A IDEOLOGIA DO GÊNERO
-SIMONE DE BEAUVOIR-
Este artigo é uma tentativa de estabelecer um marco para o
que viria se tornar o “movimento” (se é que assim podemos chamar) transexual atual.
Todos já ouviram falar como Freud abalou as estruturas do
edifício da sociedade puritana e vitoriana da época trazendo para a cena
principal de nossas vidas suas teorias sobre sexo e a sua importância nos
distúrbios psíquicos do ser humano.
Ao mesmo tempo em que “sexualizava” a vida das crianças, até
então consideradas ingênuas e “santas”, aflorou o inconsciente, (trazendo-o à
consciência), introduziu conceitos, que hoje de tão comuns, fazem parte do
imaginário e do vocabulário de qualquer cidadão.
Podemos dizer que depois de Freud, com a suas teorias sobre a
sexualidade, a sociedade cresceu, saiu da imaturidade e nunca mais foi a mesma.
Com Freud e depois dele mudam-se os padrões sociais de comportamento, inicia-se
uma nova era.
Concordemos ou não com suas teorias, juntamente com o
socialismo de Marx, elas desencadearam os movimentos sociais mais importantes
de todo o século XX.
Até o momento, a história destronou Marx, mas Freud entrou no
nosso inconsciente e provavelmente permanecerá, mesmo que uma grande parte de
suas teorias seja ultrapassada.
E queiram ou não, mesmo atacado de patriarcal e misógino, com
a sua polêmica teoria falocêntrica, “da inveja do pênis”, contribuiu para o “movimento
feminista”, ao dar um status ao desejo feminino, alargando o debate sobre o
papel do inconsciente e do sexo sobre as nossas vidas. O debate de assuntos tão
polêmicos abre as portas para as mais diversas manifestações.
Mas que importância tem Freud para o nosso tema?
Em 1905, publica “Três ensaios sobre a sexualidade”, que
escandaliza a sociedade tradicional burguesa. Trata de temas relativos ao sexo
das crianças, às perversões, às inversões, à bissexualidade, às fases do
desenvolvimento sexual.
Até então os desenvolvimentos sexuais de meninos e
meninas eram concebidos como caminhando
em compassos paralelos, simétricos. Assunto polêmico seria a questão da
bissexualidade pois acreditava numa “disposição bissexual”, por ser ela inata
ao ser humano, considerando as evidências anatômicas.
“Há muito tempo renunciamos à expectativa de um perfeito paralelismo entre
o desenvolvimento sexual masculino e feminino” (em Sobre a sexualidade feminina).
“Em primeiro lugar, é indiscutível que a bissexualidade – que afirmamos
ser parte da constituição humana – aparece bem mais nitidamente na mulher do
que no homem” (idem).
Entretanto, é no texto “Algumas
consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos”, datado de
1925, que muda radicalmente as suas posições anteriores, passando a admitir que
as diferenças anatômicas entre os sexos influenciam no desenvolvimento do
psiquismo humano.
Neste trabalho destaca a diferença entre o complexo de “Édipo”
masculino e feminino, conforme suas palavras:
“Nas meninas o complexo de Édipo é uma formação secundária. As operações
do complexo de castração o precedem e preparam. A respeito da relação existente
entre os complexos de Édipo e de castração, existe um contraste fundamental
entre os dois sexos. [...] A diferença entre o desenvolvimento sexual dos
indivíduos dos sexos masculino e feminino no estádio que estamos considerando
que estamos considerando é uma consequência inteligível da distinção anatômica
entre seus órgãos genitais e da situação psíquica aí envolvida; corresponde à
diferença entre uma castração que foi executada e outra que simplesmente foi
ameaçada”.
É também neste texto que faz a distinção entre o ciúme
masculino e o feminino, este último muito mais amplo.
É importante que se diga que esta guinada de posição
freudiana em relação à teoria da sexualidade não teve tanto repercussão quanto
“Três ensaios sobre a sexualidade”, daí não ser bastante conhecida e divulgada.
