quarta-feira, 30 de junho de 2021

INFORMAÇÕES ASSIMÉTRICAS E CRISE - SOB UMA PERSPECTIVA KEYNESIANA-MINSKYANA

                                                                                                          Igac Ref: SIGAC/2021/2442

                            INFORMAÇÕES ASSIMÉTRICAS E CRISE

          (As Is. As. sob uma perspectiva keynesiana-minskyana)


Não deixa de ser verdade que desde o instante em que o economista Joseph Stiglitz foi agraciado com o Prêmio Nobel pela sua contribuição sobre as "informações assimétricas", estas passaram a ser o lema para entender as crises, saudadas como uma grande inovação e não, apenas, como mais uma tentativa de contribuição, que viria negar um dos axiomas da economia clássica. 

Este artigo visa dar uma contribuição para um melhor esclarecimento desta questão, procurando colocá-la em sintonia com os demais fatores que determinam as crises, evitando, desta forma, que os desvios em relação à teoria keynesiana, que em minha opinião, juntamente com os esclarecimentos de Minsky, ainda é um guia fundamental para o entendimento das crises da economia capitalista.

E isto é, de certa forma, muito importante para que não ocorram desvios que impossibilitam um melhor entendimento das "leis" que regem a economia capitalista. 

Esse texto não deixa de ser um complemento, com uma análise mais específica, sobre o tema de um outro artigo que postei neste blog, em junho de 2015, denominado "As informações assimétricas e a crise de 2008". 

Para uma melhor avaliação, seria conveniente que os leitores complementassem este texto com outros dois artigos postados também neste blog, sobre o monetarismo de Friedman e o seguinte sobre Keynes. 

Será escrito como artigo porque me dá mais liberdade de ir colocando as ideias conforme vão aparecendo, sem uma preocupação em ordená-las, com subtítulos, embora este procedimento possa trazer também inconveniências para os leitores. Mas, procurei dar uma sequência lógica, evitando desvios. 

A economia clássica estabeleceu em seu modelo abstrato as condições "necessárias" e hipotéticas para que os mercados se tornassem eficientes, atuando em situação de equilíbrio, utilização "ótima" dos fatores de produção, sem crises. Entre elas encontram-se a concorrência perfeita, a disponibilidade de informações e as qualidades do homo economicus.  

No artigo sobre o monetarismo de Friedman já abordei a questão do "homo economicus" no contexto da economia clássica. 

O economista Joseph Stiglitz foi agraciado com o Prêmio Nobel de economia com uma tese sobre a importância das informações assimétricas para as crises. 

Num primeiro momento, podemos observar que a sua teoria tem como objetivo negar uma hipótese da economia clássica, disponibilidade de informações, aprofundando a análise, para tirar as conclusões sobre a repercussão na economia em caso de falibilidade desta disponibilidade. 

De acordo com as suas palavras:

"Um dos grandes intelectuais de meados do século XX (por Gerard Debreu, da Universidade da Califórnia, e Kenneth Arrow, ambos ganhadores do Prêmio Nobel por esse trabalho) foi estabelecer as condições sob as quais a "mão invisível" de Adam Smith funciona. Entre elas, havia um grande número de condições não realistas, tais como a necessidade de que a informação fosse perfeita, ou pelo menos não fosse afetada pelo que acontecia na economia, e que, se alguém tivesse uma informação, outros teriam a mesma informação; que a competição fosse perfeita; e que fosse possível comprar proteção contra qualquer risco possível.", grifei. 

"Minha pesquisa, e as de outros estudiosos, sobre as consequências das informações imperfeitas e assimétricas (quando indivíduos diferentes sabem coisas diferentes), durante o último quarto do século, mostrou que um dos motivos pelos quais a mão invisível pode ser invisível é que ela simplesmente não existe.", em "Os exuberantes anos 90", p. 42, itálico meu.     

"As práticas contábeis ruins propiciavam informações ruins e parte da exuberância irracional baseava-se nessa má informação.", idem p. 39.

Os economistas críticos dos mercados perfeitos e suas hipóteses nunca levaram adiante o problema da indisponibilidade das informações, situação esta já bastante disseminada na prática da inside information e outras práticas lesivas conhecidas pelos operadores, e suas críticas se concentraram mais na hipótese da concorrência perfeita.

Realmente foi um mérito do economista Stiglitz aprofundar sua pesquisa nesta questão, contribuindo para colocar em xeque, mais uma vez, a ideologia dos mercados perfeitos, sob um novo enfoque. 

Mishkin nos dá um conceito de informação assimétrica:

"se a informação é assimetricamente distribuída, uma das partes contratantes tem conhecimento insuficiente (para tomar decisões precisas) sobre a outra parte envolvida em uma transação - a existência de informação assimétrica é um aspecto importante sobre a compreensão sobre o funcionamento dos mercados financeiros. [...] A presença de informação assimétrica leva a problemas de seleção adversa e risco moral, que foram apontados no Capítulo 2.", em "Moedas, bancos e mercados financeiros", Frederic S. Mishkin,  p. 124 e 414. 

Muito embora os autores não comentem, a mais corriqueira e difundida prática de informações assimétricas é a "inside information" (trading), ou o uso de informações privilegiadas, mormente nos mercados financeiros, ou seja:

"uso de informações privilegiadas é a negociação de valores mobiliários que ainda não são do conhecimento público, com objetivo de auferir lucro ou vantagem no mercado", em Insider Trading, Wikipédia. 

Geralmente, os beneficiários são diretores, gerentes de empresas e instituições financeiras, além de políticos e pessoas enfronhadas e bem informadas sobre o cotidiano do mercado financeiro, incluindo o "jornalismo mercenário" (Kindleberger &Aliber, p. 178) e think tanks. Dizia-se que, em décadas passadas, alguns diretores da Petrobrás compravam ações da empresa antes de anunciarem ao público as descobertas de novas jazidas, realizando lucros em decorrência da defasagem das informações disponibilizadas:

"Avisar amigos antes de recomendar uma ação para o mundo todo em uma coluna de investimentos pode ser um truque antigo, porém é mais facilmente detectável atualmente, além de todas as compras e vendas de ações baseadas em informações privilegiadas. [...] A técnica levou Wall Street Journal, que dava suas dicas antecipadamente para um amigo, e do ex-subsecretário da defesa Thayer ...", Kindleberger & Aliber, p. 189.

Esta prática bastante disseminada nos mercados financeiros e que, desde tempos imemoriáveis, sempre os acompanharam é proibida e penalizada pelas instituições reguladoras dos mercados financeiros, no Brasil trata-se da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Além disso, diversos tipos de complôs que visam manipular os preços das ações e demais valores mobiliários. 

Kindleberger & Aliber no Capítulo 7, "Bernie Madoff: fraudes, golpes e o ciclo do crédito", nos trazem alguns exemplos de práticas "condenáveis".

Permitam-me: 

"Muito da corrupção nos mercados financeiros envolve interpretação incorreta dos valores de títulos, investimentos e taxa de lucro, além do roubo de informações e os esforços dos outsiders em obter dados dos insiders antes que a informação chegue ao público.", grifei, p.146.

"O roubo de informações e o insider trading": 

"Informações são valiosas, uma vez que mudam os preços relativos. Depois da Segunda Guerra Mundial, diversos congressistas dos Estados Unidos ficaram ricos - ou pelo menos mais ricos - porque haviam comprado terras próximas aos locais onde seriam construídos novos acessos do Sistema Rodoviário Interestadual. Informações sobre o tamanho da colheita de trigo - na verdade, projeções da informação - levam a mudanças nos preços do trigo; assim, era valioso ter acesso a estas projeções antes que elas se tornassem publicamente disponíveis.", p. 148.

"Golpes, comportamento fraudulento, desfalques e falcatruas elaboradas são parte da vida nas economias de mercado, mais em alguns países do que em outros. Em muitos dos desfalques, há fornecimento de informações enganosas sobre estoque e lucros.", p. 150. 

A prática de inflar balanços, antecipando lucros, foi utilizada pela Enron, considerada a 7ª empresa dos Estados Unidos e uma das empresas mais inovadoras, segundo a revista Fortune. As fraudes envolviam a empresa de auditoria Arthur Andersen.

Os leitores interessados nos diversos golpes e fraudes descobertos, ao longo da história, poderão consultar o referido livro. Mas, aqui nos interessa uma outra questão, qual seja, os momentos mais propícios para que estes comportamentos ocorram:

"Ela (o autor se refere à corrupção) aumenta de modo pró-cíclico da mesma maneira que o suprimento do crédito.", Kindleberger & Aliber, p. 147.

"O comportamento fraudulento aumenta durante booms econômicos.", idem, p. 172. 

"Os golpes aumentam durante os booms econômicos porque a ganância parece crescer mais rapidamente que a riqueza.", idem, p. 173. 

"Conforme os booms econômicos  prosseguem, a  cobiça se acumula e as desculpas ficam mais esfarrapadas, mas se tornam frágeis como bolhas de sabão.", idem, p. 175.

Colocando a questão sob um outro aspecto, o que nos interessa é saber se as informações assimétricas são, por si mesmas, tão importantes para desencadear crises ou se estão inseridas em outras situações mais abrangentes, num determinado momento da economia, que detonam as crises. Que se diga que a partir do momento em que as informações assimétricas foram reveladas e confirmadas ela substituiu outras versões das crises, inclusive o enfoque keynesiano. 

Passaram a ser consideradas como o fator mais importante para gerar as crises econômicas e até mesmo justificar a insuficiência de demanda. 

No artigo "A crise de 2008 e as informações assimétricas", publicado neste blog em 11 de junho de 2015, já chamava atenção para este aspecto, com raciocínio inverso, mostrando que as informações se inserem num contexto bem maior do que elas mesmas, e dizia: 

"É simplesmente uma ilusão acreditar que as informações em si veiculadas e não represadas criam possibilidades e oportunidades de negócios idênticas para todos os agentes econômicos. Os mercados são segmentados e não homogêneos; daí cada informação em particular ser "recepcionada" e interpretada de forma diferente por cada ramo de atividade (mercado)". 

"Por isso que as informações em si, por mais importantes que sejam para a economia, em nada eliminam os riscos de crise em uma sociedade capitalista, como pretendem. [...] Somos bombardeados diariamente com tantas informações. Difícil é selecioná-las e interpretá-las e decidir o que fazer com elas. Somente para alguns ramos específicos elas são relevantes. E muitas informações são manipuladas por enormes organizações, principalmente no mercado financeiro".

"Portanto, todas as informações são assimétricas não só pela falta de divulgação mas também pela maneira de percebê-las, interpretá-las e pô-las em prática".  

"Na realidade, poderíamos dizer que na recente crise as informações assimétricas foram irrelevantes. Existia, sim, informações plantadas, "oba-oba" e uma teoria econômica respaldada por ilustres teóricos, empresários, principalmente dos "media", através de seus porta-vozes, políticos e até mesmo empresários milionários do ramo financeiro, atuando dentro do governo em benefícios próprios e em função desta ideologia (no caso, mercados perfeitos). Ou seja, existia pura especulação.

O setor imobiliário era o carro chefe. Construtores, produtores, vendedores, compradores, consumidores e o setor financeiro atuavam freneticamente, sem necessariamente, saberem o que vendiam, compravam e emprestavam. Possibilidades de ganhos, até mesmo as mais ilusórias, eram suficientes para turbinar os negócios. As inovações financeiras, respaldadas por modelos econométricos sofisticadíssimos, estavam de vento em popa e cumpriam as suas funções em justificar e garantir os fundamentos teóricos e a especulação.

A desregulamentação e a securitização se alastravam com o fundamento de que os riscos estavam "racionalmente" diluídos e, por isso, não havia possibilidades de crise. Tudo estava sob controle porque, os gênios das finanças eram extremamente racionais. Os modelos serviam para cobrir com uma manta científica as decisões, alijando os simples mortais, incapazes de entender os mistérios das finanças e da complexidade matemática. Todos surfavam e desejavam surfar na onda da especulação. Todos atuavam racionalmente, mas com alma de especulador. Vendiam-se informações sem interesse em saber se eram falsas ou não, com ou sem interesse (acrescento: manifesto). Nenhuma das pontas (construtores, financistas, consumidores, produtores, vendedores, compradores) sabia e nem queria saber realmente o que vendiam, compravam e financiavam. Vendia-se e comprava-se de tudo sem se importarem com as consequências". 

O momento especulativo era respaldado pelos economistas e intelectuais de universidades partidários da teoria dos mercados perfeitos, que não admitiam crises, pelos "media", pelos think tanks, por empresários poderosos, principalmente do setor financeiro, por membros do governo e políticos, que saudavam a farra, como inerentes às virtudes do capitalismo americano. 

E acredito que não chega ao absurdo concluir que nesses momentos de especulação as informações falsas, plantadas, o convencimento de crédulos com base nos esclarecimentos de acadêmicos e intelectuais, as notícias de analistas nos "media", enfim a manipulação dos mercados em todos os sentidos e possibilidades, sejam bem mais danosas, que as próprias informações assimétricas. As Is. As. seriam apenas mais um quesito inserido nos demais fatores especulativos sem relevância diante destes, porque estariam inseridas na intenção maior de manipular, burlar, ludibriar para tirar proveito e enganar alguém (fraude), podendo chegar ao dolo quando se usa de esquemas com clara intenção de prejudicar outrem:

"Derivado do latim fraus, fraudis (engano, má-fé, logro), entende-se geralmente como o engano malicioso ou ação astuciosa, promovidos de má-fé, para ocultação da verdade ou fuga ao cumprimento do dever.", (em "Vocabulário Jurídico", de Plácido e Silva, 9ª ed. Forense). 

"Do latim dolus (artifício, manha, esperteza, velhacaria), na terminologia jurídica, é empregado para indicar toda espécie de artifício, engano, ou manejo, com a intenção de induzir outrem à prática de ato jurídico, em prejuízo deste e proveito próprio ou de terceiro.", (idem). 

"O dolo consiste em manobras ou maquinações efetuadas com o propósito de obter uma declaração de vontade que não emitida se o declarante não fosse enganado.", (Tepedino, Gustavo & Barbosa, Heloisa & Moraes, Maria Helena de, "Código Civil interpretado" Renovar, vol. I, 2004). 

O artigo 145 do CC/2002  disciplina especificamente o dolo:

"São os negócios jurídicos anuláveis por dolo quando esta for a sua causa". 

Devendo-se ressaltar que os negócios jurídicos deverão ser permeados pelo princípio da boa-fé, objetiva conforme a jurisprudência e a doutrina, de acordo no disposto no ar. 113, do citado diploma legal, em prol da segurança jurídica:

"Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração".

Conforme a doutrina e a jurisprudência o novo C/C afasta o princípio do boa-fé subjetiva e adota o princípio da boa fé objetiva. 

Por sua vez o Código Penal trata especificamente do assunto no seu artigo 171 e incisos, Capítulo V - Da Apropriação Indébita:  

"Estelionato art. 171. Obter para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: (1) Pena ...". 

Comentários:

"Agora, quando a vítima está equivocada e o agente mantém a vítima em erro, é aplicado o estelionato fraude para manter a vítima em erro", Comentário de Flávio Olimpio Azevêdo, em Código Penal Comentado, www. direitocom.com/código-penal-comentado.

Além do princípio da "boa fé objetiva" os princípios da "equivalência negocial" e da "função social do contrato", previstos tanto no Novo Código Civil (artigos 157, 317, 318, 421, 479) quanto na Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), amparados pelo princípio constitucional da solidariedade, consolidam o substrato da eticidade para a formação de uma sociedade "livre, justa e solidária", de acordo com o que dispõe a nossa Constituição cidadã, em seu artigo 3º, inciso I e com amparo em diversos artigos constitucionais, dentre os quais se destacam os artigos 182 e 186 (função social do contrato e da propriedade). 

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa por premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta", (negritos meus). 

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 

Em comentários ao artigo 157, do C/C 2002, Tepedino esclarece: 

"Como defeito do negócio jurídico, a lesão contratual é a desproporção existente entre as prestações de um contrato, verificada no momento da realização do negócio, havendo para uma das partes um aproveitamento indevido decorrente da situação de inferioridade da outra. 

