, 01/2015
Manuel
Elisio Frota Neto
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