As coisas começam a mudar radicalmente quando Simone de
Beauvoir, ícone dos chamados movimentos libertários, feminismo e também socialismo
(mais a frente veremos que não era tão socialista), lança o seu grito, que
fundamenta toda a ideologia do gênero:
“Não
se nasce mulher, torna-se mulher”
De todas as suas frases, esta é a sua frase mais significativa,
que veio e ficou, palavras de ordem que servem para uma pequena minoria,
diga-se irrisória, pregar a ideologia de gênero, custe o que custar.
Os antropólogos e historiadores já tinham ciência de que em
diferentes sociedades as mulheres ocupavam papéis sociais distintos. E muitas
mulheres já lutavam por direitos igualitários sem precisarem ir aos extremos.
O que isto realmente isto significa? Significa a importância
do gênero. Ou seja, a sociedade transforma uma pessoa em mulher e as suas
condições biológicas se submetem somente às regras sociais. Ponto final.
Mas, se não se nasce mulher também não se nasce homem. Então
nascemos o que? Qualquer coisa?
Seria muitíssimo pouco provável que uma afirmação tão
categórica viesse de um neurocientista, um geneticista, um endocrinologista e
de um psicanalista.
Isto porque bem sabemos que os limites dos condicionantes do
comportamento humano, sociais, psíquicos, genéticos e neurais não foram e
possivelmente não serão precisamente delimitados. E hoje ninguém contesta a
importância de todos estes fatores.
E a genética e a neurociência vêm nos dizer precisamente
isto:
“Ao
longo da infância, o ambiente onde vivemos refina o nosso cérebro, partindo da
selva de possibilidades e moldando-a para corresponder àquilo a que estamos
expostos” (Eahleman, p.14).
“Hereditariedade e adaptação ao ambiente são fatores importantes. A
seleção sexual é fundamental. O clima determina o tamanho do corpo. Quanto mais
frio o ambiente, mais baixos e entroncados para reter o calo. A altura depende
do regime alimentar” (Carvalho p. 114).
“As pessoas pensam no comportamento como sendo algo que é determinado
pela forma como o indivíduo cresce, como é tratado pelos pais, pelas coisas que
lhe vão acontecendo ao longo da vida. Na verdade, uma parte importante do nosso
comportamento depende da forma como nos desenvolvemos” (idem p. 288).
Mas isto não significa que não existam limites, ou pré-disposições,
que o nosso comportamento seja o resultado apenas da influência da cultura, a
qual estamos inseridos, eliminando também os traumas familiares e as
experiências individuais da vida, positivas (traumáticas) ou não.
Ao resumir tudo à cultura, a nossa ideóloga de uma só tacada eliminou a genética, a neurologia, a
importância dos hormônios e a psicanálise (traumas e desenvolvimento psíquico).
Em “O feminismo não é
honesto com as mulheres”, entrevista à revista Veja, a feminista e filósofa
Camille Paglia, afirma:
“A
partir dos anos 60 o movimento feminista tentou apagar qualquer menção às
diferenças de comportamentos causadas pelos neurônios. Mas homens e mulheres
sentem e expressam emoções de maneiras diversas, por que os hormônios atingem o
cérebro dos dois sexos em níveis diferentes” (citado em “Paglia, Freud e o
feminismo”, neste blog).
Interessa aqui não a estrutura do cérebro, mas às diferenças
relativas à forma como o sistema nervoso recebe, analisa e processa o estímulo
ou a informação, para que o cérebro dê uma resposta “adequada”, ao nível de
harmonia do próprio sistema. E essas respostas nunca são iguais para pessoas
diferentes.
Segundo a neuroendocrinologista Dra Maria Bernadete Cordeiro
de Souza, em reportagem “Como os nossos
hormônios influenciam o comportamento das pessoas - Revista Trip - Uol”,
https://revistatrip.uol.com.br>trip:
“Os neurônios se comunicam por sinapses e várias dessas sinapses são
moduladas pelos hormônios que dão inclusive o nosso estado de humor”.