A consagração do instituto da lesão no CC é informada pelos princípios da boa fé objetiva e do equilíbrio econômico das prestações, e mitiga o princípio da força obrigatória dos contratos". 

E segue em relação ao artigo 421:

"A boa-fé objetiva atua preponderantemente sobre a autonomia privada. O equilíbrio econômico da relação contratual, por sua vez, altera substancialmente a força obrigatória dos pactos, dando ensejo a institutos como a lesão (art. 157), a revisão e a resolução por excessiva onerosidade (arts. 317, 478 e 479, Código Civil). E a função social, a seu turno, subverte o princípio da relatividade, impondo efeitos contratuais que extrapolam a avença negocial". 

Em comentários ao Código de Defesa do Consumidor, Tarture & Daniel Amorim esclarecem:

"Como já foi destacado em outras obras, a função social dos contratos constitui um princípio contratual de ordem pública - conforme consta do art. 2.035, parágrafo único, CC 2002 -, pelo que o contrato deve ser, necessariamente, interpretado e visualizado de acordo com o contexto da sociedade. [...] O sentido do último comando é o de que a finalidade coletiva dos negócios representa clara limitação ao exercício da autonomia privada no campo contratual", em "Manual de direito do consumidor", 2ª ed.,2013, Ed. Método, pgs 46/7.   

Os partidários dos MP (mercados perfeitos) especularam e ensaiaram uma "versão" atribuindo responsabilidades iguais pela crise a todos agentes que participaram do processo especulativo, fossem eles empresários, financistas, grandes especuladores, membros do governo, intelectuais e think tanks, que estavam em posições privilegiadas de usufruir da desordem especulativa e auferir grandes lucros, e os simples tomadores de empréstimos, crédulos, que almejavam o sonho da casa própria, não tinham discernimento para um melhor entendimento do que se passava e eram facilmente "convencidos" a assumir os riscos dos empréstimos. Por isto, sempre foram os elos mais fracos da cadeia especulativa.  

Infelizmente, estes intelectuais, economistas, não conseguem enxergar que as regras econômicas, estabelecidas segundo o dogma do homo economicus, encontram limites nos contextos sociais; e, por decorrência, suas leis e prescrições encontram-se defasadas e atrasadas em relação a diversos outros ramos das "ciências" sociais e em total desarmonia com as necessidades das sociedades atuais. Sobre o assunto consultar "Direito, economia e mercados racionais", julho/2014, neste blog. 

E o corporativismo que vigora entre catedráticos e doutores em economia, mormente na sociedade americana, faz com que as críticas a seus pares sejam sempre amenas. 

Ainda, no tópico "Os responsáveis pela crise de 2008", do mencionado artigo, afirmei:

"Querer atribuir responsabilidades igualitárias a todos é mascarar uma situação, fazer vista grossa, ignorar as diferenças sociais, tirar a responsabilidade daqueles que se incubem da condução e direção das decisões econômicas e políticas a quem, pressupõe-se, caberem zelar pelo "bem" e o Estado saudável da economia. Esta responsabilidade recai igualmente sobre os ombros daqueles arquitetos e defensores da ideologia dos mercados racionais e perfeitos que, de certa forma, contribuíram indiretamente para alastrar este dogma e que estavam em condições de influir e usufruir das decisões políticas/econômicas, independentemente de seus interesses mais nobres e estritamente particulares".    

Tudo se passa como que os intelectuais não tenham responsabilidades pelas suas ideias porque as pessoas são livres para escolher, optar. Mas, infelizmente, as ideais não ficam restritas aos seus próprios círculos de onde emanam; extravasam para os demais setores da sociedade através de lobbies e outros mecanismos de divulgação e convencimento, do qual o mundo dos intelectuais participa, e, neste particular, se equipara a todos os demais setores competitivos. Sem exagero, pode-se afirmar que "trata-se de uma guerra de ideias", um "vale tudo", porque as ideias dão poder. 

É o próprio Stiglitz quem nos fornece um breve e tímido comentário sobre as responsabilidades:

"Ninguém - nem mesmo o presidente, ou secretário do Tesouro, ou o presidente do FED - pode ser responsabilizado por essa exuberância irracional: mas pode ser responsabilizado por não se ocupar com as consequências e, em alguns casos, por alimentar o frenesi." (em "Os exuberantes anos 90", p. 39). 

Embora o autor não especifique a carapuça cai na cabeça de Greenspan, partidário da Teoria dos Mercados Perfeitos, cuja política econômica se resumia sempre em aumentar a liquidez do mercado a qualquer custo. Mas, o que dizer do secretário do Tesouro, Henry Paulson? Ex-presidente do Goldman Sachs, o banco mais politicamente engajado em todos os governos americanos, também partidário da mesma teoria. Isto nos diz muito sobre a história do capitalismo americano, os grandes beneficiários e o controle do poder. E de Milton Friedman e seus seguidores que ocuparam e continuam a ocupar cargos importantes nos governos e ajudaram a disseminar uma teoria já totalmente desacreditada?    

Por outro lado, é importante que se diga que a "teoria" das informações assimétricas não encontra guarida nas concepções de Minsky, que trata das fragilidades, inconsistências, vulnerabilidades e instabilidades do sistema financeiro e a sua importância para as crises e seus agravamentos.  

Para Minsky, a instabilidade do sistema financeiro é inerente ao próprio sistema, ocorre no seu interior, é endógena, em decorrência de suas próprias contradições, de decisões particulares que se contrapõem e concorrem entre si, gerando um excesso de alavancagem nos momentos ascendentes dos ciclos, em que os ativos encontram-se inflados, agravando-se na procura de "desalavancagem", por parte dos devedores. 

Segundo Krugman:

"Assim que os níveis de endividamento são suficientemente elevados, qualquer coisa pode desencadear o momento Minsky: uma recessão vulgar, a explosão de uma bolha imobiliária, etc. A causa imediata praticamente não tem importância; o que é importante é que os financiadores redescobrem os riscos do endividamento, os devedores veem-se obrigados a começar o processo de desendividamento e a espiral endividamento-deflação referida por Fisher se inicia.", (em "Acabem com esta crise", 5ª edição, Editorial Presença, p. 61). 

Estas "percepções" (redescobertas e obrigações) não são necessariamente concomitantes e podem surgir primeiro em qualquer um dos polos (financiadores, devedores), como, por exemplo, dificuldades e incumprimentos por parte dos tomadores de empréstimos, arrastando o outro para um processo descendente que se auto-realimenta. 

Para reforçar os meus argumentos sobre a questão da importância ou não das informações assimétricas para o desabrochar das crises econômicas encontrei este comentário: 

"Vale ressaltar contudo que tal, como na Teoria Geral, para Minsky tais resultados não derivam das imperfeições dos mercados na forma de rigidez, assimetria de informação ou outros impeditivos friccionais ao ótimo paretiano; encontram-se porém entranhados na própria natureza necessariamente especulativa da tomada de decisões sob incerteza forte.", ( p. 21 de 30, em "O pensamento de Minsky; alterações de percurso e atualidade", Lourenço, André Luiz). 

Esclareço aos leitores que a "forma de rigidez" dos mercados a que o autor alude está associada à concepção clássica, bastante difundida, de que as crises ocorrem por inflexibilidade dos salários para baixo, assunto este descartado e esclarecido por Keynes em sua Teoria Geral, com destaque para a insuficiência de "demanda efetiva", conforme exposto em artigo publicado neste site. 

No entanto, não deveríamos depositar demasiada ênfase na questão sobre "tomada de decisões sob incerteza forte" do risco como fator importante para o desencadeamento de uma crise, porque a incerteza faz parte da vida. Assim, ao colocarmos o foco nesta questão, nos afastamos da peculiaridade do sistema capitalista. 

Em que pesem a importância dos comentários acima esboçados pelos ilustres economistas, não seria uma elucubração procurar um ponto de convergência entre as concepções de Keynes e Minsky considerando que este autor é reconhecidamente um keynesiano. Mesmo que os seus respectivos enfoques sejam para setores diferentes da economia (financeiro e produtivo), cabe procurar ou especular sobre este ponto. 

Neste sentido, podemos admitir que uma crise pode ser deflagrada em qualquer dos setores, com repercussões inevitáveis sobre o outro, num processo que se reforça e se realimenta. Krugman chama a atenção para uma "recessão vulgar" e a explosão de "bolha imobiliária", sem especificar quais os setores desencadearam a recessão, mas sem descartar outras hipóteses, não mencionadas. 

Portanto, presume-se ser viável que o início da crise possa ocorrer no próprio sistema financeiro, através de uma corrida aos bancos, um pânico, falência de um grande banco ou outros motivos financeiros, incluindo os associados à especulação.  

 Kindleberger & Aliber comentam:

"No pânico de 1907, a expansão preparatória envolveu e Nova York e seu empréstimo de quantias desconhecidas de bancos de fora da cidade, juntamente com Londres e seus grandes empréstimos dos bancos de Nova York - uma combinação de dois dos métodos de expansão discutidos anteriormente, se igualarmos bancos de fora de Nova York fazendo empréstimos na cidade ao padrão ouro.", (p. 104, em "Manias, pânicos e crises", Ed. Saraiva, 6ª ed.). 

"A especulação alimentada pelo crédito era frequente: houve empreendimentos fictícios e um truste da indústria do aço que usava fundos ostensivamente emprestados para investimentos reais a fim de especular com seus próprios títulos. Eram pagos altos dividendos com o dinheiro dos empréstimos para estimular os interesses dos investidores, e as dificuldades começaram em maio de 1905 com o colapso de muitas novas companhias;" (idem, capítulo 8, item 8.7 - "O ano de 1907", p. 206). 

Ainda, segundo o artigo "Pânico financeiro de 1907", em pt.wikipedia.org>wiki, o pânico teve início com um esquema especulativo de "manipulação de ações para encurralar o mercado na United Copper Company", denominado short squeeze. (Sobre o assunto consultar também o artigo "Comentários ao monetarismo de Friedman - fundamentos e contradições -", postados neste blog em abril/2021).    

Se o crédito é o combustível que alimenta a alta dos ativos, a sua escassez torna-se a deflação, que empurra para baixo os preços dos ativos. 

Reinhart & Rogoff comentam sobre esta possibilidade:

"As crises financeiras raramente ocorrem num vácuo. São mais os casos em que uma crise financeira começa apenas depois de um choque real ter abrandado o crescimento econômico. Assim, funcionam mais como um amplificador do que como gatilho. [...] De fato, em 2007, apesar de o crescimento nos EUA ter abrandado, estava nessa altura mais em linha com o padrão de uma recessão mais suave da média de todas as crises.", em "Desta vez é diferente", p. 233. 

"Um país que está a passar por uma crise de taxa de câmbio pode em breve dar por si numa crise bancária e numa crise de inflação, seguindo-se por vezes incumprimentos internos e externos. As crises transmitem-se também, por contágios ou fatores comuns, como discutimos no capítulo anterior.", idem, p. 263. 

Ao que tudo indica, pelas suas próprias características, os contágios se disseminam basicamente através setor financeiro. 

Mas, tanto estes autores quanto Kindlenerger & Aliber afirmam que a crise de 2007/8 foi financeira. Os autores esclarecem:

"As bolhas são o resultado de um crescimento do crédito muito grande para ser sustentável; quando esse crescimento desacelera, os preços de alguns ativos começam a cair. [...] O grande aumento nos preços das propriedades foi resulta da pronta disponibilidade de crédito hipotecário e levou um boom na construção de novas casas e condomínios", (Kindleberger & Aliber, p. 320). 

"Uma consequência da securitização foi o aumento de dinheiro disponível para hipotecas, porque esses títulos relacionados eram mais líquidos do que as hipotecas individualmente, e as taxas de juros sobre elas correspondentemente menores a elas. [...] Além disso, havia substanciais inovações nos adiantamentos mínimos necessários para alguns compradores e nos pagamentos de juros - ... Além disso, muitas tinham "taxas de juros isca" - as taxas de juros previstas para os primeiros dois ou três anos eram excepcionalmente baixas...".  

"O novo convívio era um convite a fraude no processo de criação de hipotecas, e parte desta vinha pelos tomadores de empréstimos, que forneciam informações incompletas ou enganosas sobre suas rendas, ativos e históricos de crédito (o que era conhecido como "empréstimo mentiroso"). Uma parte das falcatruas vinha dos corretores de hipotecas, que encorajavam proprietários de imóveis a assumir dívidas extremamente altas em relação às suas rendas. Alguns desses corretores não se preocupavam com a capacidade dos tomadores de empréstimos em pagar a dívida porque o risco de crédito seria transferido para outras pessoas ... ", (idem pgs. 321/2).

Ou seja, todos os ingredientes e sintomas de uma bolha.  No entanto, o estouro da bolha se deu por diversos motivos, dentre os quais, não podemos descartar também, as consequências nefastas das engenharias financeiras, que no médio prazo inviabilizavam os pagamentos de juros e amortizações pelos compradores de imóveis; parcelas estas que eram estabelecidas inicialmente com períodos de carência e postergadas, e, posteriormente, reescalonadas para um futuro "qualquer", sabendo-se de antemão que os tomadores não poderiam arcar com os pagamentos dos juros e amortizações no futuro. Em outras palavras, sabia-se que os empréstimos estavam sendo efetuados para tomadores com elevado risco de incumprimento, sem garantias adequadas, denominados subprime. 

A engenharia financeira disfarçava o problema básico, com o chamariz da carência e da postergação, cujos pagamentos posteriores seriam garantidos pela expectativa (a certeza, para os corretores) sempre otimista de aumento dos imóveis e novos reescalonamentos; e os nerds e intelectuais tratavam de convencer a todos da impossibilidade de crise, em razão da diluição dos riscos, apoiados em modelos ultrassofisticados. Era apenas uma questão de tempo para que a realidade sobrepujasse a fantasia e os problemas surgissem. 

Diante destes comentários pergunta-se: qual a importância das informações assimétricas nesse contexto? Seriam elas tão ou mais importantes que todos estes "ingredientes" altamente tóxicos ou seriam elas apenas mais um fator associado aos demais, mas sem qualquer importância substancial?  

Outrossim, estes autores citados comentam e citam crises  em economias abertas, o que em princípio foge ao nosso escopo, estando fora dos contextos keynesiano e, inicialmente, minskyano. Portanto, não podemos deixar de ressaltar e identificar que o "cerne" da problemática encontra-se inicialmente em desvendar as próprias leis que regem as relações de produção, sendo estas essencialmente de caráter "endógeno", para uma economia fechada. Em outras palavras, não podemos descobrir as leis que regem a economia capitalista partindo das suas relações externas. 

Mas, devemos salientar que as relações externas não anulam as leis endógenas do sistema de produção de uma economia supostamente fechada; pelo contrário, aumentam o grau de complexidade, favorecendo o surgimento de novas situações instáveis, que não existiam numa economia fechada; pois passa-se a ter diversas economias sujeitas às mesmas tendências instáveis, com atividades que se entrelaçam, criando novas situações complexas, frágeis e instáveis, que possibilitam disseminar o pânico, a uma escala mais alargada, através do contágio. 

Cito Kindleberger & Aliber, apenas para esclarecimentos aos leitores:

"Assim como a água corre ladeira abaixo, o dinheiro flui através das fronteiras internacionais na direção das maiores taxas de retorno previstas: os aumentos nos preços da ações em um país e no valor de sua moeda atraem dinheiro do exterior. 

Um fator que explica as quatro ondas de bolhas em um período de trinta anos é o surto do pool do dinheiro global como resultado dos grandes desequilíbrios nos balanços de pagamentos que se desenvolveram no final dos anos 1960, continuando durante os anos 1970 e as décadas seguintes. O arranjo de câmbios flutuantes após 1971 também indicou que os preços dos ativos em um país se elevariam em resposta a um aumento nos fluxos de entrada de capitais.", idem p. 227.   