Em “Diferenças
cerebrais entre homens e mulheres justificam habilidades e comportamentos
distintos?”, artigo do Dr. Joel Renno, em
emais.estadao.com.br>blogs>joel–renno:
“A mulher está mais sujeita a depressão do que o homem e, quanto a isso,
existe uma relação direta com a baixa da substância química cerebral, a
serotonina, no cérebro feminino. As oscilações dos níveis de estrogênio em
períodos cíclicos do ciclo reprodutivo feminino com o pré-menstrual, o
pós-parto e a perimenopausa (período que se inicia 5 anos antes da menopausa e
vai até um ano após) são “gatilhos” para a depressão feminina, mais frequente,
cerca de duas vezes”.
Em sentido paralelo afirma o neuropediatra José Salomão, em
entrevista ao Dr. Drauzio Varella:
“Existem evidências de que manipular esse hormônio em animais de laboratório
ou mesmo em pessoas provoca mudança de determinados comportamentos que são
sexo-dependentes”.
“Tais diferenças de comportamento, boa parte dos indivíduos atribui a
fenômenos culturais, mas há sinais claros de que outros fatores também pesam. É
óbvio que os aspectos sociais e culturais existem, mas não se pode negar o
papel biológico presente nesse processo”.
No livro “Subliminar”,
Leonarde Mlodinow, nos dá alguns exemplos das diferenças:
“Mas, nos seres humanos, a oxitocina e a vasopressina também regulam os
vínculos com os semelhantes. Nas mães humanas, assim como nas ovelhas, a
oxitocina é liberada durante o parto e o nascimento. Também é liberada na mulher quando os mamilos ou o colo do
útero são estimulados durante a relação sexual; e nos homens e nas mulheres
quando chegam ao clímax sexual.[...] A oxitocina é liberada inclusive nos
abraços, em especial pelas mulheres...” (p. 113/4).
“[...] e que as mulheres, quando estão ovulando, usam roupas mais
provocantes, tornam-se mais competitivas sexualmente e ampliam sua preferência
por homens sexualmente competitivos” (p. 211).
Somente as pessoas que conviveram com mulheres na menopausa
sabem o que isto significa em termos comportamentais, cujos sintomas mais
comuns são: alterações de humor, irritabilidade, alterações cognitivas
(diminuição da atenção e memória), dores articulares, depressão, enxaqueca, ondas
de calor, ressecamento e queda do apetite sexual, sensibilidade para chorar, alterações
na densidade óssea e no metabolismo dos lipídios. Sem falar nas alterações de
humor da TPM.
Esta fase revela toda a ambivalência hormonal do ser feminino. Muitas
sequer percebem as alterações de humor, sentem mais não percebem e culpam os
que estão próximos. Em princípio, qualquer decisão ou atitude que você tome já
está errada. Nada satisfaz. E ainda são vítimas de tudo. E a verdade é que nós
devemos relevar e procurar entender este momento bastante delicado da vida
delas.
Os leitores poderão encontrar mais informações sobre o
assunto na bibliografia selecionada e no artigo “Paglia, Freud e o feminismo”,
neste blog.
Mas a nossa ideóloga, para não fugir a regra de todos os
movimentos extremamente contestatórios, cujo elo é o radicalismo, é categórica.
Tão categórica que se torna ditatorial, como se fosse uma
norma a ser seguida, sem possibilidades de uma mediação. Só existe uma via
de mão única, não há possibilidades de admitir as diferenças, como deveria
ser.
Esqueceram de que ainda de trata de uma minoria e que a
minoria não estabelece a regra. Nos Estados Unidos apenas 0,3% da população se
dizem transgêneros. Muito pouco. Como isto pode ter representatividade para se
tornar uma regra a ser seguida e ensinada? E mesmo que venha a ter
representatividade há sempre exceções, como se constata no caso presente.
E porque haveria apenas um condicionante do comportamento
humano, que necessariamente se sobrepõe aos outros condicionantes? O grande
enigma que as ciências ainda não resolveram é delimitar precisamente os
limites de cada condicionante.
Amenizando os teóricos mais radicais que procuram dar mais ênfase
a alguns aspectos relativos à sua área específica, cito o biólogo S.J. Gould:
“O modelo antirreducionista se esforça para apresentar a natureza como uma
série de níveis independentes e hierarquizados, apresentando uma coerência
interna mas exercendo uma ação de feed-back
sobre todos os níveis adjacentes. Nenhum nível apresenta “a realidade por
excelência”, um ponto de partida para todas as extrapolações; todos os níveis
representam aspectos da natureza que agem uns sobre os outros” (Cette vision de
la vie apud Japiassú, p. 171/2).
E já que todos reconhecem a importância do meio ambiente,
inclusive dos aspectos culturais, não existem razões para que não se incluam
nestes os recalques, os interditos culturais e parentais, os traumas da
infância, a repressão, o desamor, o desejo recalcado, as experiências vividas e
os demais aspectos do desenvolvimento da psique, conforme os ensinamentos de Freud.
Admitir que o comportamento do ser humano seria 100% (cem por
cento) determinado pelo ambiente social é no mínimo uma imprudência, diante dos avanços da genética, da neurociência e até
mesmo da psicanálise.
Trata-se de um determinismo
absurdo, pois não haveria chance de se nascer mulher (biológica) e se
identificar com a mulher gênero. Em todas as condições o gênero irá prevalecer sobre a mulher ou o homem biológico. Nega-se,
inclusive, a reprodução e sem ela não existe a espécie humana.
Carvalho nos mostra como o comportamento do sociopata tem
“base biológica” e não depende apenas, como muitos pensam, da criação dos pais
e das experiências que “vão lhe acontecendo ao longo da vida”, embora reconheça
a importância “da forma como desenvolvemos” (p. 288). O mistério é que nem sempre
o ambiente determina de forma precisa o comportamento.
Mas, mesmo admitindo esta hipótese extrema (trata-se de
hipótese), isto não significa que não existisse uma outra pré-disposição “contrária”,
genética ou neural. Daí o impasse.
Ora, estas pessoas lidam com argumentos de acordo com as suas
conveniências. Nos debates sobre adoção de crianças por homoafetivos um dos
argumentos, contra a moral conservadora, era que os adotados não se tornariam
necessariamente homossexuais. E afora as questões sociais num país de extrema
exclusão social, onde os destinos das crianças marginalizadas estão desde cedo sacramentados,
as “experiências” estão de certo modo comprovando estes argumentos.
Não se trata mais de discutir sobre a “normalidade” ou
“anormalidade”, isto é irrelevante no momento atual, pois temos que conviver
com as “diferenças” e “diversidades”, uma condição humana, desde que as
diversidades se respeitam numa relação de via dupla. Trata-se de uma questão
humanitária que se resume na “dignidade” da pessoa humana, princípio básico inserido
na nossa Constituição.
Outrossim, não me parece válido o argumento de que temos que aceitar qualquer característica do ser humano porque ele nasce com tendências (biológicas
ou não) e por isto seria natural. Além de negar o argumento do gênero, não se
trata de qualificar a normalidade ou anormalidade de acordo com a sua “origem”,
porque a sociedade não aceita o comportamento de um criminoso de alta
periculosidade, seja ele inato ou adquirido. Também não aceita o comportamento
de um pedófilo predador.
Trata-se de uma questão da evolução da espécie humana, que
nos distingue, da possibilidade de se conviver com as diversidades, quando elas
não ameaçam o convívio social e não tragam danos aos outros: materiais,
financeiros, psíquicos, sociais.
Seríamos os únicos seres vivos superiores cujo comportamento
seria determinado exclusivamente pelo meio ambiente (no caso social), porque os
hermafroditas têm à sua pré-disposição biológica. Seríamos uma folha de papel
em branco onde o comportamento humano seria moldável de acordo com as
conveniências, um sério problema para o destino da humanidade.
Estamos vivendo um momento único em nossa história em que os
direitos e o respeito às diversidades estão se firmando e por isso a
radicalização de quaisquer dos lados não será bem-vinda.
Analisando algumas
passagens da vida de Simone de Beauvoir (ver Apêndice), fico imaginado como seria a cabeça dessa “mulher”, ou desse
gênero, uma criança mimada, centro das atenções da família, criada numa família
tradicional em ruína e talvez se submetendo a constrangimentos psicológicos
para ser admirada e amada pelo pai (Wikpédia). Como teria sido a sua infância
com esta comparação com o sexo masculino, para se sentir aceita?