Entretanto, acredito que para uma melhor apreciação das tendências desestabilizadoras da economia "mundial" deveríamos também direcionar os nossos olhos para a Lei das Vantagens Comparativas (LVC) estabelecida por David Ricardo há aproximadamente 200 anos, repetidamente ensinada nas Universidades e cursos de pós-graduação, tema este que foi objeto de diversos artigos e comentários postados neste bloco. E, neste ponto, passaríamos também para uma análise das relações políticas internacionais, notadamente a geopolítica.  

Deixando de lado esta questão estrutural desestabilizadora, uma abertura para o exterior, um desequilíbrio nas transações externas, registradas e "contabilizadas" no Balanço de Pagamentos, irá trazer consequências desestabilizadoras em diversos setores da economia.

E com a desregulamentação dos mercados financeiros globais, ocorrida a partir dos anos 1980, por pressão dos Estados Unidos, os desequilíbrios das contas correntes do BP dos países economicamente mais frágeis ocorrem em função do afluxo desenfreado do capital financeiro, especulativo e sem pouso certo, ao contrário do que ocorria no passado quando o desequilíbrio das contas correntes eram contrabalançados pela conta "Capital" (empréstimos, doações e investimentos diretos).     

Neste sentido, é que um deslocamento acentuado e abundante de capital financeiro para uma economia relativamente frágil provocará alterações em diversos "indicadores" das variáveis econômicas (taxa de câmbio e de juros, desequilíbrio das contas externas, ataque às reservas internacionais) e, consequentemente, com repercussões em diversos setores da economia, com ou por motivações especulativas, mormente no setor imobiliário e commodities, pela abundância do crédito externo fácil. Este capital internalizado poderá ser novamente deslocado para outra região, agora mais suscetível de lucros fáceis, ou por qualquer outro motivo (uma crise no país receptor), com movimentos de saídas abruptas, escasseando o crédito, gerando um arrefecimento da atividade econômica e acentuando os problemas para honrar os créditos externos, conforme ocorreu na crise asiática em 1997/8 e mexicana.

Em outras palavras, muda-se o padrão de acumulação do capital, que passa a ter novas referências, em busca de lucro, com novas possibilidades mais especulativas, mormente na atual fase de grande mobilidade do capital financeiro internacional, com deslocamentos quase instantâneos em escala global.

Ora, qual seria a importância das Is. As. neste novo contexto de relações externas, com uma desregulamentação do capital financeiro, se estas informações já seriam  irrelevantes em uma economia fechada? 

Nos artigos sobre o monetarismo de Friedman e Keynes, postados em 19 e 30 de abril de 2021, comentei sobre o Capítulo 22 da Teoria Geral, "Notas sobre o ciclo econômico", onde Keynes nos mostra que as crises se originam nas insuficiências de demandas (em relação às ofertas), com repercussões baixistas sobre a EMC (eficiência marginal do capital), em total discordância com a lei de Say, que acreditava que a oferta criava a sua própria procura, e, portanto, não haveria crise.  

Ora, é pertinente observarmos que é no momento em que os tomadores de empréstimos se vêm com dificuldades em honrar seus compromissos financeiros, em decorrência da insuficiência da demanda efetiva, que a crise se propaga ao setor financeiro e o crédito escasseia. 

Portanto, um enfoque keynesiano-minskyano deve direcionar os olhos e as mentes para a questão da insuficiência de demanda efetiva, mesmo que admitamos que as crises possam ser deflagradas tanto no setor financeiro, como no setor industrial, por outros motivos diferentes. 


RESUMO

Vimos no artigo "Um breve retorno a Keynes", postado neste blog em 30 de abril de 2021, que para o autor as fases expansivas (booms) da economia contêm os germes da sua contradição, em decorrência, fundamentalmente, da deficiência da demanda agregada, como resultado da negação da lei de Say, que admitia que a oferta criava a sua própria demanda, atualmente renomada de TMP (Teoria dos Mercados Perfeitos). 

Ademais, o referido autor deixa margens para uma interpretação em que as expectativas dos homens de negócio sofram um revés, reduzindo os investimentos, com consequências também sobre a demanda efetiva. 

Ao que tudo indica, estas crises também poderão ser deflagradas em virtude das condições políticas e sociais agravadas, mudanças de perspectivas dos agentes econômicos, principalmente investidores, ou mesmo de choques externos. 

Mas, jamais poderemos esquecer que a teoria keynesiana é no seu núcleo uma crítica a lei de Say, e, por isto, diante desta perspectiva, as causas das crises devem ser "fundamentalmente" procuradas na insuficiência de demanda efetiva. 

E para Minsky é um endividamento excessivo (alavancagem) que ocorre em momentos de aquecimento ou especulativo da economia, que corresponde ao momento ascendente do ciclo; e que a partir de determinado momento, os agentes econômicos se vêm em "situações" de terem de alterar as suas perspectivas ou comportamentos como tomadores e financiadores.

Numa visão simbiótica keynesiana-minskyana podemos identificar este momento (ponto de convergência), basicamente, quando os tomadores de empréstimos se vêm em dificuldades financeiras, em decorrência do aumento de estoques, queda da EMC esperada, que apontam para a insuficiência de demanda efetiva (negação da lei de Say). 

Conforme Keynes:

"Voltemos ao que acontece na crise. Enquanto a expansão se mantinha, a maioria dos novos investimentos propiciava um rendimento corrente não satisfatório. A desilusão chega porque, de repente, surgem dúvidas quanto à confiança que se pode ter no rendimento prospectivo, talvez porque o rendimento atual dê sinais de baixar à medida que o estoque de bens duradouros recentemente produzidos aumentam regularmente. Havendo uma opinião de que os custos de produção são mais elevados do que poderão vir a ser futuramente, esta é mais uma razão para a queda da eficiência marginal do capital.", (p. 288, "Teoria Geral").

"Mas o boom tem como característica essencial o fato de os investimentos que, em condições de pleno emprego, terão um rendimento efetivo de, digamos, 2% serem efetuados na esperança de, digamos, 6% e serem valorizados com base nisso.", idem p. 291/2. 

Em outras palavras é a negação da Lei de Say. E esta conclusão magistral que identifica um momento especulativo:

"O boom que está condenado a terminar numa crise é provocado, portanto, pela combinação de uma taxa de juro que, num estado correto de expectativa, seria demasiado elevada para permitir o pleno emprego, com um estado enganoso da expectativa que, enquanto dura, impede essa taxa de juro de funcionar, de fato, como um fator de dissuasão. O boom é uma situação em que o excesso de otimismo triunfa sobre a taxa de juro que, julgada a sangue-frio, seria considerada elevada demais.", idem p. 292, itálicos meus.  

Outrossim, vimos que na abordagem minskyana não há qualquer espaço para acreditarmos que as Is. As., por si mesmas, sejam capazes de provocar uma crise de grande envergadura, ou, até mesmo, de pouca magnitude, visto estarem inseridas, juntamente com outros fatores, numa situação de boom.

É o próprio Stiglitz que, conscientemente ou traído pelo inconsciente, um simples lapso, depõe contra a sua teoria das informações assimétricas, conforme consta do texto do subtítulo "As sementes da destruição", do qual retiramos algumas passagens: 

"O que eram essas sementes da destruição? A primeira foi o próprio boom: era a bolha clássica, os preços dos ativos não correspondiam aos valores subjacentes, de uma forma familiar ao capitalismo ao longo dos séculos. [...] As bolhas se baseiam em uma certa exuberância irracional e, talvez, desde a época da mania do bulbo da tulipa, a irracionalidade do mercado não tenha estado mais em evidência, com  investidores pagando bilhões de dólares para as companhias que jamais haviam obtido lucro." (Stiglitz, obra citada, p. 39).

Pela ordem estabelecida, em segundo temos os dirigentes do Fed e Tesouro; em terceiro, as práticas contábeis, remuneração dos Geos e conflitos de interesses; depois, a desregulamentação de vários setores da economia  (diga-se, principalmente, do setor financeiro) e incentivos distorcidos. 

Nestes destaques observa-se que os lobbies e comportamentos fraudulentos estão bastante presentes, em conformidade com os ensinamentos de Kindleberger & Aliber.    

E a conclusão:

"Apenas com esses ingredientes, a combinação já era forte demais. Mas para colocar mais lenha na fogueira, os impostos sobre ganhos de capital (impostos sobre a valorização de ativos, como ações entre a compra e a venda) foram cortados. Aqueles que obtinham dinheiro especulando e ganhando no mercado de ações eram os heróis do dia e deviam ser taxados mais levemente do que aqueles que ganhavam o pão com o suor do rosto.", (Stiglitz, obra citada, p. 40).  

Poderíamos acrescentar outros fatores como os lobbies de intelectuais e políticos em favor da TMP, especialmente os monetaristas, a especulação no setor imobiliário, juntamente com as engrenagens (prefiro esta palavra) financeiras nefastas (securitização e outras) e os empréstimos subprime. Mas, segundo Keynes, fundamentalmente por insuficiência de demanda.  

Não cabe a mim opinar se o economista Stiglitz é merecedor ou não de um Prêmio Nobel. Temos que reconhecer que ele se tornou um dos grandes expoentes da economia mundial, com contribuições críticas sobre a Teoria dos Mercados Perfeitos, embora de forma um tanto tímida. E, diga-se de passagem, é um economista muito fácil e interessante de se ler, o que evidencia um mérito. Mas, infelizmente, a sua tão propalada contribuição acerca das "Informações Assimétricas", para desvendar os motivos das crises que assolam as economias capitalistas, não trouxe os benefícios esperados para entendê-las; pelo contrário, serviram para enuviar todas as contribuições de Keynes e Minsky.  

O fato de ser laureado com o Prêmio Nobel sobre o assunto aqui discutido vem depor contra a Instituição, que nas últimas décadas, ao que tudo indica, tem se deixado influenciar pelos lobbies, premiando diversos economistas clássicos, partidários da TMP, e comportamentais, que nada contribuem para tornar as economias menos vulneráveis aos distúrbios provocados pelos próprios mercados, em decorrência de uma situação singular, de distorções entre a oferta e a demanda agregadas.

Conforme concluí nos artigos postados em abril de 2021, a falta de Keynes foi não nos proporcionar uma radiografia do sistema financeiro que nos permitisse, já naquela época, entender melhor a complexidade das crises do sistema capitalista de produção. Esta falta foi preenchida com muita maestria por Minsky. 

 

sexta-feira, 30 de abril de 2021

ANEXO I - KEYNES - FUNDAMENTOS, CRISES E A POLÊMICA I - S

                                                                           N. Ref: SIIGAC/2021/1095 

ANEXO I  

 "UM BREVE RETORNO A KEYNES"

    FUNDAMENTOS, CRISES E A POLÊMICA I - S  


           INTRODUÇÃO                

"Do céu ao inferno; do inferno ao céu" nos diz um pouco sobre os homens e ideias que conquistaram  o mundo, foram adorados, salvadores, caíram no ostracismo, foram vilipendiados, por inimigos, amigos, e finalmente ressuscitados, diante de uma situação crítica.  

Keynes e suas ideias se encontram nesta situação. Desde cedo mostrou sua criatividade e genialidade; foi um crítico dos termos dos Tratados de Versailles e de Bretton Woods. Nos dois casos estava repleto de razões. 

Cito Eichengreen, em "A globalzaçao do capital":

"Em 1941, John Maynard Keynes, no enunciado que serve de epígrafe a esta capítulo, rejeitou a noção de que haveria um mecanismo automático de ajuste do balanço de pagamentos, qualificando a ideia como "uma fantasia doutrinária". Esta foi a primeira vez que ele enxergou o futuro com notável presciência", pgs. 180/1.  

Esta questão poderá ser melhor avaliada quando comentarmos sobre a crise dos anos 1970. Diga-se de passagem que a proposta de Keynes era para que os países superavitários fossem também responsáveis pelo ônus do ajuste dos balanços de pagamentos. No momento, poderemos verificar que esta suposição de ajuste automático está condizente com os fundamentos da teoria clássica e dos monetaristas.

Nos agraciou com uma obra magistral denominada "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", num período difícil, de longa depressão da economia mundial. 

Em mais de 40 anos como economista, nunca vi uma crítica consistente à sua teoria, exposta no referido livro. Seus seguidores o distorceram. Daí a dificuldade quando nos deparamos e decidimos estudá-lo diretamente. As faculdades também não ajudam os seus alunos. Cada novo livro interpretativo não deixa de ser uma miscelânea, saudado como uma obra prima, principalmente, quando, através de gráficos, apresentam as suas diferenças e sínteses com a economia clássica. 

Com isto, não quero dizer que a sua obra não possa ser questionável em alguns aspectos, mas que até o momento não conseguiram realizar uma crítica consistente. Evidentemente, não seria eu, um simples economista, com esta pretensão. Criticam porque ouviram falar. E mesmo seus intérpretes simplesmente distorceram as suas teses. Cada um interpreta de acordo com o que lhe foi ensinado, com a sua visão do mundo, com os seus vícios. Por este motivo foi um choque quando tive contato direto com a sua obra, me parecendo que nunca tinha estudado economia.

Daí o motivo de sairmos da faculdade e sentirmos uma tremenda dificuldade em seguirmos na leitura. Seus interpretes além de mesclarem a sua teoria com interpretações clássicas padronizaram os seus pensamentos em gráficos, não dando qualquer espaço para algumas das questões mais importantes de sua obra.

Mas, quando se trata de uma obra revolucionária é importante tentar nos despojarmos de tudo o que nos foi ensinado. Acima de tudo, precisamos ter a humildade de estarmos em contato com algo novo e tentarmos entender este algo, para num passo seguinte criticá-lo ou, simplesmente, aceitá-lo, com ou sem ressalvas, em muitos vezes admitindo nossa insignificância. Um procedimento árduo.

Reconheço a dificuldade em interpretá-lo e isto está muito longe de minha pretensão. Entretanto, muitos de seus críticos mais contundentes por ignorância, prepotência, ou qualquer outro vício da "natureza humana" preferiram destratá-lo sem se darem ao trabalho de entendê-lo. Depois de lermos a sua Teoria Geral concluímos que a grande maioria dos que se dizem seus intérpretes também não leram a sua obra. Apesentaram suas visões, sem serem convincentes, muitos fazendo uma miscelânea de sua teoria com outras diametralmente opostas. Nesta miscelânea o colocam como um opositor da política monetária, quando, na realidade, também trata destas questões, exemplificando as situações em que ela não surte efeitos. 

Os monetaristas consideram a sua teoria uma aberração, sem se darem conta de suas próprias "aberrações". Este é o caso de um estudante de uma famosa faculdade dos EUA, onde cursava um PHD, quando me surpreendeu ao ouvi-lo dizer que Keynes nem mesmo sabia o que tinha escrito. Quanta prepotência. Evidentemente, estava imbuído de toda uma cultura que está assentada em modelos matemáticos e predisposta a rejeitar qualquer teoria que realce e fundamente a importância da intervenção do Estado, mesmo em situações pontuais. Voltaremos a este assunto. 

O livro de Wapshott nos dá uma ideia de seus altos e baixos, mas sem apresentar uma análise mais aprofundada de sua teoria e seus detratores, permanecendo neutro em relação a análise entre os opositores.  

Conforme afirmei acima, este artigo não tem a pretensão de interpretá-lo, mas apenas apresentar alguns pontos de sua obra que me pareceram fundamentais, para começar a entendê-lo, de maneira acessível ao leitor iniciante em economia e aos não familiarizados com esta "suposta" ciência, evitando o economês incompreensível. 

Com isto, procuro, principalmente, destacar o que para mim foi importante, os seus fundamentos, sem entrar em pormenores sobre toda a sua obra. Procuro fazer um paralelo com algumas observações levantadas por Marx, fazendo referência também às diferenças com os autores clássicos, para um melhor esclarecimento. 

Keynes era um liberal convicto, não há dúvidas quanto a isto, e preocupava-se com o destino do capitalismo, "ameaçado" pelas flutuações econômicas crônicas, e, posteriormente, pela errônea concepção dos socialistas-marxistas de que este sistema iria naufragar em suas crises. Como consequência preocupou-se sobretudo pelas causas do desemprego, ao contrário da economia clássica e monetaristas que admitiam a hipótese de uma economia que tendia sempre para o equilíbrio, (utilização potencial de todos os fatores produtivos ou taxa natural de desemprego).  