Depois frustrada num relacionamento com um homem que não a
tratava com dignidade, sujeitando-se a ser sua “cafetina”, para satisfazer os
seus desejos sexuais.
Cito novamente Paglia, em Camille Paglia “As mulheres nunca serão verdadeiramente
livres se não deixarem os homens serem livres”, www.fronteiras
.com>entrevistas>camille:
“Movimentos sempre atraem fanáticos ou pessoas com personalidade
borderline, e foi exatamente isto que aconteceu. Muitas mulheres problemáticas
amarguradas com homens tomaram o discurso feminista. Kate Millett era um bom
exemplo disso – sua vida foi uma série de crises mentais e hospitalizações”.
Diante disto pergunto: como esta mulher tão desamada,
menosprezada e humilhada em sua vida, com uma vida tão complicada e
traumatizada, pode ser referência para tantos? E não sou eu quem diz do seu
drama, mas a própria autora quando busca a causa da frigidez da mulher no homem
(ver Apêndice). Continuo, como pode ser “o guia” de gerações, ainda hoje, quando
já foram desvendados e expostos aspectos de sua vida privada e personalidade?
Bem sei que a contribuição para uma causa não deve ser
aferida através da vida privada de quem a protagonizou. Mas o histórico da vida
de uma pessoa nos diz muito sobre a sua visão do mundo, ideias, suas atitudes,
os seus envolvimentos e engajamentos, as suas causas.
E é esta visão do mundo que está sendo posta em questão,
porque ela vem junto com a bandeira de quem levanta ou ajudou a levantar a
causa.
E quando não se vê as razões mais profundas desta visão do
mundo do protagonista formam-se falsos ídolos, cujas contribuições, devidamente
analisadas, são bem menores que se supunha.
Fico imaginando como seria a cabeça confusa de Simone.
Nascida em uma família tradicional decadente, viu a ruína financeira do pai,
que tinha predileção para ter um filho homem e a admirava por “pensar como
homem” e depois se envolveu com Sartre, um narcisista,
um humanista que não lhe dava mínima importância como ser humano. Ao mesmo
tempo desejava a sua realização como “mulher
biológica” com um homem que a desprezava.
Por sinal quem responde pelo seu livro “Os Mandarins”, uma autobiografia, que inclui o seu relacionamento
com o escritor Nelson Algren, onde retrata e expõe os seus sentimentos íntimos
ao ter encontrado a “verdadeira alegria do sexo” (Crevelt, p. 426). Qual mulher
está falando? A mulher biológica ou gênero? Ou estaria fingindo?
Mas em uma passagem do seu livro revela a condição de mulher,
quando deposita a culpa pela
frigidez da mulher ao homem, o que está em contradição com a sua famosa frase.
Por que não encontrar a razão de sua frigidez no seu passado, na sua vida
familiar e em suas experiências pessoais? Até a sua frigidez é culpa do homem?
Ninguém duvida que Simone era uma mulher infeliz, principalmente em seu relacionamento, na sua
vida amorosa. O que a famosa escritora parece não ter entendido, ou fez questão
de não entender, é que as suas experiências pessoais, o seu sofrimento e
angústia, dizem respeito a si, e não podem ser generalizadas para a existência
de todas as mulheres.
Dizem respeito à adaptação e a resposta de seus genes, seus
neurônios e a sua psique às experiências concretas de sua vida e, quem sabe, à
sua própria pré-disposição genética e neural. Eis o enigma.
A infelicidade é
um fardo muito pesado para ser suportado sozinho. Ela é amiga íntima da
solidão, da inveja, da necessidade de dividir este fardo com os outros, de ser
notada e admirada. Não falo da solidão querida e buscada, mas de uma solidão
imposta pelas consequências.
Como uma “mulher” que se diz feminista, defensora dos direitos
igualitários e da autoestima da
mulher, pode ter uma relação tão submissa a Sartre? Como uma pessoa com tão baixa autoestima pode querer ser
referência para todas as mulheres? Tão deprimente para um ser humano, servindo
de “cafetina”, aliciando menores na universidade, para servir as taras de seu
amante (ver Apêndice). E, provavelmente, participar das orgias.
A líder feminista teve
um comportamento moral tão degradante, que a maioria das “não feministas” não
admitiria ficar em situação semelhante. Muitas por uma “simples” questão moral,
de integridade e coerência enfrentam dificuldades, para poder educar melhor
seus filhos. Uma simples questão moral e de autoestima.
Não se trata de negar a sua contribuição, mas em torná-la a
referência e o expoente maior da causa. O modelo a ser seguido.
O livro de Tony Rujt é muito interessante porque desmistifica
estes ídolos, esses gênios, que querem influenciar o comportamento das pessoas,
que foram e continuam sendo uma referência de muitas gerações. Mostra que estes
ídolos são seres humanos com tudo que nos caracteriza como humanos. Com
virtudes e vícios em suas vidas privadas e públicas.
E por serem gênios não significa que tenhamos que seguir os
seus passos e compartilhar as suas visões do mundo. As suas experiências não
são universais e por isso as suas conclusões, opções e comportamentos não
servem como referência para serem copiadas.
Aos que questionam este posicionamento afirmo que se julga
também em função da moralidade e dos costumes. É por isso que a Lei de
Introdução ao Código Civil estabelece em seus artigos:
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerias do direito.
Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.
E no bem comum e nos costumes estão incluídas a moral e a
ética.
O princípio da “DIGNIDADADE DA PESSOA HUMANA”, um dos
princípios basilares de nossa Constituição, tem fundamento moral e ético. Assim
como diversos “direitos e garantias fundamentais”, que constam dos incisos do
art. 5º da C.F., dentre os quais podemos destacar “a proibição à tortura e tratamento desumano ou degradante” (art.
5º, III):
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III – a dignidade da pessoa humana.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
E quanto a Sartre? O que adianta ser intelectual e erudito,
se pactua com os invasores para benefícios próprios e defende os expurgos e
assassinatos em massa? Sempre com a farsa de preocupação com a humanidade.
Fazendo da mulher com quem convive uma simples “cafetina”.
Sim, trata-se de uma questão moral. Toda sociedade constrói o
seu arcabouço moral e sob ele também temos que nos curvar. Sim os valores mudam,
mas alguns permanecem e até passam a ser tratados com mais rigor, como é o caso da
pedofilia.
É provável que se fosse hoje o nosso filósofo estivesse em sérios apuros. Safou-se do problema de sedução de estudantes, do qual era a
parte ativa, o cabeça, deixando as consequências para a companheira. Como
conseguiu?
O “Dicionário básico de filosofia” assim conceitua a corrente
filosófica “existencialista”, cujo expoente foi Sartre:
“Filosofia contemporânea segundo a qual, no homem, a existência, que se
identifica com a sua liberdade, precede a essência; por isso, desde o nosso
nascimento, somos lançados e abandonados no mundo, sem apoio e referência a
valores; somos nós que devemos criar nossos valores através de nossa própria
liberdade e sob a própria responsabilidade. Quando Sartre diz que a existência
precede a essência, quer mostrar que a liberdade é a essência do homem”.
Quero deixar claro que nunca li Sartre. Belas palavras se
estas forem mesmo à essência do “existencialismo”. Mas, temos que reconhecer que neste ponto o grande filósofo foi bastante coerente e o seu "existencialismo" está bastante condizente com a sua vida privada, que
deixou a muito desejar quanto a moral vigente.
Gostaria de entender como estas pessoas podem ser referência
para algum movimento tão importante ou para a humanidade.
APÊNDICE
Colocado isto, passo a comentar alguns aspectos da vida de
Simone de Beauvoir, que teve um longo relacionamento com Paul Sartre.
Antes de adentrar neste assunto gostaria de esclarecer que
acredito não haver necessariamente uma total identificação entre o que uma
pessoa pensa, o que sente intimamente e o que faz. Este é mais um enigma da
condição humana.
Em outras palavras, isto quer dizer que a contribuição de uma
pessoa para a ciência, para a filosofia, psicanálise ou qualquer outra
atividade não necessariamente está alinhada com o seu comportamento.
Por isso, temos que reconhecer que a obra de uma pessoa, sua
contribuição, pode ultrapassar em muito a mesquinhez e a vulgaridade de sua
vida pessoal.