Evidentemente, ao admitir que a economia não tendia inevitavelmente para o equilíbrio e necessitava da intervenção do Estado, para superar sua instabilidade,  entra em choque com os ideólogos da economia capitalista. Podemos perceber um certo paralelo entre a intervenção estatal e um regime socialista, que será utilizado por seus opositores, com muito alarde, mas inconcebível, principalmente Hayek e Friedman. 

Antes de darmos início cabe destacar:

1) Keynes está preocupado com o curto prazo; em explicar o porquê das economias capitalistas entrarem em crise, com o desemprego e quais medidas poderão ser tomadas     para aliviar esta situação; 

2) as suas análises levam em consideração os agregados econômicos. Não seria exagero dizer que com ele nasce um novo ramo de estudo da economia que irá se denominar "macroeconomia";

3) também, não elabora uma teoria sobre o comércio internacional, ou melhor, sobre a  "Teoria das  vantagens comparativas", de Ricardo;

4) nos comentários aqui esboçados, consideramos que não existe déficit governamental nem desequilíbrio no balanço de pagamentos, ou seja, estão equilibrados.  

Uma observação antes de iniciarmos. Os trechos citados são fundamentais e imprescindíveis para termos uma melhor compreensão da proposta keynesiana, evitando interpretações pessoais, sem mencioná-los e citá-los. Deste modo, procurei evitar distorções de interpretações, que não estejam de acordo com os parágrafos expostos, permitindo aos leitores acompanharem, no possível, a tentativa de manter a maior fidedignidade possível das minhas conclusões e argumentos. Por este motivo, evitei colocá-los em Notas. Não obstante, poderão surgir divergências. Este anexo, para uma melhor compreensão, deverá ser complementado com o artigo principal, que trata do Monetarismo de Friedman. 

Também, me motivou a intenção de familiarizar o leitor interessado com a linguagem, termos e alguns conceitos keynesianos, afastando o fantasma da complexidade e da impossibilidade de entender alguns de seus conceitos e concepções básicas, evitando, dessa forma, ser ludibriado pelas formulações matemáticas e os argumentos abstratos descompromissados com a realidade, muitos dos quais omitem os seus próprios fundamentos. 

Este anexo I está subdividido nos seguintes tópicos: Fundamento - crítica à Lei de Say - A oferta e a procura agregadas; Dos pressupostos para investir; A eficiência marginal do capital; A polêmica das crises; A polêmica sobre a relação I (investimento) - S (poupança); Os comentários de Krugman sobre Keynes; Conclusão. 

No anexo II procuro explicar alguns conceitos keynesianos, para um melhor entendimento. 

Este anexo está intimamente correlacionado com o artigo principal relativo à exposição e crítica ao "Monetarismo de Friedman". Portanto, são complementares e, assim,  poderão ser melhor entendidos com uma leitura de ambos.  


FUNDAMENTO

-CRÍTICA À LEI DE SAY-

-A OFERTA E A PROCURA AGREGADAS -

Para alcançar o seu propósito, era necessário que Keynes atacasse o principal pilar (na minha opinião) da economia clássica, que perdurava há mais de um século, com os pressupostos do "homo economicus" e da "mão invisível", de Adam Smith, (sobre estes pressupostos, os leitores poderão consultar os comentários no texto original). 

Esses pressupostos tomaram uma nova versão com a denominada lei de Say, que afirma que a "oferta da economia criava a sua própria demanda". Em outras palavras significava dizer que a economia estava imune às crises, tal qual a mão invisível, e o pressuposto do "homo economicus", dos economistas clássicos, neoclássicos e monetaristas, ainda em voga. Estas concepções que levavam à conclusão sobre a impossibilidade de crises profundas, com o argumento de que, caso houvessem, eram friccionais, decorrentes, simplesmente, de ajustes dos preços relativos, devendo estes serem flexíveis nos dois sentidos, para cima e para baixo.  

E já no 2 capítulo, "Os postulados da economia clássica", mais especificamente na seção VI, Keynes nos mostra que a sua crítica é fundamental para entendermos as suas análises.

Inicialmente, reproduzo para os leitores alguns trechos:

"Desde o tempo de Say e de Ricardo os economistas clássicos ensinam que a oferta cria a sua própria procura. Isto significa, num certo sentido relevante mas não claramente definido, que a totalidade dos custos de produção é necessariamente gasta, direta ou indiretamente, na compra do produto", (p. 15).

"A convicção que impregna quase toda a obra do professor Pigou de que a moeda não faz realmente grande diferença, exceto de forma fricional, e de que a teoria da produção e do emprego pode ser elaborada (comoa de Mill) com base nas trocas "reais", sendo introduzida superficialmente num capítulo posterior, é a versão moderna da teoria clássica. O pensamento contemporâneo está ainda fortemente da noção de que o dinheiro se não for gasto de uma forma, o será de outra".  

"A doutrina não é hoje exposta de forma tão rudimentar. Não obstante continua a estar subjacente a toda teoria clássica, que sem ela ruiria", (os negritos são meus, p.17).

E no capítulo 3, "O princípio da demanda efetiva":

"Por outro lado, a doutrina clássica que costuma resumir-se categoricamente pela proposição de que a "Oferta cria sua própria Demanda" e que continua subjacente a toda teoria econômica ortodoxa, implica ...", p. 22.

"Assim, a lei de Say, segundo a qual o preço da demanda agregada da produção no seu conjunto é igual ao preço da oferta agregada para qualquer volume de produção, equivale à proposição que não há obstáculo para o pleno emprego", (negritos meus, p. 23).

Aqui está a razão de termos escolhido este pressuposto como o pilar da economia clássica. Este pressuposto sempre foi mencionado nas críticas realizadas por diversos economistas, sem que lhes dessem a devida importância. Preferiram dar o enfoque em outras questões mais sofisticadas como, por exemplo, a neutralidade da moeda, também assumida pela teoria clássica e questionada por Keynes. 

Diga-se de passagem que esta "lei" de Say já havia sido posta em cheque por Marx, que alertava para o fetiche da mercadoria. Mas este era socialista/comunista, que atacava o regime de produção capitalista e esta nova ordem social necessitava de uma ideologia que mostrasse e decantasse a superioridade desta economia, mesmo que a custa de fatos notórios.   

Mas isto não basta. Porque razão esta hipótese é tão importante para Keynes e sua proposta de uma nova teoria?

Como teremos oportunidade de comentar mais adiante, a base da teoria de Keynes, em relação às crises, é a "insuficiência da demanda efetiva", ou "demanda agregada", que nada mais é do que afirmar que a causa das crises está no fato de que a procura global (agregada) da economia não é suficiente para adquirir a oferta total (agregada) posta à disposição. Em resumo, a demanda agregada pode ser maior ou menor que a oferta agregada. E, se maior os preços sobem. 

Na pg. 27, Keynes afirma, o que já era de conhecimento, restrito, que Malthus admitia tanto uma insuficiência quanto um excesso da demanda efetiva, opondo-se à teoria de Ricardo, que não admitia esta insuficiência; prevaleceu a tradicional teoria clássica advogada por Ricardo, por "falta de clareza na exposição de Malthus", embora os fatos já comprovassem a sua inconsistência. Por ironia do destino Malthus ficaria famoso por uma outra teoria, posteriormente conhecida como Lei de Malthus.

É importante ressaltar, neste ponto, que a demanda efetiva poderá "ser tanto deficiente como excessiva" em relação à oferta agregada (efetiva), ou seja, a Lei de Say simplesmente não atua nos dois sentidos. Isto será melhor compreendido quando tratarmos das crises.  

A lei pela qual Malthus é reconhecido afirmava que a "população crescia em progressão geométrica enquanto a produção em progressão aritmética", o que geraria um futuro problema para a humanidade. Marx criticou veementemente esta teoria e ela tornou-se apenas uma referência na história econômica, com o advento da  revolução agrícola. 

Mas, Keynes nos dá uma pista da razão da preferência pela da teoria clássica, assumida por Ricardo, que impactou durante décadas o reconhecimento de um fato comprovado na prática:

"O caráter absoluto da vitória ricardiana tem algo curioso e de misterioso. Só se pode explicar por um complexo de afinidades entre a doutrina e o meio em que foi lançada. Suponho que o fato de ter chegado a conclusões bastante diferentes das que esperaria uma pessoa comum não instruída contribuiu para o seu prestígio intelectual. O fato de seus preceitos, aplicados à prática, serem austeros e por vezes intragáveis, deu-lhe uma aura de virtude. O poder de sustentar uma teoria lógica, vasta e coerente conferiu-lhe beleza. [...] O ter proporcionado alguma justificativa para a liberdade de ação do capitalista individual atraiu-lhe o apoio das forças sociais dominantes agrupadas atrás da autoridade", p. 38.

"Qualquer semelhança com a realidade atual é mera coincidência". Estas palavras de Keynes são bastante importantes para uma avaliação do que se passa atualmente com as teorias econômicas, mormente antes da crise de 2008. Nos mostra (e eu bato constantemente nesta tecla) que as decisões econômicas estão submetidas à política, à cultura e, atualmente, à capacidade de convencer as massas, através dos meios midiáticos, dos think tanks e das universidades de renome. Justamente, o que aconteceu com o monetarismo e o que acontece em relação à política econômica internacional, apoiada por organismos internacionais, com a orientação e o aval das nações mais poderosas, diga-se EUA. Outrossim, nos indica a razão pela qual a economia passou a ser dominada por experts, que abusam de modelos matemáticos, que não deixam claro os axiomas, os fundamentos, que lhes dão sustentação.

Em julho de 2014, num artigo simples e despretensioso, "Direito, economia e mercados racionais", mostrava como o direito e a economia tomavam caminhos opostos, com a economia presa aos velhos conceitos, sem acompanhar a evolução de "outras ciências" e do próprio direito, e afirmava:

"Modelos matemáticos sofisticados, aplicados à economia são extremamente racionais, mas ineficazes e danosos quando partem de premissas ou pressupostos falsos. Servem, quando muito, para iludir e induzir leigos a erros, disfarçando os pressupostos e a realidade, represando, concentrando e destinando o poder das informações e decisões àqueles que sabem como manejá-los, (acrescento: em favor de uma nova casta). Ou seja, criam uma barreira psicológica e excluem os mais leigos do conhecimento e da realidade dos fatos e os enganam. 
Não existe esta racionalidade e eficiência genérica que serve a todos os propósitos, circunstâncias e atua com a mesma intensidade em todos os momentos". 

Desde então, em diversos artigos, tenho batido constantemente nesta tecla. Ora, se admitirmos tanto a "lei" de Say, quanto os pressupostos do "homo economicus" e da "mão invisível", nunca existiria a "insuficiência da demanda efetiva" e, assim sendo, toda a teoria keynesiana estaria sem fundamento e sem razão de ser.


DAS PERSPECTIVAS PARA INVESTIR

Saindo deste questionamento da demanda efetiva nos dirigimos diretamente para o capítulo 11, "A eficiência marginal do capital", seção "Incentivo para investir", crucial (sempre na minha opinião) para entendermos um pouco mais os fundamentos e argumentos de Keynes, em relação às oscilações cíclicas da produção, em divergência com os economistas clássicos. 
 
Será neste capítulo que Keynes lançará mão, pela primeira vez nas teorias econômicas, da importância das expectativas e da questão prospectiva, sobre as decisões dos agentes econômicos em relação aos investimentos.

O autor define o conceito de "Eficiência marginal do capital":

"Mais precisamente, defino a eficiência marginal do capital como sendo a taxa de desconto que faria com que o valor presente da série de anuidades dadas pelos rendimentos esperados desse capital durante toda a sua existência fosse exatamente igual ao seu preço de oferta", p. 121.
 
"Será cômodo chamar a essa série de anuidades Q1, Q2...Qn rendimentos prospectivos do investimento", p.120.

Para posteriormente incluir as expectativas:

"É importante compreender quando a eficiência marginal de determinado volume de capital depende das variações nas expectativas, pois é principalmente essa dependência que faz com que a eficiência marginal do capital esteja sujeita a flutuações relativamente violentas que explicam o ciclo econômico. No capítulo 22 veremos que a alternância da expansão e da depressão pode ser descrita e analisada em termos de flutuações da eficiência marginal do capital relativamente à taxa de juros", (negritos meus, p.128).

Por ora nos fixemos na questão das expectativas para depois nos referirmos mais especificamente à importância da eficiência marginal do capital. 

No capítulo 12, "O estado da expectativa de longo prazo", Keynes vai consolidando as suas diferenças teóricas em relação aos clássicos, na questão relativa ao investimento. 

"As considerações em que se baseiam as expectativas de rendimentos prospectivos são, em parte, fatos existentes que podemos supor sejam mais ou menos conhecidos e, em parte, eventos futuros que somente podem ser previstos com um maior ou menor grau de confiança", (negritos meus, p. 131). "Por essa razão, os fatos atuais desempenham um papel que, em certo sentido, é desproporcionado na formação das nossas expectativas de longo prazo. O nosso método habitual (obs: aqui o autor está se referindo se à posição corrente, dos economistas clássicos) consiste em tomar a situação atual e projetá-lo no futuro, modificando-a apenas na medida em que tenhamos razões mais ou menos precisas para esperarmos uma alteração. O estado da expectativa de longo prazo que serve de base para as nossas decisões, portanto, não depende exclusivamente do prognóstico mais provável que possamos formular. Depende, também, da confiança com que fazemos este prognóstico"... ,(negritos meus, p. 132).

"O fato marcante é a extrema precariedade da base do conhecimento a partir da qual temos de fazer as nossas estimativas sobre os rendimentos prospectivos. O nosso conhecimento dos fatores que regerão o rendimento de um investimento passados alguns anos é, em geral, muito limitado e, com frequência, desprezível", (idem, p. 133). 

De modo um tanto sarcástico, acrescenta, p. 139:

"Ou, para mudar um pouco de metáfora, o investimento por parte de profissionais pode ser comparado aos concursos organizados pelos jornais em que os participantes têm de escolher os seis olhos mais belos entre uma centena de fotografias, ganhando o concorrente cuja escolha corresponda mais de perto à média das preferências do conjunto de concorrentes. Assim, cada concorrente deverá escolher não os rostos que ele próprio considere mais bonitos, mas os que lhe parecem mais próprios a cair nas graças dos outros concorrentes, ...", p. 139/40.

Estes dois capítulos são, também, fundamentais para entendermos a teoria keynesiana. Aqui, para não ser demasiado repetitivo escolhi apenas alguns tópicos. E as expectativas, também, serão importantes para definir a produção de curto prazo.

Keynes, também, realça a importância do "estado de confiança" para os negócios:

"O estado de confiança, como lhe chamam, é questão a que os homens práticos sempre dedicam a mais criteriosa e inquieta atenção. Contudo, os economistas não têm analisado essa matéria com o devido cuidado ...."."No entanto, a priori, não há muito a dizer sobre o estado de confiança. As nossas conclusões têm forçosamente de depender sobretudo da observação prática dos mercados e da psicologia dos negócios", p. 133.   
 
Os leitores me perguntarão o porquê, se estas passagens e outras são bastante óbvias para qualquer estudante de ensino superior e homens de negócios.
  
Ora, estas observações são importantes porque vão de encontro a outro fundamento dos economistas clássicos. Para eles o "futuro se repete" e, portanto, as expectativas dos investidores e a incerteza não existem. Por este motivo, haverão sempre investimentos que equilibrarão a economia. Por outro lado, este pressuposto não está claro, principalmente, quando usam e abusam de modelos matemáticos. 

Mas este ponto de vista clássico estava enraizado em suas teorias e era preciso contestá-lo, desmontando mais uma vez os seus argumentos. Na realidade, existia um condicionamento, difícil de ser abandonado quando se modifica o enfoque. E este condicionamento persiste na teoria clássica, embora de modo mais sofisticado. 