Entretanto, existem situações em que o julgamento moral
torna-se importante e isto acontece com bastante frequência. Neste sentido, é
contraditório e até inadmissível que uma pessoa que seja contra a exploração
sexual e a prostituição viva dentro de um puteiro e explore adolescentes. Que
uma pessoa que defenda publicamente a liberdade de expressão seja um repressor
severo, que alguém que diz abertamente se preocupar com a educação do menor
seja um pai "cruel" e irresponsável. E uma feminista que levanta bandeira em
prol da causa e leva “porrada” do marido em casa, não deveria ser o
referencial, muito embora possa contribuir para a causa. Como diz o velho
provérbio: cada macaco no seu galho.
Em muitos casos, embora possa não haver uma legislação
específica, cada um julga de acordo com os seus valores morais e éticos, com os
seus preconceitos, com seus valores religiosos ou não, com as suas convicções
mais íntimas.
Daí porque a minha pretensão é apresentar fatos para que o
leitor de acordo com a sua lente própria melhor avalie os fatos expostos e as
minhas conclusões.
Acredito que muitas vezes, quando defendemos abertamente uma
causa deveríamos nos pautar pela coerência de propósitos e atitudes, nos
valores que defendemos e no que fazemos na realidade.
Não podemos deixar de reconhecer que as experiências e vivências
pessoais contribuem em muito para a visão do mundo, a ideologia e as opções de
cada pessoa.
Por isso os biógrafos se debruçam tanto em esmiuçar a vida
das pessoas que fazem ou fizeram “a
diferença”, como o ambiente familiar, filiação, trabalho, vida afetiva,
formação educacional e outras particularidades e avaliar o elo entre as suas
experiências e as suas propostas.
As experiências dizem muito porque existem atos falhos e racionalizações, dos quais não nos
apercebemos.
Todos sabem da influência que a fixação de Freud por sua mãe teve
para o desenvolvimento da teoria psicanalítica. E neste caso, o problema reside
em identificar às particularidades de suas experiências pessoais que possam ser
generalizadas.
Da mesma forma sabemos que os problemas pessoais vividos por Virgínia
Woolf, como o estupro praticado por seu meio-irmão George, tiveram grande
influência na sua vida sexual, a sua obra e até mesmo no seu suicídio. E tantos
outros, não seria o caso de ficar enumerando.
A questão é quem foi Simone de Beauvoir? Quem foi Sartre?
Como era o relacionamento entre os dois?
Segundo dados colhidos das fontes citadas, Simone nasceu numa
família tradicional onde as dificuldades financeiras do pai jogaram a família
na “desonra e pobreza”, sendo o centro de atenções da família e mimada.
Na sua relação familiar tinha consciência de que o pai
gostaria de ter um filho e sempre afirmava que “Simone pensa como um homem” (Wikipédia).
Também o pai dizia para as filhas: “Vocês meninas nunca irão
casar, porque não terão nenhum dote” (Wikipédia). A influência do pai pode ser
atestada quando rejeitou a proposta de casamento de Sartre exatamente “porque
não tinha dote”. Segundo a autora: “O casamento era impossível. Eu não tinha
dote” (Wikipédia).
Um dos aspectos importantes de sua vida é que sua licença
para ensinar foi “revogada permanentemente” em decorrência de informações sobre
o aliciamento de alunas jovens para participarem da cama de Sartre, com quem já
mantinha um relacionamento. Para alguns “foi demitida por comportamento que
levara a corrupção de menor”. Isto em 1943.
Enquanto mantinha um relacionamento afetivo com Sartre,
também manteve relacionamentos com outras mulheres e homens e, ao que tudo
indica, participava das aventuras sexuais do amante (Sartre).
Segundo Creveld, “apaixonou-se por Sartre e quis casar com
ele”, mas fizeram um pacto de não casamento. Ainda conforme o autor:
“Daí em diante Beauvoir foi forçada a tolerar as “petites camarades” de
sua alma gêmea. Ela seria inumana se não ressentisse do arranjo, e de fato em
seu primeiro romance a personagem principal - baseada nela mesma - acaba
assassinando a rival” (p. 426).