No título "A lei de Say", Davidson comenta sobre este ponto de vista classificando-o como o 3ª (terceiro)  axioma restritivo:

"Na verdade a lei de Say é um "caso especial" logicamente consistente que poderia ser obtido a partir da Teoria Geral de Keynes, adicionado os três axiomas restritivos: 1) o axioma da moeda neutra, 2) o axioma da substituição bruta e 3) o axioma ergótico", p.76.

Na teoria keynesiana os investimentos são fundamentais, mas estes são incertos, dependem das expectativas, não são garantidos. Os leitores entenderão melhor esta questão quando tratarmos da "Eficiência Marginal do Capital".

Ainda no capítulo 12, enriquecendo mais a questão do investimento, lança mão de termo que se tornou muito comum e repetitivo no mercado e mesmo homens de negócios mais esclarecidos. Trata-se da psicologia do investidor, ou "espírito animal", um termo do qual gosto muito porque diferencia os agentes econômicos, pelos seus ímpetos e suas perspectivas. Antes de citá-lo, vamos iniciar com uma passagem que ajudará a dar maior ênfase sobre o espírito animal:

"O jogo do investimento profissional é intoleravelmente fastidioso e demasiado constrangedor para quem careça inteiramente do instinto do jogador: quem o tem terá de pagar o tributo adequado por essa propensão", p. 140.

"Provavelmente, na maior parte dos casos, quando decidimos fazer algo positivo cujas consequências finais só produzem os seus efeitos depois de muito tempo, só o fazemos impelidos pelos espíritos animais - por um impulso espontâneo para agir, em vez de não fazer nada - e, não em consequência de uma média ponderada de benefícios quantitativos multiplicados pelas respectivas probabilidades quantitativas. [...] O cálculo exato dos lucros futuros desempenha nele um papel pouco maior do que numa expedição ao Polo Sul", (os negritos são meus, pgs. 144/5).

Estas observações de Keynes além de serem muito pertinentes quanto às decisões dos homens de negócios, investidores, e postas com argúcia consolidam em  definitivo, a sua divergência quanto aos economistas clássicos, com relação a este tema.
 
É interessante como estes termos utilizados pela primeira vez, pelo que me consta, como expectativas, prospectivo, espírito animal, preferência pela liquidez, foram assumidos por diversas correntes econômicas, mas com outros significados. Um plágio incompleto, que ficou no meio do caminho, mas que serviu na batalha ideológica.
 
Assim os economistas tradicionais lançaram a teoria das "expectativas racionais", e os novos economistas comportamentais (recente corrente americana) adotaram o termo "espírito animal".

"Expectativas racionais" não deixa de ser mais uma denominação de uma mesma corrente, com os mesmos fundamentos. Ora, se os próprios comportamentos não são tão racionais quanto se imagina o que dizer das "expectativas" racionais?

"Espírito animal" foi a denominação do livro do Prêmio Nobel de economia para os economistas comportamentais George A. Akderlof  &  Robert J. Shiller. 

Em maio de 2015, escrevi um artigo criticando a distorção do termo usado por Keynes, por esta nova corrente, afirmando com base nos propósitos declarados dos autores:
 
"Num primeiro momento, podemos constatar que a proposta dos autores é de cunho moral, pois irão procurar demonstrar que as crises da economia capitalista se devem a questões de prudência, poupança, honestidade, equidade, comportamento antissocial e outros fatores psicológicos como mudança do nível de confiança.

É como se os autores quisessem purgar a economia capitalista de todos os males que acompanham a natureza humana e ao fazerem isto encontraríamos o paraíso. Ou seja, os problemas da economia capitalista têm raízes na natureza "distorcida" da humanidade e ao controlarmos isto a economia se autocorrigia", (em "Um raio X sobre o "Espírito animal", tópico "O que os autores entendem por "Espírito animal", neste blog). 

 
A "EFICIÊNCIA MARGINAL DO CAPITAL"

Esta seção é muito mais uma consequência, complemento, do que foi exposto no título anterior. Ela perfaz a predisposição para o investimento, mesmo em situação de incerteza e risco. Seria a base de cálculo que orienta os investidores nas tomadas de decisões em clima de incerteza, de confiança, que racionaliza o ímpeto do espírito animal, sem, entretanto, domá-lo.  

O seu conceito foi definido por Keynes e exposto no início da seção anterior. Ele é importante por que segundo o autor da Teoria Geral irá influir nas expectativas, sendo responsável pelas variações cíclicas, "que explicam o ciclo econômico", p. 128, já citado.
 
Ele, também, é importante porque neste ponto existem divergências quanto as causas do ciclo econômico, em certo sentido, por algumas ambiguidades nos textos de Keynes, que serão corrigidas no capítulo 22.
   
A EMC é um conceito que está diretamente vinculado aos cálculos prospectivos, levando em consideração a taxa de juros. Trocado em miúdos, o valor dos rendimentos projetados, descontados a uma taxa de juros, deverá ser superior a esta mesma taxa, para que o investidor se disponha a investir.
 
Segundo o autor:

"O leitor há de notar que a eficiência marginal do capital é definida aqui em termos de expectativa do rendimento e do preço de oferta corrente do bem de capital. Depende da taxa de retorno do bem que se espera obter do dinheiro investido num bem recentemente produzido e não do resultado histórico obtido por um investimento em relação ao seu custo original ...".

"Ora, é óbvio que o fluxo efetivo de investimento corrente tende a aumentar até o ponto em que não haja mais nenhuma classe de bem de capital cuja eficiência marginal exceda a taxa de juros corrente", p. 121.

"Se a taxa de juros for de 3%, isto significa que ninguém pagará 100 libras por uma máquina, a não ser que espere acrescentar três libras à sua produção anual líquida, deduzidos os custos e a depreciação", p. 125. 

O valor relativo à depreciação é o que vai permitir a reposição do capital findo o período de produção. Entretanto, pode haver inovação. 

Em resumo, muito irá depender das expectativas e do espírito animal do investidor. Em artigos anteriores chamei a atenção para uma nova variável que seria a intuição, feeling, e até mesmo a perseverança, mas elas poderiam estar associadas ao espírito animal. Fica a critério do leitor. 

Também, fica óbvio que o investidor deverá ter alguma expectativa sobre a taxa de juros futura. Se as condições econômicas sinalizarem que as taxas de juros irão subir demasiadamente durante o período útil de produção do bem ele deverá levar isto em consideração.

No mesmo sentido, as expectativas podem ser diferentes em relação aos diversos ramos industriais, mesmo quando a situação da economia leve, no geral, a uma propensão negativa das expectativas. É provável que isto aconteça quando se trata de investimentos em novos ramos, invenções e inovações.  


A POLÊMICA DAS CRISES

Este tópico procura esclarecer uma polêmica econômica entre economistas, inclusive keynesianos, sobre as causas das crises e se destina aos leitores que estão interessados nesta polêmica.

Alguns economistas entendem que os ciclos econômicos dependem das condições objetivas da economia capitalista, associadas à tendência a propensão marginal a consumir. Segundo Keynes, quando a renda dos consumidores aumenta eles tendem a consumir menos e poupar mais. Neste sentido haveria um "excesso" relativo, ou melhor, um volume de poupança maior do que os investidores estariam dispostos a investir, levando a economia para uma recessão. É como se a economia atingisse um ponto de abundância relativa, saturação, sufocando-se na própria poupança. 

"Se a propensão ao consumo e o montante de novos investimentos derem origem a uma insuficiência de demanda efetiva, o nível real de emprego será inferior à oferta de mão de obra potencialmente disponível ao salário real existente (...) .

Esta análise propicia-nos uma explicação do paradoxo da pobreza no meio da abundância. Na realidade, a simples existência de uma demanda efetiva insuficiente estanca o aumento do emprego antes de ser alcançado o nível de pleno emprego.

Além disso, quanto mais rica for a comunidade, mais tenderá a alargar-se entre a sua produção efetiva e a potencial e, portanto, mais manifestos e chocantes os defeitos do sistema econômico. Assim, a comunidade pobre tenderá a consumir a maior parte da sua produção, de modo que um investimento modesto será suficiente para lhe garantir o pleno emprego, ao passo que uma comunidade rica terá que descobrir oportunidades de investimento mais amplas, para conciliar a propensão à poupança dos seus membros mais ricos com o emprego de seus membros mais pobres.

Por conseguinte, a análise da propensão ao consumo, a definição da eficiência marginal do capital e a teoria da taxa de juro são as três principais lacunas do nosso conhecimento atual que teremos de conhecer", (negritos meus, pgs 26/7). 

Não me parece que estas conclusões estejam acontecendo, na realidade. As comunidades pobres estão mais pobres e possuem mais uma proporção de desempregados ou subempregados que as ricas.

Entretanto, Keynes faz um alerta quanto a necessidade da comunidade rica encontrar (descobrir) possibilidades de investimentos que compensem as poupanças dos ricos. E as possibilidades de novos investimentos em novos produtos tem acontecido, sendo esta uma das características da dinâmica da sociedade capitalista.
 
Por outro lado, me parece que esta proposição de excesso de poupança, devido à queda da propensão marginal a consumir, se encontra com o "paradoxo da poupança", que trata na página 76 (ver citação no Anexo II). O paradoxo da poupança nos diz que a poupança da comunidade não é a soma das poupanças individuais. Em outras palavras, quando todos decidem aumentar suas poupanças a renda da comunidade cai e, consequentemente, a poupança total cai, porque esta depende da renda, se ajustando ao investimento. 

Mas, ao lermos estas passagens, podemos admitir que Keynes, em certo sentido, se aproxima da teoria do "subconsumo", que ainda perdura no inconsciente de muitos. Para os subconsumistas as crises na economia seriam consequência da distribuição de renda da sociedade. Em termos keynesianos, como as classes mais desfavorecidas possuem uma maior propensão a consumir, uma política distributiva aumentará o consumo da comunidade como um todo, anulando o efeito da insuficiência da demanda. Estas propostas estão atualmente muito em voga, considerando a concentração de riqueza nos últimos tempos, como resultado das políticas liberais introduzidas a partir de 1979/80. Muitos economistas têm optado por esta solução para abrandar o problema do desemprego e aumentar a renda nacional (PIB). 

O interessante é que os efeitos da redistribuição da renda poderão surgir mesmo com um equilíbrio fiscal. Ao taxar as rendas dos que possuem elevados rendimentos e aplicar em despesas ou investimentos que beneficiem as camadas desfavorecidas, aumenta, desta forma, a propensão a consumir da sociedade como um todo.

Entretanto, a teoria keynesiana em seus fundamentos não é subconsumista (ver tópico seguinte), muito embora Keynes em determinadas situações se aproxime das medidas desta teoria. Se o rendimento em uma economia, em que não exista déficit fiscal e nem desequilíbrio no comércio externo, é igual ao consumo mais o investimento uma redução no consumo pode ser compensada por um aumento no investimento e este aumentará a poupança necessária a se igualar ao investimento. Isto poderá, posteriormente, trazer um excesso de bens de investimento em relação ao consumo, e trazer problemas futuros, que irá depender de novos ramos industriais, mas isto é um outra questão.

Esses trechos eliminam as dúvidas, capítulo 22:

"[...] sustentam que a causa crônica das sociedade contemporâneas para o subemprego de ser procurada no subconsumo, quer dizer nos hábitos sociais e numa distribuição de riqueza que têm como resultado uma propensão de consumo demasiado baixa. 

Se é materialmente impraticável aumentar o investimento, é óbvio que não há outra maneira de garantir um nível mais elevado de emprego senão o de aumentar o consumo", (Obs: diga-se, e concomitantemente a renda da economia).
 
Do ponto de vista prático, se divirjo dessas correntes de pensamento por pensar que talvez atribuam uma importância pouco excessiva à expansão do consumo numa época em que há ainda muitas vantagens sociais a esperar de uma expansão do investimento", p. 294.

"Pessoalmente, impressionam-me as grandes vantagens sociais que adviriam de expandir o estoque de capital até por fim à sua escassez. 

Aliás, estou pronto a admitir que o mais sensato seria avançar em ambas as frentes ao mesmo tempo. Embora visando conseguir um fluxo de investimentos socialmente controlado a fim de provocar uma baixa progressiva da eficiência marginal do capital, estou disposto a apoiar, ao mesmo tempo, todo o tipo de medidas destinada a aumentar a propensão ao consumo. [...] Há pois margem para fazer funcionar ambas as políticas em conjunto", (negritos meus, p.295).
      
Por outro lado, se admitirmos um "excesso" relativo de poupança, seja a causa da crise, teríamos, também, que admitir que a questão se desloca para a EMC. Pois, não existirá consumo suficiente para absorver a quantidade produzida e as perspectivas dos investidores podem cair, tendo em vista que os consumidores decidiram poupar mais, em detrimento do consumo. Por outro lado, Keynes, quando trata do subconsumo irá sugerir que os investimentos poderão ser dirigidos para outros setores que não os tradicionais.
 
Para melhor esclarecer este ponto, reproduzo um texto de Davidson:

"Em consequência, a despesa de investimento dos empresários resulta mais daquilo que Keynes chama "espírito animal" e de outras forças autônomas que motivam os empresários do que qualquer estimativa actuária de lucros futuros. Uma vez que o espírito animal dos empresários pode diferir da propensão à poupança agregada planeada actualmente. Por outras palavras, quando se rejeita o axioma ergótico e se reconhece a verdadeira incerteza como força importante no planeamento de investimentos empresariais, pode-se considerar que as despesas da componente D2 da função procura agregada são determinadas independentemente do valor da oferta agregada em qualquer nível de rendimento agregado e emprego", pgs. 102/3.
 
"Quando a visão que os vendedores têm do futuro torna predominante, pode desenvolver-se uma procura excessiva por liquidez que vai impedir a produção de capital novo de investimento mesmo quando os recursos reais estão inativos e, portanto, prontamente disponíveis para produzirem novos bens de capital", p. 157.
 
Neste segundo parágrafo notamos que o enfoque para a crise passa a ser a "procura para a liquidez", que de certa forma está associada à poupança. 

Esta e outras passagens que constam do subtítulo "A função da procura agregada", p. 80, apontam que a conclusão de Davidson sobre insuficiência da demanda agregada, ou seja, das crises, tem origem entre a diferença da poupança previamente planeada e os investimentos efetivos, em bens de produção, ou mais precisamente na preferência pela liquidez dos poupadores. Muitos outros economistas partilham da mesma opinião. Neste sentido, haveria um excesso de poupança que não seria destinada ao investimento, por estarem nas divergências das motivações entre poupadores e investidores. 

Por este motivo, não existe referências ao funding, assunto do próximo tópico.
 
Ou seja, diferentemente das concepções clássicas, que assumem que toda a poupança prévia será investida, Keynes nega este pressuposto, elaborando um novo conceito, da preferência pela liquidez, pelos aforradores, por motivos de precaução e especulação.
   
Mas, estas conclusões de que a origem das crises (insuficiência de demanda efetiva) situa-se nesta retenção de haveres líquidos, dinheiro, ou excesso de poupança, não estão em consonância com as de Keynes. Para ele a poupança será sempre igual ao investimento. 

Em outra passagem Keynes afirma:

"Portanto, em agregado, o excedente de rendimento sobre o consumo, a que chamamos poupança, não pode diferir da adição aos equipamentos de capital, a que chamamos investimento. A poupança de fato não passa de um simples resíduo. As decisões de consumir e as decisões de investir determinam, conjuntamente, os rendimentos. Presumindo, que as decisões de investir se tornem efetivas, é forçoso que elas restrinjam o consumo ou expandam os rendimentos. Assim, nenhum ato de investimento, por si mesmo, pode deixar de levar a que o resíduo ou margem a que chamamos poupança aumente em quantidade equivalente", (meus negritos e itálico, p. 56)
.
"Os montantes do rendimento agregado e da poupança agregada são resultados da livre escolha dos indivíduos quanto a consumir ou deixar de consumir, e quanto a investir e deixar de investir".

A obscuridade e mesmo a contradição aparente destes textos de Keynes, trouxeram interpretações diferentes sobre as causas das crises, em relação à concepção do autor.
 
Entretanto, ele irá esclarecer melhor estas dúvidas no capítulo 22:

"Verifica-se, em especial, que as flutuações da propensão a eficiência marginal do capital desempenham todas um papel no ciclo. Mas, aventaria que o caráter essencial do ciclo econômico e, sobretudo, a regularidade da sequência temporal e da duração que justifica a denominação de ciclo se devem sobretudo ao modo com flutua a eficiência marginal do capital. Penso que a melhor maneira de perspectivar o ciclo econômico será que é provocado por uma variação cíclica da eficiência marginal do capital, embora seja complicado e frequentemente agravado por alterações paralelas que afetam outras variáveis importantes do sistema econômico no curto prazo", (negritos meus, p. 285).
     
Estas passagens mostram claramente que para Keynes os ciclos econômicos de produção, dependem basicamente da eficiência marginal, de acordo com a sua citação que consta na pg. 128, reproduzida mais acima. 

Ou:

"Verifica-se, em especial, que as flutuações da propensão ao consumo, do estado da preferência pela liquidez e da eficiência marginal do capital desempenham um papel no ciclo econômico", p. 284. 
 
"Infelizmente, uma queda na propensão marginal do capital tende, também, afetar negativamente a propensão ao consumo. Com efeito provoca também uma baixa considerável no valor de mercado das ações em bolsa", p. 289.

"Além disso, a consternação e a incerteza quanto ao futuro que acompanham um colapso da eficiência marginal do capital suscitam, naturalmente, um forte aumento da preferência pela liquidez - e, consequentemente uma elevação da taxa de juros. Assim, o fato de a queda da eficiência marginal do capital ser frequentemente acompanhada por uma elevação da taxa de juro pode agravar seriamente agravar se o declínio do investimento ", p. 287.

Nestes parágrafos fica claro que Keynes deposita na eficiência marginal do capital o principal fator que irá influenciar o ciclo econômico. Mas, este será reforçado pela redução da propensão ao consumo e pelo aumento da preferência pela liquidez. Quando a crise se estabelece os agentes econômicos aumentam os motivos precaução e especulação, que irão repercutir na propensão ao consumo e na importância de reter moeda (preferência pela liquidez).

O consumo se reduz por diversos fatores e não mais corresponde a curva de propensão ao consumo para os diversos níveis de renda, porque a crise altera todas estas condições. Por exemplo, efeito renda da riqueza que é muito comum naqueles que participam nas operações de bolsa, alavancados com empréstimos bancários, também, tem um efeito negativo sobre o consumo. As pessoas vão procurar consumir menos em virtude da insegurança, preferindo a liquidez. 

"Para estas pessoas, as altas e baixas do valor de seus investimentos talvez tenham mais influência na sua disponibilidade para o consumo do que o estado de seus rendimentos", p. 290.  

Keynes, neste capítulo, comenta outras situações que contribuem para uma queda abrupta do nível geral de confiança, com repercussões sobre a eficiência marginal do capital. 

Na minha exposição coloquei a crítica à Lei de Say como fundamento da teoria keynesiana. Entretanto, me parece, que a questão sobre esta Lei (Say), muito embora, mencionada a sua demolição, não foi devidamente explorada. 

Ao colocar a crítica a esta Lei como fundamental para a teoria keynesiana, mencionei que sem esta crítica não existiria a razão de ser da Teoria Geral. Portanto, ela é o pilar desta teoria.

Acredito que a ausência de uma análise mais acurada, dentro da própria teoria, deve-se, em parte, à importância que Keynes dá a "eficiência marginal do capital", como fator determinante da crise, dos ciclos, através do rendimento prospectivo e da falta de confiança geral dos negócios. A relevância que este conceito (EMC) adquire, nos conduz à conclusão distorcida, como muitos, que a Lei de Say não opera em razão da "eficiência marginal do capital", ou em outras palavras, que esta (EMC) leva ao incumprimento da Lei de Say. 

Segundo Keynes:

"Voltemos ao que acontece na crise. Enquanto a expansão se mantinha, a maioria dos novos investimentos propiciava um rendimento corrente não satisfatório. A desilusão chega porque, de repente, surge dúvidas quanto à confiança que se pode ter no rendimento prospectivo, ...", paremos aqui, (negrito meu, p. 288). 

Porque de repente? As coisas não caem do céu com tanta frequência e deve haver um sinal, para se chegar ou temer o pior. Keynes nos dá uma pista, que parece passar despercebida pelos diversos intérpretes, com que me deparei, e continua:

"prospectivo, talvez porque o rendimento atual dê sinais de baixar à medida que os estoques de bens duradouros recentemente aumentam regularmente. Havendo uma opinião de que os atuais custos de produção são mais elevados do que poderão vir a ser futuramente, esta será mais uma razão para a queda da eficiência marginal do capital. Uma vez surgida, a dúvida rapidamente se propaga.", ou melhor, na linguagem de diversos autores, se realimenta, em sentido contrário à expansão, (negritos meus, p. 288).
  
Ou no simples fato de que no boom as "esperanças" de um rendimento efetivo do capital, em condições de pleno emprego, não se realize, ou seja, a taxa de rendimento esperada caiu para 6% para 2%, (pgs. 291/2). 

Além destes fatores que sinalizam uma insuficiência de demanda, outras circunstâncias e eventos significativos que modifiquem diretamente as expectativas dos investidores de positivas para negativas deflagram a crise, em razão de alterações na EMC. 

Kindleberger & Aliber comentam sobre choques que mudam as perspectivas dos agentes econômicos, denominado-os de "deslocamentos":

"Um deslocamento é um evento ou choque externo que muda horizontes, expectativas, oportunidades previstas de lucro, comportamentos - "algum conselho repentino muitas vezes inesperado". Um surto no preço do petróleo é um deslocamento, assim como uma desvalorização imprevista - embora a maioria das desvalorizações seja prevista. Uma mudança nas regulamentações financeiras, especialmente as liberalizações ou restrições de empréstimos para grupos particulares de tomadores de empréstimo, é também um deslocamento. O choque deverá ser suficientemente grande para ter um impacto no panorama econômico; os eventos cotidianos também produzem mudanças no panorama, mas poucos são significativos o suficiente para se qualificarem como choque", p. 66.

 Em comentários sobre Malthus, Keynes afirma:

"Com efeito, como não foi capaz de explicar com clareza (a não ser apelando aos fatos da observação prática) como e por que a demanda efetiva poderia ser deficiente ou excessiva, não conseguiu ...", negrito meu, p. 27/8. 

Tendo em vista estes parágrafos, concluo que não é a queda da EMC que leva ao incumprimento da Lei de Say e conclusões assemelhadas. Ou a "oferta cria a sua própria procura", como admitem os clássicos, ou não, independentemente da função que a queda da EMC exerce, agravando a situação. Em determinadas ocasiões, tudo está associado a um otimismo que não se realiza ou a um pessimismo com um indício concreto. Recordando Marx, a igualda entre oferta e procura agregadas, ou mercados perfeitos, está correlacionada à uma ilusão, ao fetiche da própria mercadoria. Da ilusão que decorre do fato de que na prática toda venda corresponde uma compra.

Ainda, podemos admitir qualquer outra situação "objetiva", ou não, que dê motivos para se que coloque dúvidas à continuidade da expansão, como a especulação desenfreada na Bolsa de Valores e os empréstimos expansivos que permitem a alavancagem. 

Existe um comentário sobre os motivos que fizeram o pai de John Kennedy se retirar da Bolsa, antes da queda de 1929, realizando lucros exorbitantes e fazendo fortuna, independentemente, dos conchavos em que se meteu. Ocorreu quando um engraxate começou a lhe ensinar quais ações deveria comprar e vender, levando-o à conclusão que havia uma especulação: se até um engraxate está tão confiante e propõe dar sugestões, deve ter alguma coisa errada. Havia o que hoje se chama de banalização, quando todos eram professores, davam conselhos e entendiam de finanças.

Provavelmente, os leitores irão indagar porque este assunto é importante para esta diferença de interpretações do ciclo econômico sob uma perspectiva keynesiana? Em primeiro lugar porque enterra definitivamente o axioma clássico de que a economia se ajusta automaticamente, tendo em vista sempre o equilíbrio; em segundo lugar porque nos remeterá para uma outra questão de fundamental importância no que se refere a relação entre poupança e investimento, motivo de grandes divergências entre os keynesianos. Ao que tudo indica, toda esta polêmica está relacionada com o nível de renda e a variável investimento, suas expectativas e a capacidade do sistema financeiro suprir as suas demandas.

É à esta questão que irei me dedicar no  próximo tópico.


A RESPOSTA À POLÊMICA ENTRE  I -S
(investimento - poupança)  

Vimos acima que alguns intérpretes keynesianos colocam a causa das crises numa diferença entre a poupança e o investimento, ou mais  precisamente, num excesso de uma poupança, com suporte numapreferência pela liquidez, sobre o investimento. Ao contrário os clássicos supunham sempre que a poupança era automaticamente investida.
 
Mas, para Keynes a poupança será sempre igual ao investimento. Estes são irmãos siameses, que estarão sempre juntos. Sabemos que Keynes dedica muita importância ao investimento e a sua repercussão sobre o nível de renda, aumentando este nível num múltiplo, através do efeito do multiplicador.  
 
Ao mesmo tempo, a poupança é um excesso de renda que não foi consumido. Conclui-se, assim, de sua própria teoria, que quanto maior o nível de renda menor será a propensão ao consumo, e consequentemente, maior será o nível de poupança, dada uma certa propensão marginal a consumir.
  
Portanto, o problema irá desaguar nas possibilidades de investimento, em relação a poupança e na importância do sistema financeiro em viabilizar os investimentos, através de financiamentos, da criação de moeda. E este é o papel do sistema financeiro. 
E nesse sentido, irá inverter a concepção clássica e de alguns de seus intérpretes sobre a questão da poupança prévia, que deveria viabilizar os investimentos.
 
Trocando em miúdos: o investimento viabilizado pelo sistema financeiro, relativamente independente da poupança corrente, aumentará o nível de renda em um múltiplo, pelo efeito multiplicador, e este nível de renda irá determinar a poupança que se igualará ao montante investido, sempre. Em síntese, a questão se resolverá pela capacidade de investimento. Poupança e investimento caminham juntos, lado a lado, muito embora num sistema monetário a moeda ofusque esta situação, através das suas funções, com destaque para a preferência pela liquidez.
 
Coerente com esta dedução o autor dirá:

"É a expansão da produção que provoca um aumento da poupança; a alta de preços não passa de um subproduto dessa expansão, que também ocorre quando o que aumenta é a propensão ao consumo e não a poupança", p. 297.

A economista inglesa Joan Robinson, convertida ao keynesianismo, procurou esclarecer este impasse com a frase: "investimento ex-ante igual poupança ex-post". Em outras palavras, isto significa dizer que o investimento determinará o nível de poupança, que serão iguais, através do aumento da renda, pelo efeito multiplicador, e não o contrário. Pensando bem, não existe o ex-ante e o ex-post, porque investimento e poupança caminham juntos, muito embora o determinante da poupança seja o investimento.  Mas, este artifício foi adequado para colocar o destaque do investimento em relação à poupança, e, através dele, se fez compreender. 

Embora, a Teoria Geral não apresente uma análise mais "elaborada" da relação entre poupança-investimento, e  sobre a não necessidade da poupança prévia para a concretização dos investimentos, Keynes tratará, oportunamente, do assunto numa discussão com Ohlin e Robertson, em 1937, elaborando os conceitos de "finance" e "funding", conforme Paula. 

Segundo a autora:

"[...] O mercado de investimento pode tornar-se congestionado por causa da falta de liquidez, mas nunca se congestionará por falta de poupança", (Keynes, 1937, pgs 668-69 apud Paula); 

"É claro que nada é mais seguro do que o fato de que o crédito ou o "financiamento" requerido pelo investimento ex-ante não é principalmente fornecido pela poupança ex-ante", (Keynes p. 664 apud Paula);

"Poupança em uma data prévia não poderá ser maior que o investimento naquela data. O maior investimento será sempre acompanhado de maior poupança, mas nunca será precedido por ela. Desentesouramento e expansão provêm não uma alternativa para uma maior poupança, mas uma necessária preparação para ela. Ele é o pai, e não o gêmeo do aumento da poupança", (Keynes, 1939, p. 572 apud Paula), em "Financiamento, crescimento econômico e funcionalidade do sistema financeiro: uma abordagem keynesiana", www.scielo.br>scielo.

Com este fundamento destaca-se a importância do funding para a expansão dos investimentos, independentes da poupança prévia, concepção comum aos economistas clássicos e alguns intérpretes de Keynes. Os leitores poderão obter esclarecimentos adicionais sobre o assunto, inclusive sobre a funcionalidade do sistema financeiro, com a bibliografia mencionada.


OS COMENTÁRIOS DE KRUGMAN SOBRE KEYNES 
 
Coube ao Prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, à Introdução ao livro de Keynes. O economista logo no início destaca a importância de Keynes, mesmo para aqueles que não o conhecem ou discordam dele: 

"Um empresário que adverte que a diminuição da confiança representa um perigo para a economia é um keynesiano, quer saiba, quer não".  

Posteriormente, relaciona quatro pontos importantes da Teoria Geral:

- As economias podem sofrer, e muitas sofrem, de uma deficiência geral da demanda, que leva ao desemprego involuntário, (negritos meus);
 
- A tendência automática para corrigir as carências da demanda, se existe, opera lenta e dolorosamente, (idem);

- As políticas adotadas pelo governo para aumentar a demanda, pelo contrário, podem reduzir o desemprego rapidamente; 

- Por vezes, expandir a oferta de dinheiro não será suficiente para convencer o setor privado a gastar mais, e as despesas públicas terão que preencher esta lacuna. 

Analisei alguns destes tópicos, mas, no momento, interessa-me sobremaneira o primeiro deles, porque com a negação da Lei de Say inexiste espaço para "o podem sofre" e "muitas sofrem". A negação desta lei não dá margem a estas hipóteses. O expansionismo exacerbado, junto com a especulação que ele traz, é o prenúncio da crise. São faces da mesma moeda. O quarto e último, refere-se à inusitada questão da "Preferência Pela Liquidez".
 
Adiante o referido economista salienta:

"Portanto, a inovação fundamental da Teoria Geral não é - como um macroeconomista moderno tende a pensar - de que os salários nominais são rígidos. É a demolição da Lei de Say e da teoria clássica da taxa de juros na Parte IV", p. XIV. 

Também, na minha exposição coloquei a crítica à Lei de Say como fundamento da teoria keynesiana. Entretanto, pelos comentários, me parece que o renomado economista não deu a devida importância da negação desta Lei, dentro da Teoria Geral, embora a mencione, como é comum em muitos economistas.  

No tópico "Por que Keynes se enganou?", Krugman afirma que "ele subestimou a capacidade que têm as economias maduras de evitar rendimentos decrescentes". 

Lembro que a teoria de Keynes é de curto prazo, da depressão, conforme frisei na Introdução a este artigo, e como bem reconhece o autor trata-se de um modelo estático "um retrato da teoria prisioneira da depressão, não uma história de como chegou a este ponto", (p. XV). 

Sobre esta questão, dirijo-me ao capítulo 22, onde Keynes trata da teoria do subconsumo e do sobreinvestimento, como fundamentos para a crise. Os leitores podem tirar suas conclusões: 

Sobre o subconsumo:

" [...] atribuem uma importância um pouco excessiva à expansão do consumo numa época em que há muitas vantagens sociais a esperar de uma expansão do investimento", p. 294. 
Em relação ao sobreinvestimento:
"[...] de modo que o boom não poderia continuar em bases sólidas, exceto com uma taxa de juro de longo prazo muita baixa e evitando investimentos mal dirigidos em determinados setores que corriam o risco de sobre-exploração. [...] Uma taxa de juro suficiente para resistir ao movimento especulativo teria, simultaneamente, detido qualquer novos investimentos razoáveis", p. 293.

Vemos, claramente, que o autor se refere a um redirecionamento do investimento para setores com possibilidades de crescimento, o que, na realidade, significa evitar investimentos que levem a um rendimento decrescente, à nível social. 

Conclui-se, também, que estes novos investimentos poderão elevar a propensão marginal para consumir.
 