O autor está se
referindo ao primeiro romance de Beauvoir, A
Convidada, de 1943, em que retrata num “romance ficcional” o relacionamento
sexual do casal com as irmãs Olga e Wanda Kosakiewicz (ver Wikipédia).
Segundo ainda o autor, Beauvoir só encontrou os prazeres do
sexo aos 40 anos depois que conheceu o escritor americano Nelson Algren, com
quem manteve um longo relacionamento. O livro “Os Mandarins” seria uma autobiografia, onde ela relata os seus
sentimentos mais íntimos como mulher
durante aquela relação.
Segundo a autora:
“O desejo dele me transformou. Eu que por muito tempo não tivera gosto,
nem forma, de novo possuía seios, uma barriga, um sexo, carne; eu era tão nutritiva quanto o pão, tão fragrante
quanto a terra. Era tão milagroso que não me ocorria medir meu tempo ou prazer;
sabia apenas que antes que adormecêssemos eu podia ouvir os suaves chilreios do
amanhecer” (apud 426, grifo meu).
De qual sexo nos fala a autora? Por acaso seria o sexo
biológico? Ou ainda se trata do gênero?
É provável que a experiência própria a tenha levada a
refletir sobre a frigidez feminina. Deixo ao leitor as conclusões sobre as
afinidades entre a vida da autora e um seu provável auto-depoimento:
“O ressentimento é a causa mais comum da frigidez feminina; na cama, a
mulher pune o homem por todas as injúrias que sente ter sofrido, ao
oferecer-lhe uma insultante frigidez. Há com frequência um agressivo complexo
de inferioridade em suas atitudes [...] Assim ela se vinga tanto dele quanto de
si mesma por ele tê-la humilhado, por negligência, por tê-la feito ficar com
ciúmes, por ele ter se demorado em declarar suas intenções, por ele só fazer
dela uma amante quando ela queria o casamento. O agravo pode se acender
subitamente e disparar essa reação mesmo numa relação que começa feliz [...] A
frigidez [...] parece ser a punição que a mulher impõe tanto a si mesma quanto
ao seu parceiro; ferida em sua vaidade, ela sente ressentimento contra ele e
contra si mesma, e ela nega a si mesma o prazer” (apud p. 426).
Um outro aspecto importante de sua história, que as suas
admiradoras feministas não comentam, é que trabalhou para o regime de Vichy,
aliado francês do nazismo, não por obrigação, mas por opção.
No livro “Passado imperfeito – um olhar crítico sobre a
intelectualidade francesa no pós-guerra”, que infelizmente já não possuo, o
historiador inglês Tony Judt, passou a limpo todas as contradições da malfadada
esquerda francesa, não poupando o seu companheiro
Sartre, citando inclusive as suas complacências com o regime de Vichy, para que
suas obras fossem aprovadas, sem censuras.
Segundo depoimento de André Malraux, citado por Mario Vargas
Llosa, que também consta do livro, postado sob título “Passado
imperfeito/Opinião/EL PAÍS Brasil, https://brasil.elpais.com:
“Sartre? Eu o conheço. Fazia suas peças de teatro serem representadas em
Paris, aprovadas pela censura alemã, enquanto a Gestapo me torturava”.
Passado este período virou um ícone da esquerda francesa,
apoiando os expurgos stalinistas e os Gulags, motivo pelo qual rompeu com o
escritor e filósofo francês Camus.
Reproduzo os comentários do mesmo autor (Llosa) sobre o
livro:
“Nem sempre se trata de uma cegueira involuntária, derivada da ignorância
ou de mera ingenuidade. Tony Judt mostra como ser um aliado dos comunistas era
a melhor maneira de limpar um passado contaminado pela colaboração com o regime
de Vichy”.
[...] Tony Judt diz que, além da necessidade de fazer esquecer um passado
politicamente impuro, por trás do esquerdismo dogmático desses intelectuais
havia um complexo de inferioridade do meio cultural, pela facilidade com que a
França se rendeu aos nazistas e aceitou o regime fantoche do Marechal Pétain, e
foi libertada de maneira decisiva pelas forças aliadas lideradas pelos Estados
Unidos e Grã Bretanha”.
BIBLIOGRAFIA
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