Em "Onde falhou Keynes", o autor destaca que Keynes "confundiu um episódio com uma tendência" (p. XXI), dando destaque para o fato das taxas de juros eram muito baixas, influenciando nas suas conclusões sobre a "armadilha para liquidez", p. XXI:
     
"Escreveu a obra numa época em que a taxa de juro quase nula não era suficientemente baixa para restaurar o desemprego, e brilhantemente explicou às implicações desse ato - em particular, a armadilha em que o Banco da Inglaterra se encontravam, incapazes de criar emprego por mais que tentassem aumentar a oferta de emprego".

Sim, é verdade que as taxas de juros hoje em dia se encontram mais elevadas, permitindo uma maior margem para a política monetária. Mas, se entendi bem, a armadilha para a liquidez, decorrente da "preferência pela liquidez", ocorre, principalmente, quando numa situação de crise o aumento da oferta monetária é absorvido pela demanda de moeda especulativa, ou "Motivação especulativa". Em outras palavras, o aumento da oferta de moeda, independentemente, da questão da baixa da taxa de juro, faz com que os agentes, não destinem a moeda para transações correntes, "A motivação de negócios", por falta de confiança que a crise acarreta, aumentando, também, a "motivação precaução"

Sem dúvidas, uma maior margem para redução da taxa de juro terá uma maior influência na EMC e um incentivo para investir. Mas, o que me parece é que não podemos tirar conclusões precipitadas sobre qual dos fatores irão preponderar numa redução da taxa de juro, pois não podemos fazer experiências. 

Keynes nos coloca esta dúvida, na p. 287/8, com negritos meus:

"Se a redução da taxa de juro constituísse por si mesma um remédio efetivo, poderia conseguir-se a recuperação num lapso relativamente curto e por meios que estariam mais ou menos diretamente sob a alçada da autoridade monetária. Mas isso não costuma acontecer, não sendo fácil reanimar a eficiência marginal do capital, determinada como é pela psicologia incontrolada e desobediente do mundo dos negócios. É a restauração da confiança, para utilizar a linguagem comum, que é difícil controlar numa economia de capitalismo individualista. É este o aspecto da depressão que os banqueiros e os homens de negócios corretamente insistem em sublinhar e o que é subestimado pelos economistas que depositaram toda a fé na eficácia de um remédio "puramente monetário". 

Com relação à contribuição dos economistas "comportamentais" já fiz comentários com o artigo "Um raio X sobre o "Espírito animal", publicado neste blog e no final do tópico "Das perspectivas para investir", onde transcrevi parágrafos do artigo mencionado.
  
Infelizmente, pelo que conheci, não vejo quaisquer contribuições dos economistas "comportamentais" para os diversos problemas macroeconômicos, principalmente, para entender as crises. Basta ler um pouco de Freud e muito de Keynes. 


CONCLUSÃO
Nos tópicos anteriores procurei especificar o que para mim são os fundamentos da economia keynesiana com destaque para a crítica à "lei" de Say, sem a qual a teoria de Keynes não teria razão de ser.

Deve-se ressaltar ser admissível que a produção de bens crie demanda, através da cadeia produtiva, incluindo os pagamentos de salários, mas tal evidência não significa que a "oferta (agregada) cria sua própria demanda (agregada), no tocante à economia como um todo. 

Também, coloquei em destaque a divergência de Keynes em relação à teoria do investimento, que na escola clássica inexiste, pelo pressuposto de que toda a poupança será investida e que o futuro é perfeitamente determinável, uma repetição do presente, ergótico.
 
Convém destacar que a teoria "clássica" moderna e o monetarismo irão assumir este pressuposto, ergótico, com base na teoria da probabilidade, assumindo que através de cálculos probabilísticos pode-se dispersar os riscos inerentes à incerteza.
 
Segundo Davidson, p. 146, sobre Lawrence Summers, Secretário do Tesouro dos Estados Unidos:

"as funções sociais mais importantes [dos mercados financeiros são] dispersar riscos, orientar o investimento de capital escasso e procurar processar e divulgar a informação na posse de diversos operadores [...] os preços irão refletir valores fundamentais. A lógica dos mercados eficientes é convincente", (Summers e Summers, 189. p. 166, apud Davidson).    

Pela primeira vez na história da economia Keynes irá por em destaque as expectativas, a confiança, a incerteza, o espírito animal, a propensão para o risco dos investidores, a convenção, a influência da psicologia das massas, como fatores que irão influenciar as decisões de investimento dos agentes econômicos (investidores).

Mas, não é somente nas questões sobre os investimentos que Keynes se vale dos termos expectativas, confiança, convicção, incerteza nas decisões dos agentes econômicos. Também, estes termos serão utilizados em diversas outras ocasiões, como, por exemplo, no capítulo 15, "Os fatores psicológicos e empresariais que incentivam a liquidez". 

Para Keynes o crescimento da economia é, prioritariamente, dependente dos investimentos. Estes são as variáveis que darão dinâmica à economia. Sem os investimentos em capital fixo a economia tende a perecer. E, de acordo com as suas argumentações, estas decisões não estão em sintonia com as decisões relativas à poupança prévia individual. 

É verdade que em situações peculiares outras variáveis serão importantes para tirar a economia da recessão-depressão. Por isto o autor da Teoria Geral irá sugerir o aumento dos gastos governamentais, uma política redistributiva e ficará contra às reduções salariais do setor público, de forma a evitar uma redução da demanda efetiva.

Quais as conclusões que podemos tirar destas propostas aparentemente contraditórias ou incoerentes? Se considerarmos que a "insuficiência de demanda efetiva" é a causa das crises, qualquer medida que aumente a demanda efetiva da economia será bem vinda. E é bastante provável que na recuperação da economia a demanda agregada exceda a oferta agregada, colocando mais um incentivo para o retomada dos investimentos, através de uma expectativa positiva.

Ademais, podemos admitir que as medidas a serem tomadas dependerão da situação em que a economia se encontre. O economista não deverá ser um escravo de dogmas, predeterminados e sempre repetitivos. 

É difícil, mas temos que admitir que existe uma contradição elementar da economia capitalista. Ao mesmo tempo que precisa reduzir salários para reduzir os custos de produção e aumentar os lucros, precisa, em determinadas situações, aumentar o poder aquisitivo para dar vazão a produção.
 
Tem sido comum acusar que a teoria keynesiana falhou nos anos 1979/80 em razão da estagflação que assolou principalmente os Estados Unidos, maior economia do mundo. 

A crise daqueles anos foi inusitada, incomum, conforme já tive oportunidade de comentar e volto a mencionar: 

- queda na participação dos Estados Unidos na produção mundial, maior economia do mundo e motor do crescimento mundial, em razão da recuperação das economias destroçadas pela guerra, com parques industriais mais modernos, principalmente Alemanha e Japão;

- a perda de competitividade de diversas indústrias tradicionais, como siderurgia, carvão mineral e metalurgia (principalmente automotiva), na região conhecida como "Rust Belt", no nordeste dos Grandes Lagos, responsável pelas altas taxas de crescimento nos anos 1950/60, que, ainda, não se recuperaram; nos anos 1980 era comum acordos de importação com o Japão para travar as importação de automóveis vindas do país asiático;
 
- a quebra unilateral do Acordo de Bretton Woods pelos Estados Unidos, que estabelecia regras nas relações comerciais e financeiras entre os países, acabando com a convertibilidade do dólar em ouro e a consequente flexibilização das taxas de câmbio, (taxas flutuantes); desvalorização do dólar frente à outras moedas:

"A inflação dos anos 1970 seguiu-se ao fim do acordo de Bretton Woods sobre a paridade das moedas nacionais, o que eliminou as "âncoras" nacionais para políticas nacionais", Kindleberger pgs. 210/11;

"A mais significativa manifestação do acirramento dos problemas econômicos mundiais gerados pela economia norte americana foi a abolição do padrão dólar-ouro em 1971, a base do regime monetário e financeiro internacional fundado em 1944.", Combat, p. 6, referência ao Acordo de Bretton Woods.
  
"Na ausência de um compromisso com as paridades, as políticas adotadas pelos bancos centrais levaram alterações nas taxas de inflação atuais e previstas, que por sua vez induziram grandes mudanças nos fluxos internacionais de dinheiro. Portanto, a variabilidade muito maior nos fluxos internacionais de dinheiro reflete parcialmente o maior número de mudanças nas políticas monetárias nacionais e alterações nas taxas previstas de inflação do que no período em que as moedas eram atreladas", idem p. 357;     

- uma "crise" de "confiança" abalada com a Guerra do Vietnam, contestada (gastos militares excessivos e mortes desnecessárias) pelo movimento dos hippies; instabilidade política (caso Watergate); desagregações familiares em consequência da guerra; movimentos feministas e raciais (Panteras Negras e outros), por direitos igualitários; e política econômica adotada pelos "falsos" intérpretes de Keynes.

Pessoalmente, acredito que o artigo de Combat é muito importante para entendermos o contexto dos anos 1970, situando a problemática de um contexto geopolítico, numa busca pela continuidade da hegemonia norte-americana no sistema monetário-financeiro internacional, conseguido no pós-guerra, com destaque para a importância do complexo industrial-militar neste contexto. 

Segundo Combat:
  
"[...] observados desde a década de 1960, sobretudo em virtude dos problemas criados pelo padrão de financiamento externo do déficit público norte- americano (especialmente em decorrência dos vultosos gastos com a Guerra do Vietnã), somente em 1971 (...) tornou-se insustentável. Para financiar o seu crescente déficit público, os Estados Unidos dependiam da aceitação internacional do dólar como dinheiro e, em especial, da sua utilização como reserva de valor", p. 6. 

"A intervenção norte-americana no Vietnã, nas décadas de 1960 e 1970, deflagrou as primeiras consequências desestabilizadoras da hegemonia norte-americana. À medida que a Guerra do Vietnã se prolongava, aprofundava-se a insustentabilidade do padrão de financiamento da economia norte-americana.", p. 6. 

A Guerra do Vietnã também trouxe insatisfações nas relações internacionais dos Estados Unidos: 

"E quanto maior o apoio estrangeiro, mais forte a tentação, para os Estados Unidos, de desconsiderar as consequências de suas políticas na inflação e no balanço de pagamentos; e menos aceitáveis as consequências para a Alemanha, que temia a inflação, e para a França, que recordava a recusa de outros países a ajudar a financiar as campanhas militares francesas", Eichengreen, p. 176, negritos meus.

Como diria Baños as nações repetem os mesmos “pecados capitais” dos humanos.

- déficits crescentes das contas externas do Estados Unidos por diversos motivos e do déficit público, os irmãos gêmeos. Necessário ver comentários sobre a Guerra do Vietnã. 

Volto a citar Combat:

"O processo de enfraquecimento do dólar foi uma decorrência, sobretudo, dos problemas de financiamento externo dos Estados Unidos". 

"A maior do déficit no balanço de pagamentos norte-americano, durante a década de 1960, era causado, portanto, pelo fluxo de capitais dos Estados Unidos para o exterior, através de investimentos diretos e da ajuda militar e econômica aos países europeus, justificados pelo contexto da Guerra Fria. A partir da segunda metade de 1960 e início dos anos 1970, a saída de capitais norte-americanos foi intensificada à medida que os gastos com a Guerra do Vietnã aumentavam, gerando um problema de financiamento do balanço de pagamento, (...)", p. 9.  

A valorização do dólar frente a outras moedas (principalmente, marco alemão, yen), em decorrência dos problemas do balanço de pagamentos fez com que os Estados Unidos procurassem que os principais países superavitários tomassem medidas que possibilitassem o dólar continuar como moeda de reserva internacional, mas os impasses surgiram. 

Eichengreen:

"Em última instância, a ameaça americana era "chutar o pau da barraca": desestabilizar os sistemas de comércio e monetários, caso os bancos centrais estrangeiros não dessem apoio ao dólar e os governos estrangeiros não estimulassem as importações de mercadorias dos Estados Unidos", p. 176. 

Com o impasse sempre adiado, a França e Grã-Bretanha tencionavam converter seus dólares em ouro (moeda internacional, reserva de valor, que garantia a paridade com o ouro), que não podia ser satisfeito pelos Estados Unidos, inclusive porque ia contra seus interesses de continuar regendo o sistema monetário internacional. Diante desta situação Nixon decretou a inconvertibilidade. Decretada esta, os países passaram a adotar medidas que visavam estritamente os seus interesses e a especulação (como não poderia deixar de ser) veio colocar mais combustível na fogueira.  

Para diversos autores a causa da crise de estagflação, que atolava o mundo, foram as políticas expansionistas unilaterais dos Estados Unidos, principalmente do governo Carter. Acredito que deveríamos levar em consideração o contexto da época, no qual os Estados Unidos sofriam uma falta de credibilidade no próprio país e as nações já estavam descompromissadas com o sistema de paridades fixas, em relação ao dólar. 
 
Segundo Eichengreen:

"A política de estímulo macroeconômico da administração do presidente Jimmy Carter, a partir do momento em que ele assumiu o cargo em 1977, foi adotada com pleno conhecimento de que suas consequências inflacionárias enfraqueceriam o dólar. A esperança da administração era que os outros países também viessem a adotar políticas mais expansionistas, o que limitaria a instabilidade monetária", negritos meus, p. 192.

Diante do que foi exposto, creio que podemos concluir que as políticas expansionistas foram o estopim, tendo em vista que os problemas já vinham se manifestando desde os finais da década de 1960. 
   
Diria aos leitores que o artigo de Combat procura dar uma visão geral dos problemas da época, num contexto geopolítico, de busca de manutenção da hegemonia; o livro de Eichengreen é mais detalhista quanto aos acontecimentos que levaram ao rompimento unilateral do Acordo de Bretton Woods por parte dos Estados Unidos.
 
- a crise do petróleo no final de 1973, com o aumento expressivo da matéria prima, em represália aos Estados Unidos pelo apoio à Israel na guerra Yom Kipur, com novo choque em 1979; esta crise e a de 1979 trouxeram como consequência uma perda de competitividade da indústria automobilística americana, que havia sido o principal motor do crescimento econômico nas décadas de 1950/60, situadas em Detroit, versus a indústria automotiva japonesa, que fabricava automóveis compactos com menor consumo de combustível e maior confiabilidade. 

A crise se prolongou durante anos, com estabelecimento de cotas de importações para os automóveis japoneses nos anos 1980, levando a cidade de Detroit e a região nordeste à decadência, em razão dos efeitos cumulativos em outros ramos industriais tradicionais, que já sofriam com a competitividade das nações que se reergueram da guerra. A decadência da região persiste nos dias atuais, sendo a cidade de Detroit o caso mais alarmante, com alto nível de desemprego, abandono da cidade e aumento da criminalidade. A região nordeste passou a ser conhecida como Rust Belt.

Sempre que nos referimos à crise do petróleo dos anos 1970 a primeira ideia que nos vem em mente é a questão da sua relação direta com a inflação. Entretanto, podemos nos afastar um pouco dessa nossa impressão inicial e tentar extrair alguma coisa sobre as repercussões que os aumentos tiveram nos negócios e nas expectativas dos agentes econômicos. As crises do petróleo agravaram os déficits comerciais dos países dependentes, modificaram o fluxo do mercado financeiro internacional com o acúmulo de petrodólares e lançaram mais lenha na fogueira, aumentando a instabilidade econômica, as incertezas, alimentando a especulação, com repercussões negativas  nas expectativas dos agentes econômicos. Já me referi à reciclagem dos petrodólares para países não desenvolvidos e ao problema das crises das dívidas destes países. 

Cito, novamente, Kindleberger & Aliber:

"Um deslocamento é um evento ou choque externo que muda horizontes, expectativas, oportunidades previstas de lucro, comportamentos - "algum conselho repentino, muitas vezes esperado". Um surto no preço do petróleo é um deslocamento, assim como uma desvalorização imprevista - embora a maioria das desvalorizações seja prevista.", p. 66. 

"Os choques nos valores do petróleo nos anos 1970 originaram grandes crescimentos na atividade imobiliária no Texas, Oklahoma, Louisiana e outra áreas produtoras de petróleo.", p. 37. 

- aumentos dos preços das commodities, como rescaldo da crise do petróleo; 

- oscilações do preço do ouro, tornando-se uma nova commodity, alimentando a especulação, com consequências no efeito-riqueza e imprevisibilidade para a economia.

Segundo Kindleberger & Aliber:

"Em algum ponto no final dos anos 70, os investidores estavam extrapolando a partir do preço de mercado do ouro de segunda a terça-feira para projetar o valor de mercado na sexta-feira. Eles compravam o ouro na quarta antecipando que poderiam vender a um preço maior na sexta. A "teoria do maior tolo" estava em ação", p. 53. 

- especulação com o petróleo pelas empresas petrolíferas após a crise de 1973 e, posteriormente, com a reciclagem dos petrodólares e as crises das dívidas nos países subdesenvolvidos.
 
Ora, conforme afirmei no início deste artigo, a teoria keynesiana era de curto prazo, que analisava as causas das crises econômicas, depressões, com propostas para solucioná-las, também, no curto prazo. 

Temos que considerar que as teorias são elaboradas dentro de um quadro conceitual, que leva em consideração e se adapta à realidade do momento. Numa sociedade capitalista desenvolvida não se pode negar a existência de um sistema financeiro, de uma taxa de juro, de empréstimos, de uma depressão, quando a economia se encontra nesta situação. Nem partir de axiomas irreais como a racionalidade absoluta do "homo economicus", uma "mão invisível", que ajustam automaticamente a economia e assim por diante. 

Quando a realidade muda e nos deparamos com novas situações que não foram consideradas, em razão da imprevisibilidade da vida, os conceitos e as propostas devem ser reavaliados e revistos. Devemos sopesar os conceitos diante de uma nova realidade. Não se deve adotar mecanicamente propostas que foram previstas para uma outra realidade, por motivos políticos diversos, baseadas em opiniões de intérpretes que nem sequer se dedicaram a ler e entender os fundamentos e conceitos que foram elaborados. Assim, pelo histórico de suas propostas e concepções, é provável que Keynes não aprovasse: a flutuação das taxas de câmbio; os déficits do balanço de pagamentos dos EUA, cobertos com emissão da moeda, após a quebra do Acordo de Bretton Woods; a financeirização internacional do capital; investimentos perdulários com a guerra do Vietnam, em benefício da indústria de armamentos, por questões geopolíticas; desregulamentação ou liberalização dos mercados, principalmente financeiros; além de ser frontalmente contrário ao conceito dos mercados eficientes, ou a Lei de Say. 

Estas concepções podem ser deduzidas das suas propostas para equalização do comércio mundial e quando trata da questão do sobreinvestimento na economia, pgs 290/1, conforme:

"Claro, pode acontecer - e na realidade é provável que aconteça - que as ilusões da expansão levem a produzir certos bens de capital em tamanha abundância que parte da produção é um desperdício de recursos à luz de todo e qualquer critério - o que por vezes se verifica, podemos acrescentar, quando há uma expansão: isto é, levam a um investimento mal orientado", Keynes, p. 291. 

Diante deste quadro peculiar é possível que tivesse de rever algumas sugestões, ou, até mesmo, quem sabe (?), adicionar alguns novos conceitos e propostas. A perda de competitividade das indústrias tradicionais americanas, a guerra do Vietnam, a crise geopolítica do petróleo, a flexibilização das taxas de câmbio não foram assuntos de suas teses, foram fatores imprevistos que fugiram do seu quadro conceitual, e, por isso, suas consequências não podem ser debitadas ao autor.  

Por este motivo, o comentário de Krugman é bastante pertinente, na sua Introdução à Teoria Geral:

"A ironia é que a inflação persistente, que faz com que aTeoria Geral não pareça diretamente pertinente para o nosso tempo do que seria na ausência dessa mesma inflação, pode ser atribuída em parte à influência de Keynes, para o bem ou para mal.

Para o mal: a decolagem da inflação de 1970 foi causada em parte pela política monetária e orçamentária, adotada por governos influenciados por Keynes que Heat no Reino Unido e no boom Burns-Nixon nos Estados Unidos", ps XXII/III. 

Em outras palavras, não se pode debitar à Keynes os problemas das décadas de 1970/80 e o fracasso nas soluções, postas em prática por seus "falsos" intérpretes, muitos dos quais não tiveram a mínima preocupação em entendê-lo, e deturparam a sua teoria.  

Penso que, se podemos debitar algo a Keynes foi o fato de não ter elaborado no seio da Teoria Geral, ou em paralelo, uma teoria das finanças, que permitisse entender melhor as crises, lembrando que ele estava familiarizado com as questões bancárias, ocupando o cargo de diretor do Banco da Inglaterra. Mesmo assim, deu contribuições relevantes para entendermos a relação da poupança-investimento, com os esclarecimentos dos conceitos "finance/funding".

Repito as palavras de Kindleberger: 

"O debate entre os monetaristas e os keynesianos ignora a instabilidade do sistema bancário e os impactos negativos sobre a produção e os preços na época em que o sistema de crédito paralisou, pois a queda nos preços de muitas commodities e bens fizeram muitos tomadores de empréstimos não pagarem suas dívidas - o que explica os eventos nos estágios iniciais da Depressão de 1929", p. 101. 

Ou citando Singer

"É difícil generalizar sobre o risco de crédito, pois ele está imbrincado no mecanismo do ciclo de conjuntura. Mas podemos propor uma hipótese que possui ao menos um base racional: quanto mais se expande o crédito e aumenta o multiplicador financeiro do valor, tanto maior se torna a probabilidade de que a expansão financeira se descole da economia real, o que multiplica o risco financeiro "sistémico ...". 

Este otimismo pode ter por origem o fato de, até então, a valorização financeira ter sido validada pela expansão da produção, do emprego, dos lucros das empresas e dos gastos de consumo das famílias e do governo", (negritos meus, p. 63).

Entretanto, tal lacuna foi preenchida por um economista pós-keynesiano, Hyman Philip Minsly (1919-1996), que acreditava que a economia capitalista tende para o desequilíbrio, levando em consideração a instabilidade e fragilidade do sistema bancário, concomitantemente, com a expansão e contração da economia.

A inflação de 1970/80 foi debelada com o aumento acentuado da taxa de juros e um aperto monetário que trouxeram uma crise econômica. Por ironia, a recuperação se deu com um aumento substancial do déficit fiscal, no governo Reagan. Monetaristas saudaram uma vitória dos seus prognósticos sem que estes tenham sido seguidos à risca, pois trouxe recessão (ver artigo sobre o monetarismo) e keynesianos exaltaram os déficits fiscais como motivo da recuperação, mesmo com o início da desregulamentação da economia, a financeirização internacional bancária, a inconvertibilidade do dólar e sua desvalorização frente a outras moedas, dos déficits acentuados do BP e outros axiomas falsos, sempre com a ênfase dos mercados perfeitos.

Nas faculdades de economia, nos cursos mestrado e até doutoramento a proposta de síntese keynesiana - clássica feita por John Hicks (Prêmio Nobel em 1972), no caso modelo IS-LM, é exaustivamente ensinada como sendo a interpretação exata, correta e inquestionável da teoria econômica, não dando espaço às interpretações e conceituações de Keynes. Através dos deslocamentos destas curvas acredita-se encontrar a resposta inquestionável dos dilemas da economia, de uma forma verdadeiramente plausível e exata, tudo ao contrário do que Keynes transmitiu. 

Que se diga que o modelo de Hicks, uma proposta de síntese keynesiana - clássica, ficou muito aquém das conceituações de Keynes, pois não dá um tratamento adequado no que se refere às perspectivas dos investidores, tratando-as como respostas previsíveis aos deslocamentos das curvas IS-LM. Não existe espaço para uma análise dos fatores que ocasionam as crises, deficiência de demanda agregada, e as respostas, um tanto imprevisíveis dos agentes econômicos, antes, durante e após a crise. Não destaca a importância da EMC para as crises e para as recuperações, muito menos o estado de confiança. Portanto, não há crise e, consequentemente, deficiência de demanda efetiva. No seu modelo haverá sempre o equilíbrio clássico, supondo uma igualdade entre oferta e procura agregadas, argumento que Keynes se opôs. 
 
Davidson frisou alguns aspectos desse modelo no tópico "E o modelo PI-ML de Hicks?", p. 285:

"Neste sistema PI-LM, de Hicks, os aspectos reais e monetários da economia estão subdivididos em subconjuntos independentes de equações. Para estes subconjuntos serem independentes, é necessário o pressuposto da moeda neutra".  

"Neste artigo, Hicks admitiu que a formulação PI-ML não descrevia de forma alguma a abordagem da teoria geral de Keynes", pgs. 286-7.

Neste particular, Krugman pondera:

"Hicks parece sugerir que a economia keynesiana só se aplica quando a curva LM é horizontal,  de modo que as variações  da oferta de moeda não afetam a taxa de juro, enquanto a macroeconomia clássica é aplicável quando a curva LM é ascendente.  

Mas nesta questão Hicks foi, ao mesmo tempo, excessivamente simpático para com os clássicos e injusto para com Keynes", p. XVII. 

A conclusão que posso chegar de tudo isto é que o economista deverá ter perspicácia, argúcia, sensibilidade, feeling e outras qualidades que em conjunto com os conhecimentos adquiridos, que serão permeados por ideologias, permitirão discernir as melhores propostas para contornar as situações indesejáveis. Por isto, nem todos que possuem conhecimentos amplos são capazes de propor alternativas inteligentes e viáveis.

E que, excluindo as faces ocultas dos vícios dos seres humanos, somente nestes momentos críticos a profissão de economista se aproximará da "arte". 

No anexo seguinte, irei comentar outros conceitos keynesianos que solidificarão os fundamentos de sua teoria.


ANEXO II

Depois de enumerar os fundamentos da economia keynesiana, que estão na contramão da economia clássica, cabe esclarecer alguns outros conceitos fundamentais da Teoria Geral, que irão dar coerência aos seus argumentos e propostas.

DESEMPREGO VOLUNTÁRIO E INVOLUNTÁRIO

Não pretendo entrar nos argumentos de Keynes para comentar estre tópico. Li este assunto já há muito tempo e podemos comentar recorrendo à lógica de alguns pressupostos keynesianos.

Os preços para os clássicos desempenham um papel fundamental na economia. Através dos preços a economia de uma comunidade (país) se ajusta. Antes, de entrarmos na questão do desemprego, an passant, temos que mencionar como os clássicos e Keynes viam a questão de desemprego. 

Os clássicos consideravam que a economia real, ou seja, a produção e demanda físicas sempre se igualavam no longo prazo, desde que os preços, inclusive salários fossem flexíveis para cima e para baixo. Dessa forma, os preços seriam as variáveis que assegurariam o pleno equilíbrio da economia. Neste sentido, culpavam os trabalhadores por não aceitarem reduções do salário, provocando a crise.
 
Para Keynes, dada a função de produção "social", de curto prazo, com fundamento da lei dos rendimentos decrescentes, o  desemprego seria decorrência da crise, uma questão "inadmissível" para os clássicos que consideravam que todo desemprego era "voluntário", em decorrência, também, da inflexibilidade dos salários para baixo. 

Neste sentido, para Keynes, dada as condições tecnológicas e sociais de curto prazo, o desemprego será consequência da "insuficiência da demanda efetiva" e, portanto, "involuntário".
 
Em resumo: como não existe demanda para os produtos não existe razão para contratar. O emprego seria recuperado com a recuperação da economia. 

O PARADOXO DA POUPANÇA 

Este é um conceito muito interessante que mostra toda a sutileza de Keynes. Está alicerçado no conceito "atual" de sinergia ou dialética dos marxistas. Gosto muito e nos meus artigos faço bastante uso dele. 

Baseia-se no princípio lógico e observável de que o resultado (o todo) não é a soma das partes, ou que o todo não representa a soma das partes (dialética, sinergia). 

O paradoxo da poupança nos diz que um indivíduo pode poupar para alcançar uma situação financeira desejável, mas quando toda a sociedade faz o mesmo, com este fim, e evita o consumo, a demanda efetiva cai e a economia entra em retração.
 
Segundo o autor:
  
"É verdade que, quando um indivíduo poupa, aumenta a própria riqueza. Conclui, porém, que aumenta também a riqueza agregada é ignorar a possibilidade de o ato da poupança de um indivíduo afetar as poupanças de outrem e, portanto, a riqueza de outrem.

Toda a tentativa desse gênero no sentido de poupar mais, reduzindo o consumo, age de tal modo sobre os rendimentos que anula a si mesma. E, claro, é impossível à comunidade no seu todo poupar menos do que o montante do investimento corrente, já que uma tentativa dessa ordem fará necessariamente subir os rendimentos até o nível em que a soma que os indivíduos decidem poupar atinjam um valor exatamente igual ao montante do investimento", p. 76. 

Vitor Calvete coloca nestes termos:

"o paradoxo da poupança mostra que quanto mais se poupa, menos se consegue poupar (por causa da drenagem de rendimentos do circuito econômico, que diminui sucessivamente os rendimentos", p.55.


  A PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ

Trata-se de um conceito fundamental que traz uma divergência importante com relação aos clássicos e principalmente os monetaristas. 

Conforme afirmei no texto principal, para o monetarismo e clássicos a única função da moeda é servir como meio de troca. Por isto, os seus modelos foram e ainda são elaborados em termos reais, de bens, e a moeda entra apenas para facilitar a troca.
 
Keynes irá criticar a posição clássica-monetarista afirmando e dando destaque para as motivações para reter moeda por precaução e especulação. Dessa forma se distancia da Teoria Quantitativa da Moeda, fundamento dos monetaristas, de que a simples expansão da moeda irá aumentar os preços, sem repercussão sobre a taxa de juro. 
Na motivação precaução irá dar destaque a incerteza e as necessidades de se precaver dessas incertezas, com  preferência para manter moeda, ativo mais líquido. 

Keynes dedica mais tempo à motivação especulativa. Trata-se da questão em que os agentes econômicos preferem reter moeda, ativo líquido, para especular com a variação na taxa de juro e consequentemente dos títulos. Está associada às expectativas e a oferta de moeda pelos bancos e autoridade monetária, em operações de mercado aberto. Sendo muito importante nos momentos de crise.
  
Segundo o autor:

"As operações de marcado aberto podem influir sobre a taxa de juro por ambas as vias, quer alterando o volume de moeda, quer dando origem a novas expectativas relativamente à política futura do banco central ou do governo", p. 179.  

Em resumo: os agentes econômicos retêm moeda para fins de cautela e especulação. 

O MULTIPLICADOR 

No capítulo 10 da Teoria Geral Keynes irá expor o conceito do multiplicador, em termos didáticos e matemáticos, cuja formulação em termos matemáticos se deve ao colaborador Richard F. Kahn, embora Keynes já deslumbrasse esse conceito em suas discussões.
 
O conceito afirma que, considerando um equilíbrio nas contas externas, um aumento no investimento ou um déficit do governo irá aumentar a renda nacional de um múltiplo, da razão inversa da propensão marginal a poupar, cujo multiplicador do investimento K será:

K= 1/PMgp

sendo PMgp a propensão marginal a poupar. 



BIBLIOGRAFIA:

Akderlof, George A. & Shiller, Robert J., "Espírito animal", Ed. Campus, 2010;
 
Baños, Pedro, “Os donos do mundo – todos os segredos da luta pelo domínio global”, Clube do autor, 2018;

Blustein, Paul, "Vexame ´os bastidores da crise que abalou o Sistema Financeiro Mundial", Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A., Rio de Janeiro, 2001;

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  SOBRE A RELAÇÃO INVESTIMENTO-POUPANÇA
                              -FINANCE - FUNDING-

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Neste blog: melisiofrota.blogspot.com:

“A racionalidade no processo de conhecimento e nas tomadas de decisões dos agentes econômicos”; 

"A nova geopolítica - fundamentos e ideologia", 3ª parte "Liberalismo político e econômico e privatização"; 

"A ideologia das vantagens comparativas";

"Desenvolvimento e livre comércio".